Orgulho e Preconceito escrita por Mokocchi


Capítulo 1
Protesto nas ruas


Notas iniciais do capítulo

Me atrevo a usar o nome de um dos meus filmes favoritos para ser o título dessa fanfic.
Confesso que assisti o filme a poucas horas atrás, e para estar postando uma fanfic, é porque realmente gostei!
Interpreto o casal dessa fanfic como shipp ou broshipp, mas, por que não usar minha linda imaginação shippadora e criar uma fanfic por puro calor do momento, não é?
Espero que realmente goste, e boa leitura!



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A sirene da polícia não foi capaz de ocultar o grito dos animais, aqueles, determinados, não abaixaram os cartazes ao serem iluminados pela luz vermelha e azul. O protesto reunira centenas de animais em Zootopia, uma cidade que dizia-se tão “moderna” a ponto de usar o bordão “Em Zootopia, você pode ser o que quiser.”. Bem, aparentemente, nem tudo o que quiser.

A policial Judy saiu do carro ao lado de seu fiel parceiro, Nick, que já colocara seus óculos espelhados que refletiam o azul e vermelho. E Judy continuava a se perguntar se ele realmente achava aqueles óculos estilosos, ainda mais estando de noite.

A coelha aproximou-se da multidão enfurecida e cruzou os bracinhos, uma rena, que parecia representar os protestantes, saiu de um aglomerado de animais junto a um cavalo de pelagem branca, os dois se aproximaram da policial com olhares determinados. Judy respirou fundo ao ver que a rena e o cavalo deram as patas, já sabia o problema em questão, e assim percebera que estava numa fria.

— Acham que essa algazarra toda é mesmo necessária? – Nick se adiantou, bebendo um gole de café que estava em sua pata esquerda. Desceu um pouco os óculos por seu focinho para mostrar seu olhar de deboche aos animais à sua frente. – Sabem que esse protesto é uma perda de tempo, não?

Com a fala da raposa, todos começaram a se enfurecer ainda mais, erguendo mais seus cartazes e ofendendo o policial. “Amor não tem raça” dizia um cartaz, “Menos divisão, mais amor” dizia outro, e milhares com frases mais diretas como “Legalizem o casamento entre espécies diferentes”. De uns tempos pra cá, isto se tornara uma polêmica comum entre os cidadãos de Zootopia. O número de casais de diferentes espécies aumentou desenfreadamente, e, considerando que há um ano ainda havia certo preconceito entre predadores e presas, imagine só o preconceito com a união civil entre elementos distintos da cadeia alimentar.

Judy percebera que o parceiro fora um tanto grosseiro e lhe deu uma cotovelada no ombro, ele protestou na hora, mas ela não ligou. Se aproximou do casal à sua frente e disse:

— Peço desculpas pelo meu colega, senhora... – se referiu à rena.

— Rachel. Rachel Rentier – ela respondeu com um ar sério, apertando mais a pata de seu parceiro inquilino. – Sabe muito bem o porquê de estarmos aqui esta noite, senhora policial. E não sairemos até a justiça ser feita.

— Eu entendo seus motivos, senhora Rentier – Judy sempre usava o tom mais sereno possível na hora de discutir com cidadãos raivosos. – Mas não posso deixar que façam essa bagunça toda pelas ruas. Acha mesmo que, fazendo todo esse barulho, vai mudar a lei?

O cavalo à esquerda ficou furioso, dando um passo à frente e se aproximando mais dos policiais.

— Diz que entende nossos motivos, mas esquece que isto é um protesto! – sua parceira teve que lhe segurar para não fazer algo precipitado contra os policiais. – Sequer querem ouvir nossas reivindicações! Não estamos machucando ninguém, apenas queremos ter a liberdade para casar com quem amamos!

— Senhor, entenda, - a coelha começou – não estamos aqui para dizer o que é certo ou errado, só-

— Para querer nos parar sem mais nem menos, os seus conceitos de amor devem estar muito errados, senhorita! – o cavalo a interrompeu, e ela não sobe como responder.

— Hipócrita! Mal-amada! – gritou uma voz ao fundo.

Judy continuou a engolir seco, e Nick já estava começando a perder a paciência. Ouviu-se o som de um vidro quebrar, e outro, e outro. Os protestantes começaram a quebrar a vitrine das lojas, fazerem mais barulho, gritarem. Os líderes à frente dos policiais pareceram desesperar ao ver que seu povo perdera o controle.

— Não façam isso! – gritou a rena. – Vão dar a razão a eles!

Mas nenhum deles escutou, e as ruas de Zootopia tornaram-se um caos. A dupla de policias teve que chamar reforços, e quando chegaram, a caça começou. Os policiais eram os predadores, os protestantes, as presas, detidas por não saberem como defender sua causa. Nobre no ponto de vista de uns, uma aberração para outros.

—--X---

— Zootopia está mesmo ficando maluca – ouviu Nick dizer enquanto tirava suas coisas de seu escaninho minúsculo, perfeito para um coelho.

— Que quer dizer com isso? – ela pôs seu casaco. Ainda era outono, mas a delegacia era estranhamente fria, não importa a quantidade de pelos que tivesse.

— Onde já se viu, um porco casar com uma mula, por exemplo? – ele levou o copo de café à boca. Judy tinha a leve suspeita de que a raposa estava se viciando em cafeína. Nick riu para si mesmo, num tom de ironia. – É cada coisa que me aparece, viu.

— Não tenho nada contra, se quer saber – a coelha deu de ombros, enquanto colocava sua pasta dentro de sua bolsa. Olhou para o teto com um ar nostálgico. – Sabe... Uma tia minha casou-se com um jaguar.

— É sério? – Nick achou que fosse piada, e riu.

— Sim – Judy suspirou, e lembrou de sua tia. – Ela era muito legal, sempre vinha nos visitar na páscoa para ajudar a distribuir os ovos de chocolate pela vizinhança. Tenho um colar com um pingente de um ovo de páscoa que ela me deu até hoje.

— E onde sua tia está agora?

— Depois que ela conheceu o marido... – Judy colocara uma expressão um tanto triste no rosto – meus pais cortaram o contato, e não me deixaram mandar cartas pra ela. Eles são muito tradicionais, sabe – ela suspirou mais uma vez. – Saudade da tia Pérola...

— Uau – a raposa deu mais um gole de seu café, e tentou fazer uma expressão mais indiferente. – Ah... eu não tenho nada contra, mas... sei lá... um coelho e um jaguar? Sério?

— Se pensa dessa forma, você tem algo contra, sim— Judy fechou seu escaninho, e preferiu mudar a conversa. De certa forma, não era um assunto muito agradável. – Vamos pra casa, eu estou congelando.

Caminharam juntos até o mesmo prédio, o primeiro caso que resolveram fora o suficiente para receberem um salário melhor que de um guarda de trânsito. Eram vizinhos de porta, prédio de classe média, mas bonito, aconchegante, e com uma bela vista. Vale lembrar que policiais não tem lá um salário invejável.

Passaram mais tempo que o desejado no elevador, pois seu vizinho do andar abaixo era uma preguiça idosa, e não podiam simplesmente empurrá-la. Chegaram ao décimo andar depois de exatos dez minutos esperando a senhora sair do elevador.

— Ah, como eu adoro preguiças – disse a raposa, num tom de deboche. – Elas te deixam tão irritada.

— Ah, cala a boca – ela lhe deu um soquinho no ombro, ele riu. – Eu não sei como você consegue ter tanta paciência.

— Para ver você perdendo o juízo, vale cada segundo – brincou, e ela não pode evitar de rir junto com ele. Nick tirou as chaves do bolso, abriu a porta de seu apartamento e lhe estendeu a pata. – Quer entrar? Tomar um café?

— Nick, acho que você está tomando café demais.

— Você acha demais.

Ela entrou, e, sentindo-se em casa, sentou no sofá e ligou a televisão. Estava passando o jornal, e como esperado, a sensação do momento era o protesto a favor do casamento entre diferentes espécies. Houveram flashes em que Judy e Nick foram filmados.

— Olha lá, eu tô na TV! – disse cheio de orgulho.

Começara uma entrevista com a senhora Rachel Rentier, e Nick não parava de se gabar.

— Shiu! – a coelha tapou a boca do amigo, a qual ele retirou no mesmo instante. Judy aumentou o volume da TV.

— Nós não vamos parar até Zootopia entender – a senhora Rentier parecia confiante diante das câmeras. – Nós não queremos privilégios, glória, nada disso. Queremos igualdade. Queremos o livre arbítrio de sair de patas dadas com quem amamos sem sermos violentados nas ruas, queremos o direito de não precisar mudar de cidade para nos casarmos, já que Zootopia ainda não legalizou o casamento entre diferentes espécies. Queremos que os cidadãos de Zootopia possam abrir mais suas mentes, queremos o fim de tanta maldade, e, acima de tudo, o fim de tanto preconceito!

Judy se impressionou com a coragem da rena, para falar isso em cadeia nacional sem medo algum, era preciso muita determinação. No fundo, o que a coelha realmente sentia era pena daquele povo.

— Saudade de quando nossos casos envolviam desaparecimentos – resmungou a raposa enquanto desabotoava a sua camisa como se Judy nem estivesse ali, e quando a coelha percebeu que Nick se despia, nem olhava mais para a televisão. Sentiu o rosto queimar quando ele mostrou suas presas num sorriso.

— Acabo de lembrar que não tenho nada na geladeira – a coelha esqueceu depressa que o parceiro estava sem camisa, e pôs uma expressão indignada no rosto.

— Então, por que diabos me chamou para entrar?

— Estava pensando em te devorar.

— Há, há – ela fingiu uma risada, enquanto ele ria como se tivesse contado a piada mais hilária do mundo. – Que comediante.

— Vou pedir uma pizza – ele se levantou do sofá e foi pegar o telefone.

— Pede a de cenouras.

Ele fez uma expressão como se tivesse se ofendido.

— Que tipo de animal você acha que eu sou? Cenoura na pizza? Tenha dó.

— Então vai comer sozinho – ela se levantou, e lhe deu um sorriso brincalhão. – Eu não sou o tipo de animal cabeça-oca que esquece de fazer as compras, tenho meu jantar prontinho em casa. Até amanhã.

Ela caminhou até a porta, mas sentiu a pata dele segurar seu bracinho. Quando voltou a olhar para ele, lembrou que ele estava sem a camisa. Ela voltou a ficar meio tímida.

— Não – ele disse.

— Não o que?

— Fica.

— Por quê?

— Fica.

— Você está carente demais – ela brincou, não evitava sorrir. Gostava quando ele a tratava assim. – Tem certeza que não precisa de uma namorada?

— Cala a boca. Fica.

— Pizza de cenoura?

— Eu te odeio.

— Também te amo – ele finalmente a soltou e ela sentou no sofá novamente.

— Devo estar pagando todos os meus pecados em vida com você – ele resmungou. – Fala sério, pizza de cenouras? Isso é uma ofensa!

— Ah, Nick, o que seria de você sem mim?

— Um vagabundo que mexe com pirataria.

—--X---

Jantar com Nick não fora uma má ideia, ela nunca se divertira tanto ao vê-lo quase vomitar com a pizza, a raposa não deu nem duas mordidas e já sentiu o refluxo. Após várias gargalhadas, boas conversas, ela o deu boa noite e foi para o apartamento ao lado.

Foi até o quarto e deitou-se na cama, não deu nem dois segundos e recebeu a ligação visual de seus pais.

— Oi mãe, pai – eles se alegraram instantaneamente ao ver o rosto de sua filha.

— Oi, minha queridinha – respondeu o pai, sorridente. – Como você está?

— Estou bem. Mais um longo dia de trabalho.

— Nós vimos no noticiário o que aconteceu – disse a mãe, com um tom não muito agradável. – Que coisa horrível!

— É, é, horrível – a menor fingiu concordar, procurando qualquer outra coisa para conversar. – E o casamento da Jane, – que era uma de suas centenas de irmãs – tá tudo certo?

— Sim – sua mãe voltou a sorrir. – Será em abril, se tudo ocorrer bem.

— Que bom – Judy sorriu. – Mal posso esperar para conhecer esse tal de Mike.

— Ah, é um bom coelho – disse um pai, num sorriso orgulhoso. – Dono de uma grande fazenda, ótimo para os negócios.

— Sua irmã está tão feliz, Judy – Judy sentiu que lá vinha coisa. – Mal posso esperar para lhe ver feliz desse jeito, também.

— De novo essa história, mãe?

— E vou repetir até você arranjar um coelho – o tom da mãe era um tanto desaprovador. – Onde já se viu, uma coelha tão linda e empenhada como você, solteira?

— Não há nenhum coelho que eu queira agora, mãe – a menor fez o possível para não perder a paciência, detestava quando a mãe vinha com esse assunto. – E eu estou feliz sozinha, relaxa.

— Mas sei que estaria muito mais feliz ao lado de um parceiro, filha – a mãe insistiu. – Sabe, o Mike tem vários amigos, ele pode-

— Ah, acabei de lembrar que já são onze horas, e preciso acordar cedo amanhã – Judy interrompeu, fazendo o possível para fugir daquele assunto.

— Está bem – a mãe se conformou. – Boa noite, filha – disse em coro com o pai.

 - Boa noite, amo vocês.

Judy terminou a ligação e soltou um longo suspiro, tirou suas roupas e foi tomar um longo banho pensando no protesto, nas belas falas da senhora Rentier, e como se posicionar nesse caso delicado, sabia que esse assunto iria correr solto por um bom tempo.

Pôs seu pijama e deitou-se na cama novamente, mas dessa vez, pensando na conversa que tivera com sua mãe. Soltou um risinho.

— Eu não preciso de um coelho... – sussurrou para si mesma.

O celular vibrou no criado mudo, avisando a chegada de uma mensagem.

—Boa noite, cenourinha.

Sorriu. “Estou feliz sozinha”.

—Boa noite, Nick.


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Notas finais do capítulo

Se gostou, não se esqueça de favoritar, deixar seu review, e diga o que gostou/não gostou. Críticas construtivas são sempre bem vindas.Kissus ♥