Era por volta das dez e meia da manhã, quando eu batia à porta da casa da tia de Sara. Minha mãe me passou o endereço dali já que eu nunca tinha vindo aqui. Ela achou que eu devia primeiro ter ligado avisando que viria, mas eu achei melhor ir na surpresa. Vai que aquela insuportável inventa uma desculpa qualquer só pra eu não vir?

Esperei só poucos segundos após ter batido à porta, pra ver a mesma sendo aberta pela mesma prima de Sara que já tinha ido lá em casa certa vez.

—Você aqui?!

Ela estava visivelmente surpresa com a minha presença ali.

—Oi, Leslie! A Sara está aí?

—Não! Ela deu uma rápida saída há uns minutos com a minha irmã pra comprarem algo no supermercado aqui perto. Mas entra, ela já deve estar pra voltar.

Ela me convidou, dando-me passagem pra adentrar na sua casa. E nós fomos em direção ao sofá onde nos acomodamos.

—Que surpresa, você ter vindo aqui! Veio visitar a minha prima louca, né? Óbvio que só pode ter sido isso. Que pergunta mais idiota essa minha! Que outra razão te traria aqui, né?!

Eu ri discretamente. O jeito falastrão dela era bem parecido com o da Sara.

—De fato, eu vim visitar a Sara. Mas, também vim pra convidá-la pra um passeio.

—Sério? Pensei que não gostasse dela.

—Pois é, eu também!

Quando que eu ia imaginar lá atrás, estar vivendo tal situação. Eu gostando da insuportável da Sara!

Mas é como dizem por aí: "o mundo dá voltas!". E que voltas, ele deu diga-se de passagem.

—Minha prima vai me matar por isso, mas... eu vou te contar um segredo só não diz pra ela que eu te disse isso, valeu?

Eu assenti e vi Leslie sair do sofá em que estava, pra se juntar à mim no quê eu me encontrava.

—Sara sente sua falta!

—Hã...??

Eu mal podia acreditar no que ouvi. Será que aquela garota tava falando a verdade ou só queria zoar com a minha cara?

Não! Ela nem me conhecia direito pra tirar esse tipo de zoação comigo. Certamente, ela estava falando a verdade!

—É isso aí! E tem mais, vire-mexe ela fala em você pra mim e minha irmã. "Porque o quatro olhos isso, aquilo." Ou então: "Ele não gosta disso, daquilo outro!". Nós até brincamos com ela dizendo que ela tá falando muito em você e que sabe demais a seu respeito.

—Sério que ela fala tanto assim de mim?

Aquilo era bem revelador!

—Sim! Inclusive, ela fala mais em você do que no carinha que ela tá ficando. O tal Nick.

Essa informação me fez ficar todo bobo. Quer dizer, que ela falava mais de mim do que no Nick? Isso era mais revelador ainda!

Ouvimos barulho na porta e vozes misturadas à risadas. Só podia ser elas de volta.

—Chegaram! Já sabe, segredo sobre o que te contei.

—Ok!

Vimos Sara e a outra prima dela entrarem ambas sorridentes em casa. Pelo visto tinha acontecido algo engraçado no caminho de volta.

—Nossa quanta animação. O que aconteceu de engraçado para as duas chegarem assim?

—Essa malu...

Ao notar minha presença ali, Sara parou de falar e ficou me encarando como se eu fosse um bicho de múltiplas cabeças diante dela.

Já que ela não dizia nada, então tomei a iniciativa de fazer isso.

—Oi! - Cumprimentei-a, ficando pé e escondendo as mãos no bolso da calça jeans, de nervoso. Acho que era a primeira vez que eu ficava assim diante dela.

—Oi!... O que faz aqui?

Ela parecia tão surpresa quanto sua prima ficara ao abrir a porta e me ver.

Antes que eu me atrevesse a responder sua pergunta, Leslie se antecipou à mim. Pelo jeito, tomar a frente das perguntas alheias era mal de família.

—Ele veio te visitar e te convidar pra um passeio.

Olhei de relance pra Leslie.

"Valeu por responder no meu lugar!"

Vendo que tinha sido indiscreta ao responder a pergunta que foi dirigida à mim, Leslie se apressou em dizer:

—Bem... vamos deixar os dois sozinhos. Vem, May!

A prima de Sara se levantou rapidamente do sofá e saiu levando junto à irmã dela que chegou com Sara.

—Essa sua prima Leslie é uma figura!

—Minha tia diz a mesma coisa!

A gente esboçou um sorriso disso. E depois, um silêncio constrangedor pairou ali. Mas este não durou muito, já que, dessa vez, Sara tomou a iniciativa de desfazê-lo.

—O que aquela sem noção da Leslie disse é verdade?

—Se está se referindo ao fato de eu vir te visitar e sobre o passeio, a resposta é: sim!

—Nossa! Tô impressionada com isso!

Acho que, ela não esperava que eu me abalasse da minha casa até aqui pra visitá-la e mais ainda, pra chamá-la pra um passeio.

Há duas semanas, isso seria impossível mesmo de acontecer. Só que a realidade, agora era outra.

—E, esse passeio aí que você veio me convidar é pra onde?

—Já ouviu falar no: "Rock and Roll Hall of Fame and Museum"?

—Sim! É um museu em Cleveland. Tenho mega vontade de conhecer.

Nesse caso, ela toparia na hora o convite que eu lhe faria.

—Mas o quê que tem isso?... Não me diz que veio aqui me convidar pra a gente ir em Cleveland conhecer o museu?

Ela cruzou os braços e me encarou com ironia.

—Ir à Cleveland não vá dá, mas... - Eu fui em sua direção e parei há poucos passos de distância dela. Então, completei a minha fala: _... A gente pode ir a Boulevard Strip onde uma parte desse museu do rock veio pra cidade e está em exposição no centro de convenções de Las Vegas desde ontem. Tá a fim de ir? - Propus.

—Tá falando sério?

Ela parecia não acreditar no que eu disse.

—Tô! Olha aqui.

Tirei do bolso os tickets de entrada e mostrei a Sara. Contei que Phil tinha nos dado pra ir, já que a neta dele não poderia ir mais.

—Caraca!

Ela sorria encarando os tickets que havia tirado da minha mão.

—E aí, você vai comigo?

—Claro que eu vou! Tá louco que eu vou recusar um convite desses?!

Ela socou meu braço e eu acabei por rir disso. Dessa vez, seu soco não tinha doído nada. E o melhor de tudo, foi ver o sorriso dela enquanto me encarava após falar comigo.

—E que horas a gente vai?

Sua pergunta rompeu o silêncio que pairou por uns instantes entre a gente.

—Assim que você ficar pronta, a gente se manda daqui pra lá. - Contei pegando de volta os tickets da mão dela.

—Oh! Então, eu vou subir agora mesmo e me arrumar rápido. Não demoro, juro!

—Assim espero. - Rebati, guardando os tickets de volta ao bolso da calça.

Ela saiu pra ir se arrumar e antes de sumir de vez das minhas vistas, se virou e me chamou.

—Gil!

Que surpresa, dessa vez, não foi "quatro olhos".

—Oi!

—Valeu pelo convite!

Antes que eu tivesse a chance de dizer que não era à mim que ela tinha que agradecer àquilo, Sara já tinha sumido dali.

Se havia alguém que devia agradecer a outro alguém ali por aquele convite, era EU e ao Phil. Se não fosse o... namorado de minha mãe e também a neta dele que teve um imprevisto, eu e Sara não iríamos curtir esse passeio.

—Você ganhou uns pontos extras comigo, Phil! - Resmunguei com um sorriso discreto nos lábios.