Três Desejos escrita por Kayra Callidora


Capítulo 21
Capítulo Dezenove




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Capítulo Dezenove

As águas que circundavam Atlântida eram de um azul escuro quando Atena retornou ao palácio. O vento gélido da noite soprou em seu pescoço enquanto ela abria as portas principais, fazendo arrepiar os pelos de sua nuca. As portas de ouro rangeram sonoramente contra o silêncio que preenchia o salão do trono, e com certeza alguém ouviria o barulho, mesmo nos andares de cima. A deusa cambaleou pelos corredores, se apoiando nas paredes para não cair. A bebida começava a fazer efeito em seu corpo, distorcendo sua vista e enfraquecendo suas pernas. Mal enxergava o caminho à sua frente, como se um véu fosse jogado diante de seus olhos, e tropeçou diversas vezes no chão que, apesar de ela saber ser perfeitamente liso, parecia irregular ao seu andar. Se sentia tão mal que, em certo ponto, percebeu estar longe de onde ficavam os quartos que queria achar. Estava em uma área onde só havia paredes, sem interrupções por portas ou janelas, e o ar abafado começava a causar fobia. No fundo, sua mente pensou: subterrâneo; mas seu corpo não tinha forças para se tirar dali. Apenas o medo da inconsciência a guiava agora. O sentimento levou seus pés a se moverem mais rápido, sem se importar com o caminho que seguiam, para sair dali. Poderia desaparecer em névoa, mas no estado em que estava, duvidava que fosse conseguir algo mais do que desmaiar ali mesmo. Considerou também gritar por ajuda, mas não havia visto uma única pessoa desde que entrara no castelo. Assim, a única saída que encontrou foi desbravar os corredores por si mesma.

Ou sua visão estava muito debilitada, ou estava escurecendo. A primeira opção era mais provável. Conforme andava, o ar começou a gelar gradualmente, e as trevas embalavam o caminho. Definitivamente no subsolo, ela conseguiu pensar. O desespero se agigantou dentro de Atena, junto com uma culpa que pesava em seu peito. Não deveria ter bebido. Poderia simplesmente ter contado seus problemas, pedido conselhos e ido embora. Se tivesse feito como era racional, já estaria longe daquele lugar há muito tempo.

Suas mãos tocaram algo gosmento, e ela imediatamente se afastou da parede. Com uma olhada de perto, Atena conseguiu ver que havia sujado os dedos de musgo - ou ao menos era o que parecia à sua mente alterada pelo álcool. Ela franziu o nariz e limpou os dedos na roupa, voltando a caminhar, tropeçando a cada passo, dessa vez tomando cuidado para não encostar nas paredes. Começava a considerar seriamente a ideia de gritar por ajuda quando colidiu com força contra alguma coisa.

O impacto foi tão forte que Atena caiu para trás, mas antes que pudesse atingir o chão, havia braços segurando firmemente sua cintura, amparando a queda. Inicialmente, Atena pensou que fosse Poseidon. Mas uma análise do milésimo de segundo congelado em sua mente a levou a concluir o contrário por diversos motivos. Primeiramente, Poseidon, apesar de ser relativamente magro, não tinha dedos finos e longos como os que a apertavam. E depois, Poseidon era estranhamente quente, no sentido literal da palavra. A sensação de estar perto dele era como estar ao lado de uma lareira: havia sempre calor ao seu redor. Mas o corpo que apertava o seu - com mais força do que era necessário, ela observou mentalmente - era frio, e não tão atlético quanto o do deus dos mares. No entanto, Atena reconheceu os dedos pousados em sua bacia, do dia em que haviam segurado sua mão para os lábios, um palmo acima de sua cabeça, a julgar pela respiração vinda de cima, que beijaram suas mãos calidamente.

Jack.

A confirmação da identidade de seu, por assim dizer, salvador, veio um momento depois, quando a voz tão melodiosa quanto uma música flutuou até seus ouvidos.

— Milady.

Não era uma pergunta. Mesmo em meio ao breu, de alguma forma, Jack a encontrara, e sabia que era ela.

— Jack - Atena balbuciou, sentindo a língua grudar no céu da boca. - O que você está fazendo aqui?

— Posso perguntar o mesmo - Jack perguntou ousadamente.

Atena ficou em silêncio por um curto segundo, o cenho franzido. A audácia do rapaz em retornar sua pergunta daquela forma chegava a ser assustadora para ela, que sempre recebia naturalmente o medo da parte de mortais que lidavam consigo. 

— Eu estava procurando pelos quartos e me perdi - a deusa confessou, depois, deixando escapar um soluço, efeito da bebida, depois da fala. - Você?

— Ouvi o barulho da porta principal e imaginei que pudesse ser a senhora - Jack explicou, passando o braço flácido de Atena por sobre seus ombros. - Depois, só precisei seguir suas pegadas. Tem pólvora na sola do seu sapato. Foi mais difícil te encontrar aqui embaixo porque está muito escuro, mas... Nada impossível, é claro.

Atena não se deu ao trabalho de olhar para o chão para conferir a veracidade daquela afirmação, até porque sabia que seria inútil, uma vez que não enxergava nada. E depois, havia desenvolvido certa confiança em Jack. Ele parecia, senão leal, inocente o suficiente para dizer a verdade a ela. Sendo assim, Atena meneou com a cabeça, admirando em secreto a perspicácia do garoto ao seguir suas pegadas.

Jack não esperou por uma resposta verbal, e antes que Atena pudesse contestar, ele passou o braço por baixo de suas pernas, erguendo seu corpo por completo no ar. A cabeça de Atena pendeu para o lado, caindo sobre o peito gelado de Jack. Era como estar apoiada em uma estrutura de mármore: os traços eram belos, mas não havia calor ou conforto em sua pele. Ele caminhou excepcionalmente rápido para um garoto magricela carregando uma deusa no colo. A escuridão rapidamente deu lugar à luz dos corredores mais acessados do palácio, que passavam como um borrão de branco, azul e dourado diante dos olhos piscantes de Atena. A deusa já começava a reconhecer as portas elegantes com entalhes nobres quando um novo som de passos pesados ecoou no corredor, em contraste com os passos silenciosos do garoto.

— O que você fez com ela?

Atena teria reconhecido a voz de Poseidon, grossa, imperativa e reconfortante, mesmo que a temperatura não tivesse caído no mínimo quinze graus. Jack estacou no lugar, tão subitamente que Atena foi impulsionada para frente. O garoto envolveu os braços em volta de seu corpo mais uma vez, impedindo a queda, e logo em seguida começou a gaguejar palavras sem nexo. Houve uma pequena discussão entre os dois, a qual Atena já estava muito alienada para entender, e então ela saiu do frio do corpo de Jack para ser colocada no calor dos braços de Poseidon. Era bem mais confortável ali, onde podia ouvir as batidas aceleradas do coração dele batendo junto ao peito forte, com seu andar cauteloso e ritmado que lembrava a calmaria das marés de uma tarde de verão. Atena quase podia sentir o cheiro de maresia e se imaginar deitada ao lado de Poseidon na areia de uma praia deserta, onde tinham o tapete infinito de mar e areia só para eles. Seu sonho foi ainda mais reforçado quando se sentiu ser depositada sobre algo macio, que lembrava a areia branca e quentinha da ilha Dauphine. Mas sua fantasia se dissolveu em uma pontada de dor na cabeça quando algo frio foi colocado sobre sua testa, contrastando com um súbito calor no topo de sua cabeça, um calor que Atena conhecia muito bem, de quando Apolo a curava depois de uma batalha: magia. Imediatamente, Atena se sentiu renovada. Conseguiu abrir os olhos e enxergar perfeitamente o teto azulado do quarto de Poseidon, ouvir perfeitamente os sons que ele fazia enquanto perambulava pelo cômodo e sentir nitidamente a bolsa de gelo que jazia em sua testa. Dessa vez, Atena não tentou se levantar abruptamente. Sabia, por experiência, que a dor de cabeça resultante desse ato seria ainda mais torturante do que continuar deitada e morrer de curiosidade. Atena piscou, e de repente o contorno de Poseidon estava em foco na sua frente, examinando seus olhos de perto. Ele se afastou, cruzando os braços sobre o peito e exibindo um olhar que lembrava muito um furacão.

— Posso saber o que diabos aconteceu com você?

Os lábios de Atena estavam um pouco grudentos por causa do doce da bebida, tornando ainda mais difícil o processo de explicação:

— Eu talvez tenha bebido um pouco enquanto estava no Mundo Inferior.

— Um pouco? - Poseidon indagou, irônico. - Um pouco de nenhuma bebida te deixaria assim. Eu aposto que você bebeu o Oceano Atlântico em álcool!

— Não exagere - Atena retrucou. - Eu estou bem, não estou?

— Não graças ao seu autocontrole - Poseidon resmungou, se virando para pegar uma caneca em cima de uma cômoda na lateral do quarto e bebericando um gole de qualquer coisa que houvesse ali. Talvez café. - E com certeza não graças ao Jack. Pelos sete mares, o que aquele garoto estava fazendo?

Atena fechou a cara.

— Eu estava perdida no castelo, e ele me achou - ela cuspiu, como se aquilo fosse o suficiente para fazer Poseidon se sentir culpado. - Foi ele quem me trouxe até aqui.

Ao invés de parecer impressionado ou arrependido, Poseidon somente deu de ombros.

— Sim, eu percebi isso sozinho. Mas aonde ele ia te levar?

— Para o meu quarto, talvez? - Atena disse, como se fosse óbvio.

— E fazer o quê lá? - Poseidon largou a caneca de novo, parecendo inquieto, e sentou no pé da cama. - Ele por acaso tem um kit de primeiros socorros? É o deus da medicina?

— E você é?

— É claro que não, Atena - Poseidon rolou os olhos e fez aquela cara que Atena simplesmente odiava, como se lidasse com a pessoa mais burra do planeta. - Mas eu posso te curar como qualquer outro deus, e isso eu duvido que ele possa fazer.

— Ao menos ele tentou me ajudar. Você deveria ter agradecido ao invés de ter sido tão estúpido.

Poseidon olhou para Atena como se ela tivesse acabado de dizer que a Terra era quadrada - um olhar que fazia sentido, porque ela havia acabado de chamá-lo de estúpido no mesmo dia em que declarou tê-lo amado durante toda a sua vida. Bem, ela não tinha um humor muito constante. Porém, inabalável como sempre, Poseidon apenas se levantou, esvaziou a caneca que estava sobre a cômoda em dois goles e se deitou na cama, em silêncio, com as costas viradas para Atena. Ela permaneceu imóvel, olhando para os músculos diante de seu rosto sem realmente prestar atenção. Não conseguia entender. Por que ele estava bravo agora? Porque ela dissera a verdade? Ora, ele estava sendo estúpido sobre Jack sim. O garoto não havia dado sequer uma demonstração de má fé desde que chegara naquele palácio - se não contassem a vez em que ele fugiu, que foi uma atitude totalmente justificável -, e tudo o que queria era ajudar a família. E ainda assim, por algum motivo, Poseidon não gostava dele. Era isso o que não entrava na cabeça de Atena. Por que alguém não gostaria de Jack?

A mão de Atena se ergueu, quase que involuntariamente, e pousou com delicadeza no topo da coluna de Poseidon. Com um dedo, traçou uma linha curva até o fim de suas costas, apreciando a sensação da pele lisa sob a sua.

— Me desculpe - a frase escapou tão naturalmente de seus lábios que até Atena se surpreendeu. - Olhe, eu não sei o que você pensa sobre Jack, mas eu realmente não quis dizer aquilo.

— Hum - Poseidon resmungou, ainda virado para o outro lado.

Atena interrompeu o toque, subindo a mão até o braço de Poseidon.

— Devo considerar isso como um sim?

— Talvez - foi a resposta seca dele.

Mas Atena não se daria por vencida tão fácil. Não deixaria que a primeira noite logo depois que tudo se ajeitou fosse passada daquele jeito. Assim, contrariando tudo o que já havia prometido à si mesma, ela fez um pequeno esforço para erguer o corpo e deitou a cabeça de lado na curva do pescoço de Poseidon, com a boca próxima de seu queixo.

— Você não vai falar comigo?

— Eu estou com sono - Poseidon se esquivou novamente.

Atena mediu com os olhos o espaço entre Poseidon e a beira da cama. Talvez, se fosse rápida e precisa... Ela rolou por cima do corpo dele e aterrissou do outro lado, ficando face a face com ele. Não era muito, mas foi o suficiente para que Poseidon abrisse os olhos e a encarasse.

— Mas eu não quero que você durma - declarou, se encostando no peito do deus.

Ele arqueou as sobrancelhas, os cantos dos lábios tremendo.

— E quem disse que eu me importo com o que você quer?

Atena fez um bico com a boca, fingindo estar magoada.

— Ouch. Essa doeu.

— Estamos quites agora - disse Poseidon, sorrindo ironicamente.

Ele voltou a fechar os olhos, seus cílios fazendo sombra sobre a bochecha bronzeada. Sendo bem menor do que ele e tendo vista de baixo, Atena não podia apreciar muito seu rosto, mas seu peitoral não deixava a desejar. Poseidon tinha o antigamente péssimo e agora maravilhoso hábito de dormir sem camisa, proporcionando todas as noites uma visão nada ruim para Atena.

— Poseidon?

— O que foi, Atena?

— Pare de me ignorar! - ela bufou, levantando a cabeça para que sua voz chegasse aos ouvidos dele. - Eu já pedi desculpas, o que mais você quer que eu faça, peça perdão de joelhos?

Poseidon sorriu de lado com os olhos fechados, como se a ideia o fizesse pensar em algo engraçado. Atena sabia exatamente no que aquela mente tão limpa quanto o Rio Hudson havia pensado, mas preferiu, pelo bem do seu orgulho, não levar o assunto a sério.

— Não seria tão ruim - Poseidon respondeu por fim.

— Eu não estava falando sobre isso — Atena disse, se afastando para ao menos subir até a altura dos olhos de Poseidon na cama. - Existe algum momento em que sua mente não esteja pensando besteiras?

Poseidon arqueou as sobrancelhas.

— Não sei do que você está me acusando, já que pensou na mesma coisa que eu - ele rebateu. - Estamos iguais nesse quesito, querida.

— Eu te garanto que minha mente não está nem perto de ser igual à sua. E também não vou pedir perdão de joelhos.

— É uma pena - Poseidon puxou o edredom branco para cima do próprio corpo. - Você é quem quer ser desculpada.

Atena puxou a respiração com tanta força que poderia ter roubado todo o oxigênio presente no Oceano. Estava lidando há tanto tempo com o lado romântico de Poseidon que havia se esquecido do lado mais familiar dele: o lado irritante. Ah, mas Atena não deixaria tão barato. Era a deusa da guerra e não se deixava ser ignorada por ninguém, ainda por cima por Poseidon. Tinha uma reputação a zelar com ele.

Ela estalou os dedos dramaticamente, esticou as mãos sem emitir som algum e, num movimento rápido como a luz, puxou o edredom e o enrolou em torno do próprio corpo, de forma que Poseidon não conseguiria puxar de volta. O deus abriu os olhos faiscantes, talvez finalmente atingindo o ápice de sua irritação.

— O que você pensa que está fazendo? - ele reclamou, tentando puxar o cobertor de volta.

— Penso que estou fazendo você falar comigo - Atena respondeu, com os dentes trincados, embora não pudesse parecer muito ameaçadora quando parecia estar dentro de um casulo. - Visto que você é sentimental como uma pedra e não quer abandonar esse ciúme besta nem quando eu peço desculpas.

— Não estou com ciúme, Atena - Poseidon rosnou, procurando sem sucesso uma ponta onde pudesse recuperar seu edredom. - Qual é o seu problema em me deixar dormir?

— Os mortais dizem que não devemos dormir com raiva do outro - Atena se justificou. - E eu concordo.

— Mas você já dormiu com raiva de mim.

— Eu mudei.

— Uma mudança impressionantemente rápida.

— Obrigada.

— Não foi um elogio.

Atena rolou os olhos.

— Você parece uma criança, Poseidon.

— Eu? - Poseidon indagou. - Não sou eu quem não deixa os outros dormirem em paz. Que eu saiba, isso é o que as crianças fazem.

— Também - Atena teve que concordar. - Mas eu não teria que estar te importunando se você simplesmente deixasse de ser mimado e voltasse a falar comigo.

— Não, obrigado - Poseidon novamente deu as costas à ela, sem se importar se levava o edredom ou não.

Atena cutucou suas costas com o indicador.

— Por que voc...

Poseidon girou inacreditavelmente rápido e a segurou. Num segundo Atena encarava suas costas, e no segundo seguinte estava debaixo dele, com os braços dele ladeando sua cabeça como se formassem uma prisão. E realmente, não havia saída ali.

— Pelos deuses, você não se cansa de ser chata?

Atena abriu um sorriso triunfante. Mal sabia ele que havia encurralado a si mesmo.

— Não.

— E depois a criança sou eu - Poseidon balançou a cabeça negativamente. - Vai me deixar dormir ou não?

— Só quando você admitir que está com ciúme - Atena sorriu, e ela precisava admitir que soava infantil até para si mesma.

O deus dos mares revirou os olhos, mas sua atitude não convencia Atena de modo algum.

— Poseidon, não faz sentido você ter ciúme de mim - ela deslizou uma mão pelo rosto dele, pousando o polegar em seus lábios. - Você sabe que eu nunca faria algo assim.

Os braços de Poseidon continuavam a prendê-la dos lados, mas seu olhar amenizou razoavelmente.

— Eu sei, Atena - ele respondeu. - Vai me deixar dormir agora?

— Mas por que você quer dormir? - Atena escorregou sua perna entre as pernas de Poseidon e sorriu. - Tem tantas outras coisas mais interessantes para fazer.

Poseidon ergueu uma sobrancelha; claramente entendeu aonde Atena queria chegar, mas parecia muito atônito para acreditar que ela realmente havia dito aquilo.

— O quê? - ele perguntou.

— Eu disse - Atena teve a ousadia de repetir, - que talvez você prefira não dormir. Você pode fazer tantas outras coisas ao invés disso.

— Como o quê? - ele voltou a perguntar, porque ainda estava incrédulo sobre aquilo.

— Não sei - Atena cravou as unhas suavemente em seu peito e as escorregou por seu tronco até o quadril; mas na verdade, não sabia mesmo. - Por que você não me mostra?

Poseidon balançou a cabeça, parecendo em conflito interno, mas Atena já sentia o volume de sua ereção entre suas coxas.

— Você sabe o que está pedindo, Atena? - ele hesitou, e parecia sincero. - Tem certeza que está dizendo isso cem por cento racionalmente?

— Absoluta - ela respondeu, e como que para enfatizar, prendeu uma perna sobre o quadril de Poseidon.

— Você sabe que é um caminho sem volta - Poseidon avisou mais uma vez. - Não dá para reverter isso.

— Eu sei - Atena afirmou.

— Tem certeza? - Poseidon fez seu último esforço, mas Atena já levava as mãos à sua nuca, e ele não resistiria nem mais um segundo. - Eu sei como isso é importante para você.

— Eu já disse que sim. Eu quero isso. Você vai parar de falar agora?

Poseidon estreitou os olhos e suspirou, mas resistir à Atena dos olhos cinzentos era um feito impossível até para um deus.

— Como você quiser, meu amor.

Atena não pôde se impedir de sorrir diante do pronome possessivo, embora ela realmente pertencesse a ele - tardou a descobrir, mas pertencia. Sempre fora dele e sempre seria, não importava quantos milênios os separassem.

— Uma última coisa, só para ter certeza - Poseidon ergueu a mão, abaixando todos os dedos e deixando só o mindinho levantado. - Jura de mindinho que não vai ficar com raiva de mim depois?

Atena gargalhou.

— De mindinho?

— Um juramento pelo Estige não seria tão sério - Poseidon explicou. - Não existe juramento mais sagrado que o de mindinho. E eu sinto que você precisa fazer um juramento sobre isso.

— Bom, já que não há saída - Atena suspirou teatralmente, entrelaçou seu próprio mindinho ao de Poseidon e chacoalhou suas mãos unidas. - Juro de mindinho que não vou ficar com raiva de você, seja lá o que aconteça aqui... A menos, é claro, que você me irrite muito, o que você faz sempre; aí não prometo nada.

— Parece bem justo para mim - Poseidon sorriu satisfeito.

Tão logo a brincadeira teve fim, seus corpos estavam unidos novamente, explorando-se numa disputa ardente por posse. Os toques agora eram mais ousados do que jamais haviam sido - mesmo milênios antes, quando eram quase namorados. Naquela época, como todo relacionamento bem desenvolvido, o de Atena e Poseidon levou algum tempo para evoluir. Começou com trocas de olhares, conversas, beijos curtos, longas sessões de beijos, e antes que pudesse ser algo a mais... Bem, Atena havia estragado tudo. Mas sentir o toque de Poseidon era como sentir a vida soprada dentro de si novamente. Era como despertar depois de estar morta por anos. Se restava alguma dúvida, agora já não havia mais nenhuma: Poseidon era a vida que existia em Atena. E ela estava viva novamente.

Atena estava prestes a se abaixar para arrancar os sapatos dos pés quando a mão de Poseidon surgiu sobre a sua.

— Deixe que eu faço isso - ele sugeriu com uma voz tão sensual que Atena seria capaz de derreter ali mesmo.

Poseidon tirou seus sapatos lentamente, estendendo sua tortura a um tempo que parecia não terminar nunca, e começou a massagear seus pés logo depois. Algo no modo como ele movia os dedos com agilidade, apertando os locais certos, já era o equivalente a ter seu corpo inteiro beijado para Atena, mas não só por isso ela foi privada da segunda opção. Depois de soltar seus pés sobre a cama, mas não antes de lançar um olhar ardente para o rosto de Atena, ele começou a trilhar um caminho de beijos pela pele desnuda de suas pernas, deixando uma sensação de ardência em todos os lugares onde seus lábios tocavam. Poseidon subiu os beijos por seus tornozelos, pelas coxas e pelo quadril até o abdômen, onde a camisa, já amarrotada, impedia sua passagem. Ele então voltou a se erguer sobre a deusa, fazendo uma pressão deliciosa sobre seu corpo enquanto devorava seus lábios. As pernas de Atena se ergueram automaticamente, segurando o corpo de Poseidon próximo do seu - não que fosse necessário. Minutos depois, a camisa vulgarmente justa da deusa jazia jogada em algum canto do quarto, pouco importava onde, e logo seu sutiã tinha o mesmo destino. E Atena abriu a boca e começou a dizer algo - ela sequer se lembrava o quê —, mas o que quer que fosse dizer se perdeu na garganta, porque Poseidon havia alcançado seus seios, e com as coisas que ele fazia ali, Atena seria incapaz de produzir uma resposta coerente se sua vida dependesse disso. Tudo o que ela conseguia fazer era emitir ruídos de prazer e arquear o corpo para a frente, enquanto se agarrava ao cabelo de Poseidon. Ele soltou uma risada baixa.

— O que você estava dizendo?

Atena balançou a cabeça.

— Não faço ideia - ela admitiu com a voz fraca. - Mas tenho certeza que era algo relacionado a não pare de fazer o que está fazendo nunca mais.

A gargalhada de Poseidon em seu ouvido era simplesmente o som mais angelical que Atena conhecia.

— Eu estou aqui para te servir.

E com isso ele voltou a beijar e mordiscar sua pele como se não houvesse nada mais importante. Mas estavam no meio de um processo que não podia parar por ali, e o corpo de Atena começava a clamar por mais do que tinha. Poseidon já estava sem camisa, o que facilitava grande parte das coisas. Com uma pequena ajuda de Atena, logo sua calça de moletom também estava voando pelos ares e caindo silenciosamente no carpete do quarto. As roupas diminuíam, e as batidas do coração de Atena aumentavam.

Ela não era ingênua para não saber o que aconteceria se continuasse, e mesmo sendo a deusa da sabedoria, sempre cheia de certeza e coragem, se sentia insegura sobre o que estava prestes a fazer. Bem, era Poseidon ali, e isso era, num paradoxo, o que a aterrorizava e tranquilizava ao mesmo tempo. Não tinha medo de se entregar a ele, ao passo que temia não ser suficiente.

Pelos deuses, o que estava pensando? Atena estava com medo de não ser suficiente? Quando foi que ela não foi suficiente para algo?

Para tudo se tem uma primeira vez, a voz chata martelou lá do fundo de seu subconsciente.

— Atena? - a voz de Poseidon a trouxe de volta a realidade. - O que foi?

Ela continuava agarrada a ele, mas talvez seu olhar tivesse flutuado para longe por tempo demais.

— Nada - Atena respondeu, a voz extraordinariamente firme. - Por que pergunta?

Poseidon estreitou os olhos.

— Eu não sei. Mas eu te conheço, e sei quando você está diferente. Por que você mesma não me diz?

— Se você me conhece tão bem, deve saber o porquê.

Geralmente Poseidon era lerdo, mas ele levou menos de um segundo para entender.

— Ah, Atena - ele riu baixo, balançando a cabeça. - Eu poderia esperar isso de qualquer uma, qualquer uma, menos de você. Você sabe melhor que isso.

— Isso não me tranquiliza - Atena retrucou.

— Olhe aqui - Poseidon segurou seu rosto carinhosamente. - Você me ama?

A pergunta pegou Atena de surpresa. Não que ela tivesse dúvidas quanto a resposta, mas não esperava por aquilo.

— É claro que sim.

— Eu também te amo. Você é maravilhosa. E isso é suficiente para mim. Não é suficiente para você?

Atena suspirou.

— Sim. É suficiente para mim.

— Ótimo. Agora, se você não quiser...

— Poseidon, pode parar - Atena o cortou. - Clichês não combinam com você.

Poseidon rolou os olhos.

— Tem uma razão para ser um clichê. É porque funciona.

— Então já que estamos nesse momento tão clichê - Atena voltou a puxá-lo para perto. - Por que você não cala a boca e me beija?

Poseidon gargalhou, mas no fim das contas, obedeceu. Porque Atena estava pedindo; e ele não podia negar nada do que Atena pedia.

                                  ¶¶¶

— Atena?

— Hum?

— Já tínhamos feito isso antes? Naquela época em que eu não me lembro?

Atena se ajustou no travesseiro, lutando contra a própria altura para tentar manter um contato visual com Poseidon.

— Não. Eu teria te contado.

— É bom mesmo. Senão eu teria um motivo particularmente bom para te odiar.

Atena riu, recostando o rosto no ombro dele.

— Você não conseguiria me odiar.

— Ah, eu te garanto que nesse caso eu seria bem capaz.

— Não exagere.

— Não estou exagerando. Nem um pouco.

O barulho distante do pouco movimento noturno da cidade atravessando as janelas era o único som audível no quarto. Poseidon parecia perfeitamente em paz, com os olhos fechados e um braço em torno de Atena; a deusa, por outro lado, se sentia desconfortável por alguma razão que nem ela entendia.

— O que é que nós dizemos nessa hora?

Poseidon soltou uma gargalhada que compensaria qualquer silêncio, um riso cheio de vida pelo qual Atena venderia seu peso em bronze celestial.

— Eu geralmente digo "adeus" e desapareço - ele respondeu, - mas não acho que isso se aplique a você.

— Não, não se aplica - Atena sorriu. - Você não vai se livrar de mim tão cedo. Pelo menos não essa noite.

— Claro que não - disse Poseidon, num tom cheio de mistério. - Enfim... Você não precisa dizer nada. Isso é só mais um clichê. Você precisa parar de assistir esses filmes românticos de adolescente.

— Eu não assisto filmes românticos - Atena protestou. - Nem de adolescente.

— Não é o que parece.

Atena deu um tapa fraco em seu braço.

— Hey, nós nem nos casamos ainda e você já está me agredindo? - Poseidon fingiu indignação. - É assim que vai funcionar?

— "Ainda"? - Atena indagou.

— O quê, você quer ser minha amante eternamente? - Poseidon perguntou, erguendo as sobrancelhas. - Sabe, eu não faço objeção nenhuma a isso. Na verdade, acho muito sexy. Mas duvido que Hera vá permitir. Ela é tão chata para esse tipo de coisa.

— Poseidon! - Atena riu, pasma. - Você é absurdo.

— Só estou tentando seguir a sua linha de pensamento, amor; porque para mim parece óbvio que vamos nos casar um dia. Não hoje, porque já está tarde, mas quem sabe amanhã.

Tudo o que Atena conseguia fazer era sorrir a cada palavra que ele dizia. Poseidon era uma fórmula definitiva para a felicidade.

— Eu queria pensar como você.

— Fácil. Você só precisa parar de pensar.

— Bom, para isso eu só preciso de mais alguns anos de convivência com você.

— Então você admite que eu te faço perder a razão?

— Eu não disse isso!

— Mas é claro que disse! Ora, ora, está caindo em contradição, Atena?

Atena sentiu vontade de aumentar a intensidade dos tapas leves que dava no braço de Poseidon.

— Por um momento eu tinha me esquecido do quanto você é irritante.

— Viu só? Agora você admitiu que eu te faço esquecer das coisas.

— Seu ego está quase me derrubando da cama.

— Impossível, Atena, você está praticamente em cima de mim. Você é quem deve estar derrubando meu ego.

— Eu pensei que pescadores entendessem de metáforas.

— Uuuh. Acho que temos um empate aqui.

Atena sorriu, satisfeita.

— Agora posso dormir em paz.

— Já? Que pena - Poseidon beijou o ombro de Atena. - Eu esperava que você fosse querer repetir a dose.

— Nah, você não aguentaria.

— Isso é um desafio?

Atena sorriu desafiadoramente.

— O que você acha?


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