Era um dia tranquilo, apesar dos pesares. Seus aliados caíram e se entregaram, mas diferente dele, não tinham um local seguro que os protegesse. Lamentava, era ótimos aliados e sentia falta deles. Agora de volta em casa tudo era silencioso e monótono. Japão estava deitado em seu quarto encarando o teto de forma melancólica. Não costumava fazê-lo, mas hoje sentia-se mal.

Mal pressentimento.

Seu exército estava posicionado e preparado. Sabia que haveria riscos e problemas, mas precisava defender seu lar. Queria que ele, Alemanha e Itália vencessem, mas já era tarde demais, restava defender seu lar e orgulho. 

Queriam que se rendesse, mas não poderia fazer isso e se entregar dessa forma. Não poderia fazer isso consigo mesmo. 

Sentou e apoiou os braços sobre os joelhos ainda com a mesma intensa melancolia de antes. Era uma sensação ruim, seu estômago revirava e ele estava inquieto. "Algo vai dar errado", pensou. Permaneceu absorto em pensamentos até que seu telefone tocou. Quem poderia ser? Levantou e foi até a pequena mesa onde o objeto tocava insistentemente e o atendeu. 

 –  Moshi, moshi?

 –  Hey! Japão, é você?

 –  ... América? 

 –  Isso mesmo! Só estou ligando pra te dizer que você devia ter ouvido a gente e se rendido, nada demais.

 –  Do que você está falando? - Questionou ainda com a voz calma, embora estivesse tão tenso que seus músculos começavam a doer.

 –  Eu já disse, nada demais. Te mandei um presente. Até outra hora, Japão. - Ouviu um sugar profundo, provavelmente de um copo de refrigerante com canudo. - Tchau!

E desligou. O telefone tremia nas mãos do oriental enquanto as palavras do inimigo ressoavam em sua mente. Devia ter se rendido? Isso era uma ameaça, um aviso. Seu pressentimento estava correto, concluiu. Ainda tenso ele levantou e fui até a porta, ouvindo alguém bater logo que tocou sua maçaneta. Estranho. 

E então Japão a abriu. 

Não entendeu bem o que era, mas doeu. Doeu tanto que mal conseguiu compreender a dor. Seu peito fora atravessado por alguma coisa do lado direito. Queimava, ardia e era certo que atravessara seu corpo com facilidade. Japão cambaleou para trás e tentou manter-se em pé.

Diante dele estava um soldado americano. Como passara as defesas? De onde ele viera? 

—  Meu nome é  Paul, mas pode me chamar de Little Boy. América me pediu pra entregar isso. Bye bye~

Quando ele virou para ir embora Japão pôde ver um paraquedas arrastando no chão atrás dele. Então ele veio de cima, não esperava por isso, definitivamente não esperava. A dor era insuportável, mas apesar de velho, ele era resistente. 

Arrastou-se com o sangue quente escorrendo lento e manchando suas roupas de vermelho. Foi difícil, mas alcançou seu telefone e discou o número de um de seus maiores aliados, mesmo que ultimamente não se falassem tanto quanto antes. Felizmente não demorou para ser atendido e receber um bocejo antes de ouvir qualquer outra coisa do outro lado da linha. 

—  γειά σου? - Falou sonolento.

— G... Grécia...?

— Japão? O que foi, sua voz tá estranha? 

— Eu preciso de ajuda... A América... 

Silêncio na linha. A dor quase tomava a consciência de Japão, a perda de sangue não ajudava em nada e os poucos momentos de silêncio quase o deixaram desmaiar. 

— Estou à caminho. 

Era o suficiente. Sentia o sangue na garganta, sentia-se triste pelo que aconteceu. Deitou no chão e encarou o teto novamente. Estava mais claro que antes. Levou as mãos ao ferimento quente que pulsava e tentou impedir o sangue de escapar por ali, mas suas mãos estavam tão fracas que tudo o que conseguiu foi manchá-las de vermelho. Era horrível, não importavam as condições da guerra, era imperdoável, um ato dos mais baixos e dos piores. 

E com aqueles pensamentos ruins e dolorosos misturando-se em sua mente com a dor física e o sangue quente, ele se entregou ao cansaço e apagou. A escuridão foi bem recebida, o silêncio absoluto também. Agora tudo ficaria bem.