Meu crush é um zumbi escrita por GayEmer


Capítulo 5
Fodido. Do verbo foder. "Roman está fodido".


Notas iniciais do capítulo

Estou morto de cansado, mas escrevi esse capítulo aqui porque eu precisava postar um novo. Podem haver alguns erros de digitação, apesar de eu ter revisado, estou um caco então algo pode ter passado por esses olhos cansados. Então qualquer coisa comenta aí que eu ajeito, amanhã quando estiver mais disposto eu revisarei novamente.
Seu humilde ficwriter lhe deseja uma boa leitura.



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— You're gone and I gotta stay high.
Cantamos em uníssono, Kate e eu. Há essa altura já estou bêbado, e ela fora da casinha. Algo aconteceu entre ela e o cara até agora desconhecido, não sei bem o que rolou entre eles, amanhã talvez eu me importe, mas agora eu não dou a mínima.
— High, all the time. To keep you off my mind.
Formamos um dueto e tanto, temos até platéia. Nosso palco é uma mesa na sala, de vez em quando derrubamos alguma garrafa solitária com nossos movimentos nada sincronizados. Daniel deve estar entre nossos fãs, não o vejo, mas sei que ele me assiste.
Acho ótimo.
E lá vou pensando nele mais uma vez.
A melodia se acalma nos levando ao clímax da música, Kate joga seu braço em cima do meu ombro e estamos colados um no outro. Cada um carrega uma garrafa de Smirnoff quase vazia que usamos como microfone.
— Staying in my play pretend where the fun ain't got no end. Can't go home alone again, need someone to numb the pain. — A platéia se une a nós, unidas nossas vozes ecoam por toda a casa, e tenho certeza que toda a vizinhança esnobe pode nos ouvir agora — You're gone and I gotta stay high.
Talvez seja estranho dizer isso, mas não me sinto deslocado agora. Me sinto como um deles, não digo humanos, e sim no geral. Sou um deles, sou um atleta, um nerd, um gótico, uma líder de torcida. Eu sou todos eles, e eles são eu.
Somos um.
Bêbados, curtindo nosso próprio mundo, esse lugar é nosso e de mais ninguém.
Até que a polícia atravessa a porta da frente trazendo o ar gelado do mundo real até nós.
No começo ninguém se move, parecemos estatuas vivas em cima da mesa segurando garrafas de birita próximo a boca.
Encaramos a dupla de policiais, um homem e uma mulher, com olhares confusos e um tanto revoltosos, já que eles não foram convidados pra festa, não tem direito de estar aqui. Por um instante penso que talvez eles sejam strippers vestidos como policiais, contratados por Kate para animar a festa — não seria a primeira vez — mas o homem é muito gordo para ser um stripper sarado, a mulher talvez...
Mas eles não tiram as roupas, e quando a policial faz um gesto para que alguém desligue a música, a ficha cai.
Estamos fodidos, nenhuma palavra explicaria melhor, estamos fodidos. Somos todos menores, não podemos beber, porém estamos chapados e alguns mal se aguentam em pé.
— Puta merda. — Kate sussurra em meu ouvido.
Jogo a garrafa em algum canto atrás de mim, como se isso fosse o suficiente para provar que eu não fiz parte disso. Kate faz o mesmo compartilhando da minha estupidez.
Espero ver uma correria, rostos desesperados correndo de um lado para o outro, pulando janelas e o que for preciso para fugir. Só que o que acontece é pior.
Um silêncio mordaz preenche o lugar, quase sou capaz de ouvir o suor que escorre da minha testa pingar no chão.
A tensão no ar é tão forte que posso toca-la, senti-la entre meus dedos, me pego desejando que a policial atire no lustre da sala, para que assim esses zumbis — uma metáfora ofensiva hoje em dia — se mexam, façam qualquer coisa que não seja respirar, se é que eles estão fazendo isso. Pois eu não estou.
Será que serei preso? Puta merda, minha mãe vai me matar.
Há uma janela ao lado, alguns metros, não mais que três, não seria difícil, seria? Eu poderia correr até lá como um raio e atravessar a vidraça em um salto digno de Jack Chan. O que são alguns vidros cravados em minha pele comparados à uma ficha suja e uma surra?
Sinto o gosto da bile que ameaça jorrar da minha boca.
— Quem é o dono da casa? – O policial pergunta.
Kate hesita em reponder, lhe dou uma cotovelada, mas nem isso a tira de seu transe. No fim das contas ela não precisa reponder, pois todos olham pra ela e como estamos em nosso palco, vulgo mesa no centro da sala, isso facilita a coisa. O policial apenas segue os olhares incriminadores.
— Seus pais estão em casa? — A policial pergunta.
Kate olha pra ela, faz menção de dizer algo, porém sua boca apenas se abre e nada mais.
O silêncio faz com que minha voz ecoe com facilidade por toda a casa.
— Estão na outra casa, a que fica ao lado. — Esperava que minha voz soasse trêmula ou arrastada, mas pelo visto não sou o tipo de bêbado que fala embolado.
Uma nova habilidade descoberta. Talvez eu receba a visita do professor Xavier agora mesmo, assim eu poderia fugir e ir morar naquela mansão high-tech cheia de bizarrices.
O policial é um Z, posso ver pelo seu tom de pele, pálido como um cadáver, gordo do jeito que é deve comer muita carne. Não sei porque estou pensando nisso agora, apenas penso; não tenho controle sobre isso. Normalmente já divago demais, a bebida deve ter amplificado isso.
Algo chama a atenção dos policiais na porta, estico o pescoço para tentar ver, mas mesmo estando sobre a mesa não consigo ver o que acontece do lado de fora.
— Eu tô tão fodida.
Kate parece ter saído de seu estado de choque, ou apenas está murmurando coisas para si mesma. É difícil saber já que seus olhos estão fixos em um ponto vazio próximo à escada para o segundo andar. Escada essa em que Daniel está sentado segurando uma garrafa de cerveja. Ele me encara com olhos escuros, suas pernas tremem em um tique nervoso. Gostaria de parar de fita-lo, mas não consigo. Agora que meus olhos encontraram os seus, simplesmente não sou capaz de quebrar essa estranha conexão que se estabeleceu entre nós.
Há pouco mais de uma hora eu lhe disse que ia parar de gostar dele, logo após admitir que gostava dele. Muita coisa aconteceu em tão pouco tempo. Agora que aceitei esse sentimento devo reprimi-lo, isso é frustrante, me dá nos nervos, porém é o certo a se fazer. Em poucos minutos descobri que ele não era pra mim, claro, eu já sabia disso há muito tempo, contudo minha antipatia não passava disso, antipatia. Agora eu tenho motivos, eu posso justificar meu desafeto por ele. "Eu não quero você pois você é um idiota"; ponto.
Digo a mim mesmo para voltar minha atenção ao verdadeiro problema, mas ele ofusca minha atenção, me pego olhando para sua boca e mordo os lábios como forma de punição até que eles sangrem.
Eu fugi dele, um ato covarde, fiquei com a última palavra, mas fugi. Em seguida me empenhei em me encher de álcool, ficar bêbado e esquecer. Acontece que não funcionou, eu não esqueci, pelo contrário, à cada copo eu me lembrava de suas palavras; "você não beija quem você quer".
Como se quem eu realmente desejasse fosse ele; mas é ele. Eu quero ele, porém não vou me permitir tal coisa, não posso me dar ao luxo de me envolver com alguém assim.
Começo a achar que devia ter tentado algo com Mateo. Ele era bonito, com aqueles dreads e seus olhos cor de mel. Sua pele morena e quente... Ele era da Jamaica, tinha um sotaque fofo. E era um Z.
Eu devia ter tentado algo. Se eu soubesse que não teria outras chances com outras pessoas, eu teria feito algo.
Mas agora eu tenho uma chance, não tenho? Não, Daniel não pode ser considerado uma opção.
Sendo ousado, ele ergue a mão que segura a garrafa em um gesto de cumprimento, essa é a minha deixa para dar a outra face. Forço meu pescoço para virar em direção a porta, juro que sinto dor, mas consigo.
Os policiais conversam com dois adultos, os pais de Kate. Martha veste um robe de seda mais caro que meu celular, Jonas está de moletom e camisa de algodão. Ambos são altos e esbeltos, assim como Kate. Mesmo sendo acordados no meio da madrugada eles ainda estão bonitos, os cabelos desgrenhados apenas lhes dão um charme à mais.
Porém o que vem seguida faz meu coração saltar até a boca. Uma outra mulher surge na porta, ela usa um moletom velho que me pertencia, uma camisa masculina que nunca vi lá em casa. Seus cabelos estão presos em um rabo de cavalo feito às pressas, seu rosto parece cansado e me pergunto se sua noite com o personal trainer foi tão boa assim. Logo que esse pensamento surge sinto ânsia.
Os Drummond ligaram para minha mãe, claro que eles ligaram pra ela, sou o único aqui, além de sua filha, que eles conhecem. Eles me viram crescer, nada mais natural do que avisar pra minha mãe que o filho dela está à ponto de ser preso.
Fodido. Essa é mesmo a única palavra que define meu estado.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado