Pelo Tempo Que For escrita por Lena Morena


Capítulo 2
Think About It


Notas iniciais do capítulo

Oi genteeee, mais um capítulo ♥ Eu fiz umas modificações no primeiro, talvez algumas pessoas não tenham visto ainda, mas enfim... Muito obrigada mais uma vez por lerem e desculpa a demora, fiquei sem internet e não consegui postar no sábado D: Mas tá aí um grandinho pra vocês ♥



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Casa do Cebola

Bairro do Limoeiro, São Paulo

20 de abril de 2016, 16:20PM

Soundtrack: I'll Be There For You (F.R.I.E.N.D.S theme song)

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— Cara, eu... Sinto muito — Disse Cebola, dando tapinhas solidários no ombro de Cascão.

O sujinho havia contado tudo ao melhor amigo. Absolutamente tudo. Quando havia aparecido, com uma expressão péssima e a frase bombástica “Ela terminou comigo”, Cebola ficou obviamente surpreso e o ofereceu duas opções: Chamar os caras pra tentar animá-lo ou reunir a turma clássica. Cascão optou pela segunda opção, mas haviam decidido que ele explicaria tudo a Cebola antes de encontrarem as meninas.

— Eu não fiz nada de errado em relação à Magali... Fiz, Cebola?

— Você nunca teve nada com a Maga, cara... Então, não. Mas você errou, sim, com a Cascuda... Essa do aniversário de namoro foi realmente bizarra...

— Sempre bom saber que posso contar com você, careca — Ele revirou os olhos.

— Estou sendo sincero. Amigo que é amigo tem que falar umas verdades de vez em quando, você mesmo me disse isso...

— Agora, nesse momento, não to com cabeça pra ouvir verdades.

— Ok, foi mal. Mas você precisa pensar no que vai dizer pra Magali.

— O que?

— Eu já mandei mensagem pra ela e pra Mônica. Elas devem estar chegando daqui a pouco, bem curiosas pra saber o motivo da Cascuda ter terminado... Mas eu não acho que você queria dizer pra Magali que ela foi um dos motivos do termino.

— Droga, você tem razão.

— E aí? Vai dizer o que?

— Não sei, careca. Acho que vou simplesmente omitir as partes que a envolvem.

Cebola ergueu uma sobrancelha.

— Vai dizer que ela terminou porque você esqueceu o aniversário de namoro?

— Acha pouco?

— Pra terminar um relacionamento de uns dez anos? Acho. Mas sei lá né, quem entende as mulheres... — Ele deu de ombros.

Cascão encarou o amigo, pensativo.

— E se elas não acreditarem?

— Pensa num plano B então, Cascão...

Não tem um plano B!

— Vou tentar pensar num plano infalível pra você então...

— Você? Há! Nem gaste seus neurônios, já sabemos que não vai funcionar.

— Quer parar de avacalhar?! — Chiou Cebola.

— CEBOLINHAAA! — O chamado interrompeu a conversa — VEM AQUI UM MINUTINHO POR FAVOR!

— É CEBOLA, MÃE! — Ele respondeu, ficando de pé — E JÁ ESTOU INDO! Fica aí, cabeção. Vou tentar pensar em alguma coisa.

A cabeça de Cascão girava e ele tentou organizar os pensamentos enquanto Cebola não voltava. A verdade é que a ficha ainda não tinha caído direito. Ele e a Cascuda ficaram juntos por muito, muito tempo e da última vez que eles tinham terminado... Havia sido por conta de um mal-entendido. Ele achava que eles iam acabar se resolvendo, de uma forma ou de outra. Dessa vez, era mais complicado. Muito mais complicado... E, na outra ocasião, ele não estava sozinho... Maga também estava solteira. E eles viveram coisas maravilhosas, juntos. Era verdade que nada tinha acontecido mas... Se eles não tivessem voltado os namoros, talvez...

...Bom, ele, no mínimo, tinha uma perspectiva. Agora, ele não tinha mais Cascuda. E Maga estava bem resolvida com Quim... Não tinha nem uma... amiga com quem dividir a dor-de-cotovelo... E não tinha uma mínima esperança de seguir em frente. Não sabia o que fazer.

Seus pensamentos foram interrompidos pela campainha.

— CASCÃO — Ele ouviu Cebola gritar — ATENDE AÍ A PORTA QUE JÁ TO INDO!

O sujinho se levantou e abriu a porta, ainda meio pensativo, quando deu de cara com ela. Magali. Seus olhos encontraram os da garota e, instantaneamente, ele percebeu que estavam carregados de compaixão e carinho.

No segundo seguinte, ele foi atingido pelo corpo delicado da amiga num abraço inesperado.

— Sinto muito, Cas — Ela praticamente cochichou ao seu ouvido. O garoto se arrepiou um pouco e enterrou o rosto no vão entre o pescoço e o ombro direito dela.

Ele se permitiu relaxar naquele abraço, tentando esquecer a confusão que estava sua mente. Tentou focar apenas no perfume doce que Magali usava e na maneira como ela segurava de leve sua blusa com uma das mãozinhas suaves. Os dois ficaram assim parados durante algum tempo, mas Cascão não saberia dizer quanto: Poderiam ser horas ou segundos. Até que ele finalmente agradeceu à amiga e começaram a se afastar, devagar.

A julgar pela expressão estranha com a qual Mônica os encarava, ele assumiu que haviam ficado abraçados por um tempo considerável... Ele sequer havia visto que a amiga dentuçinha tinha chegado junto com Magali. Só então notou também que Cebola também já estava no cômodo. Ok, o abraço realmente tinha demorado um pouco.

— Você ta bem, Cascão? — Mônica perguntou, dando um abraço rápido no amigo.

— A ficha ainda não caiu direito — Confessou ele — Mas vou ficar bem, sim.

Eles se dirigiram até a sala espaçosa da casa e se acomodaram: Cascão numa das pontas, Maga no meio, Mônica na outra ponta e Cebola em um dos braços do maior sofá do cômodo. Os três encaravam o amigo.

— Então... O que exatamente aconteceu? Porque ela resolveu terminar? — Perguntou Mô.

Ele suspirou e encarou Cebola como se pedisse socorro, mas tentou manter a calma.

— Eu fiz besteira — Resumiu, optando por falar a verdade de maneira generalizada — Vacilei com umas paradas aí, esqueci nosso aniversário de namoro e... Pra ser sincero, o relacionamento já não ia bem. Mas mesmo assim estou meio sem chão.

— O que ela disse? — Perguntou Magali.

— Basicamente que dessa vez era sem volta. Que ela tinha cansado. Enfim, eu não quero ficar falando muito disso... — Tentou desconversar — Brigadão por terem vindo dar uma força!

— Amigo é pra isso mesmo! — Mônica sorriu.

— Sempre que precisar, Cas — Magali apoiou uma das mãos no ombro do garoto, que sorria agradecido.

— Mas e aí, o que vocês planejaram pra me animar? Já vou avisando que comediazinha romântica não vale hoje, hein? — Ele tentou soar menos pra baixo.

— Já estou com várias idéias! — Disse Mônica, empolgada — Cebola, pega o Imagem & Ação que vamos começar por ele mesmo!

— Demorô! — Disse o careca, já correndo em direção ao seu quarto.

Assim, em pouco tempo já estavam jogando. E lá se foi uma longa partida de Imagem & Ação, duas rodadas de UNO, algumas partidas de videogame, uma rodada de detetive, perfil e banco imobiliário – Tudo acompanhado de muitas risadas, guloseimas e resenhas. Acabaram só saindo da casa do Cebola cerca de oito da noite e Cascão fez questão de acompanhar as garotas até suas casas. Após deixarem Mônica, Cascão seguiu ao lado de Magali, num papo animado.

— Eu tinha até pensado numa coisa diferente pra te animar — Comentou ela, de repente — Mas a Mônica não topou. Falou que ela e o Cê seriam humilhados...

— Opa, agora que eu quero mesmo! — Ele riu — O que é?

— Vamos fazer assim: Vou te levar amanhã, deixar como surpresa! — Ela sorriu, enigmática — Garanto que você vai curtir! Até lá eu convenço os dois!

— Fechou — Ele sorriu, animado — Pior que marcamos de estudar amanhã pela tarde...

— A gente vai de noite, não tem problema!

— Ah, então é algo que da pra ir pela noite — Ele sorriu, malandro — Já consegui mais uma dica!

— Bobo! Só vai descobrir amanhã! — Ela lhe deu um tapinha de brincadeira, bem fraco.

—Você vai me matar de curiosidade, sabe disso né?

Ela deu uma risadinha tão fofa que Cascão poderia mordê-la.

Finalmente estavam em frente a casa da garota. Cascão sorriu de maneira sincera e agradeceu mais uma vez.

—Não tem com o que se preocupar, Cas. — Ela se inclinou e deu um beijo na bochecha do garoto — Qualquer coisa que precisar, pode me ligar. Ou me procurar, o que preferir.

Ele ainda a encarava com um sorriso meio bobo no rosto quando a observou entrar em casa. A voz de Cascuda, porém, ecoou na sua cabeça. "A maneira como você olha pra ela". Aquilo tinha que ser exagero.

Não é?

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Casa da Magali

Bairro do Limoeiro, São Paulo

21 de abril de 2016, 7:30AM

Soundtrack: Hate To See Your Heart Break - Paramore

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 Magali acordou cedo na manhã seguinte, por um momento esquecendo-se do dia anterior. Aos poucos, enquanto ia levantando da cama, seus pensamentos foram se organizando e a principal informação voltou a sua mente.

Cascão e Cascuda tinham terminado.

Era a notícia do ano. Denise, com toda a certeza, já estava espalhando pela internet alegremente. Maga suspirou, imaginando se seria realmente pra valer. Segundo o amigo, Cascuda havia sido taxativa: Dessa vez, era sem volta. E a decisão havia sido puramente dela.

“Eu fiz besteira. Vacilei com umas paradas aí, esqueci nosso aniversário de namoro e... Pra ser sincero, o relacionamento já não ia bem.” Cascão havia dito. Esquecer um aniversário de namoro era bem ruim, Magali tinha que concordar... Mas há quanto tempo eles estavam juntos? Uns dez anos? Esse fator, isolado, não era motivo pra terminar um relacionamento tão longo... Ainda mais quando Cascuda sabia o quão ele era desligado...

Já chegando ao banheiro, a morena se olhou no espelho e se perguntou quais seriam os outros motivos para o relacionamento dos dois não estar indo bem, como ele havia dito. Por mais que eles fossem diferentes, aquilo não queria dizer muita coisa... Não quando eles lidaram bem com essas diferenças durante tanto tempo. Ela se despiu e entrou no box do banheiro, ligando a água. Era muito difícil de acreditar que aquele término era definitivo. Eles já tinham terminado mais de uma vez, Magali se lembrava bem, mas tudo havia se ajeitado. Como tinha que ser. “Cascão e Cascuda” era o tipo de coisa que estava tão certo em sua mente, que parecia loucura pensar qualquer coisa que se diferenciasse. E provavelmente a turma toda se sentia da mesma forma. Era como tentar imaginar Franja e Marina separados.

Mas... Franja e Marina quase nunca brigavam. E eles demoraram um tempo considerável pra ficarem juntos, por mais que se gostassem desde pequenos, o que tinha deixado o relacionamento deles muito mais maduro e estável. Com Cascão e Cascuda era diferente, parando pra pensar... Mas ainda assim, ela sempre os imaginou juntos até o fim. Casando e construindo um futuro juntos. Como... Mônica e Cebola.

Ela suspirou. Sabia como essa história acabaria. Mônica e Cebola. Cascão e Cascuda. Juntos. Como deveria ser. Não importava se outras pessoas surgissem no caminho, como Do Contra, por exemplo. Magali se sentia até culpada em pensar assim, mas ela via onde o relacionamento de Mô e DC ia dar... Por mais que quisesse a felicidade de sua amiga. E com Cascão e Cascuda não seria diferente. Namoros de infância nunca acabam tão facilmente. E quando duas pessoas estão destinadas a ficarem juntas... Bom, vamos só dizer que nunca é fácil discutir com o destino.

Magali terminou seu banho e se arrumou rapidamente, ainda pensando no assunto. Era muito melhor se manter firme àquilo que já era certo. Que transmitisse segurança.

Como Quim.

Foi então que, ao sair do quarto, ela caiu em si. Estava mesmo discutindo aquilo com ela mesma? Balançou a cabeça de um lado pro outro, como se chacoalhasse todos aqueles pensamentos pra fora de sua mente e se dirigiu a cozinha. Tomou um café da manhã rápido e conseguiu sair bem à tempo de pegar uma carona com seu pai para a escola.

Seu Carlito deu um beijo de despedida na testa da filha ao chegarem, desejando-lhe boa aula, e Maga soltou do carro. Ela mal tinha colocado os pés na escola quando foi atingida por uma Denise eufórica.

— GATZ, finalmente você chegou! Bota um pó nessa cara, ajeita os cabelos, da uma rebolada e vai que é hoje!

— Oi pra você também, Denise — Maga ergueu uma sobrancelha — E, desculpa perguntar, mas do que exatamente você esta falando?

—Ué! Não ta sabendo da novidade?

— Que o Cascão e a Cascuda terminaram? Estou sim...

— ENTÃO, MULHER! Ta esperando o que? SE JOGA, é a sua chance! — Denise gritou, empolgada, fazendo Magali recuar um pouco com o susto.

— Chance? Chance de que, criatura?

— O boy magia ta solteiro, gatz! Vai La dar o bote que ele é todo seu!

— AAAAAAH! Denise, eu tenho namorado!

— Aié, você tem que terminar com o Quim primeiro! Que bafo, me esqueci completamente — Ela pareceu sem graça por minuto.

— Quer parar com isso? Eu não vou terminar com o Quim!

— Não? Amiga, traição não é coisa de Deus não! Posso até adorar barraco, mas aí já vai ser baixaria demais né...

— DENISE! — Magali estourou — Acorda pra vida! Eu não vou "dar o bote" em ninguém!

— Não?

— Claro que não! — Magali revirou os olhos — E, se você quer saber, ainda acho que eles vão voltar.

— O Cascão e a Cascuda? — Denise franziu o cenho — Tem certeza? Porque eu soube que é bem permanente.

— É, essa história também chegou aos meus ouvidos... Mas já ouvi isso antes. Esses namoros de infância não terminam assim, Denise. De alguma maneira, essas pessoas sempre voltam uma pra outra. — Concluiu, com toda certeza do mundo.

— É, Gatz? Diz isso pra Aninha e pro Titi então... — Denise rebateu, com os braços cruzados e uma expressão vitoriosa no rosto.

Magali se deteve, confusa. Era verdade! Nem tinha pensado em Aninha e Titi mais cedo. Eles... Eles realmente haviam terminado, após muitos anos juntos. E não pareciam prestes a voltar... Na verdade, já estavam separados há um tempo considerável. Apesar de que...

— Mas eles não se envolveram com ninguém — Concluiu ela, finalmente.

Mas Denise não se abalou.

— Não? Já esqueceu da Carminha Frufru, amiga? Fora todas essas garotinhas secundárias aí de quem o Titi da em cima... Deus sabe o que não já rolou entre ele e essas aí!

Magali ficou sem resposta por um momento, mas logo voltou a argumentar.

— É diferente. O Titi sempre foi o popularzinho com fama de pegador — Ela desviou o olhar, pensativa — O Cascão é... Diferente. E mesmo assim, o Titi tentou voltar com a Aninha, mais de uma vez!

— E ela recusou! — Triunfou Denise — E sabe por quê? Porque caiu a ficha de que ela tinha que seguir em frente, migs! Esse papinho de namoro de infância não ta com nada! Não são vocês mesmos que vivem dizendo que cresceram e estão diferentes? Pois então! O gosto também muda, meu bem! E, se você quer saber minha opnião, eu acredito demais nesse término.

— Você parece até que está feliz com tudo isso...

— Porque eu obviamente estou, ué!

Denise! Você não tem sentimentos não?!

— Tenho sim, linda. E você sabe muito bem quais são meus sentimentos em relação a esse ex-casal... E com quem eu acho que o Cascão realmente deveria ficar!

Magali corou diante daquelas palavras.

— D-Denise, esquece isso. Pelo amor de Deus.

— Ai, que fófis! Ficou toda vermelhinha hihi! A louca! Fica tranqüila que não vou forçar o assunto, amiga. Pelo menos não por agora... — Concluiu, ao perceber que tinham chegado à porta da sala de aula — Vem, vamos entrar!

Magali sentiu o clima pesado assim que pôs os pés no cômodo. Os garotos estavam todos num canto, sem falar nada. Alguns jogavam em seus celulares, outros apenas encaravam as meninas. Grande parte delas estava quieta, encarando Cascuda. A garota em questão estava sentada ao lado de Marina, rabiscando em seu caderno enquanto ouvia a amiga lhe dizer algumas palavras de apoio. O silêncio no cômodo era perturbador.

Denise, por sua vez, parecia completamente imune ao clima do local. Ela colocou seu material em uma das carteiras e Magali ocupou o lugar ao seu lado.

— Que climão hein, amiga? Adoro — Comentou Denise, fazendo Maga revirar os olhos.

— Como você consegue ficar tão tranquila no meio de uma vibe tão ruim?

— Ai fofa, você não pode deixar essas coisas bobas te afetarem! O relacionamento não era seu, né?

— N-não, mas...

— "Mas" nada. Viva sua vida, bonita. Quem vive a vida dos outros é revista de fofoca!

— A gente devia consolar a Cascuda, Dê. Dar um apoio emocional, sei lá!

— Dear, foi ela quem terminou. Por livre e espontânea vontade. A escolha foi exclusivamente da garota, quem foi pego de surpresa foi o Cascão... Que, por sinal, parece precisar muito mais de consolo que ela! — Comentou.

Só então Magali encarou a porta, encontrando um Cascão, visivelmente cansado, parado de pé no local. Mesmo de onde estava sentada Magali pode ver as enormes olheiras que se afundavam, bem roxas, abaixo de seus olhos. O garoto tentou sorrir ao ver a turma, mas era óbvio o quão qualquer demonstração de alegria era fake.

— Ele... Ele...

— Ta acabado, o bichinho. Chega da pena... — Comentou a ruiva.

— Ele está exausto... Aposto que não dormiu nada essa noite. Tadinho...

Cebola estava logo atrás de Cascão. Ele disse algo no ouvido do amigo, mas Cascão negou com a cabeça e se dirigiu a carteira ao lado de Magali, deixando seu corpo despencar sob a cadeira. Cebola foi cumprimentar os garotos e Cascão começou a remexer em sua mochila.

— E aí, Cas? — Perguntou ela, cautelosa — Confirmado hoje nosso programa?

Ele sorriu de leve ao ouvi-la perguntar e a encarou, já com um tantinho de alegria nos olhos.

— Confirmado, sim! Eu bem que to precisando.

— É, eu... Desculpa falar assim, mas... Deu pra notar.

Ele suspirou, virando o corpo totalmente pra amiga, de forma que ficasse sentado de lado na cadeira. Apoiou os cotovelos nos joelhos e deixou que suas mãos pendessem, enquanto encarava o chão com uma postura claramente derrotada.

— Eu sei — Comentou ele, triste — Acabei não dormindo muito bem, por motivos óbvios. Mas acho que vou ficar bem.

Magali também virou o corpo totalmente de frente para o amigo, esticando uma das mãos para tocar-lhe o antebraço. O toque fez Cascão encará-la quase instantaneamente.

— Pois eu tenho certeza que vai. E muito mais rápido do que pensa — Disse, sorrindo da maneira mais encorajadora que conseguiu. Aparentemente funcionou, pois o fez sorrir de volta. Um sorriso lateral, mas ainda assim. Ela acariciou seu braço, de leve. — E pode contar comigo, sempre que precisar. Você sabe disso, não sabe?

— Sei sim — Ele pôs uma das mãos sob a dela — Você é dez, Maga.

Ela queria responder, mas o toque do garoto a deixou um pouco sem reação. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Cascão acabou olhando pro lado esquerdo, ou seja: onde se via o fundo da sala. Logo ele interrompeu o toque e virou-se pra frente mais uma vez, nervoso. Magali virou o rosto e encarou o mesmo ponto, confirmando suas suspeitas: ele havia visto Cascuda.

O olhar do garoto, no entanto, estava diferente de quando isso acontecia quando terminaram da última vez. Nesse período, era perceptível a dor e o coração partido de Cascão. Agora, porém, a emoção mais obvia presente em seu olhar era nervosismo, apesar de todo corpo do rapaz indicar uma tristeza profunda.

Maga suspirou. Odiava ver o amigo daquele jeito. Cascão era sempre tão alegre, cheio de energia... Era estranho lidar com sua desanimação e postura cabisbaixa. Mas Maga já havia estado em seu lugar anteriormente e sabia: Ele so precisava de tempo e apoio. Quando ela e Quim estavam terminados era ele, apenas ele, que a fazia esquecer o ex-namorado.

Esperava que conseguisse fazer o mesmo por ele agora.

 Despertando-se de seus pensamentos, Maga ajeitou-se na cadeira ao ver o professor finalmente chegar na sala. Antes que ele pudesse começar a aula, ela virou-se pra Cascão novamente.

— Fica bem, Cas.

Ele encarou o chão e deu um meio sorriso pra ela. Depois fez que sim com a cabeça e, sem dizer nada, focou sua atenção na aula.

Aquilo sim era incomum.

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Colégio Limoeiro

Bairro do Limoeiro, São Paulo

21 de abril de 2016, 10:20AM

Soundtrack: Just Keep Breathing - We, The Kings

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  Durante o intervalo, Cascão teve apenas Cebola como companhia - E por escolha própria. Assim que o sinal tocou, havia se apressado para conseguir se isolar um pouco com o amigo na biblioteca. Precisava de conselhos e, nesse caso, não era algo que os outros garotos pudessem saber.

— O que ta rolando? — Perguntou Cebola, estranhando o comportamento do amigo — Está se escondendo da Cascuda?

— Não exatamente.

— Ué. Não vejo nenhum outro motivo pra você me trazer aqui na escada da biblioteca.

A escada ao qual Cebola se referira levava ao segundo andar da biblioteca, que estava desativado há muitos anos. Lá em cima só se encontravam livros muito velhos, que já não eram mais emprestados, fazendo do lugar um deposito empoeirado. Ninguém gostava de chegar muito perto por conta da quantidade de poeira e da alta probabilidade de haverem insetos no local. Era o lugar perfeito.

— Quero falar com você, careca. Só você sabe da implicância da Cascuda com a Maga e quero que isso continue assim.

— Não vou contar nada pra ninguém, cabeção. Não tenho a boca grande como você — Provocou.

— Sei que você não vai contar. Mas o papo tem a ver com isso, o resto da galera não pode ouvir. E ta todo mundo querendo falar comigo, ou melhor, me interrogar sobre esse lance do término.

— Você podia ter deixado pra falar comigo depois da aula. Agora o povo deve estar todo te procurando.

— É que não é algo muito... Adiável.

— Então desembucha de uma vez, mané. Qual foi?

Cascão coçou a cabeça, desconfortável.

— A parada é a seguinte... Eu não sei como agir com a Magali.

Cebola estranhou.

— Como assim?

— Não sei como me comportar perto dela agora.

— Ainda não entendi. Aconteceu alguma coisa entre vocês? Porque vocês tavam de boa ontem...

— Nós continuamos de boa, careca. Aliás, é impossível não ficar de boa com a Maga! Ela é a menina mais meiga do mundo! Esse é o problema!

— Hã... — Cebola franziu uma das sobrancelhas — Malz aí cara, mas acho que ainda não saquei como isso pode ser um problema.

— Ela é minha amiga, careca. Está preocupada comigo por causa do que aconteceu, quer me ajudar. Mas a Cascuda acha que a gente tem alguma coisa... E fica meio difícil provar que não quando estamos juntos com tanta frequência e ela fica usando o "modo fofo" comigo.

— Modo... Fofo?

— É! Vai dizer que não sabe do que tô falando? — Diante da falta de resposta, ele continuou, parecendo desesperado — Ela tem uma doçura diferente, cara. Anormal. Aquele jeito manso de falar, o olhar meigo, o toque delicado... E aquela carinha de boneca. Tipo... Tipo uma princesa da Disney mega fofa, só que de verdade!

— Hm, eu... Não sei bem do que você está falando.

— Fala sério, Cebola. A Maga tem tipo... O super poder da fofura. Um carisma fora do comum, todo mundo sabe disso. Não é a toa que ela consegue convencer todo mundo a fazer qualquer coisa! Até a Denise! Ainda bem que ela só usa esse negócio pro bem.

— Disso eu já ouvi falar, mas... isso não é só pra convencer as pessoas? Não tem porque ela estar usando essa parada em você.

— Ela não ta. Mas a preocupação dela tem quase o mesmo efeito. Quem levou o fora fui eu e mesmo assim é só olhar pra ela, com aquela expressão toda compreensiva, de quem sabe como eu me sinto, que tenho vontade de pegar a mina no colo e consolá-la. Pelo MEU TÉRMINO. É simplesmente impossível me afastar da Magali!

Pelaí. O que?

— O que, o que?

Se afastar da Magali? Que papo é esse?!

— Não quero me afastar de verdade. Só não quero ficar perto demais na frente da Cascuda. Mas nem mesmo isso estou conseguindo fazer!

— E você acha que isso vai resolver as coisas?

— Com a Cascuda? Não. Mas também não acho que seja inteligente complicar as coisas ainda mais. E é mais por uma questão de estar certo.

— Cascão, escuta. Você diz que você e a Magali não tem nada, certo?

— Certo.

— Então pronto. Relaxa.

— Como assim "relaxa"?

— Cara, a Cascuda tirou as próprias conclusões dela e tomou essa decisão. Sozinha. Antes de mais nada, você e a Maga são amigos e você não tem que mudar seu relacionamento com ela por medo do que sua ex-namorada vai pensar.

 — Eu sei. Cebola, nada nem ninguém vai me afastar de verdade da Maga. Eu só não queria que a Cascuda achasse que não ligo pros sentimentos dela ficando perto da Magali durante as aulas, por exemplo. Porque sei que a Cascuda se importa, sabe? Isso faz de mim um cara sacana?

— Lógico que não. Eu até entendo sua preocupação, mas a Magali não tem nada com isso. Ela não fez nada de errado pra que você mude com ela, seja na sala de aula ou em qualquer outro lugar. Pelo contrário, tudo que ela tem feito é te apoiar e, principalmente: Te escutar. Coisa que a Cascuda aparentemente se recusa a fazer, né...

— Isso é verdade. A Maga me escuta e... Me faz bem.

— Então, cara. Você vai abrir mão de algo que te faz bem por causa de uma desconfiança boba de uma ex-namorada? E digo mais: você não está beijando outra na frente dela. Está só se divertindo com uma das suas melhores amigas.

A minha melhor amiga.

— Pois é. Você não pode entrar na cabeça da Cascuda: ela é livre pra interpretar como quiser. Mas a sua consciência tá tranquila.

— Sei lá... Esses seus conselhos parecem até sensatos, mas foi assim que você acabou perdendo a Mônica pro DC...

CASCÃO — Chiou Cebola — Primeiro que o assunto aqui não sou eu! Segundo: Você não tem nada a perder.

— Como assim não tenho nada a perder?

 — Você e a Cascuda não estão mais juntos, ue.

— Disso eu sei, mas eu quero voltar com ela.

— Quer mesmo, cara? — Cebola ergueu uma sobrancelha — Porque eu só vejo você reclamar desse relacionamento desde que me entendo por gente. Vai ver é uma boa vocês terminarem, novas oportunidades podem surgir... A Cascuda não é a única menina no mundo.

— Cara, eu...

— Não, Cascão. Não precisa responder nada agora, ta de boa! Até porque, você não me deve explicação nenhuma sobre a sua vida amorosa. Eu só acho que você devia repensar um pouco. Você tem uma ideia fixa na Cascuda, sabe? E é um lance que rola desde sempre. Mas não sei até onde isso é saudável. Eu e a Mônica, por exemplo. Eu passei muito tempo nessa bitolação e agora ela está aí com o DC, seguindo em frente... — Ele pareceu triste por um momento — E eu continuo sozinho. Isso não pode ser algo bom.

Cascão não soube o que dizer. O desabafo de Cebola era algo, no mínimo, surpreendente. Eles não costumavam falar dessas coisas assim. O careca continuou.

— E olha que eu até olhava pra outras meninas, você sabe disso, mas... Eu nunca namorei ninguém além da Mônica. Pelo menos não de verdade. E pode até ter rolado um clima com uma menina ou outra... Mas nunca cheguei a gostar de verdade de outra pessoa. Gostar é muito diferente de se sentir atraído ou até mesmo de estar a fim. E agora eu acabei aqui, comendo mosca. Daqui a pouco a Cascuda pode estar seguindo em frente por aí... E não quero que você acabe como eu.

— Careca, foi mal. Eu não quis... — Cascão tentou, mas Cebola o interrompeu.

— Relaxa, eu to de boa — Disse, forçando um sorriso — Já me acostumei. Mas pelo menos considere isso que to te falando. Não é porque é uma parada antiga que tem que durar pra sempre. Ainda mais agora que os dois estão oficialmente solteiros. Se você quiser voltar pra Cascuda, beleza. Faça de tudo pra conseguir. Mas tenha certeza de que é isso mesmo que você quer e de que vai valer à pena.


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Notas finais do capítulo

Gostarammm? *O* aguardo comentários e críticas e sugestões e tudo odjwojgpgplafpwe Obrigada desde já ♥