Meu crush é um zumbi escrita por GayEmer


Capítulo 10
Full Z Pedaço de carne: Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Estou triste por ter acabado, mas ao mesmo tempo feliz por ter acabado (?!).
Obrigado à todos vocês que acompanharam essa história até o final, mesmo se esse autor aqui demora pra postar.
Obrigado msm.
Boa leitura.
Espero que goste.



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Meu ombro dói. Uma dor que queima minha pele.
Grito ao ver o sangue que mancha a manga da minha camisa. Deveria ter gritado antes, talvez estivesse gritando antes, porém agora eu berro como um animal ferido.
Merdinha se aproveita da situação para me empurrar, e sem muito esforço da parte dele, sou jogado de lado.
Meu rosto beija o chão frio, as lágrimas escorrem tão rápido quanto o sangue. Estou caído sobre um misto de cimento e fluidos corporais.
Dói tanto que estou prestes a vomitar quando alguém me puxa.
Ele me coloca de pé sustentando meu corpo com o seu. Daniel me segura quando minhas pernas vacilam.
— Vai ficar tudo bem. — Ele diz. Seu desespero é palpável em sua voz, surtindo o efeito contrário que sua frase devia transmitir.
Procuro Kate e a encontro correndo atrás do Merdinha.
O jeito que ela ela corre — agressiva, quase histérica — faz meu coração saltar.
Ela salta sobre o corpo do Merdinha desferindo um golpe atrás do outro. Ela não passa de animal enlouquecido. Cego de raiva.
— Vai chamar alguém. — O pânico em minha voz o assusta.
Dou-lhe um empurrão gritando novamente para que ele se mexa.
Hesitante, ele corre saindo da escuridão do beco.
Ouço outro disparo.
Kate urra de dor, mas não para de golpear Merdinha. Ele já deve estar morto ou está perto disso.
Essa é a segunda vez que a vejo assim. O "modo zumbi completo" — um surto de raiva que em nós, Zs, nos transforma em máquinas irracionais de matar.
Há tratamento, claro. Se você não participar do programa, então o governo te obriga a se tratar, ou no pior dos casos você é preso.
Nós tínhamos dez anos. Alguns garotos da escola pegavam no meu pé, nada que eu me importasse. Porém, numa tarde quente de verão, isso mudou.
Em mais uma brincadeira estúpida alguém que eu amava se feriu, Doug, meu cachorro vira-lata. Thomas e sua turma o prenderam no terreno baldio próximo à escola e me mandaram busca-lo.
Eu procurei por horas até anoitecer, quando o achei ele estava morto. Uma cobra o mordeu, ele não aguentou.
Estava fervendo de ódio quando confrontei aqueles trombadinhas, mas um garoto franzino como eu não tinha chances.
Tomei uma surra que me custou um dente da frente.
Kate me encontrou chorando enquanto eu tomava coragem para voltar pra casa.
Nem minha mãe ficou tão furiosa. Kate correu até o pátio onde a pequena gangue se encontrava.
Por sorte ela só encontrou um dos garotos, Thomas.
Se a mãe de Kate não fosse uma advogada tão boa, Kate provavelmente estaria em um reformatório até hoje por quebrar o braço de um garoto, dois dentes e uma costela.
Depois disso Kate mudou de colégio, alguns tinham medo dela, outros a consideravam uma lenda.
Naquela época ela estava sem medicação, não lembro os detalhes, mas envolvia alguma reação inesperada aos remédios.
O que me faz perguntar o porquê disso estar acontecendo agora.
Corro aos tropeços até ela. Quando estou na metade do caminho, ela se levanta desnorteada.
Nossos olhares se encontram. Olhos grandes e vermelhos, suas pupilas dilatadas me encaram por meros segundos antes dela correr na direção do cara armado.
Ele vacila antes de atirar mais uma vez. Meu coração gela quando ouço o som do disparo, porém, felizmente ele erra.
Salto sobre o corpo estirado do Merdinha, não tenho certeza, mas ele parece estar respirando.
— Corram. — Grito tão alto que minha garganta dói.
Eles hesitam por um instante. Posso ver o medo em seus olhos.
Muitos já viram um Z no modo "full Z", mas poucos já presenciaram ao vivo e à cores.
Kate faz menção de persegui-los não me deixando escolha, por isso me jogo sobre seu corpo a derrubando em um baque surdo.
Seu queixo sangra. Peço desculpas antes de estapear seu rosto.
Um, dois, três tapas. Sua cara fica da cor de seu cabelo tingido.
— Kate. Sai dessa. Porra!
Agarro o colarinho de sua camisa e cuspo ofensas na sua cara, assim espero que lá no fundo a Kate normal me ouça, e faça algum comentário sarcástico sobre isso tudo.
Só que isso não acontece.
Ao invés disso ouço mais um estambido, contudo ele não se parece em nada com os anteriores. Este é mais agudo e não tão alto quanto os outros.
Sinto-me tonto, como se não dormisse há semanas. Parece que algum mosquito me picou no pescoço.
Caio de lado vendo Kate se levantar e correr como louca atrás dos policiais na entrada do beco.
Outro disparo.
O "mosquito" pica Kate que camabeleia antes de se espatifar no chão.
Puta merda, que sono.

~//~ Epílogo ~//~

Morfina é tão bom. Quero levar morfina pra casa.
Não sinto dor alguma. Nada. Nadinha. É como estar em uma banheira quente com seu corpo inteiro coberto pela água morna.
Estou deitado em uma cama de hospital, usando uma daquelas camisolas estranhas que não cobrem sua bunda.
Mais cedo tive uma ereção enquanto um enfermeiro checava a medicação que tomo na veia. Consegui disfarçar com um rápido movimento de pernas; pelo menos espero que eu tenha conseguido.
Minha manhã foi agitada, e não digo isso apenas pelo ocorrido com o enfermeiro dotado (no bom sentido da palavra, claro) mas sim pelos meus visitantes, os policiais que nos salvaram.
Eu já esperava um interrogatório. Nos envolvemos em um tiroteio com traficantes, eu agredi uma pessoa fisicamente (não me arrependo disso, como disse aos policiais) e claro, o incidente com Kate em seu modo "full Z".
Fui aconselhado pela mãe de Kate a não mentir, eu não tinha intenção de fazer isso, mas agradeci o conselho, afinal ela está oferecendo seus serviços de graça.
Rachel não surtou quando me viu, contudo pude ver em seus olhos a fúria envolta em preocupação, que tanto conheço. Ganhei um abraço apertado ao invés de tapas e um sermão. A bronca virá depois, "em casa a gente conversa", ela sussurrou em meu ouvido. Posso lidar com as consequências da minha imprudência depois.
Já Kate não teve a mesma sorte. Sua mãe já proclamou seu castigo aqui mesmo, digamos que a vida social dela sofrerá por tempo indeterminado ou "até quando eu quiser, Katherine".
Nesse momento ela está na parte sul do hospital, onde sua medicação está sendo ajustada, pois ao que parece a dosagem não estava de acordo com suas condições físicas, e mais outros termos médicos que eu não entendo.
O importante é que ela não sofrerá punição por isso, já que não foi sua culpa e sim de seu médico.
A família de Kate está prestes a se tornar mais rica, pois com certeza sua mãe abrirá um processo contra o hospital.
Alguem bate na porta, "toc toc" ele diz. Instintivamente agarro a coberta no pé da cama e me cubro. Não estou dizendo que aconteceria, mas quero prefiro prevenir outro incidente constrangedor como o de mais cedo.
Daniel abre a porta mostrando seus dentes da frente, meio tortos, em um sorriso bobo, mas que me faz sorrir também.
— Cara, você tá acabado. — Ele diz.
Posso sentir o peso das minhas olheiras.
— Já você parece bem melhor. Quase não vejo o inchaço da sua cara.
— Pois é, né? É essa maquiagem que estou usando. Roxo fica tão bem em mim.
— E aí, como você está se sentindo? Conversou com seu pai sobre seu irmão? — Sinto a necessidade de saber, já que nos metemos nessa confusão por causa do irmão dele.
— Falei com eles. Meu pai surtou, digamos que meu irmão vai passar um tempo sem respirar ar puro. Mas poderia ter sido pior, se não fosse Jaqueline e seu lance de advogada... Enfim, estou bem. Quem tomou um tiro foi você. — Ele dá de ombros.
— Estou bem também. Obrigado por perguntar.
— Quando ouvi o disparo e vi que você foi atingido, por um momento pensei que você tinha morrido.
Ele não sorri mais. Eu continuo sorrindo, pois meu rosto congelou.
Meu corpo não me obedece, não consigo me mover, porque Daniel está perto; muito perto.
Não sei dizer se desde sempre ele esteve tão próximo, ou se ele se aproximou aos poucos sem eu perceber. O que sei é que ele está sentado ao meu lado, e que o que acabei de dizer serve como uma metáfora pra nossa relação.
Sua respiração quente recai sobre meu rosto frio, e isso é bom. Seu hálito tem cheiro de hambúrguer, o que é bom também.
— Não vou perguntar se você gosta de mim. Já sei a reposta. — Confirmo mesmo assim — Eu gosto de você, e você já sabe disso. Então...
— Vai me chamar pra sair ou não? — Retruco, saindo do meu estado de choque.
— Eu já ia chegar nessa parte.
— Você enrola demais.
— Eu tomei a iniciativa, quem enrolou foi você.
— Tinha minhas dúvidas.
— E agora?
Seguro a gola de sua blusa e o trago até mim. Poucos centímetros mantém sua boca longe da minha.
— Ainda tenho meus medos. Eu não envelheço como você, por exemplo. Daqui à um ano ou dois, estarei igual e você não.
— E isso é um problema?
Aproximo meus lábios de sua orelha me arriscando a morder o lóbulo, onde vejo o furo de um brinco.
— Eu gosto de caras mais velhos. — Sussurro.
— Ainda não vejo problema.
Sua voz soa ao pé do meu ouvido, sinto o calor de sua respiração na minha nuca.
— Quando olho pra você vejo um pedaço de carne.
Beijo seu pescoço cogitando a hipótese de deslizar minha língua por sua pele. Faço isso logo em seguida, ao que ele responde:
— Repito novamente, ainda não vejo problema.
— Então, você não se importa em ser meu pedaço de carne?
— Eu insisto. Não vejo problema algum.
Beijo o garoto irritante que senta ao meu lado na aula de história. Deixo as mãos do E.T adolescente acariciar meu cabelo, enquanto seus lábios macios amassam minha boca. Estou faminto; fome de Daniel.
Envolvo seu corpo em meus braços e não me importo se minha ereção voltou, talvez mais tarde ele possa me ajudar com isso.


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Notas finais do capítulo

The end.
Finito.
Acabou-se o que era doce.
Espero que essa viagem tenha sido boa pra você.
Obrigado por tudo.
A gente se esbarra, certo?