—Ei, Aika-chan!

Levantei os olhos do meu obentô e olhei para Chiki:

— Hum?

— Vamos ver os resultados do bimestre!

Saímos da sala e andamos pelos corredores até um dos vários murais dispostos pela escola.

— Heh? Nem consegui entrar... – murmurou a Chiki – e você Aika-chan?

— Terceiro... Nada mau.

— Nada mau? Sua série tem quantos alunos mesmo, Ai?

Senti alguém encostar o queixo no topo da minha cabeça e olhei para cima só para confirmar o que eu já sabia.

— Oi, nii-chan...

— Oi, Kousuke.

— Olá, meninas. Você deveria ficar feliz com sua colocação, senhorita “nada mau”. Você nem teve tanto tempo de estudar com a mudança, lembra? – retrucou o Kou, enquanto me entregava um chá.

— Estou feliz, por isso eu disse “nada mau”, senhor “primeiro lugar”.

— Como você pode ter tanta certeza de que eu tirei primeiro lugar, hein?

— Tá, nii-chan... Que lugar você tirou? – perguntei com minha melhor cara de tédio.

— Primeiro. – ele disse mostrando a língua e se afastando.

— Idiota.

~

Meu nome é Yoshihara Aika e este é meu primeiro ano de colegial. Atualmente, moro apenas com meu irmão mais velho, Kousuke, em um apartamento, porque nossos pais que se mudaram por causa do trabalho.

— Deu tudo certo em relação à sua mudança, Aika-chan?

— Mm... Sim, só que o apartamento ainda está um pouco bagunçado...

Meus pais foram à América no meio do ano passado, mas como minha escola do fundamental ficava perto da nossa antiga casa, eu continuei morando lá até o início desse ano, quando me mudei para o apartamento onde o nii-chan mora, que fica mais perto do nosso colégio.

— Então eu vou à sua casa hoje para te ajudar a arrumá-la, ok?

— Não precisa, Chiki, o nii-chan está me ajudando... – Chiki é o apelido que eu dei à minha amiga de infância, Tanaka Shizuko.

— Heh? Mas eu quero te visitar!

— Tá bem, mas pode ser semana que vem?

~

— De qualquer forma, - eu disse à Chiki enquanto arrumávamos nossos materiais – Vou estudar duro e chegar ao primeiro lugar no próximo bimestre.

— Eu acredito em você, Aika-chan, mas o garoto que ficou em primeiro lugar é realmente muito inteligente.

— Ah, é? Eu não vi o nome dele, quem era mesmo?

— Ichinose Yusuke-kun. Ele entrou com a melhor pontuação nas bolsas. Além disso, ele é extremamente bonito e atlético.

— Heh? Sua amiga, - respondi, fingindo ser outra pessoa – uma tal de Aika, ouvi dizer que ele é bonita e atlética também...

— Bobona.

Já estávamos chegando na entrada da escola, onde trocaríamos nossos sapatos quando esbarrei num garoto.

— Oh, me desculpa... – eu disse pegando alguns livros meus que caíram no chão.

— Eu que peço perdão – respondeu o garoto, me ajudando com os livros. Bem, eu não estava prestando muita atenção nele, mas, depois de ouvir sua voz perfeita, eu tive que olhar para ele.

— Aika-chan, o que foi aquilo? Preste mais atenção por onde anda, você podia ter se machucado!

— Ah, sim, me desculpe, Chiki... Mas... Quem era aquele garoto? Até que ele era...

— Bonito? – ela me interrompeu, sorrindo.

— Bem, eu diria “não feio”.

Isso fez a Chiki cair na gargalhada.

— Era o Ichinose-kun... – ela respondeu.

— É, pensando melhor, ele não era lá essas coisas...

— Aika, qual é? Não estamos nem no segundo bimestre e metade das meninas da escola gosta dele.

— É, mas ele pode ser um idiota por dentro, não temos como saber. Eu estou pensando no lado psicológico dele.

— O quê?

— Bem, você sabe, não podemos ficar observando apenas as aparências... Por exemplo, só confio no Kou porque ele é meu nii-chan, não porque ele é bonito ou qualquer coisa do gênero.

 - Ah, claro, mas... O Ichinose-kun tem cara de ser o tipo de pessoa que adota gatinhos abandonados...

— Pff, você não tem como saber... – respondi, rindo.

Trocamos nossos sapatos e saímos do prédio da escola.

— Meu Deus, cadê o Kou? – perguntei olhando para os lados.

— Procure um grupo de meninas gritando “kyan” por aí. – disse a Chiki.

— Mmm... Achei! Tchau, Chiki, até amanhã.

 Corri em direção ao amontoado de garotas, me espremi entre elas até alcançar a camiseta do Kou que, ao me perceber, me puxou para perto dele.

— Desculpem, meninas, mas agora eu tenho que ir embora.

Apesar de sempre rejeitar as garotas que se confessavam a ele, Kou sempre foi gentil com elas. Mesmo que as repelisse quando eu estava por perto, ele sempre aceita presentes e as acompanha quando é chamado. Já estávamos na metade do caminho quando eu disse:

— Sabe, nii-chan, será que está tudo bem agirmos desse jeito?

— Desse jeito como?

— Bem, sempre voltamos da escola juntos e tal... E mesmo na escola sempre nos abraçamos e esse tipo de coisa...

— Qual o problema? Somos irmãos, certo?

— Sim, mas... Essas meninas que sempre estão com você... Elas podem entender errado. Isso poderia ser ruim pra você...

E para mim. Não sei se na vida real essas coisas acontecem, mas, ao menos em animes e mangás, garotas apaixonadas fazem de tudo para conseguir o garoto de quem elas gostam. Até brigar. Mas, mesmo que eu pense assim, eu gosto de poder abraçar meu irmão sempre que quiser. Isso me dá uma sensação de segurança que não tenho com mais ninguém.

— Eu não vejo problemas, porque não quero nem pensar em ficar com uma garota que não aceita que eu abrace e beije minha irmã.

~

Estávamos jantando quando tive uma ideia:

— Nii-chan, tive uma ideia! Acho que vou começar a treinar algum tipo de luta.

— Por que? Posso te proteger se você precisar.

— É, mas e se alguma vez não estivermos juntos? Pode ser um problema.

— Mas...

— Isso já foi decidido. Amanhã vou procurar alguma academia de aikido.