Anthony realmente cumpriu com sua palavra. Ele mal para em casa e quando está aqui nem me olha. Eu não deveria me sentir mal por isso. Mas eu estou me sentindo mal.

Amanhã tenho consulta com o meu médico. Vou saber se irei me lembrar ou não. Espero que sim. Eu quero muito saber como foi a minha vida. Meu pai disse que depois da consulta médica eu deveria já ir marcando com um psicólogo.

A minha única alegria nessa casa era o Ezra. Caramba, esse menino foi a melhor coisa que eu já poderia ter feito.  Eu sinto que amo ele. Eu consigo sentir que ele é meu filho.

Falando nele, hoje ele está muito agitado. Ezi gosta de Basquete e seu time favorito é o Dallas Mavericks, ou somente “Os Dallas”, como ele mesmo diz. Hoje parece ser dia de jogo e ele está tão animado. Não só ele, mas Tony também. Termino de vestir Ezra – que estava falando alguma coisa sobre “Os Dallas” que eu não prestei atenção. – e Anthony chega:

— Carinha, já está pronto?  O jogo já vai começar.

— Mamãe, vai começar. – ele disse tanto sair dos meus braços.

— Mas o seu cabelo ainda está bagunçado. – eu argumentei na tentativa de convencê-lo a me deixar terminar de arruma-lo.

— Não precisa. Vamos ver o jogo na sala e não no ginásio. – ele desce da cama e pula no colo do DiNozzo. Esse menino é abusado. – VEM MAMÃE! – eu consigo escutar ele gritando das escadas.

Conforme vou descendo até a sala, o som da televisão e os gritos de Ezi e Tony ficavam cada vez mais altos. Me sentei no sofá enquanto os dois ficavam pulando e gritando na minha frente. Até que foi cesta dos “Dallas”. Institivamente eu me levanto e abraço os dois.

O som está ficando longe, sinto minha cabeça rodar. Por que não consigo ficar em pé?

Abro os olhos e estou deitada no sofá, mas espera... Estou louca? Como posso estar deitada no sofá quando estou ao mesmo tempo pulando com Ezra no meu colo. Chego perto de onde estávamos e escuto Ezi gritando:

— Ponto dos Dallas! Isso significa BEIJO! – Ezra parece estar menor, seus cabelos estão mais curtos e os meus também.

— Ziva, você está bem? – estou no sofá de novo, mas dessa vez Tony e Ezra estão me rodeando. – O que está sentindo?

Anthony continua me enchendo de perguntas, mas eu não consigo responder nem as minhas próprias dúvidas. O que aconteceu aqui?

Não consigo terminar de ver o jogo. Apenas subo e vou dormir um pouco, tenho certeza de que tudo isso é cansaço.

Acordo no outro dia de manhã e vou direto para o banheiro. Preciso de um bom banho. Chego ao banheiro e tem uma troca de roupa em cima da pia – igual a todos os outros dias. – tenho que pedir para o Anthony parar com isso.

Hoje é o dia da consulta mais importante da minha vida. E honestamente, eu estou bem esperançosa. Muito esperançosa pra falar a verdade.

Desço para o andar de baixo e Tony estava lá embaixo. E ele continua me evitando:

— Seus pais vão nos encontrar lá no hospital. – ele diz sem ao menos me olhar.

— Hum, tudo bem.

Ele pega as chaves do carro e seguimos em direção ao hospital. Assim que paramos posso ver meus pais de longe.

Depois de muitas perguntas de como estava sendo minha vida, conseguimos entrar no consultório. Doutor Hector já estava lá. E começamos de novo aquele bombardeio de perguntas. Faço mil e um exames e então no final do dia tenho o resultado:

— E então Josh, já sabe o motivo da amnésia? – meu pai pergunta olhando fixamente para médico.

— Ziva, diferente dos outros casos, você não perdeu a memória por conta de um acidente ou trauma, mas sim por stress. – “stress”? Quer dizer que me esqueci de 11 anos da minha vida por conta de “stress”. – Minhas recomendações são as mesmas, continuar a sua rotina normal e frequentar um psicólogo...

— Mas ela vai conseguir se lembrar?

— Vou ser franco, eu não faço ideia. Porém é mais provável que não. Eu fiz alguns exames e pesquisas, a chance de você se lembrar – ela aponta pra mim – são mínimas.

Vejo Tony sair da sala e minha mãe ir atrás dele. Merda, ele está chorando.

Olho para o meu pai pedindo alguma ajuda e ele entende o meu pedido e me abraça.

Tudo passa rápido, quando me dou por viva, já estou na porta da “minha” casa, desço do carro e escuto Anthony dizer:

— Vou pegar o Ezra na escola e vou passar na casa do meu irmão. Acho que vamos demorar um pouco.

Não me dou o trabalho de responder, apenas aceno afirmativamente.

Eu odeio ficar sozinha nessa casa. Queria alguma companhia. Anthony poderia estar aqui. Mesmo que ele nem me olhasse, mas eu saberia que ele estava aqui.

Preciso dormir um pouco. Me deito no sofá e deixo o tempo passar.

Caramba, acho que dormi demais:

— Anthony?

 E o psicopata ainda não voltou. Okay, estou preocupada. Já faz cinco horas que ele saiu. Já deveria ter voltado.

Subo para o quarto o vou tomar banho. Assim que termino de me vestir escuto vozes no andar de baixo.

Desço as escadas devagar e consigo ver Tony e Timmy no sofá. Sento nos degraus mais altos da escada e fico em silêncio para ouvir a conversa:

— Não fica assim, vai dar tudo certo. – Timmy dizia enquanto colocava as mãos nas costas de Tony.

— Não, cara. Você não entende. Ela me odeia, tudo voltou como era, lá do inicio. Ela não me suporta e eu a amo tanto. – não, ele está chorando. E o pior, isso está me machucando. – Eu não vou prendê-la aqui, se ela quiser ir estou disposto a deixar.

Não, Anthony! Eu não sei por que, mas não quero ir. Quero ficar e viver a minha vida. Eu tenho sido tão idiota. A partir de agora farei de tudo para me dar bem com o DiNozzo. Me dar bem com o meu marido.