O Fruto escrita por Sapphire


Capítulo 1
O Fruto.


Notas iniciais do capítulo

Bem, eu nunca sei o que por aqui akkaksk, mas vamos lá, vou apenas repetir o que ta escrito no início:

Isso é uma releitura da História Bíblica sobre a criação do mundo. Portanto, nenhum personagem que está aqui me pertence, lembrando que eu não tenha a intenção de rescrever a Bíblia, ou criar uma nova tese, isso é apenas para a diversão.

Beijos e espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/684916/chapter/1

 

Mas, amados, não ignoreis uma coisa, que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia.”

 - Epístola de Pedro, capítulo 3, versículo 8

No princípio, não existia nada. Apenas as trevas e o silêncio, um silêncio que não era ouvido desde o fim da Batalha.

Então o criador soprou perante o grande vazio, e sussurrou.

— Haja Luz.

E a luz foi feita, e era bom. Logo a luz disforme, começou a ganhar substância e forma. Logo o mundo surgiu, vosso lindo e frágil lar. E uma grande luz calorosa nutriu seus dias, e uma luz menor recheava a noite. E esse foi o primeiro dia.

Ouve a tarde e a manhã, este foi o segundo dia, o firmamento dos céus.

Outro dia, e as águas se juntaram, e em meio a elas apareceu o chão seco.

Mais um dia se passou, e do solo cresceram coisas, um tapete verde grosso que se estendeu por toda a criação.

O tempo passava, e cada vez mais a terra se enchia de vida.

As águas também ficaram cheias de vida, grandes criaturas das profundezas que já não existem mais, uma vasta multiplicidade dos peixes, muitos dos quais ainda nadam por nossas águas. E logo, o céu foi povoado de pássaros, e ouve uma tarde, e uma manhã, esse foi o quinto dia. 

Agora o mundo inteiro estava repleto de seres vivos, tudo que rasteja, tudo que escalava as árvores, tudo o que corria, todas as feras que já não existem mais. E Ele viu que era bom, estava tudo muito bom.

Havia luz e ar, água e terra, tudo limpo e preservado. Havia plantas, peixes, aves e animais, cada um conforme a sua espécie, tudo parte de um todo maior, tudo no seu lugar, e estava tudo equilibrado.

Mas o melhor de Deus ainda não tinha chegado.

Um pequeno montinho de barro começou a crescer, e aos poucos ele foi tomando uma forma meio... estranha. Quatro membros, dois que ficavam em baixo, e no meio um membro bem menor, acima existia dois membros conectados ao ombro, próximo a cabeça. E fez tudo isso com as suas próprias mãos.

Diferente das outras espécies, essa o criador estava fazendo com cuidado e destreza, o projeto deveria ser perfeito. Ele estava criando algo a sua imagem e semelhança.

Quando o boneco de barro estava totalmente pronto, desde as unhas do pé até os fios de cabelo, Ele assoprou o ar da vida, assoprou o seu espírito nas narinas, e logo o barro foi secando e caindo ao chão, e uma pele meio escura ia aparecendo, assim como os cabelos castanhos e os olhos verdes.

Assim que o homem tomou a consciência, ficou alguns segundos olhando tudo em volta, meio assustado, ele era algo novo, uma coisa que nunca ninguém havia visto ou ouvido falar antes.

Uma luz muito forte desceu dos céus, ela começou a se materializar em um corpo, formando alguém parecido com o rapaz, a diferença era que o rosto era impossível de se olhar.  Sempre que alguma coisa tentava olhar, sentia seus olhos arderem, pois, a luz e a glória que irradiava o seu ser era tão grande, que ninguém, seja terrestre ou celestial, ninguém conseguia contemplar seu rosto.

O homem fechou seus olhos, e esfregou as pálpebras.

— Não tente olhar – A voz do ser de glória era forte como um trovão, mas ao mesmo tempo firme e abraçadora.

— Quem e você? Quem sou eu? Que lugar é este?                      

— Eu sou, o Eu sou – O criador soou suave. – Este é o nosso mundo... E você... Você será Adão!

Depois disso, todos os dias o criador descia de seu trono para conversar com Adão, e juntos os dois ficavam horas e horas conversando sobre todos os assuntos possíveis.

— Você dominará sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra. – Deus dizia, e mais - Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente, as quais se acham sobre a face de toda a terra, e todas as árvores em que há fruto que dê semente; todas serão para seus mantimentos.

Naquele instante a caminhada dos dois os levou até o centro do Jardim, onde ficava uma enorme árvore, ela sem dúvidas era a mais linda de todo Éden. Suas folhas eram verdes, as flores tinham colorações violetas, enquanto os cipós caíam entre os galhos. Porém, o que mais chamava atenção eram os frutos.

Eles não eram iguais aos outros. Cada um ali tinha a coloração vermelha, era do tamanho de um mamão, mas não era isso que as deixavam mais lindas e exuberantes. Era como se eles tivessem corações como semente, pois cada fruto pulsava cada vez mais forte, isso chamava a atenção de qualquer coisa.

— Você pode comer livremente de qualquer árvore deste Jardim – O Criador fez uma pausa, enquanto se certificava de que Adão estava prestando atenção. – Mas você jamais irá comer desta árvore.

— Por que? – Adão perguntou, enquanto focava nos frutos pulsando.

— Esta é a árvore do conhecimento do bem e do mal, o dia em que você comer uma mordida se quer deste fruto, certamente morrerá.

Mais um dia se passou, e novamente Adão andava entre as árvores olhando para tudo. Ele se sentou em um campo verde, enquanto olhava para dois coelhos se divertirem.

— Por que está tão pensativo? – O ser se aproximou.

— Eu estive algumas horas andando por isso tudo... E todos ele tem uma companheira – Adão disse, enquanto olhava os coelhos se distanciarem. – Todos eles.... Menos eu.... Por que eu não tenho ninguém?

O criador deu uma risada baixa, enquanto o sol desaparecia no horizonte. Adão bocejou por alguns segundos, e o mesmo sentiu suas pálpebras ficarem mais pesadas.

— Durma bem, meu filho.

Enquanto Adão dormia, O ser se aproximou de seu corpo, e como se fosse uma intangibilidade, atravessou a pele e os músculos, até chegar nas costelas, e sem o outro sentir nada, o Criador retirou uma das costelas e se distanciou um pouco.

Daquela costela, as mãos dEle começaram a formar um corpo, com uma fisionomia igual a de Adão, mas com suas diferenças, claro.

[...]

Adão abriu os olhos lentamente, e teve a luz do sol tampada por um lindo rosto, que o encarava curiosamente.

Com o susto, o homem chegou para trás, e ficou alguns minutos em silêncio, apenas olhando para ela.

— Oi – Ela sorriu.

A mulher era linda, sua pele definitivamente era mais clara que a de Adão, enquanto seus cabelos eram ruivos e ondulados, eram tão enormes que cobriam as costas por inteiro. E além de tudo, os seus olhos eram em um castanho escuro, quase preto.

— O-Oi – Adão respondeu, ainda meio assustado.

Foi quando o Criador se aproximou deles e falou com sua voz

— Esta é agora ossos dos seus ossos, sua companheira, juntos, vocês devem compartilhar um novo sentimento, uma vida inteira de alegria, paz e amor.

Os dois se olharam por alguns minutos, e sorriram.

O ser de glória olhava para aquilo todos os dias, via a alegria, a paixão, um sentimento único, e viu que era bom.

[...]

Desde aquele dia, o casal passava os dias juntos. E sempre que O Criador descia dos céus, os três tinham conversas agradáveis e calorosas, estava tudo muito bom, tudo maravilhoso.

— Como você conseguiu ficar esse tempo todo sozinho? – Ela perguntou, enquanto tirava uma mecha dos seus olhos.

— Ah.... Eu não consegui – Ele respondeu, enquanto ria. – Mas eu não estava sozinho – Sorriu.

Após alguns minutos caminhando, os dois chegaram até o centro do Jardim, eles sabiam que era o centro porque diferente de todos os outros lados, ali não tinha muita plantação, apenas um campo verde, a única árvore que tinha era “aquela”.

— Que linda! – A mulher sorriu, enquanto soltava a mão de Adão.

— Sim... Linda, mas Ele já cansou de falar para não nos aproximarmos...

— Na verdade ele disse para não comer – Ela sorriu.

Antes que o homem pudesse falar qualquer coisa, os seus olhos se voltaram para o chão, onde tinha um pombo com a asa machucada. Ele arqueou uma das sobrancelhas, enquanto abaixava, era uma coisa totalmente nova para ele.

No momento em que Adão se distraía, a mulher se aproximava cada vez mais da árvore. Quando ela estava bem perto, uma serpente desceu de um dos galhos, e se atracou em outro mais próximo.

Entretanto as serpentes daquela época não eram como a de hoje, elas eram ainda mais fabulosas e lindas, quando a luz solar batia em sua pele, as cores refletiam seja onde fosse, não podemos esquecer também que ela tinha quatro patas de tamanho médio, se assemelhando a um lagarto.

— Olá – Ela disse, com aquela voz arrastada.

Como a moça ainda era meio nova no Jardim, para ela animais podiam falar, ou apenas uma espécie específica de serpente. Porém o que ela não sabia era que a serpente não estava sozinha, uma horrível criatura estava nela a controlando.

— Oi, serpente – A mulher respondeu, sorridente como sempre.

— São lindas, não são? – Perguntou, enquanto se esgueirava para cada vez mais perto dela.

— Sim.... Também parecem ser muito saborosas.

— E são! – Fez uma pausa. – Ou vai me dizer que ainda não comeu?

— Bem.... Eu não posso comer.

— Sério? Quem disse isso?

— Deus, o Criador – A mulher respondeu.

— Mas... Foi assim que Deus disse: “Não comereis de toda a árvore do jardim”... Estou certa? – A Serpente perguntou, com toda a sua astúcia.

Após alguns segundos em silêncio, a moça respondeu.

— Nós podemos comer do fruto das árvores daqui, mas O Criador disse que nós não podemos comer ou tocar do fruto desta árvore, se não morreremos.

A serpente deu uma risada abafada.

— O que foi? – Perguntou em toda a sua inocência.

Naquele momento Adão chegou correndo.

— Vamos sair daqui... – Ele disse, enquanto passava a mão em seu braço.

No entanto, ela sussurrou algo no ouvido de Adão, e os dois passaram a prestar atenção na serpente.

— É mentira dele... Acredite em mim, vocês não vão morrer se comerem, eu mesma como todos os dias – A cabeça da serpente foi se aproximando do pescoço dela.

— Mas.... Por que ele disse isso então? – O homem perguntou.

— Bem... – A serpente começou a se enrolar no corpo da mulher, e se movia lentamente. Até que sua boca chegou bem próximo aos ouvidos dela e disse. – É porque ele sabe que se vocês comerem, vão ser grandes, serão tão gloriosos e inteligentes quanto ele... E ele não quer isso.

— Isso é verdade? – Ela perguntou.

— Eu.... Eu não sei – O moço estava realmente confuso, ele já estava acreditando na serpente.

A moça ficou olhando para aquele fruto pulsante por vários segundos, até que ergueu seu braço e arrancou um da árvore.

Ela olhou para Adão, e comeu um pedaço, e naquele instante algo começava a mudar nela. Em seguida, o homem deu uma mordida, e em menos de três segundos, a fruta caiu no chão.

A serpente por sua vez deu um sorriso, enquanto voltava para a árvore.

Adão e sua esposa se olharam, até que perceberam que estavam nus, pensamentos que nunca haviam existido antes em suas cabeças começavam a brotar.

— O que você nos fez fazer? – Ele olhou para a serpente.

— Eu não fiz nada.... Quem deu a mordida foram vocês – Ela soou, antes de desaparecer.

— Nós.... Nós estamos nus – A mulher disse, totalmente envergonhada.

Depois de tomarem consciência do bem e do mal, eles correram para o local mais fechado possível e fizeram para si roupas de folhas que encontraram pelo caminho.

O que antes estava ensolarado, começou a ser coberto por camadas e mais camadas de nuvens, deixando o céu escuro, um clima mórbido e sombrio.

Até mesmo a aparência deles havia mudado, não era mais aquela coisa linda que te fazia olhar os detalhes por horas, nem mesmo os animais queriam mais ficar muito próximos a eles.

Adão olhava para uma árvore, enquanto as lágrimas que escapavam caíam sob o seu rosto. Eram sentimentos que ele não sabia como lidar, culpa, solidão, tristeza, mas principalmente vergonha.

A mulher que chorava olhou para seu reflexo na poça e perguntou:

— O que nós fizemos?

— Nós pecamos.... Pecamos contra o nosso criador – Adão respondeu, enquanto tentava prender as lágrimas.

— O que vamos fazer agora? Não podemos simplesmente nos esconder para sempre...

Não importava o quanto ela falava, Adão não respondia, ficava em silêncio.

— Adão, você está me ouvindo?

E mais uma vez ela foi ignorada

— Adão! Por que você não me responde?!

Em um momento de fúria, Ele exaltou sua voz e gritou.

— Fica quieta! Você não para de falar!

Ela ficou olhando para ele, enquanto os seus olhos se enchiam de lágrimas novamente. Quando tomou a consciência do que tinha feito, se aproximou dela e disse (também chorando).

— O que eu estou fazendo? Por favor, me perdoe.... Eu não sei o que está acontecendo comigo...

— Foi a fruta.... Ele nos avisou... – A moça disse, enquanto abraçava seu esposo.

— Ele só nos fez um pedido... E nós não obedecemos.

Uma neblina começou a crescer por todo o Jardim, e no meio de toda a branquidão, O Criador desceu dos céus, procurando os seus filhos.

— Onde vocês estão?

Naquele momento, o coração dos dois gelaram, o que os fez se esconder mais. Então Deus com toda a sua onisciência e onipresença falou.

— Por que estão se escondendo de mim?

Os dois caminharam de mãos dadas lentamente, até desaparecerem na neblina.          

Foi então que a mulher e Adão se olharam, depois de alguns minutos, o homem ergueu sua voz, enquanto aparecia.

— Nós.... Nós ouvimos a sua voz...  E tivemos medo, porque estamos nus, por isso nos escondemos.

A serpente que estava ali observando tudo, sorria com a maior alegria. Ela se esgueirou pelo chão até os pés da mulher, que a direcionou com um olhar de raiva.

— Quem falou para vocês que estavam nus? Por acaso comeram da árvore que eu proibi? - Deus disse.

Sem pensar no que fazia, o homem disse.

— A culpa não foi minha, Senhor! É culpa dela! – Direcionou seu indicador para sua esposa, enquanto a mesma ficava sem ação. – Foi ela que me deu o fruto! E como minha companheira eu aceitei! A culpa não é minha!

Por sua vez, a mulher fechou um punho e disse.

— É mentira senhor! Ele aceitou porque quis! Mas a culpa não é minha! – Ela pegou a serpente a lançou próxima ao criador. – É culpa dela! Ela me enganou! Ela mentiu para mim!

O criador observou toda aquela discussão, toda aquela jogação de culpa e se entristeceu, em seguida olhou para a serpente, ele sabia que não era ela, era outra coisa, era Satanás que havia entrado na serpente, e usado o animal mais lindo do Jardim para enganar o casal.

Ele pegou ela pelo pescoço e a ergueu, enquanto falava com sua voz poderosa.

— Por ter feito isso, maldita serás tu! Graças a você, toda a sua espécie e descendência será a pior raça! Nenhum animal, nem doméstico ou selvagem... NENHUM será comparado a ti! Agora rastejarás sob seu ventre, e comerá teu próprio pó todos os dias da tua vida! – Enquanto ele falava isso, as patas da serpente secavam, de modo que caíram no chão, se tornando a cobra que conhecemos hoje. -  E mais Satanás! Um filho nascerá de uma mulher, e este garoto irá pisar na tua cabeça, dando fim ao teu reinado!

A serpente caiu no chão, e se arrastou para longe, no mesmo momento em que Deus se voltava para o casal.

— Tu mulher, por ter ouvido a serpente, a partir de hoje, aumentarei as tuas dores na hora do parto! – Naquele momento, ela se encostou em Adão, e começou a chorar. – E teu nome a partir de hoje será Eva, pois do teu ventre nascerão todas as nações.

— E você Adão, por ter caído na tentação, tu terás a partir de hoje que trabalhar com força para conseguir levantar o sustento que dará a vida para tu e tua família! – Ele deu uma pausa. – Até que os dois se tornem pó, pois do pó vieram, e pó irão se tornar novamente!

Deus ergueu sua mão, e as roupas de folhas desapareceram, e no lugar delas apareceram confortáveis roupas de pele.

— Agora vocês sabem a diferença entre o bem e o mal... Não são mais dignos de pisarem neste Jardim...

Os dois choraram, enquanto O Criador subia aos céus.

Depois de quinze minutos, os dois se olharam tristes, e andaram até a saída do Jardim de mãos dadas. No momento em que eles saíram, puderam contemplar que nem tudo era tão lindo quanto lá dentro. A neblina umedecia aquele chão árido, da mesma forma que tampavam as montanhas.

Um barulho fez com que Adão e Eva olhassem para trás, quando se voltaram, puderam ver um enorme Anjo com uma espada de fogo impedindo que qualquer um entrasse no Jardim. Seu rosto resplandecia tanto que quase não dava para ver, as vestes eram brancas, e as asas eram enormes e lindas.

Enquanto andavam sem rumo, Eva citou.

— Mas eu não entendi... Ele disse que se nós comêssemos do fruto, iríamos morrer... – Ela fez uma pausa. – Porém ainda estamos aqui, ele realmente mentiu?

Adão ficou em silêncio, e só depois de alguns minutos respondeu.

— Ele não mentiu, nós morremos – Respirou fundo, enquanto uma lágrima escorria de seu olho direito. – Mas não fisicamente, Espiritualmente.

Então Adão e Eva andaram de mãos dadas na direção do inimaginável, até desaparecerem na neblina.

E pela primeira vez, O Criador viu que não era bom.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eai? O que acharam? Espero que tenham gostado! Não esqueçam de deixar sua opinião, e até a próxima históra!