Cronômetro escrita por KarenAC


Capítulo 8
Capítulo 8 - Origem


Notas iniciais do capítulo

Respirem três vezes antes de começar, a viagem vai ser turbulenta.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/685187/chapter/8

Marinette sentia as costas de Chat relaxarem e contraírem com a respiração. Percebia que ele estava controlando os movimetos para que ela ficasse mais confortável. Tocou calmamente a cabeça da pequena kwami que repousava no seu colo e sentiu o peso do mundo inteiro cair sobre seus ombros no mesmo instante.

Ser a Ladybug tinha um preço muito mais caro do que o que ela estava conseguindo pagar. Chegava atrasada nas aulas, preocupava seus pais e seus amigos, colocava pessoas que amava em risco e precisava esconder sua identidade de tudo e de todos, inclusive do garoto que agora sentava atrás dela. Chat Noir era o melhor parceiro que ela podia desejar. Sorriu para si mesma ao pensar que o preço da parceria eram as péssimas piadas que ele fazia, mas sentiu o coração se aquecer ao notar o quanto ele confiava nas suas decisões e respeitava seus desejos. Por um segundo, por um milésimo de segundo, se perguntou se um dia não poderia aprender a amá-lo.

"Preciso chegar em casa antes da hora do almoço" Marinette falou "Posso levantar?"

"Claro. Eu vou ficar aqui um tempo até você se afastar. Não se preocupe. Gatos são curiosos, mas sabem se controlar." ela notou que o tom leve de brincadeira havia retornado a voz dele, e respirou em alívio.

"Hoje é sábado, né? Vamos fazer patrulha mais tarde?" Ela perguntou sem se virar, olhando para baixo e colocando Tikki dentro de sua pequena bolsa com cuidado.

"Estarei no nosso lugar de sempre, milady! Até mais."

"Até mais, Chat!" Marinette disse e saiu correndo, deixando um Adrien sentado sozinho e pensativo no meio do beco.

"O que eu vou fazer, Plagg?" Adrien olhava para o pequeno kwami deitado em seu colo "O que eu vou fazer se algo acontecer com ela?" abraçou o próprio corpo e se encolheu como se tivesse tomado um soco no estômago. "Preciso ser forte. Por mim, por ela, e por Paris. Preciso ficar muito mais forte." o garoto levantou do chão, colocou Plagg com cuidado dentro do bolso interno do casaco e saiu andando. Acima dele, em pé sobre o prédio, uma sombra observava os dois em silêncio.

—---------------------------------------------

Marinette chegou em casa e viu seus pais trabalhndo na padaria. Os dois ficaram tranquilos em vê-la bem, mas mal imaginavam o que tinha acontecido. Após o almoço ela subiu para o quarto, tomou os remédios e deitou na cama, pegando no sono instantaneamente. Sentia cada músculo doer como se tivesse levado uma surra, por causa disso seu sono foi recheado de pesadelos e intranquilidade, despertando-a diversas vezes por poucos segundos antes de derrubá-la novamente em inscosciência por causa da exaustão.

Acordou com a cabeça girando e a visão turva. Seu corpo estava experimentando dores e sensações com as quais nunca convivera antes, mas agora precisava acostumar-se, ou o sofrimento seria muito maior do que ela era capaz de suportar.

Ergueu-se da cama e seu olhar instintivamente caiu sobre o canto onde, no dia anterior, observara Adrien dormir apoiado. Esperou o calor no rosto surgir como de costume e o coração palpitar, mas a sensação não aconteceu. Colocou a mão sobre o peito, estranhando. Será que a calma também era efeito colateral do Miraculous?

"Tikki" a garota chamou em uma voz baixa.

"Oi, Marinette. Dormiu bem?"

"Sim, obrigada, Tikki" Marinette sorria. A presença de Tikki sempre lhe causava um bem estar inexplicável "Eu queria te perguntar uma coisa" a garota disse, olhando para a mão que tocava o próprio peito.

"Pode perguntar, Mari!" a kwami sentou no colo da garota.

"Tudo isso que está acontecendo com o meu corpo pode também mudar o meu coração?" a garota sentiu a garganta fechar em um nó ao mesmo tempo em que lágrimas encheram seus olhos. Ela sentia, pela primeira vez desde que tudo começara, um medo avassalador. Ela podia lidar com a dor, com marcas em seu corpo, com hematomas, arranhões e cicatrizes, mas não suportava sequer imaginar que seu coração poderia esquecer aqueles que ela amava, aqueles com os quais ela se importava.

"Nunca!" Tikki alçou voo e acariciou o rosto de Marinette com a pequenina mão "Lembra quando eu disse que você era a Ladybug com ou sem a máscara?"

Marinette sacudiu a cabeça em sinal positivo, lutando contra as lágrimas.

"O que eu quis dizer foi que o seu coração é e sempre será o mesmo, independente de você estar ou não transformada. Você sempre será a Marinette que ama e se preocupa, e isso ninguém pode tirar de você, nem mesmo o Hawkmoth. É isso o que diferencia você do resto da população do mundo. Qualquer um que pensar negativamente pode abrir espaço para um akuma, mas não você." os olhos de Tikki brilharam, cheios de orgulho e Marinette passou as mãos no rosto para fazer com que os pensamentos ruins sumissem, mas uma pequena fagulha de dúvida persistiu. Uma mínima fagulha que brilhava dizendo que ainda haviam histórias a serem reveladas.

—----------------------------------------------

Adrien chegou em casa e ligou para seu professor de esgrima, agendando aulas extras. Fez o mesmo com o professor de karatê, o qual já não via há alguns meses. Precisava se preparar fisicamente para o que estava por vir. Lembrava de todas as vezes que havia sido possuído por akumas e sido vítima de situações às quais Ladybug resolvia sozinha, mas agora ela dependia dele mais do que nunca. Ele não iria decepcioná-la. Não ia perdê-la. Olhou para o sofá e viu Plagg sentado ao lado de uma caixa de queijo camembert, comendo em silêncio.

"Plagg, eu conversei com a Ladybug." Adrien disse, sentando-se ao lado dele.

"Eu sei, eu ouvi um pouco." o pequeno kwami respondeu entre uma mordida e outra.

"Por que você não me contou?"

Plagg baixou a fatia de queijo que tinha em mãos, ficando em silêncio por alguns segundos, olhando para Adrien logo depois com um ar tão sério que chegou a deixar o garoto apreensivo. Nunca havia visto aquela expressão no rosto de Plagg. Era assustador.

"Eu não sabia. Sabia que era uma possibilidade, mas não uma certeza. Não quis te preocupar sem necessidade." a voz do pequeno gato era quase um sussurro, quase um pedido de desculpas. Mal sabia Adrien que não era pelo que tinha acontecido, mas pelo que estava para acontecer.

"Tudo que ela falou é verdade?" Adrien queria ouvir as palavras da própria boca do kwami.

Plagg respirou fundo, guardou o pedaço de camembert na caixa para terminar de comer depois e sentou-se sobre ela, olhando para baixo e retirando as migalhas do que havia comido da ponta das patinhas.

"Há muito tempo atrás, muito antes de você ou Ladybug sequer pensarem em nascer, os Miraculous surgiram. No início era um poder único, glorioso e destruidor, mas destiná-lo a uma só pessoa era um destino terrível demais, então ele foi dividido em muitas partes. Cada parte foi oferecida a um portador de bom coração, para que protegessem o mundo e as pessoas que viviam nele, mantendo assim o mal afastado e neutralizado." Plagg ergueu os olhos para fitar Adrien "Mas a força que deu origem a todos esses poderes não conseguiu ser dividida. A origem se expande e diminui junta. Nasce e morre junta. Tão poderosa que se uma mesma pessoa a controla, ela controla todo o balanço do mundo."

"A origem de todos os Miraculous? De todos esses poderes?" Adrien perguntava, tentando entender.

"O poder de criar e destruir. O poder de Chat Noir e Ladybug. Vocês podem achar que são dois poderes separados, mas a verdade é que eles são tão ligados que quando um não existe, o outro se destrói." Plagg olhou pela janela "Por muito tempo nós conseguimos manter esse poder adormecido, porque sabemos o tamanho da responsabilidade que é carregá-lo. Todos os kwamis sabem."

"Todos os kwamis? Quantos kwamis existem?" Adrien ajeitava-se no sofá.

"Muitos, mas nem todos estão acordados agora. E os que estão, estão em guerra. Alguns contra os outros." Plagg baixava a cabeça.

"Uns contra os outros!?" Adrien pulou no sofá "Mas os Miraculous não são poderes do bem? Não são portados por quem tem o coração puro?"

"Sim. Todos os portadores dos Miraculous tem o coração puro." o pequeno kwami franziu a testa profundamente "Mas nem todos continuaram assim." Olhou no fundo dos olhos de Adrien "Você conhece um deles."

Adrien sentiu o coração pular no seu peito.

"Hawkmoth." Adrien fechou os olhos com força. Nunca passara pela sua cabeça que Hawkmoth poderia ser um portador do Miraculous. "Mas então por que ele quer o meu Miraculous e o da Ladybug?"

"Porque os Miraculous de vocês são o yin e o yang. São o que dá equilíbrio ao mundo, o que controla a vida e a morte. São a origem de tudo. E juntos, são capazes de qualquer coisa." Plagg terminou a frase em uma voz tão baixa que Adrien quase não ouviu.

"O que ele quer, Plagg? Pra que ele quer tanto poder? O que o fez se tornar uma pessoa assim?" Adrien imaginou Hawmoth como um homem normal que um dia foi escolhido para ser portador do Miraculous, assim como ele mesmo. O que o transformou em uma pessoa de coração tão frio?

"Eu gostaria muito de dizer que não sei, e que nunca descobriremos, mas a verdade é bem diferente disso." Plagg escondeu o rosto nas mãos. Não queria ter aquela conversa, não ainda. Não queria que Adrien sofresse antes do tempo, que soubesse mais do que precisava. O silêncio perturbador foi então quebrado pela pergunta que o kwami rezava que nunca saísse da boca do garoto.

"Você conhece ele?"

O silêncio era perturbador, até que a resposta que Adrien mais temia ressoou pelo quarto.

"Sim, eu conheço ele." Plagg olhou para o garoto "Eu já fui o kwami dele."

Adrien estava em pé, com os olhos arregalados. Não sabia se Plagg ainda estava falando ou não, pois a única coisa que conseguia ouvir era o próprio coração pulsando enlouquecidamente. Olhou para as mãos, abrindo-as e fechando-as para ter certeza de que estava acordado. Plagg havia sido o kwami do Hawkmoth? Que loucura era aquela?

"Plagg, o que você está falando? Kwami do Hawkmoth? N-Não pode ser verdade!" Adrien tentava juntar argumentos, explicações. Tentava procurar uma história diferente da que se desenrolava em sua cabeça "Você não pode ter sido o kwami dele! Se fosse assim, o Hawkmoth teria sido..."

"...o Chat Noir." Plagg terminou a frase. Mais cedo ou mais tarde, aquela hora chegaria e a dor seria inevitável. Seria então como alguém que arranca um esparadrapo para que a ferida não abrisse mais do que o necessário e o curativo pudesse ser trocado por um novo e limpo.

Adrien sentiu o corpo cair sobre o sofá, sem reação. Um zumbido agudo e contínuo preenchia seus ouvidos. Ele precisou entrelaçar os dedos das mãos para que parasse de tremer. Por um segundo, tudo em sua vida pareceu uma grande mentira.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Segurem seus forninhos que agora só vai! ;3



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Cronômetro" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.