Leah Goldwyn: Entre dois Mundos escrita por Laurah Winchester


Capítulo 11
A corrida de bigas é uma atividade perigosa


Notas iniciais do capítulo

U.U Só eu que adoro corrida de bigas? Claro, quando algo inesperado acontece, muahaha



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/684453/chapter/11

A alvorada de sábado no Acampamento Meio-Sangue era mais agitada que o comum, por conta de uma Corrida de Bigas planejada para após o café da manhã. Dylan admirava-se com os anciãos, especialmente Quíron, como o centauro podia lidar perfeitamente com centenas de jovens hiperativos para lá e para cá, sem demonstrar nem mesmo um pouquinho de cansaço ou irritação, perguntava-se se aquilo poderia ser uma dádiva exclusiva aos centauros, porque se fosse, no momento Dylan desejava ser como os híbridos.

As proles de Hermes estavam sempre pregando peças aos outros campistas, os de Ares permaneciam combatendo os de Atena, os de Hefesto estavam mais concentrados em forjar armas e outros objetos que pudessem ajudá-los na corrida. Havia sons de exclamações, metal contra metal, diálogos em voz alta, talheres, copos, sátiros mastigando latas, campistas de Apolo cantarolando ou citando haicais e poesias, crianças de Ares que gesticulavam açoitando a mesa ou batendo o pé, filhos de Hipnos que roncavam sobre as próprias refeições, além de muitos outros sons que se misturavam, tornando difícil de escutar os sons naturais ou até de dialogar.

Dylan havia escutado que toda aquela hiperatividade amenizava nas outras estações do ano, bem como muitos dos campistas não permaneciam o ano integral no acampamento. Ele provavelmente só estava um pouco fatigado, pois apesar da irritação e a constante e inexplicável dor de cabeça, ainda sentia a sensação de paz e familiaridade.

Sua cabeça estava aturdida, enquanto o próprio estava sentado diante da mesa de Poseidon, ao lado das náiades e da irmã gêmea que apreciava, serenamente, um cacho de uvas. Dylan tinha a sensação de que Claire lidava com aquilo tudo um pouco melhor, embora fosse ele que, desde pequenino, fantasiava com lendas e mitos, que mais tarde descobriu que boa parte não era apenas fantasia.

Pegou o cálice com suco de abacaxi e bebeu um gole.

Depois do que pareceu ser um longo tempo, o pavilhão já estava quase vago, com somente as harpias, que eram responsáveis por cuidar da limpeza do local, expulsando rudemente os últimos campistas.

Os semideuses voltavam aos seus chalés, para revisar os planos e pegar seus itens, indo em seguida para a pista da corrida, que tinha oitocentos metros. As bigas estavam preparadas no sistema tradicional, dois cavalos presos à charretinha, cada. Quíron havia reunido os campistas para ditar as regras, que a maioria dos veteranos já conhecia e havia recordado.

— O único termo para vencer a competição é completar as duas voltas na pista antes das outras duplas. As regras não são muitas, e são claras — anunciou Quíron. — Cada dupla consiste em um motorista e um protetor, armas e trapaças são permitidos. — e fez uma pausa, para que tivesse certeza de que nenhum campista questionaria após a corrida — E o mais importante, qualquer morte ou mutilação vai resultar numa punição rigorosa. Agora vão aos seus postos.

Dylan juntou-se a Kevin Turner, um dos herdeiros de Hermes.

Kevin tinha cabelos castanhos e lisos, com uma franja pendendo sobre a testa. Tinha olhos castanho-verdeados tão atentos e travessos, que advertiam a Dylan frequentemente conferir se seus pertences continuavam com ele. Kevin tinha uma energia quase inesgotável, era inteligente e astuto, como a maioria dos filhos de Hermes.

Dylan seria o responsável por controlar os cavalos, enquanto Kevin seria o protetor, na biga do deus mensageiro. A biga de Hermes era verde e tinha aparência de um pouco velha, como se não saísse da garagem havia anos. Não parecia nada especial, mas Dylan tinha Kevin como dupla, não tinha ideia do que o rapaz poderia planear.

Claire formaria dupla com Max, também sendo responsável pela deslocação, muito provavelmente pelo mesmo motivo que Dylan, o fato de ser filha de Poseidon alçava uma conexão com os equestres. Eles utilizariam a biga de Poseidon.

Jaziam preparando suas coisas, quando Kevin veio com um escudo comprido em formato hexagonal, aparentava ser bem resistente. Dylan não pode reconhecer o ferro que o compunha, mas sentiu uma familiaridade absurda para um objeto que nunca havia visto antes.

— De onde tirou isso? — perguntou Dylan. Kevin sorriu marotamente.

— Do seu chalé. — Dylan ergueu as sobrancelhas, sem se surpreender tanto. — É um escudo feito de oricalco, metal que utilizavam em Atlântida, só é menos valioso que o ouro.

— Nunca vi isto, então como pode ter tirado do Chalé 03?

— Você pode ser meio lerdo, a menos que Poseidon tenha deixado isto lá nesta manhã. — sugeriu Kevin, tirando o cabelo castanho do rosto.

Dylan deu de ombros, tentando camuflar a surpresa com um pouco de indiferença, entregando a katana, um longo sabre japonês, ao dono.
Kevin carregava, além do sabre e do escudo, uma besta, arma com aparência de espingarda que disparava dardos com auxilio de um arco.

— Pronto? — perguntou Dylan, a Kevin.

Kevin deu de ombros.

— Se você estiver.

E subiu na charretinha, que era basicamente um cesto de madeira aberto atrás, montado sobre um eixo entre duas rodas. Não era feita para conforto e segurança, quem conduz fica de pé o tempo todo, e sente cada solavanco da estrada. Dylan não confiava nas rodas de madeira para realizar a trajetória pela pista áspera, mas não pensou em nada que pudesse mudar aquilo.

As carruagens se alinharam, prontas para a corrida. Os campistas nas arquibancadas também já estavam atentos, esperando pelo início da atividade.

— Tomem suas posições! — bradou Quíron.

Ele alçou a mão e o sinal de partida desceu. As carruagens dispararam, fazendo um barulho uníssono ecoar. Cascos ressoavam contra o pó. Os espectadores vibravam no ritmo da corrida.

Não havia se passado muitos metros e a biga de Apolo ficava para trás, presa por videiras armadas pelo protetor da biga de Dionísio. A biga foi completamente tomada pelas videiras, erguida a um metro no ar.

Dylan voltou sua atenção à sua frente.

Notou que esferas flamejantes vinham da biga de Hefesto na direção de suas rodas. Decidiu tentar uma conversa com os cavalos.

Ei, será que vocês podem... Esquivar?

E foi a deixa para os equestres começarem a menear a biga de um lado para o outro, a biga foi alastrada contra a de Hefesto, que capotou para fora da pista, repetindo o feito com a de Deméter, e voltando à corrida reta. O coração de Dylan estava acelerado, por conta do susto e por não saber o que havia acontecido com os campistas que jaziam nas bigas de Hefesto e Deméter.

— Isso foi bom — exaltou Kevin, mas aquilo só fez Dylan se sentir pior.

Suas mãos queimavam ao adular as rédeas. Afinal, o trabalho de um motorista não era bem conduzir os cavalos, e sim contê-los.

Kevin fez uso do sabre para entreter Chaz, que era o guerreiro da biga de Ares, enquanto empunhava o escudo do outro lado do corpo. De repente, a biga de Ares paralisou por completo.

— Como fez isso? — perguntou Dylan, ainda mirando as bigas de Poseidon, Hécate e Atena bem à frente.

— Como a Medusa faz. — zombou Kevin — É uma coisa de Hermes.

Interessante.

Foi só completarem a primeira volta, com um guincho alto vindo das rodas de madeira, que tudo começou a complicar.

Naomi, filha de Hécate, começou a investir pesadamente da biga de sua mãe, lançou uma corda mágica contra Dylan, Kevin impediu que chegasse ao filho de Poseidon, colocando-se na frente, sendo enlaçado por completo, mas o problema maior não era esse.

Alguma coisa imensa passou a perseguir a biga de Poseidon. Dylan tinha a forte impressão de que tentava atingir Max. Não era uma forma sólida, eram centenas de espadas feitas de uma aura negra espessa, rodeando o filho de Ares enquanto Claire tentava desesperadamente tirá-los dali.

Logo as trevas começaram a atarracar as outras bigas que permaneciam na corrida, mas focavam em Max, e Dylan começou a perguntar-se se aquilo poderia ser parte do jogo. Com certeza não.

A biga de Hécate foi lançada para o lado com uma investida da aura negra, a de Ares, que já havia se “descongelado”, sofreu do mesmo processo.
Restavam somente as de Atena, Poseidon e Hermes.

As trevas também passaram a investir contra os campistas nas arquibancadas, a maioria já havia fugido, outros tentavam ajudar aos campistas feridos na pista e espantar o caos.

— Claire! — gritou Dylan. A irmã olhou para ele, nervosa.

Apenas moveu os lábios, mas Dylan entendeu perfeitamente. “Ele não vai resistir”.

Dylan tinha que improvisar algo, não deixaria Max e Claire para trás. A biga de Atena já liderava a corrida há tempos, ele não podia ultrapassá-la, e não deixaria a irmã e o amigo a mercê de o que quer que fosse.

Diminuam o ritmo.

Ordenou aos cavalos. A biga agora tinha um ritmo mais arrastado, a de Poseidon os alcançava, Claire copiou a cadência da biga de Hermes, até que estavam lado a lado. A corda que prendia Kevin pulverizou-se, muito provavelmente pela energia infinita que o garoto continha.

Dylan decidiu arriscar. Chamou Kevin para tomar o posto de motorista, enquanto ele assumia o lugar de Kevin. Teve um breve lampejo de Max perdendo a consciência, ele desabaria com violento impacto na estrada.
Dylan tinha que fazer alguma coisa, e rápido.

Sem pensar duas vezes, lançou-se para a biga de Poseidon, com o escudo em mãos. Não permitiu que Max caísse, empunhando o escudo a dianteira dos dois.

Até que se tornou vago, como se não pudesse mais dominar a própria mente. Dylan não ouvia mais nenhum som, e também não via ou sentia mais coisa nenhuma. Bem como se estivesse surdo, cego e inerte. Sentiu-se completamente desesperado, era como se estivesse morto, mas fosse a alma aprisionada dentro do corpo. Pareceram horas, até que tudo cessou.

Tornou a enxergar e ouvir os sons de cascos.

Ele estava caindo, mas segurou-se na borda do cesto. Não havia mais aura negra ali, e Max estava perto de cair da biga, sua cabeça arrastava no chão, fazendo uma trilha de sangue. Dylan o puxou de volta e percebeu que este faiscava... Faiscava como uma estrela, até que brevemente voltou ao normal.
As rodas guincharam ao completar outra volta. Claire parou a biga, assim como Kevin.

Dylan estava completamente aterrorizado, Kevin e Claire não estavam diferentes dele, em pânico. Encaravam Max, que estava inconsciente e com a cabeça sangrando abundantemente. Como haviam acabado de fazer a volta, estavam no inicio da pista novamente, no fim da corrida. Haviam chegado poucos minutos após a de Atena.

Alice e Genevieve, da biga de Atena, junto de Tony, o sátiro, os ajudaram a retirar Max da biga e levá-lo à enfermaria. Entre os semideuses, só Alice, Genevieve e Claire pareciam perfeitamente bem fisicamente. Porém Claire estava quase tão branca quanto papel, sua expressão era uma mistura de choque e medo enquanto aguardavam alguma informação sobre Max, do lado de fora da ala médica.

Kevin precisou tomar um gole de néctar, pois seu corpo estava todo marcado pela corda que Naomi havia lhe lançado, além de algumas minúsculas queimaduras das bolas de fogo e o cansaço que paralisar a biga de Ares e pulverizar as cordas lhe custou. Dylan havia ferido as mãos nas habenas quando os cavalos tornaram a “esquivar”.

Macas adentravam o tempo todo na enfermaria, com alguns poucos campistas intensamente feridos.

Rick, um homem de prováveis vinte anos, olhos azuis como o céu duma tarde de verão e cabelos ruivos, com um brilho ligeiramente dourado, caminhou até eles.

— O que, exatamente, aconteceu com ele? — perguntou.

Claire e Dylan começaram a tagarelar ao mesmo tempo, habilitando de abranger somente algumas palavras como isca.

— Um de cada vez! — dispôs Rick.

— Estávamos bem na corrida, até que algo semelhante a uma ventania negra começou a nos atacar. A tempestade se transformou em centenas de espadas, que de alguma forma puderam machucar Max. — começou Claire.

— Eu saltei na biga para ajudá-lo, mas ele caiu inconsciente, até que eu de repente fiquei completamente inativo, quando voltei, Max estava caindo, a cabeça arrastando na pista. Então ele começou a brilhar como uma estrela e voltou ao normal. — continuou Dylan.

Rick olhava de Claire para Dylan, como se determinasse se iria acreditar neles ou não.

— Isso explica. — disse, por fim.

— Explica o quê? — disseram Dylan, Claire e Kevin, em uníssono.

— Explica porque a cabeça dele parece que foi... Arrastada numa pista de corrida. E porque ele parece que foi pulverizado por dentro.

— Pulverizado? — exclamou Claire, apavorada.

— Desculpe, não quis dizer isso. Ele está... — por um momento ele fez menção de dizer “bem” — Vivo, ainda. Quero dizer que ele está completamente esgotado, não acordou nem com néctar.

— Podemos vê-lo? — perguntou Kevin. Rick assentiu, deixando que os quatro, já que Genevieve e Alice seguiram para outra ala, entrassem na ala de Max.

Max estava muito pálido, adormecido na cama da enfermaria, tão quieto que não parecia nem respirar. Sua cabeça estava enfaixada, apenas na parte de cima, como se fosse uma touca, deixando mexas do cabelo escuro a mostra.
Havia curativos, em sua têmpora direita, no queixo e nos braços. Ele parecia terrivelmente mal, com olheiras veementemente arroxeadas logo abaixo dos olhos.

Claire deixou um soluço sôfrego escapar.

— Que diabos era aquilo que nos atacou? E por que Max?

Tony, Dylan e Kevin entenderam que era uma pergunta retórica, pelo fato de não conhecerem a resposta. Dylan tocou o ombro da irmã, fraternalmente.

Kevin estava quase capotando de sono, havia consumido toda a energia demasiada ao pulverizar as cordas. Dylan só queria voltar para seu chalé, processar tudo o que havia acontecido.

— Posso chamá-los quando ele acordar — disse Rick.

— Obrigada — articulou Claire. Dylan teve a impressão de que ela preferia ficar ali, mas mesmo assim escoltou a ele e Kevin para fora, deixando Tony na acamaria.

Kevin bocejou.

— Olha, se precisarem de alguma coisa, podem me chamar... Só preciso de algumas poucas horas — disse ele, devolvendo o escudo à Dylan.

— Tudo bem, Kevin, obrigado por tudo — murmurou Claire.

— Até mais — proferiu Dylan, enquanto Kevin seguia na direção do Chalé 11.

Os dois irmãos rumaram ao Chalé 03, e assim que chegaram, Dylan colocou o escudo e um canto e atirou-se em seu beliche. Claire sentou-se em sua cama, absorta.

— Você disse que... Max começou a brilhar? — murmurou ela. Dylan assentiu vagamente, com o rosto comprimido contra o travesseiro.

Claire balançou a cabeça rapidamente, como se não encontrasse sentido para aquilo. Até que se distraiu com a voz de Leah.

— Claire?

Claire aproximou-se da transmissão.

— Leah... — suspirou. Dylan colocou-se ao lado de Claire.

— Você... estava chorando? — perguntou Leah.

Claire assentiu.

— O que houve?

— Max está completamente ferrado na enfermaria, praticamente “triturado” por dentro. Alguma coisa como uma aura negra, nos atacou durante a Corrida de Bigas. — explicou Dylan.

Leah ficou lívida.

— A-Aura negra? — questionou. Os dois assentiram.

— Por quê? — perguntou Claire.

— Por nada — disse Leah, tirando a expressão de medo do rosto. — E vocês estão bem?

— Sim, bastante atordoados e preocupados, mas bem — concluiu Claire.

— Como é aí? — perguntou Dylan.

— Interessante. — disse Leah, pensativa — Temos um crocodilo albino na piscina, um babuíno admirador de basquete, alguns grifos no terraço... E quase meia dúzia de magos enfermos.

Ela olhou para algo, ou alguém, que estava atrás dela.

— Enfim, nos falamos depois, tudo bem? — proferiu.

— Claro. — concordou Claire.

— Até logo. — acenou Dylan.

— Quando tiverem alguma notícia de Max me mandem uma Mensagem de Íris, por favor. Até logo. — disse Leah, sorriu para eles e dissipou a imagem.

— Quando será que ela vai voltar? — perguntou Claire, depois de um momento de silêncio.

— Eu não sei — admitiu Dylan, abatido.

Deitou-se no beliche e adormeceu brevemente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Pobre Max :'(
Hehe, até mais o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Leah Goldwyn: Entre dois Mundos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.