Três Desejos escrita por Kayra Callidora


Capítulo 6
Capítulo Seis


Notas iniciais do capítulo

Oie :)



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Capítulo Seis

 
— Atena!

Poseidon correu escada abaixo, não se importando com o frio que penetrava sua pele como milhares de pequenas lâminas por não estar vestindo um agasalho sequer. Ouviu a porta da sala de estar ser fechada com força e parou, se perguntando, de repente, porque raios não havia se teletransportado ao invés de correr atrás de Atena. E foi o que fez. Em um segundo, aparecia do lado de fora, os pés descalços sob a areia da praia e tremendo com o vento gelado que soprava. Atena estava perigosamente próxima dele, de modo que podia sentir a respiração quente da deusa da sabedoria e ver com clareza seus olhos cinza tempestuosos.

— O que você quer, Poseidon? - ela indagou em tom bruto. - Não acha que já falou o suficiente?

Atena pisou para o lado, dando as costas para ele e seguindo em frente para... bem, ele não sabia, e ela provavelmente também não. Poseidon se adiantou para ficar lado a lado com ela, que caminhava em passos rápidos.

— Atena, por favor, me deixe fal...

— EU NÃO QUERO QUE VOCÊ DIGA MAIS NADA, ENTENDEU? - Atena gritou, piscando os olhos milhares de vezes, e aquela era provavelmente a única vez em que Poseidon a via perder o controle daquele jeito. - NADA!

Poseidon teve a impressão de ver seus olhos se avermelharem, mas era tão surreal acreditar que Atena poderia estar magoada que ele mal se permitiu acreditar.

— Mas eu vou falar - Poseidon insistiu, se colocando no caminho de Atena. - Olha, desculpe pelo que eu disse. Eu não quis dizer que...

— É claro que você quis, Poseidon - Atena interrompeu. - Do contrário, não teria dito.

— Você entendeu errado.

— É mesmo? E como eu deveria ter entendido? Que você quer que essa missão dure para sempre para que você desfrute da minha companhia?

Poseidon abriu e fechou a boca diversas vezes, mas não conseguiu pronunciar nada. A deusa parecia estar irredutível. Atena suspirou, se esquivando novamente de seu corpo e seguindo em direção à lugar nenhum. Sabendo perfeitamente o que ela estava prestes a fazer, e tentando convencer ao menos a si mesmo de que não estava tão errado assim, Poseidon segurou seu pulso, fazendo com que ela se virasse.

— Deixe eu me explicar.

— Eu não preciso de explicações, Poseidon. Eu já entendi - ela suspirou e olhou para o lado, para um horizonte invisível no escuro da noite. - Eu sei que minha presença aqui é insuportável para você. Por isso, não se deixe incomodar. Eu vou te deixar em paz.

Sem mais paciência, Atena puxou o próprio braço e se dissolveu em névoa dourada, fugindo de Poseidon pela segunda vez na mesma noite.

                               ***

Não tinha nem uma hora que Atena vagava pela ilha onde o esconderijo dos titãs ficava, e ela já não sabia para onde ir. Tudo bem, isso acontecera enquanto mapeava a outra ilha também, mas no contexto em que se encontrava – enraivecida e desatenta – era totalmente diferente. Ela não sabia porque havia, de todos os lugares, escolhido aquela ilha para ir, mas por sorte, seus instintos de sobrevivência na selva de mais de quatro mil anos permaneciam intactos.

Desviou-se de um galho de árvore particularmente grande, e estava prestes a seguir em frente quando um braço forte empurrou seu corpo contra o tronco da árvore mais próxima, acompanhado de uma mão que segurou seus pulsos juntos - bem a tempo, ela tinha que admitir, porque estava pronta para colocar em prática tudo o que quase cinco mil anos na linha de frente das maiores batalhas haviam lhe ensinado quando ergueu os olhos e viu o rosto de quem a segurava.

— A única razão para eu não te deixar morrer nesse exato momento, Atena, é porque te devo um pedido de desculpas.

A boca de Poseidon estava perigosamente perto de seu rosto, e o corpo dele, completamente colado ao seu, e, ainda que não intencionalmente, Atena sentiu cada centímetro de pele seu se arrepiar com seu sussurro. Talvez ele também tivesse percebido, porque deu uma risada tão baixa que era quase inaudível; a menos, é claro, que se estivesse grudada no corpo dele, como era seu caso.

— O que você está fazendo? – Atena meio que sussurrou, meio que gritou.

— Antes eu estava te procurando, agora estou salvando a sua vida – Poseidon retorquiu. – Será possível que você não viu onde está?

Foi só então que Atena despertou. Olhou por sobre os ombros de Poseidon na direção do caminho que ia seguir, tentando fortemente não reparar no fato de que o deus ainda mantinha o braço firmemente em torno de sua cintura, e se deparou com a entrada de uma clareira a menos de dois metros de onde estava. Arregalou os olhos quando viu, tão nitidamente quanto se era possível, um titã armado com um elmo e uma lança marchando pela área.

— Oh meus deuses – exclamou baixinho.

— Sim – Poseidon concordou. – Talvez da próxima vez você não saia correndo como uma louca quando eu tentar falar com você.

— Ei, não se atreva a falar como se eu fosse culpada – Atena protestou, as sobrancelhas unidas. – Eu sequer estaria aqui se você não fosse um jumento sem educação!

— Você sequer estaria viva se o jumento sem educação não tivesse vindo atrás de você.

Atena abriu a boca para dar uma resposta venenosa e mal educada, mas pensou melhor e apenas assentiu silenciosamente. Começar uma briga no meio de uma ilha onde seus arqui-inimigos viviam dificilmente parecia uma boa ideia, mesmo para ela, que nunca perdia uma discussão. Lentamente, como se para se assegurar de que ela não fosse fugir outra vez, Poseidon retirou o braço do entorno de sua cintura, e Atena se esforçou para esconder o quanto corava naquele instante.

— Podemos ir para casa? - Poseidon perguntou.

Atena concordou com a cabeça, e em um gesto inesperado, Poseidon segurou sua mão e levou os dois para a sala de estar da casa. Atena se jogou no sofá assim que chegou, retirando seu casaco, agora sujo e rasgado, e atirando sobre a mesinha de centro perto de seus pés. Ficou surpresa ao olhar para o próprio braço esquerdo e ver ali um corte de pelo menos seis centímetros que começava a sangrar. Tocou o corte com a ponta dos dedos, para ver o quão profundo era, e soltou um gemido ao sentir a ardência vinda do lugar. Isso foi suficiente para atrair a atenção de Poseidon, que se virou e franziu as sobrancelhas.

— Ouch. Isso parece sério - ele comentou.

Poseidon conjurou um pano molhado com a mão (ele realmente não entendia que eles não deveriam usar magia na ilha), e, sem dizer nada, se abaixou e encostou no braço de Atena. Fato inegável: a dor no começo era terrível. Nada que uma deusa de guerras não pudesse suportar, é claro, mas ainda assim terrível. O mais assustador, todavia, era a delicadeza com a qual Poseidon cuidava do ferimento. Nada daquilo se parecia com ele: o cuidado, a delicadeza, as desculpas (ainda que não verbais). Seria possível que seu arqui-inimigo tivesse sido clonado?

— Onde foi que você conseguiu esse corte? – Poseidon indagou.

— Provavelmente um galho pontudo ou algum espinho que não vi – Atena encolheu os ombros. – Eu cheguei a sentir a dor na hora, mas não tinha tempo para pensar nisso.

Poseidon ergueu os olhos, parecendo irritado, e conjurou, dessa vez, uma gaze para enrolar em volta do braço de Atena.

— Você tem que parar de ser assim – ele avisou, envolvendo o tecido ao redor do ferimento. – Quero dizer, você é dura demais. Que tipo de pessoa sofre um corte desses e não sente a dor?

— Eu estou acostumada – disse Atena. – Quando estou em uma guerra, não tenho tempo para reclamar a cada vez que recebo um ferimento.

— Nem tudo é uma guerra, Atena.

— Mas foi assim que eu aprendi a ver o mundo, Poseidon. Como um campo de batalha. Eu não posso mudar isso. É minha natureza.

Poseidon não parecia convencido, mas concordou.

— Acho que agora está melhor – Poseidon se levantou, sorrindo satisfeito.

— Está sim – Atena rodou o braço, procurando por outros ferimentos inexistentes. – Obrigada.

Poseidon pareceu surpreso, mas apenas sorriu e se sentou ao seu lado no sofá, suspirando.

— Acho que precisamos conversar.


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Notas finais do capítulo

Amo vocês.



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