Corda Emocional escrita por Enchantriz


Capítulo 1
Capítulo 1: Corda Emocional


Notas iniciais do capítulo

Voltei! o/
E desde já aviso para pegar o kit de chá com bolacha porque a historia é longa, kkk ... boa leitura ;)



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Era uma noite fria qualquer em Ionia, a leve brisa e a insônia levando o Mestre das Sombras a apreciar de cima do telhado a lua de cor vermelha intensa quando, estranhou o silencio perturbador da noite ser interrompido pelo ranger da porta do armazém ao fundo do templo. Sem temer o desconhecido, o ninja se aproximou da porta entreaberta, a correndo para o lado vendo a sala escura ser iluminada pela fraca luz da lua e dos postes do lado de fora, mostrando o chão de madeira encoberto de sangue com várias pétalas de flores roxa espalhadas ao redor do corpo falecido de uma jovem ao centro do salão. 

Um arrepiou o percorreu dos pés à cabeça, o fazendo prender a respiração ao congelar reconhecendo a cor branca dos cabelos da Soberana Sombria espalhados pelo piso, seus olhos vazios abertos em meio ao rosto sujo de sangue e pólvora, o esbelto corpo amarrado por vários fios que sufocavam extremamente a pele queimada acima das manchas roxas com um ramo de flor no lugar do coração que lhe fora tirado, o órgão ainda batendo devagar a centímetros dos pés do ninja, o qual enfraquecido foi de joelhos ao chão sem acreditar em seus olhos. O sentimento de culpa e fracasso se apoderando de si, o cheiro enjoativo do sangue e carne fresca quase o levando a loucura.

— Ela é linda, não é? – ouviu a voz calma e suave do assassino se aproximando pela escuridão, conseguindo enxergar somente suas botas acima da calça preta ao agachar-se ao lado do corpo sem vida. – Você tinha que ter visto a sua performance... foi incrível! – comentou empolgado deslizando lentamente a ponta da arma branca por entre os seios fartos até a testa da jovem. – Qual era mesmo o nome que ela chamava? – perguntou-se. – Ah, é mesmo... Eu puxei o gatilho quando ela começou a gritar. – lembrou-se em um sorriso largo brilhando na escuridão ao puxar novamente o gatilho da arma.

O som estridente e ensurdecedor do tiro fez Zed fechar os olhos com força quando o sangue espirrou em sua máscara junto com alguns pedaços do cérebro, o enjoou subindo-lhe queimando a garganta o obrigaram a abrir os olhos rubis assustados ao se levantar da cama em um pulo, suando frio pelo choque do pesadelo ter-lhe recordado sobre um assassino psicopata que havia se desligado a muito tempo. Ofegante, ele passou a mão no rosto pálido com algumas cicatrizes, respirando fundo, acalmando-se vendo através da luz fraca do corredor seu quarto bagunçado como o de costume, as roupas jogadas no chão abaixo da armadura de ferro e uma pequena pilha de livros ao lado da poltrona encostada na parede onde estava Syndra a dormir encolhida usando um curto short preto e uma blusa roxa de alça por baixo do fino casaco de renda da mesma cor clara. Por um segundo, sentiu-se aliviado pela jovem estar ali ao seu lado, apesar de saber que ela apenas invadia seu quarto de madrugada quando algo a atormentava.

— Quantas vezes eu tenho que te dizer para parar de entrar no meu quarto? – resmungou de mau humor indo em direção a maga ainda adormecida, despreocupada.

Não sabia explicar como deixou as coisas entre eles chegarem a aquele ponto, ou o momento em que a presença um do outro começou a ser tão indispensável. Sem realmente se importar com a presença da maga, o ninja a pegou cuidadosamente nos braços e a levou até a cama, a deitando no colchão no instante em que seus olhos prateados se abriram rapidamente enchendo-se com sua magia ao debater-se sentando dando um alto e longo grito agudo aterrorizado, ecoando forte por todo o templo da Ordem das Sombras, quebrando em segundos os vidros e as lâmpadas em uma chuva de estilhaços pelas paredes rachadas e o chão tremulo, mas o terror em sua voz logo cessou ao sentir os braços fortes de Zed a envolverem por trás em um abraço, os dedos firmes por entre os seus cabelos para manter a cabeça encostada em seu ombro.

— Respira. – ordenava ele sério, a fazendo fechar os olhos apertando os dedos em sua camisa regata preta, tentando manter o controle. – O que aconteceu?

— Eu vi... – gaguejou baixo, ainda assustada. – Tinha um corpo... – sua voz saiu embargada. – Tinha um corpo no chão, e eu ouvi um tiro...

— De quem é o corpo? – perguntou tendo apenas como resposta um balançar negativo com a cabeça, sem conseguir lembrar-se. – Syndra, de quem é o corpo? – exigiu segurando seu rosto.

— Eu não sei! – berrou impaciente, a confusão nítida em seus olhos que ameaçavam transbordar as lágrimas. – Eu não sei... – murmurou quase sem voz, voltando a esconder o rosto no ombro do homem que apenas a abraçou forte.

— Está tudo bem. – a acalmou encostando o queixo no topo de sua cabeça. – Vai ficar tudo bem. – garantiu.

Syndra respirou devagar, concentrando-se nos batimentos cardíacos do ninja, a acalmando perante o calor vindo de seu corpo. Naquele momento, Zed soube que Syndra havia tido o mesmo pesadelo que o seu, porém, o fato dela ter sonhado com aquilo tornava tudo ainda mais problemático.

O dia logo amanheceu com os fortes raios do sol trazendo a claridade para dentro do quarto junto com o vento que soprava as cortinas vermelhas. Não demorou muito para que o par de olhos prateados piscasse os cílios enxergando a bagunça que fizera noite passada, sonolenta, ela estendeu o braço no ar e remexeu lentamente os dedos envoltos por sua magia, expandindo o seu poder por toda estrutura do lugar, a reconstruindo como era antes de voltar a descansar a mão sob os braços ao seu redor.

— Você já acorda usando seus poderes? – a voz zombeteira de Zed a sobressaltou. – Está se sentindo melhor? – perguntou quando ela levantou o rosto para encontrar seus olhos.

— Sim. Obrigada. – respondeu baixo se afastando ao sentar-se. – Você ficou acordado a noite inteira?

— Isso realmente importa? – disse indiferente pondo-se de pé, pegando a armadura do chão. – Se arruma. – ordenou. – Nós não temos muito tempo.

— O que? – piscou os olhos confusa. – Para onde vamos?

— Vai saber quando chegarmos lá. Você tem uma hora. – avisou lhe dando as costas, a deixando falando sozinha.

— Ei! Desde quando você me dá ordens?! – bufou irritada o seguindo. – Argh! Ninja idiota! – resmungou passando pela a porta.

Mais tarde, Zed e Syndra encontravam-se localizados na parte sul de Ionia, em Navori. Um lugar extremamente belo e rico em vegetação, as árvores repletas de folhas e flores ao longo de sua escadaria iluminada por postes até o topo da íngreme montanha estreita que levava a um altar abaixo de um gigantesco arco celestial com uma placa vermelha ao centro repleta de ideogramas em dourado, os nomes de todas as divindades contidos ali nos outros vários arcos ao termino da montanha.

— Zed... – advertiu a maga cruzando os braços sob o curto vestido preto por baixo da jaqueta roxa, o cabelo preso como o de costume caindo em suas costas assim como a franja acima de seus olhos fitando o ninja desconfiada. – Porque me trouxe até aqui?

Estava tão distraída discutindo o caminho todo com Zed que não havia reparado que ele a trouxera para onde os ionianos depositavam as suas preces.

— Porque você é a única pessoa em toda Ionia que nunca tocou os pés aqui.

— Talvez seja porque aqui é um labirinto? – lembrou o pouco que sabia sobre o lugar.

— Não para você.

— O que quer dizer? Eu nunca vim aqui, não conheço o caminho.

Zed abafou um riso descruzando os braços, subindo nos primeiros degraus.

— Às vezes você precisa respirar um pouco. – sorriu por baixo da máscara de ferro, estendendo a mão para a jovem ainda confusa. – Confie em mim. Respire fundo. E deixe seu poder te guiar.

Por um momento, cautelosa, a maga olhou dentro dos olhos do ninja tão convicto de que ela sabia o caminho, a questão, era como? Buscando pela resposta, ela respirou fundo e deslizou os seus dedos pelos dedos largos do homem ao dar o primeiro passo apoiando o salto fino de seu sapato preto no primeiro degrau que iluminou-se surgindo um círculo magico, as escritas antigas esvaecendo-se no ar transformando-se em diversas borboletas negras que rodearam o seu pé lhe mostrando o caminho ao voarem rapidamente pelo restante da escadaria.

— Você é uma ioniana iluminada, Syndra. – a lembrou. – Uma verdadeira maga. O sangue dos antepassados destas terras ainda corre em suas veias. – comentou. – Todos aqueles que são considerados abençoados pelas divindades devem ser trazidos aqui assim que completam o seu poder. – olhou para a jovem boquiaberta. – Você está um pouco atrasada. – sorriu para ela inclinando a cabeça para prosseguir. – Mas acho que ainda dá tempo para os ancestrais a presentearem.

Um enorme sorriso contente se formou nos lábios avermelhados de Syndra, a qual logo se pós a andar na frente observando fascinada tudo a sua volta... as borboletas negras saindo de seus passos mostrando ao longo do caminho os cristalinos rios cheios de carpas por baixo da ponte de madeira, os espíritos dos animais selvagens que ali vagavam descansando pelos cantos e em cima das pilastras em ruinas enquanto os seus antepassados surgiam a reverenciando. Um passo de cada vez, foi assim que a maga chegou ao altar, um tanto receosa ao ver flutuando no centro do espaçoso lugar vazio apenas um grosso livro aberto queimando chamas azuis brilhante sob suas páginas envelhecidas.

Ao longe, Zed observava Syndra se aproximar do livro sendo atraída pelas frias chamas que trouxeram a cor ameaçadora de seus poderes para os seus olhos ao posicionar as mãos abaixo do objeto, dançando as chamas ainda mais altas no ar antes de fulgirem percorrendo todo o corpo da jovem em escritas antigas, passando em segundos por seus olhos a imagem de um templo completamente em ruínas abaixo de um céu negro que chovia cinzas.

— “Você está sozinha, minha querida?” – sussurrou a voz calma de um homem alto escondido nas sombras, a arma brilhando em uma de suas mãos. – “Onde estão os seus amigos?”

A pergunta ecoou em sua mente a fazendo abaixar a cabeça reparando na imensidão de corpos ensanguentados estirados entre as armas ao seu redor.

— Meus amigos... – murmurou ela com os olhos vagos, inconsciente. – Todos eles estão mortos.

— O que você disse? – chamou Zed sem entender o que a maga havia dito. – Syndra? – voltou a chamar preocupado a vendo escorregar os braços novamente ao lado do vestido, as escritas em seu corpo evaporando rapidamente. – Ei, Syndra? Está me ouvindo? Tsc...!

Impaciente, o ninja se aproximou da maga imóvel, estava prestes a tocar seu braço, porém, ágil, ela fechou os dedos frios e trêmulos em seu pulso, lhe transmitindo por um breve instante o quão desesperada e aflita estava sem conseguir controlar as emoções.

— Eu estou bem. – respondeu rápido ao soltar Zed e afastar-se um pouco esfregando os braços. – Eu estou bem. – repetiu sorrindo.

Ele a olhou desconfiado.

— Tem certeza?

— Sim. Não se preocupe. – garantiu voltando a postura, indo em direção as escadas.

— Espera. – segurou seu braço, a obrigando a se virar para olhá-lo. – Eu não ouvi o que você tinha dito.

Ela abriu os lábios, gaguejando, sentindo o coração dar um salto pelo nervosismo.

— Nada. – disse direta após engolir em seco. – Eu não disse nada.

— Você não precisa mentir para mim. Sabe disso.

— Eu quero ir embora! – confessou sem esconder o nervosismo na voz. – Por favor, – pediu. – vamos embora. Por favor...

— Claro. – respondeu calmo soltando o braço da jovem que imediatamente se virou descendo os degraus apressada.

Assim que voltaram para os arredores da capital de Placidium, pararam em um estabelecimento local escondido no meio da floresta por entre os galhos encurvados de uma árvore antiga que escondia em suas folhagens o céu noturno se formando.

— Vocês por aqui?

O ninja e a maga viraram-se vendo Yasuo, o Imperdoável sentado na mesa ao lado junto de Varus, a Flecha da Vingança.

— Algum problema? – perguntou o samurai estranhando a presença dos dois aliados.

— Não. Apenas de passagem. – Zed cruzou os braços. – Isso aqui está bem calmo hoje. – comentou analisando o lugar cheio, no entanto, silencioso.

— Os noxianos não apareceram o dia todo. – disse Varus antes de tomar um gole do liquido gelado na garrafa que segurava em mãos.

De repente, o sossego foi interrompido pela porta que se abriu em um estrondo com a chegada de um pequeno grupo noxiano acompanhado de Draven, o Carrasco de Noxus.

— Draven está na área! – gabou-se o homem empurrando os que estavam em seu caminho.

— Acho que falei cedo demais... – murmurou o arqueiro.

Draven se aproximou batendo nas costas de Zed ao mesmo tempo em que apoiou o braço nos ombros de Syndra.

— Olha só quem saíram da toca. – comentou ele empolgado. – Posso saber pelo que vamos brindar está noite maravilhosa?

— Com certeza não é pela sua existência insignificante. – respondeu Syndra seca, retirando o braço do homem de cima de si.

— Adorável como sempre.

— Me acompanha? – chamou ela em um sorriso gentil passando por Varus.

— Será um prazer.

O arqueiro retribuiu o sorriso ao se levantar seguindo a maga para o enorme balcão ao fundo.

— É impressão minha ou alguém aqui está perdendo o posto?

— Tsc! – o ninja trincou os destes trocando de lugar com a sua sombra viva para se afastar do noxiano. – Dá o fora daqui. – avisou de mau humor.

— Qual é, Zed? Pensei que quisesse saber das novidades. – sentou na cadeira onde Varus estava. – Vamos! Tira essa máscara do rosto e curte um pouco que nem o samurai aqui. – bateu o cotovelo no braço de Yasuo que revirou os olhos entediado. – Não precisa ficar irritadinho só porque a gostosa ali não te deu bola. E que por sinal, ela está--

Rapidamente, Zed puxou Draven pela roupa apontando as lanças afiadas de seus braços na garganta do homem, pressionando firme a sua pele.

— Se você disser mais uma palavra sobre ela, eu juro que arranco a sua língua. – ameaçou o interrompendo.

— Tá legal! Já entendi!

— Agora, fala logo. – soltou o atirador. – O que está escondendo?

— Você já deve estar sabendo que tem um assassino psicopata a solta por Piltover e Demacia. – disse abrindo uma garrafa de saquê no dente, despejando um pouco do liquido goela abaixo. – Estão dizendo por aí que ele está vindo para Ionia.

O ioniano gelou ao imaginar quem poderia se tratar, temendo ser alguém que fez parte de seu passado e lhe atormentou a mente.

— Você sabe como ele é!? – perguntou apressado.

— O que acha de fazer um pequeno jogo? – sugeriu com um sorriso desafiar. – Se você ganhar, eu te conto tudo o que sei sobre os passos do assassino a solta. Se eu ganhar, a garota ali é minha por dois minutos.

Ele inclinou a cabeça em direção ao balcão onde Syndra estava sentada em cima conversando distraída com Varus.

— Não mesmo... – disse o ninja a si mesmo.

E sem pensar duas vezes, confiante, Zed puxou a cadeira para sentar-se ao lado do adversário, ambos colocando o braço sob a superfície apertando as mãos, depositando ali toda a sua força para mover o braço um do outro após ser dado o sinal. Draven tinha complexo de força, não suportava imaginar-se inferior a alguém. Extremamente calmo, o ninja estava a centímetros de encostar a mão do atirador na mesa quando, desesperado e irritado por pensar que perderia tão facilmente, ele bateu o joelho embaixo da mesa, levantando seus cotovelos por um breve segundo, aproveitando-se para bater rapidamente a mão de seu adversário na mesa.

— Éeeh! Éeeh! – gritou empolgado o noxiano ao se levantar comemorando com os seus companheiros.

— Você trapaceou, seu imbecil! – berrou indignado.

— Não fique com inveja. Rapaz, eu sou demais. – gabou-se em um sorriso voltando a sentar largado na cadeira. – Agora, cadê a maga?

— Miserável...!

O ninja cerrou os dentes irritado, estava prestes a voar em cima de Draven mas, seus ouvidos encheram-se com a voz familiar de Syndra:

— O que está acontecendo aqui?

Todos fitaram a maga que piscou os olhos confusa por Yasuo e Zed lhe desviarem a atenção desconfortáveis enquanto Draven sorriu em um aceno de mão. Não demorou muito para a jovem franzir o cenho cruzando os braços emburrada ao imaginar do que se tratava.

— Certo. O que eu tenho que fazer? – disse direta, sem gostar da brincadeira.

— Dança para mim. – respondeu Draven batendo a mão na mesa, piscando um dos olhos de modo galanteador.

As palavras atingiram Syndra em um arrepiou que lhe percorreu o corpo e lhe embrulhou o estomago com um breve frio na barriga do quanto aquilo soava mal.

— Syndra, – Zed tocou em seu ombro. – você não precisa fazer isso--

— Cala a boca. – respondeu friamente sem alterar a voz, interrompendo o ninja e retirando sua mão de si ao dar um passo à frente, se aproximando da larga mesa.

Apesar de se arrepender pelo que fizera, Zed estendeu a mão para ajudar Syndra que o olhou extremamente enraivecida antes de tocar em seus dedos para subir na cadeira e depois na espaçosa mesa de madeira, em seguida, ela estalou os dedos e os deslizou pelo cabelo para soltá-lo, deixando seus longos fios brancos caírem pelos ombros ao tocar na barra de ferro ao centro, fazendo o seu salto preto bater na mesa antes de se impulsionar para girar o corpo sob a barra ao mesmo tempo em que as batidas fortes de uma música encheram o local. Ao completar a volta, ela parou encostando as costas sob a barra fria estendendo o braço direito em frente ao corpo enquanto deslizou a mão esquerda por sua extensão balançando lentamente o quadril após flexionar os braços atrás da cabeça, deixando a saia curta rodada do vestido mover-se de um lado para o outro.

— Uau! – impressionou-se o noxiano boquiaberto. – Adorei a vista daqui! – confessou em um sorriso malicioso.

Sem gostar do comentário e do sorriso do homem, Zed cruzou os braços virando o rosto mau humorado, jurando a si mesmo que era implicância e não uma pontada de ciúmes, porém, por um instante, os olhos prateados de Syndra focaram-se aos rubis de Zed que sentiu seu coração dar um saldo depois de décadas, só então percebendo que ela não estava apenas dançando pela aposta, mas também para provoca-lo por ter lhe feito aquilo.

— Tsc! Vadia desgraçada... – resmungou baixo para si mesmo, a vendo abrir um breve sorriso ao voltar a estender os braços em frente ao corpo, deixando o esquerdo estendido enquanto o direito flexionava para trás em sincronia com as passadas de suas pernas.

Pela primeira vez, sentia-se explodindo por dentro, apertava cada vez mais os dedos fechados na mão em punho para tentar controlar a raiva que crescia pulsando pelas veias por todos os olhares desejosos que Syndra estava atraindo... até mesmo pelo o seu. Vê-la dançando daquele jeito um tanto sensual o estava enlouquecendo! E o matando também, pois ele não precisava de poderes para ler os pensamentos sujos que se formavam ou o quanto de hormônios ela estava liberando dos homens dali. Com os nervos à flor da pele, apenas deu-se conta de que estava se cortando com a lamina de uma pequena faca que guardava debaixo da manga de seu pulso ao sentir o ardor da ferida, mas logo se acalmou quando ouviu o som das batidas diminuírem junto a jovem que colocou uma das mãos sob o ombro enquanto o outro braço estava estendido, os dedos escorregando pela barra, segurando-se ao deslizar o corpo remexendo o quadril lentamente em círculos, e então, a música acabou antes que ela pudesse chegar a superfície de madeira. Imediatamente, o silencio repentino do local foi substituído pela respiração pesada que todos soltaram pela jovem maga se erguer rapidamente, voltando a postura ereta ao descer da mesa prendendo o cabelo como o de costume.

— Ei! Onde pensa que vai?! – questionou Draven. – Eu quem faço as regras aqui! Você não pode sair andando assim!

Draven calou-se ao piscar os olhos no instante em que uma chuva de esferas negras acertou a mesa de madeira ao seu lado, a partindo em vários pedaços que voaram ao redor com o impacto, o restante dos estilhaços sendo envolvido por chamas negras que ardiam tão quentes quanto o próprio fogo.

— Tente me impedir. – avisou ela seria sem se virar, passando por Zed de cabeça erguida. – Eu juro que ainda vou te matar.

— Syndra, espera. – ele chamou calmo, sendo ignorado, tendo como resposta apenas o barulho da porta se fechando forte o suficiente para balançar toda a estrutura do lugar. – Ótimo. – arfou revirando os olhos antes de balançar a cabeça negativo sentindo uma leve dor de cabeça pela situação.

— Ela deve estar uma fera. – comentou Yasuo ainda chocado.

— Você acha? – ironizou seguindo em direção a saída.

Após passar pela porta, avistou ao longe Syndra caminhando tranquilamente pela trilha falha por entre as altas árvores com algumas luminárias penduradas pelos galhos para iluminar o caminho.

— Syndra? – voltou a chamar a seguindo. – Eu sei que está brava, mas você tem que me escutar! Eu nunca faria uma aposta sem saber que iria ganhar.

— Vai pro inferno. – ordenou fria, indiferente.

— Tsc! Já chega! Você é um saco, garota! – grunhiu.

Impaciente, Zed estendeu a mão para segurar o braço da jovem, a obrigando a virar-se piscando os olhos assustada ao ser jogada com força contra a árvore atrás de si, sendo rapidamente encurralada pelo corpo alto do homem que acertou o punho no tronco a centímetros de seu rosto, o qual ele pressionou suas bochechas com a outra mão para manter sua atenção em seus enfurecidos olhos rubis que almejavam mais que uma simples tortura psicológica.

— Eu vou te matar lentamente, – disse serio, extremamente calmo por entre os dentes. – assim como você matou todas aquelas pessoas na minha frente.

Syndra prendeu a respiração e engoliu em seco ao encolher-se ainda mais com o pavor, sendo pega de surpresa pela atitude do homem que fez seu corpo estremecer deixando seus lábios até então avermelhados empalidecerem com o nó que se formava em sua garganta por não conseguir soltar a voz.

— Zed, não... – identificou a voz eufórica e abafada de Shen, o Olho do Crepúsculo, cansado, se levantando do chão a pouco mais de um metro com a roupa encoberta de sangue e poeira. – Matar não faz parte da nossa família.

Por um momento, Zed permaneceu em silencio, pois, seu amigo Shen estava certo. Matar nunca fez parte dos ensinamentos de seu mestre, de sua nova casa e família... mas aquela, não era a sua casa e a sua família de verdade.

— ...não faz parte da sua, – murmurou o ninja de vermelho cego por vingança. – mas faz parte da minha família. – expos as lanças afiadas no pescoço da jovem que apertou os dedos trêmulos em seu braço, na tentativa inútil de impedi-lo.

— Zed! Não faça isso!!!

A Soberana Sombria fechou os olhos com força ouvindo seu coração bater forte em meio ao silencio perturbador da noite.

— Syndra?

Os olhos prateados se abriram em um piscar, ouvindo novamente a voz calma do Mestre das Sombras lhe chamar a atenção.

— Está tudo bem? – perguntou ele preocupado, a vendo o olhar assustada, a respiração um tanto ofegante e falha.

E foi naquele momento que, Syndra percebera que de alguma forma estava absorvendo as memorias de Zed em seu passado sombrio e distante. O problema? Era quem Zed tanto queria matar a sangue frio.

— S-sim, estou bem... – respondeu baixo, quase inaudível ao percorrer os olhos pelo local.

— Não, não está. – a enfrentou. – Você está estranha. Eu apenas te toquei e você começou a tremer. O que está acontecendo?

— Nada. – disse rápido, tentando desconversar.

— Então porque está me segurando com tanta força?

Perguntou ele a fazendo reparar que estava usando magia, suas três esferas negras carregadas de energia que transbordavam em pequenos raios a sua volta, posicionadas a centímetros das costas de Zed, o qual segurava firme seus ombros de modo a afastá-lo de si.

— Desculpa. – pediu ao se afastar do homem o soltando, desfazendo suas esferas no ar. – Acho que acabei perdendo o controle. – comentou olhando para as mãos, sem saber como aquilo estava acontecendo.

— Você está me escondendo alguma coisa. – disse serio. – Fala logo. O que é? – exigiu. – Syndra, o que está acontecendo!? – elevou a voz.

— E-eu... – gaguejou. – Eu... – iniciou sendo interrompida pelo ruído dos fogos de artificio que queimaram no céu.

O casal olhou por entre as folhagens das árvores o céu escuro tingir-se em uma chuva de diversas cores, misturando-se com o brilho das estrelas.

— O Festival não é só amanhã? – perguntou ele estranhando.

— Pelo visto anteciparam a comemoração.

— Não. Os ionianos respeitam muito a tradição do Festival do Florescimento. – comentou. – Eu não estou com um bom pressentimento sobre isso. – deu um passo para trás antes de se virar. – Vamos...

Sem questionar, Syndra seguiu Zed até onde estava os preparativos para o Festival do Florescimento, considerado um dos festivais mais lindos por suas graciosas flores e esperançoso por divindades lhe concederem bênçãos de renovação espiritual. Um grande arco de robustas flores ficava posicionado no início e no final da extensão das várias barracas vermelhas, dando passagem por todo aquele ambiente sofisticado, porém, alegre e descontraído. Apesar da mensagem bondosa que o festival passava para os ionianos, para Zed, não era o mesmo. Aquilo não era um festival, era um cemitério de uma grande chacina.

— Tem algo errado aqui. – disse ele segurando inconscientemente a mão da jovem que estava perto da sua, porém, sem desviar a atenção do lugar totalmente vazio e isolado.

Surpresa pela atitude, Syndra pode sentir pelo toque a tensão do homem passar por seus dedos, mas ela logo os entrelaçou nos seus, fazendo o ninja imediatamente desviar a atenção para os seus chamativos olhos prateados.

— Não tem nada aqui. – garantiu ela em um sorriso gentil. – Vamos para casa.

Tudo o que Zed mais queria naquele momento, era que aquela frase fosse verdade, no entanto, estaria enganando a si mesmo em uma mentira na qual sabia que Syndra podia lhe transmitir a sua calma. Ela sempre o acalmava. Não podia deixar-se levar dessa vez, seu mau pressentimento e sexto sentido estavam o chamando desesperadamente para ali.

— Syndra, tem algo que eu preciso fazer. – avisou serio. – Você tem que ficar aqui até eu voltar. – ordenou.

— Você vai voltar? – perguntou sem desviar a atenção dos olhos rubis.

— Eu nunca a deixaria. – garantiu sentindo os dedos da maga escorregarem pelos seus ao se afastar.

Lentamente, os dedos da jovem voltaram a pender ao lado do corpo, sentindo como se algo lhe fora retirado em um único suspiro, mesmo assim, ela fitou imóvel e calada o ninja correr por entre as barracas antes de sumir completamente. Por mais que o medo e a insegurança lhe transbordassem o corpo, ela nunca pediria a ele para ficar. Não podia dar-se ao luxo de deixar um sentimento se apoderar de si em tempos de guerra. Confiava nas habilidades e no potencial de Zed, disso não tinha dúvidas, o que a atormentava era o seu sexto sentido também a chamando desesperada para ir atrás dele.

— Isso é ridículo! – disse a si mesma irritada pela agonia, virando-se para ir embora junto com o vento forte soprando-lhe o rosto em um murmúrio.

Syndra parou olhando a sua volta à procura de algo ou alguém. Sabia o que tinha escutado, e não era o vento. Cautelosa, deu um passo à frente, um pé de cada vez, passando por baixo do arco que dava entrada para o outro lado do festival. E imediatamente, sua mente encheu-se com gritos desesperados e sussurros amedrontados das vítimas da chacina que havia ocorrido ali anos atrás, seus olhos assustados vendo por um breve momento o lugar vazio ser tomado por pessoas correndo sem folego, caindo no chão em cima uma da outra em um mar de sangue ao som grave de uma opera.

— “Você acha que pode impedir a minha apresentação?” – ouviu a voz calma da sombra de um homem atravessando as chamas altas do fogo ardente que consumia as barracas em volta. – “Um ator substituto não pode me ofuscar.”

O homem caminhou calmamente com o corpo em chamas em direção a maga, os olhos sombrios brilhando por detrás do que parecia ser uma máscara em seu rosto, escondendo o seu sorriso triunfante ao estender o braço mirando a arma para Syndra que deu um passo para trás com o barulho ensurdecedor do disparo, a forçando a fechar os olhos, abrindo-os pouco tempo depois vendo o local vazio e silencioso novamente, percebendo que aquilo tudo não passara de uma das memorias de Zed que a assombravam. Distraída, ela balançou a cabeça se desfazendo de seus pensamentos ao avistar uma sombra passar correndo, rapidamente, ela foi ao seu encontro tornando seus olhos prateados ameaçadores com o poder de sua magia negra envolvendo seus dedos ao emergir do chão suas três esferas. Não demorou muito para que logo encontrasse o intruso as espreitas. Ágil, Syndra o encurralou atirando suas esferas antes de saltar para cima do adversário, ficando por cima de seu corpo, sentando em seu abdômen com as pernas em cada lado de seu corpo deixando seu vestido ainda mais justo sob as coxas enquanto mantinha as mãos firmes nos ombros largos, o pressionando contra o chão com o seu poder, só então dando-se conta de quem era: Shen, o Olho do Crepúsculo.

— Onde está o Zed? – perguntou ela apressada e autoritária.

— Eu estava para te fazer a mesma pergunta. – sorriu por baixo da máscara azul para provoca-la.

Impaciente, a maga levou uma das mãos até o peito do homem que reprimiu um grito de dor ao sentir os ossos petrificarem ainda mais com a magia que se espalhava por suas veias como um veneno, ressaltando-as perto de seus assustados olhos dourado como o ouro tendo as escleras tomadas lentamente por manchas negras indo em direção a sua pupila.

— Eu não sei! Eu não sei! – berrou apressado fazendo Syndra cessar seu poder.

— O que foi? Tem medo do escuro? – divertiu-se com o desespero do adversário.

— Nada me faz mudar de ideia que você é apenas um monstro no corpo de uma garota. – retrucou baixo, irritado. – Agora, sai de cima de mim antes que eu coloque o seu nome no topo da minha lista.

De repente, o estalido de um galho sendo pisado os obrigou a olhar para o lado, onde Akali, o Punho das Sombras os observava seria com os braços cruzados pela cena inconveniente.

— Eu estou te atrapalhando? – perguntou Akali em um sorriso desafiador, porém, sem esconder o mau humor na voz enquanto encarava Syndra.

— Claro que não. – sorriu ela convencida ao se levantar. – Não se preocupe, não tenho atração alguma por homens fracos de mente pequena. – passou pela morena deslizando a mão pelo longo cabelo.

— Engraçado você dizer isso. Porque se eu me lembro bem foi o acovardado do seu aliado que criou um exército para vir nos enfrentar. – retrucou sem resposta.

Estranhando o silencio, Akali virou-se para a inimiga imóvel alguns passos à frente, olhando pensativa para céu, para a lua brilhando forte em meio as estrelas.

— O que deu nela? – se perguntou Shen aproximando-se de Akali.

— Syndra? – a ninja de verde chamou a jovem que permaneceu imóvel. – Está tudo bem?

— Vocês não estão ouvindo?

— Ouvindo o que?

— Alguém está... – fez uma breve pausa. – sussurrando...

O casal se entreolhou desconfiados. Não havia ninguém ali, não se escutava se quer o som das aves noturnas ou da água fluindo do rio que tinha por perto, somente o silencio monótono de uma noite de brisa fria.

— Syndra, o que está acontecendo? – perguntou a morena preocupada.

— O que você está ouvindo, Syndra?

Os olhos prateados percorreram atentos cada canto a sua volta, sem conseguir distinguir de onde vinham as vozes.

— “Não! Não! Por favor! Tenha piedade!”

— “Porque está fazendo isso!?”

— “O que quer de mim?” – concentrou-se em uma das vozes abafadas, o medo nítido em cada palavra. – “Por favor... Por favor, não me mate!” – implorou segundos antes do barulho ensurdecedor de um disparo, o qual fez a maga sobressaltar-se.

— “Encantador.” – distinguiu a voz calma e fria do assassino vindo atrás de si. – “Quando te descobrirem,” – ele murmurou em seu ouvido. – “todos irão chorar.”

— Syndra olha para mim!

Shen a chamou tocando em seu rosto pálido, trazendo de volta a sua atenção.

— Ele está aqui. – ela murmurou sem desviar dos chamativos olhos dourados.

— Quem está aqui? – perguntou calmo, temendo a resposta.

— O Demônio Dourado.

O Demônio Dourado, mais conhecido como Khada Jhin, um meticuloso psicopata criminoso que acredita que assassinato é arte, obtinha o prazer cruel de fazer apresentações nefastas usando a própria arma como pincel para criar obras de brutalidade artística, horrorizando suas vítimas e espectadores. Para Shen e Akali, seu nome e codinome era a ultima coisa que queriam ouvir por aquelas terras, tendo em vista que, outrora, fora um prisioneiro ioniano libertado por membros obscuros do Conselho.

— O que você sabe sobre ele? – foi a vez de Akali perguntar.

— Eu posso ouvir... – disse um tanto confusa, sem acreditar nas próprias palavras. – Eu posso ouvir as vozes das pessoas que ele matou aqui... de todas elas.

— Como fez isso?

— Eu não sei... – se afastou levando os dedos até a testa, sentindo uma intensa dor de cabeça apoderar-se de si.

— Como sabe que ele realmente está aqui? Você pode senti-lo por perto?

— O que ele quer? O que veio fazer aqui?

— Eu não sei! – repetiu irritada, agachando-se tampando os ouvidos. – Eles não param de gritar!

— Se concentra!

— Você tem que se acalmar!

— Eu não quero me acalmar! – berrou enfurecida estremecendo o chão que trincou a sua volta com o descontrole. – Fica longe de mim! – ordenou respirando fundo. – Aargh... – grunhiu apertando ainda mais as mãos sob as orelhas, tentando controlar-se, estabilizando a terra.

Cauteloso, Shen se aproximou novamente da jovem, agachando-se ao seu lado.

— Se realmente pode ouvir as pessoas que morreram no massacre que houve aqui, eu sei que deve estar sendo difícil controlar-se. – comentou. – Eu estava lá no dia. Eu ouvi também, e vi tudo com os meus próprios olhos. Jhin não é um adversário qualquer! E é por isso que eu preciso que você me diga tudo o que sabe. Se você não me disser, pessoas inocentes irão morrer de novo aqui! – avisou sem obter uma resposta, balançando a cabeça inconformado com o silencio. – Syndra, porque ele está aqui!? – voltou a exigir elevando a voz ao mesmo tempo em que a jovem maga retirou as mãos do rosto assustada. – O que foi? Você sabe!?

— Céus... – murmurou Akali ao dar-se conta. – Ele está atrás do Zed.

Lentamente, Syndra levantou os cílios mostrando os olhos perplexos.

— “O palco está pronto.” – ouviu a voz do assassino.

— “Corre...!” – as diversas vozes das vítimas sussurram enchendo a sua mente, a despertando.

E sem pensar duas vezes, Syndra levantou desajeitada antes de se virar e correr rapidamente adiante por entre as barracas vazias, as chamas das velas ofuscando com a leve brisa que soprava trazendo diversas pétalas de rosas junto a alguns fios de seu cabelo branco para a frente de seus olhos focados na enorme passagem do arco ao longe, ouvindo as incontroláveis vozes sussurrarem a apressando em meio ao som abafado e ritmado dos batimentos cardíacos de Zed cada vez mais forte da saída. Ofegante, a Soberana Sombria atravessou o arco que trouxe novamente o silencio perturbador da noite no instante em que avistou as costas largas do Mestre das Sombras a alguns metros, a fazendo diminuir os passos ao se aproximar abrindo um sorriso aliviado, sorriso o qual logo desapareceu junto com o ruído alto de um disparo que atravessou a cabeça do ninja ao mesmo tempo em que a maga parou atrás de si sentindo o sangue quente espirrar em seu rosto. Paralisada, a jovem viu o corpo pesado do homem lentamente ir ao chão e ser engolido por uma sombra que se formou a sua volta, deixando apenas a sua máscara de ferro girando devagar no chão, parando quando a maga engoliu em seco o desespero sentindo o gosto amargo do sangue do aliado descer pela garganta antes de soltar dos pulmões um longo e estridente grito aterrorizado, caindo de joelhos, fechando os olhos com força levanto as mãos à cabeça ao expandir imediatamente o seu poder em uma onda por toda Runeterra, apodrecendo tudo ao seu redor enquanto o céu cheio de estrelas foi encoberto por uma tenebrosa nuvem negra carregada de raios e trovões que estremeceram a terra.

Apressados, Shen e Akali se aproximaram segurando-se por entre as árvores ao redor devido o breve terremoto, analisando a bagunça que se formava em volta da maga que tateava desesperada o chão em meio as lagrimas transbordando descontroladas por seus cílios, escorrendo por sua bochecha manchada de sangue até a máscara de ferro.

— A beleza, não existe sem a dor.

Os dois ninjas de Kinkou reconheceram a voz calma do homem alto e esguio ao fundo, de vestes preta por baixo da túnica branca, posicionado de lado com as pernas alinhadas ao braço que segurava em mãos uma arma branca detalhada em dourado e azul fosco. Jhin, o Virtuoso, tinha seu rosto escondido por uma máscara branca, mas deixando perceptível os seus frios e atentos olhos negros.

— E ela é extremamente linda por isso. – completou o atirador em um sorriso por detrás da máscara, girando a arma entre os dedos.

— O que você fez?! – vociferou Shen enraivecido.

— Adoro me apresentar, mas odeio multidões. – desviou a atenção para Akali e Shen que o encaravam com as espadas e kamas em mãos. – Eu me lembro do seu pai, um homem piedoso que apenas será lembrado pelo fracasso. – comentou indiferente. – Também tenho planejado a sua apresentação final a algum tempo. Seu pai me impediu uma apresentação, você será o seu substituto.

— ...traz ele de volta. – ouviram a voz embargada de Syndra. – Traz ele de volta agora! – ordenou elevando a voz.

— Óh minha querida, a sua vida não tinha valor antes de mim. – explicou convencido. – Deixe-me, tocar o seu coração. – estendeu a mão com a arma para o peito da jovem.

— Eu não tenho um coração. – disse sem se intimidar pela mira. – Você acabou de pisar nele. –levantou o rosto, o olhando calmamente dentro dos frios olhos negros com as bochechas ainda molhadas. – Sabe o que senti? – perguntou seria fazendo um arrepio percorrer o corpo do homem.

Cauteloso, Jhin deu um passo para trás quando paralisou dos pés à cabeça ao sentir o coração apertar repentinamente, batendo dentro de si cada vez mais forte como quisesse se libertar.

— Mas o que está acontecendo!?

Em um piscar de olhos, seu coração voou de seu corpo para os dedos de Syndra estendidos em sua direção, os quais ela cravou lentamente as unhas no órgão que apodrecia rapidamente junto com o corpo de seu hospedeiro, o levando ao chão com as mãos tremulas tateando o buraco em seu peito escorrendo descontrolado o sangue por suas roupas, formando uma possa ao redor de seus joelhos, os lábios atrás da máscara começando a ficar roxos sem conseguir respirar pela dor intensa se apoderando de suas veias dilatadas.

— Syndra não faça isso! – berrou Shen tentando impedi-la.

Sem sucesso, Shen e Akali foram pressionados contra o chão devido à pressão do ar que caiu drasticamente formando enormes crateras com tamanho poder.

— Ninguém... – disse com a voz grave ao se erguer com a postura ereta em meio as suas três esferas, os fios de seu cabelo branco voando em frente aos olhos extremamente enraivecidos brilhando em total poder. – Ninguém se opõe a mim!

Um enorme círculo magico repleto de ideogramas surgiu abaixo e acima da maga, suas escritas rodando em direções opostas, trazendo os violentos raios do céu obscuro para a sua volta, o vento forte levantando as árvores pelas raízes junto com as pedras e a água do rio evaporando. Tudo foi tomado por uma densa nevoa negra, aterrorizando ainda mais os que estavam ali debatendo-se loucamente na tentativa inútil de buscar ar e sobreviver a densa escuridão que apoderava-se de seus olhos e corroía a mente, retirando-lhes os sentidos. Com dificuldade, Shen estendeu o braço pesado para tocar nos dedo sujos de Akali, agoniada com seus olhos verdes transbordando as lagrimas por não sentir o toque do homem, enquanto Jhin, em seu último suspiro de morte, tossiu o sangue preto por entre os lábios ao deitar a cabeça lentamente sob a terra, vendo embaçado a Soberana Sombria o torturar cruelmente quando, seus cílios se fecharam no instante em que uma sombra apareceu atrás da maga torcendo-lhe o pescoço, a fazendo desmaiar ao mesmo tempo em que seu coração retornou para o corpo, arregalando os olhos em um choque ao obter o forte ar nos pulmões. Ofegante em meio a uma tosse seca, o atirador se ajoelhou tonto, piscando os olhos confuso ao ver tudo de volta ao normal, como se aquilo não tivesse passado de um pesadelo, porém, o motivo estava bem adiante. Zed, o Mestre das Sombras segurava Syndra, a Soberana Sombria desacordada em seus braços seriamente feridos com cortes profundos e cheio de queimaduras, ensanguentados por ter atravessado a barreira mágica.

— Como... Como você está vivo!?  – perguntou o assassino sem acreditar que havia errado um tiro pela primeira vez.

— Anjo Guardião. – respondeu Akali fraca, levantando-se desajeitada junto a Shen. – Ele fez o corpo falecer por quatro segundos. Uma das técnicas proibidas por levar a mente a um estado de estase. Sem um autocontrole, a pessoa realmente pode morrer. – explicou. – Você realmente joga sujo. – comentou com desgosto.

— Desculpe desaponta-los, mas não penso em morrer antes de matar todos vocês primeiro.

O sorriso triunfante se espalhou nos lábios de Zed que não se incomodou pelo seu rosto com algumas cicatrizes estar a mostra, os seus olhos rubis continuavam sérios e confiantes em meio ao cabelo negro bagunçado.

— Eu não entendo... – Jhin voltou a dizer levantando-se. – Você pertence as sombras, nenhum público pode te amar! Quem é ela? – perguntou curioso, recompondo-se.

— Porque está interessado nela agora? – desconfiou.

— Porque a arte requer... certa crueldade. – disse olhando fascinado para a jovem desacordada. – Tenho que admitir, essa garota sabe fazer uma grande performance.

— Fica longe dela. – avisou.

— Você quis me matar, não é? – lembrou. – Você vai aprender, a arte não pode ser morta. Quando chegar a hora, eu ensinarei a essa garota que o mundo é cruel, mas que ele não precisa ser feio.

— Ora seu...!

E rapidamente, Jhin retirou do cinto duas capsulas, a atirando em direção aos ninjas que tossiram quando o objeto tilintou no chão liberando uma densa fumaça para camuflar sua fuga.

— Droga! Ele sumiu! – Shen percorreu os olhos a sua volta, a procura do atirador.

— E mais uma vez a sua misericórdia tola manchou o legado do seu pai. – zombou de mau humor o ninja de vermelho.

— Então, você já sabia?

— Não a mais tempo que você. A Syndra infelizmente consegue prever as vezes a morte, mas não é algo muito certo. Ela viu um homem com uma arma e um cadáver. Imaginei que só pudesse ser ele, já o cadáver, – fez uma breve pausa. – não me passou a cabeça que pudesse ser eu. Agora, se me dão licença, – ajeitou a jovem nos braços doloridos. – eu preciso trazer alguém de volta. – deu as costas para os dois ninjas de Kinkou.

— Zed, espera. – chamou Shen fazendo o rival parar sem se virar. – Não dá mais... – iniciou em um arfar, voltando a postura superior. – A Syndra tem que vir com a gente, agora. – disse sério.

— Esta tentando me ameaçar? – perguntou de mau humor, o olhando de canto, enraivecido pela audácia das palavras.

— Não. – respondeu Akali se pondo ao lado do amigo. – Estamos apenas fazendo o nosso trabalho, mantendo o equilíbrio. Você viu o que ela fez! Está fora de controle e precisa ser detida.

— O seu povo libertou um serial killer que neste momento está por ai a solta planejando mais um massacre e vocês estão mais preocupados com ela por ter tido apenas um descontrole emocional? – estranhou.

— Ela é uma ameaça! – voltou a falar a ninja convencida. – Se você realmente tivesse morrido não teria sobrado nada e nem ninguém por aqui. Você não entende do que ela é capaz?

— Eu sei o que pensa sobre nós, mas acredite, somos os únicos que podemos ajuda-la! Se me deixar leva-la eu prometo que não a farão mal algum. Zed, ela precisa de ajuda!

— Sua? – gargalhou divertindo-se com a ironia. – Com certeza não, Shen. – voltou a dar as costas.

— Não tente fugir! Você sabe! – o Olho do Crepúsculo berrou impedindo o Mestre das Sombras de prosseguir. – Se continuar a protegendo, você mesmo irá matá-la. É apenas uma questão de tempo para os mais poderosos magos do Conselho irem atrás dela, e você e nem mesmo um exército de todas as nações vão poder impedir isso.

Zed permaneceu em silencio por um instante, olhando para o rosto cansado da jovem desacordada em seus braços, apertando os dedos ainda mais em seu ombro e sua coxa ao pensar que poderiam lhe tirar a vida. O que estava fazendo realmente era o certo? Deveria dar-se a chance de confiar a segurança de Syndra outra vez ao Conselho ioniano?

— “Você vai voltar?” – lembrou-se das últimas palavras que ouviu da jovem antes de toda a confusão.

O sorriso gentil e contagiante daqueles lábios nítidos em sua mente quando sempre estava ao seu lado.

— Eu não vou impedi-los. – respondeu alto erguendo a cabeça, calmamente para o seu antigo adversário. – Ela vai matar todos eles antes mesmo que um de nós dois pense em fazer algo. – voltou a olhar serio diretamente nos olhos dourados de Shen que trincou os dentes tentando conter a irritação. – E você sabe disso. – sorriu convencido, o provocando. – Esteja preparado, Shen. Eu nunca a vi perder uma luta. – avisou antes de voltar a caminhar.

— Vai se arrepender por isso.

O Mestre das Sombras sabia melhor que qualquer um o potencial incrível e surreal que a Soberana Sombria tinha com a magia, e que um dia iriam retirar isso dela a qualquer custo, mas tinha a certeza que ela conseguiria se manter firme e forte como uma verdadeira Soberana.

— Tsc! Você só me dá trabalho. – resmungou caminhando pelo corredor largo de seu templo com o corpo ainda extremamente dolorido.

Assim que entrou no quarto mal iluminado, ele a deitou no colchão bagunçado se desequilibrando em cima dela, aproximando seus rostos a ponto de suas respirações chocarem-se, os lábios a milímetros dos dela que abriu os olhos lentamente fitando os seus intensos olhos rubis.

— Zed...? – murmurou surpresa, piscando ainda sonolenta, mas logo sua expressão fechou-se quando estendeu o braço estalando os dedos no rosto do homem, o fazendo virar o pescoço com a força do tapa.

— Mas que merda você pensa que está fazendo!? – massageou a mandíbula.

— Isso, foi por ter mentido para mim. – o empurrou para o lado, o tirando de cima de si para poder sentar-se o observando seria ao seu lado.

— Certo, eu sei que o que fiz-- – foi interrompido por outro tapa ao voltar a atenção para a jovem irritada.

— E isso por ter me acertado. – completou. - Sabe o quanto eu te odeio por isso!?

— Argh! Da para parar de me bater! Que droga! Eu não tive escolha!

Zed voltou a perder a voz ao sentir os dedos de Syndra o puxar pela camisa, o fazendo arregalar os olhos e prender a respiração quando os avermelhados lábios frios pressionaram nos seus por um breve momento.

— E isso, – ela murmurou sem se afastar, o olhando dentro dos olhos rubis confusos e surpresos. – por você ter voltado para mim... – sua voz saiu quase inaudível, chorosa ao passar os braços por seu pescoço, o abraçando forte com o coração apertado. – Obrigada... – agradeceu prendendo os dedos em sua roupa vermelha, escondendo o rosto em seu ombro. – Obrigada... – repetiu.

Foi naquele momento que, Zed percebeu o que realmente tinha feito a ela e se permitiu fechar os olhos e abraçar aquele pequeno corpo contra o seu.

— Desculpe por assusta-la. – pediu enroscando os dedos em seu cabelo, a acalmando. – Você está bem? – perguntou a afastando, tocando em seu rosto sujo para ver seus olhos que tinham a cor das íris distintas.

— Eu estou bem, não precisa me olhar irritado desse jeito. Só preciso de um tempo, sabe disso.

Ele respirou fundo sem gostar da situação.

— Syndra, escute. – disse serio. – Minha morte não é motivo para você destruir o mundo e extinguir todos os seres vivos daqui.

— Você fica bravo quando eu não me importo, e fica bravo quando me importo. Isso é confuso... – murmurou voltando a deitar-se de costas para o homem.

Zed abafou um riso.

— Você é mais mimada e egoísta do que eu imaginei. – resmungou um tanto de mau humor, mas logo sorriu pela implicância da jovem e tocou em sua testa que queimava em febre a ponto de arder a ponta dos seus dedos. – Tem certeza que está se sentindo bem? Syndra? Syndra?! – chamou preocupado sem ter uma resposta por ela ter pego no sono. – Tsc! Droga... Não me assuste desse jeito, sua idiota! – grunhiu irritado embora sentia-se aliviado.

O Mestre das Sombras se levantou e caminhou até a porta remexendo o pescoço, o estalando, sentindo os músculos latejarem cada vez mais, porém, parou quando seus dedos estavam prestes a deslizar a porta, permitindo-se virar para ver Syndra dormir encolhida em sua cama, os lábios entreabertos sem conseguir respirar direito. Apesar de saber que seu mau estar era apenas seu corpo reagindo ao alto nível de poder, não pode deixar de pensar que estaria a abandonando. Ele abaixou a cabeça arfando pesado, imaginando o quanto ela aguentou o dia inteiro por sua causa, então, caminhou em sua direção retirando a armadura pesada antes de jogar a camisa preta encharcada de sangue em qualquer lugar no chão.

— Acho que descansar um pouco não vai ser tão ruim. – sorriu malicioso deitando-se ao lado da maga que sorriu quando ele passou o braço forte por sua barriga, a puxando para mais perto de si, a fazendo se ajeitar em seus braços, no entanto, sonolenta, acabou esfregando-se por um instante no homem. – Syndra... – advertiu ele em voz baixa, tentando conter o volume entre as pernas quando a sentiu esfregar-se em si para se aconchegar.

— Desculpe... – pediu a maga quase inaudível, ouvindo o homem respirar fundo em seu ouvido, mas sem se importar com a situação constrangedora.

Desde que Zed conhecera Syndra, havia adquirido um autocontrole fora do comum devido as provocações da maga, embora muitas vezes fosse inocente, não tinha como não a olhar tendo em vista que nunca ficara em contato próximo por tanto tempo com outra mulher, principalmente, que fosse um verdadeiro colírio para os seus olhos apesar da personalidade forte sempre bater de frente com a sua, o enfrentando. Perdido em seus pensamentos, sabia que Syndra havia absorvido suas memorias, não era preciso muito para decifrá-la, ela sempre ficava calada e mantinha a distância quando via algum fragmento por descuido de seu poder. Não sentia raiva por ela lhe invadir a mente, apenas se perguntava como eles conseguiam sentir tão forte e intenso a presença um do outro até que, lembrou-se da vez que questionou seu mestre sobre Shen e Akali nunca se separarem em batalha.

— “A guerra é um lugar sombrio.” – a voz embargada de seu mestre encheu-lhe a mente. – “As pessoas pisam no campo apenas com a certeza de que irão morrer, e é por isso que precisamos ter vínculos um com o outro, para não nos perdemos e deixar-nos levar pela loucura.” – explicou. – “Não é apenas alguém para prendê-lo. Precisa ser alguém que pode puxá-lo de volta.” – Zed entrelaçou seus dedos quentes nos frios de Syndra. – “Alguém que tem uma forte ligação com você, uma espécie de corda emocional.”

— Eu vou protege-la. – garantiu ele. – Eu prometo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, =) ... e sim, isso foi o que me deu vontade de fazer com o Jhin quando descobri que o Zed ia morrer, e achei que o sofrimento foi pouco ainda, :v



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