Maldito seja meu crush do ônibus escrita por LUKAKKU


Capítulo 1
Estados Unidos, algum dia de dezembro de 2012


Notas iniciais do capítulo

Achei a primeira carta aqui pelo pc depois de mais ou menos um ano de ter escrito e resolvi tentar continuar. O problema é que não lembro onde queria chegar e estou com sono, mas tentamos né non.



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Você também tem uma paixão de ônibus? Ultimamente um cara novo tem pego a mesma linha que eu, mas a parada dele é duas depois da minha. Eu sei disso porque uma vez eu não desci na minha parada, eu queria saber onde ele desce, desci na mesma e fui embora andando. Não foi tão ruim andar mas depois eu fiquei pensando o quanto eu sou esquisito. Eu sou um stalker!

Depois que isso aconteceu eu decidi deixar pra lá. Tipo, não que realmente fosse rolar alguma coisa, paixão de ônibus é pra se observar de longe. MAS É DE LONGE. E EU SEGUI O MENINO. Decidi que precisava não ter essa paixão de ônibus. Eu repito demais as palavras, eu sei. O problema é que eu não consigo tirar ele da cabeça.

Sabe, eu comecei a usar óculos de sol só pra poder ficar encarando ele no ônibus. Ia mudar as lentes do meu óculos de grau pra transition mas percebi que nos dias nublados a lente não ficaria escura o suficiente. Então, isso é um problema. Eu paguei 10 dólares num óculos de sol de camelô sem proteção ultravioleta nem nada só pra ficar olhando para o guri!

Mas eu não posso evitar, ele é muito lindo. Tem cabelos loiros bem clarinhos, olhos verdes tipo a grama quando chove. Ele é bem pálido e tem sardas bem discretas em cima do nariz, quando ele fica em pé do lado que o sol bate fica rosinha bem rápido. Eu sempre vou sentado porque pego no terminal, mas ele sempre fica longe de mim, se não eu oferecia o lugar ou segurava a mochila dele. Mas nãããao, ele tem que ser difícil. E eu já tentei sentar em vários lugares diferentes, sei lá, parece que eu uso repelente para paixão de ônibus. Eu sei que nunca dá certo no final com ninguém, mas eu ainda quero reclamar.

Ele tem um ar de inteligente, usa mochila estilo carteiro, umas blusas sociais, coisas de lã ou seja lá o que é aquilo – coletes e suéteres e não são estúpidos, pode acreditar que nem unzinho parece ter sido presente de vó? Se bem que pensando agora, não teria por quê ele usar se é ridículo – e calças que não são jeans e tênis que não são esportivos. Me desculpa por não entender muito de moda, mas esse é o melhor jeito que eu consigo descrever para você.

E como se não fosse patético o suficiente, eu não posso contar pra ninguém, então o que eu resolvi fazer?  Escrever essa carta para alguém aleatório de algum país aleatório. Porque isso tá me consumindo. E se eu contar isso pra algum dos meus únicos cinco amigos, serei zoado pela eternidade. Não é como se nenhum deles tivesse tido paixão de ônibus, é que nenhum deles deve ser um maníaco perseguidor que nem eu.

Me escreva dizendo o que você acha sobre isso, por favor. Pode me chamar de nojento se quiser. Só seja sincero, okay? E me fale sobre você também. Futuramente eu te conto direito como eu sou e bla bla mas esse foi o motivo de inventar essa troca de cartas e eu preciso tirar isso de mim.

A.F.J – Estados Unidos da América

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Londres?, 22 de dezembro de 2012

Caro A.F.J,

Você não faz muita ideia da formatação de uma carta, não é? Depois tente seguir a minha para mandar as próximas, só por treino. Então, devo te confessar algo. Você endereçou essa carta para o meu endereço em Londres mas eu também estou nos Estados Unidos. Claro que é só por um tempo e daqui três meses eu volto para minha terra, estou fazendo intercâmbio aqui. É bem idiota porque, sabe, é a mesma língua praticamente, não tem aquela magia de terra desconhecida que ninguém entende o que você fala naturalmente. Sem ofensas. Portanto minha mãe envia minhas correspondências por fax para mim.

Pois bem, sobre a sua situação, acredito que não seja tão esquisito quanto você acha que é. Quero dizer, você só quis saber qual era a parada dele, não é? Não tem nada de mais, não é como se você tivesse parado sua vida inteira para ficar na sombra dele 24 horas por dia. Você só atrasou uns minutos, então tudo bem, não é tão “anormal” ou “nojento”. Normal não é mas... Você me entendeu.

Devo lhe confessar que eu também tenho uma paixão de ônibus. Mas não sou tão corajoso como você. Inclusive tento fingir que ele não existe. Se te serve de consolo, eu também sou um maníaco ou sei lá... Tirei uma foto dele escondido. Eu sei, horrível, mas eu não pude evitar! Nunca contei isso para ninguém então acredito que isso faz de nós confidentes, e eu não sou apenas um ouvinte. De qualquer forma, boa sorte, talvez se você tentar levantar antes de descer ou dizer um oi... Se bem que você é bem tímido, poderia passar um papelzinho com o seu número.

Oh, e sobre as roupas dele, acredito que você queria dizer que o suéter seja de cashmere e talvez calça caqui, bom, não é jeans. Talvez você esteja querendo dizer que ele usa sapatênis. Inclusive, achei legal você ter elogiado as roupas dele porque eu meio que sigo o mesmo estilo e achava que as pessoas daqui me achavam ridículo por isso. Menos mal, alguém gosta, haha.

Enfim, não tenho muito para falar de mim, eu sou tedioso de acordo com todo mundo ao meu redor. Estou fazendo faculdade de astronomia, gosto de séries, gosto de música punk e já que estamos confessando coisas, gosto de bichinhos de pelúcia. Gosto de escrever as vezes mas sou péssimo, prefiro ler. Não me dou bem com esportes, não que eu seja atrapalhado, mas eu sou muito competitivo, e isso as vezes estraga as coisas. Oh, eu gosto de churros... E não sei falar sobre mim. Sua vez agora.

Me sentindo meio idiota mas ansioso,

A.K.

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Estados Unidos, 24 de dezembro de 2012

Eu realmente não sei muito de como fazer o layout da carta. Ac

Caro A.K.,

Eu já tinha me esquecido que tem que botar esse “caro” aí no começo, mas olha, já estou progredindo!

Então, obrigado pelos conselhos. Eu tentei seguí-los, juro. Eu cheguei perto dele, disposto a dizer ao menos um oi, mas as palavras não saíram e acabou que fiquei encarando ele com a boca aberta numa careta. Vou desistir mesmo.

Enfim, sobre mim, eu sou aparentemente o que as pessoas chamam de nerd. Mas eu não sou inteligente. Quebrando estereótipos, ueba. Mas então, eu sou da galera excluída que perde um bom tempo jogando videogame, lendo quadrinhos e comendo coisas gordurosas. Graças a Deus eu tenho uma genética do caralho, se não minha cara ia parecer um chokito. Pensando bem, isso realmente não me importaria, já que as pessoas me excluem de qualquer maneira.

Incrivelmente também eu não sou gordo. Mas isso tem um porquê. Eu frequento a academia pra ficar bem quando tô fazendo cosplay. Não tenho um corpo de Capitão América da vida, mas modéstia a parte eu sou bonitinho até. Uma amiga me descreveu como homem-camarão: tira a cabeça e come o corpo. :P

Quais séries você gosta? Alguém que escreve e se veste como engomadinho gostar de punk me assusta, haha, as pessoas mais macabras são aquelas que imaginamos serem anjos.

Fora isso, não tem muito coisa comentável acontecendo na minha vida. Tô conseguindo subir minhas notas mas não sei o que fazer pra feira de ciências. Sim, eu sou um pouco mais novo que você, pelo visto. Meu amigo japonês ninja nerd já fez dupla. O bastardo conseguiu fazer com a menina que ele gosta, não posso impedir né.

Saiu o novo pokemon há uns dias, já fiz muita coisa e agora refleti do porquê de eu ser tão virgem.

Não entendi como faz essa parte da carta,

A.F.J

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Estados Unidos, 27 de dezembro de 2012

Caro A.F.J,

Admito, você já entendeu o conceito da carta – tirando pequenos erros mas aceitáveis.

Pois então eu e você estamos sem sorte. Dessa vez eu tentei ficar mais perto do meu crush, no entanto, ele não se abalou com a minha presença. Eu diria até que desgostou, pela cara que fez. Isso me deixou um pouco machucado, mas bem, é só um cara no ônibus o qual nem o nome sei.

Não tem nada de errado em ser virgem. Existe muita coisa errada em dedicar seu dia inteiro em atividades inúteis, principalmente quando se tem um projeto de feira de ciências para fazer quando se nem começou a pensar no que fazer. Levante sua bunda agora e vá trabalhar.

Sua carta chegou agora, resolvi responder imediatamente porque não tenho mais o que fazer mesmo. Apesar de estarmos de férias, domingo tem dessas vibrações esquisitas que deixam a gente mal.

Provavelmente a minha também vai demorar um pouco, considerando que os correios não estão em seus melhores dias, então já desejo um feliz ano novo.

E para resolução de ano novo, proponho que façamos um acordo: assim que vermos nossas paixões de ônibus, vamos puxar algum assunto mesmo que absurdo. E dessa vez você tem que fazer! Porque se eu fizer e você não, eu vou ficar chateado e cortar nossa relação. Pode ser por exemplo “Você tem horas?”. Na verdade essa é muito boa pra conseguir falar com um desconhecido, o problema é que não tem muita abertura para continuar a puxar assunto.

Inclusive, você vai aposentar o óculos do camelô, pois além de fazer mal para a visão, está bem nada a ver usar isso nesse clima, e vai ser bem melhor para o seu crush se lembrar nitidamente do seu rosto, quem sabe ele comece a te observar também!

Feliz natal atrasado e boas festas.

Sinceramente,

A.K.

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Estados Unidos, 3 de janeiro de 2013

Tem que começar com “caro”? É uma palavra tão forçada.

Meu brother A.K.,

Só vou voltar a andar de ônibus em fevereiro, mas sabe-se lá quando meu crush também volta.

Sabe o que a gente podia fazer? Marcar de se encontrar. Digo, o endereço do remetente é a meia hora de ônibus de onde eu moro, já te considero um amigo e não me agrada muito falar dos meus problemas pra alguém “sem cara”. Na verdade, até nossos nomes são anônimos.

Eu sou Alfred F. Jones. Tenho 17 anos. Prazer.

Você pode se apresentar pessoalmente. Quem sabe podemos ir no parque? Segue meu número, caso você concorde em combinar algo: (**)****-****. Podemos trocar SMS, fico desconfortável com ligações.

Alfred F. Jones

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Estados Unidos, 5 de janeiro

Aconteceu algo muito estranho, Arthur. Estou te escrevendo de novo porque você não responde minhas mensagens.

Aliás, ainda estou com raiva por ter levado um bolo, viu? Mas não muito. Sabe o meu crush do ônibus? Das primeiras cartas?

Estava eu sentado no banco do parque te esperando, jogando no meu DS, porque eu não sou obrigado a ficar olhando pro tempo até que você decida aparecer – se fosse depender disso então eu estaria lá até agora – quando senta alguém no mesmo banco que eu só que na outra ponta.

Levanto a cabeça pra olhar ao redor, pra ver se não tem outro banco vago ou se ele teve a audácia de sentar no banco que naquele momento eu considerava minha propriedade, mas o parque realmente estava cheio, fez até sentido ele sentar o mais longe o possível.

Mas tá, depois de escanear o ambiente, fui olhar pro sujeito. Adivinha quem era? Exatamente, o crush. Ele tava do meu lado lendo um livrinho de bolso. Fiquei nervoso, perdi vários pokemons, mas não queria ir embora. Não sei, queria ficar ali do lado dele.

Aí começou a chover, ele guardou o livro, sacou um guarda chuva e foi embora de um jeito meio melancólico. E eu levantei meu capuz e vim meio puto meio alegre pra casa.

Alfred F. Jones

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Estados Unidos, 8 de janeiro de 2013

Querido Alfred,

Depois da sua última carta liguei pontos que jamais me toquei antes.

Eu não te dei bolo. Eu sentei ao lado de um garoto loiro de cabelo bagunçado e moletom vermelho jogando videogame. Sinônimo seria dizer que sentei do lado do meu crush. Acredito que também sentei do lado de você.

 Não sei se fico feliz com essa constatação ou se me afogo num balde de água sanitária para suprir minha vergonha.

A única pessoa que confidenciei era a última que eu desejava que soubesse. É até bizarro, devido as circunstâncias.

Se você quiser, eu vou parar de te escrever. Se você quiser, eu engulo a paixonite e seguimos sendo amigos. Se você quiser...

Bem, eu vou parar por aqui. Estou surtando, como não pensei nisso?

Desesperamente(?),

Arthur Kirkland

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Eu te digo que sou confuso, que sou socialmente estranho, que não sei lidar com as coisas como as pessoas normais e você, uma pessoa normal, diz que está surtando.

Você quer imaginar então como eu me sinto?

Eu te digo.

Estou feliz. Porque querendo ou não eu sei que você não é só um rostinho encantador. Ou uma bundinha encantadora – eu reparo mesmo.

“Se você quiser” não depende só de mim. Eu quero ouvir de você, o que você quer. O U V I R, repare. Agora não dá porque a feira de ciências vai ser quando voltar as aulas e meu pai disse que não posso sair até idealizar algo, mas você que me aguarde. Vou te rastreiar e fazer uma serenata na sua janela, você não vai poder me ignorar que nem no ônibus.

ME AGUARDE.

Alfred


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Notas finais do capítulo

Tecnicamente, não tem um final de verdade por se tratar apenas das cartas, e o final estar no "pessoalmente". Mas se minha imaginação deixar, depois eu posto outra fic, continuando essa, sem ser carta.