Além do Campo de Flores escrita por Lady Pompom


Capítulo 4
Caçada




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O som de passos apressados e altos ecoou pelos corredores do prédio da Igreja. Era um som de algo duro batendo contra o piso, as botas de metal de uma certa cavaleira.

—Padre Lionel, pretende mesmo ir antes de capturarmos o assassino?

—Por favor, não me chame de padre, e sim, eu vou sair… Se queremos que ele saia das sombras, precisamos de uma isca para atraí-lo, certo? E com isca, quero dizer eu..

—Você pirou?! E quanto às pessoas inocentes na cidade?

—Vamos participar da festa que haverá na cidade, mas farei uma barreira se algo acontecer, para que ninguém se machuque.

—Isso está fora de questão! E lembre que ele é um arqueiro ou caçador! Pode até ser um atirador de elite, mesmo se formos, ele poderia nos matar num piscar de olhos… Ele com certeza vai perceber que você está sendo protegido por alguém, se você é importante para a Igreja…

—Ele vai pensar que está no comando da situação, mas estaremos um passo à frente dele.

—Do que está falando…? Ele vai perceber na hora que eu sou sua guarda-costas, quero dizer, eu vou estar de armadura e seguindo seus passos… -ela parou no meio da sentença-

Ele perdeu a cabeça?!

            O sorriso dele se alargou ao olhar para ela, como se ele tivesse um plano e estivesse prestes a conta-la.

Não gosto do jeito que ele está me encarando… Ele tem algum plano impossível na cabeça dele? Esse homem é incompreensível.

.

.

 .

—Não posso aceitar isso! –ela deu uma batida firme na mesa de madeira, contestando-

            Ela havia acabado de se levantar e Lionel estava sentado numa cadeira do lado oposto da mesa.

—Acalme-se, Aiden. –ele gesticulou sorrindo- É um bom plano, lhe garanto. Ele não irá reconhecer seu rosto, vai ter mais liberdade para agir quando a hora chegar.

—Ainda assim… Tirar minha armadura é…! É… -ela não podia expressar com palavras, a face dela ficou vermelha de raiva, como se ele a insultasse- É como tirar meu orgulho como cavaleira!

—Eu discordo. –ele respondeu calmo-

—Mas me sinto dessa forma! Além disso, está sugerindo que eu me misture com outras pessoas e te deixe de lado. Se por algum acaso aquele caçador conseguir te atingir, eu estou ferrada!

—Não seja tão impulsiva. Tirar sua armadura e colocar umas roupas comuns pra se misturas às multidões não vai diminuir seu orgulho. O orgulho de um cavaleiro não está na armadura, mas em seu coração e vontade de lutar para proteger algo. –a voz dele carregava um leve tom de bronca- Não obstante, será mais fácil me proteger se o inimigo pensar que eu estou sozinho, ou melhor, mesmo se ele ou ela souber que eu não estou só, o fato de que você estará mesclada à multidão dificultará ação dele.

—É um plano muito arriscado!

 O que ele está pensando? Sugerindo algo assim…

—Desculpe Aiden, mas não posso tolerar sua teimosia neste momento.

Tentando impor os pensamentos dele? Ele não combina com essa postura… Seria melhor se ele estivesse orando pra que eu mudasse de opinião ao invés de me falar diretamente. Isso é um saco!

Mas… Não parece que ele vai desistir, os olhos dele parecem bem convictos.

Ah! Que seja!

—... Grr… -ela grunhiu- Eu entendi… -fechou os olhos relutante-

—Certo! –um sorriso vitorioso e brilhante surgiu no rosto dele- Então, vamos fazer as preparações para fazer esta missão?

O que foi esse sorriso agora? Ele ficou feliz porque conseguiu me convencer? Eu não consigo iniciar uma amizade com esse homem de jeito nenhum!

.

.

 .

            A festa que ele mencionou é aberta ao público, uma exposição de arte aberta para todos o padre foi convidado claro que, ele foi um convidado de honra do anfitrião da festa,  um senhor de idade que recebeu ajuda do Lionel uma vez, parece.   

            Mesmo assim, o plano dele…

            E lá estava Aiden, a orgulhosa cavaleira. Usando as roupas de uma sacerdotisa. Eram azuis, combinando com seu cabelo ornado com duas pequenas tranças que se enroscavam num coque.  Os belos olhos castanhos dela estavam calmos, mas a expressão dela não estava nem um pouco agradável. Veias estalavam pulando para a superfície de sua pele pelo fato dela estar usando roupas extremamente femininas.

            Ela caminhava ao lado do glamoroso jovem padre, que cumprimentava com entusiasmo todos ao redor, e isso era a segunda coisa que mais a irritava, aquele sorriso cínico que ele tinha no rosto, como se estivesse operando no “modo-de-eventos”. Muito embora, as intenções dele fossem as melhores  e ele agisse como sempre fizera. Ele só era visto como uma má pessoa pela ótica dela.

Mas, é verdade que eu me misturo mais facilmente quando ele me apresenta como aprendiz de um sacerdote de alto nível. As pessoas confiam tão ingenuamente nas palavras dele, ele podia contar quantas mentiras quisesse e as pessoas ainda acreditariam nele fielmente…

—Suspiro-

—Está cansada de cumprimentar as pessoas? –a voz dele a surpreendeu-

—Na verdade, não. –as curvas nas sobrancelhas dela se amenizaram-

—Então, o que está te incomodando?           

—Nada. Só não estou acostumada a festas como esta, bem, não é como se eu nunca tivesse ido a uma, mas sabe, eu sou geralmente uma das guardas de pé na porta.

—Hum, bem, você está no meio de uma missão, mesmo não estando de pé na porta, mas isso não significa que tenha que ficar tensa o tempo todo. Sorris de vez em quando te faria parecer uma verdadeira sacerdotisa.

—Me desculpe se eu não gosto de sorrir. Só acho que mostrar meus dentes as pessoas não vai fazer diferença nesta missão.

—Isso pode ser verdade, não estou tentando te dizer para sorrir sem estar feliz, quero quiser que deve sorrir quando estiver feliz, isso significaria que você está feliz com suas conquistas e com sua vida, ao invés de franzir o cenho como se o mundo todo fosse seu inimigo. –ele deu um leve tapa no ombro dela e prosseguiu com os cumprimentos aos convidados-

            As sobrancelhas dela se franziram automaticamente.

Ele acha que pode me dar conselhos?! E ele e tá tentando me bronquear com algo que nem ele mesmo faz! Que moral ele acha que tem pra me repreender assim?

—Oh, senhoritinha, você está com uma expressão bem perplexa. –a voz de um estranho comentou-

            Era um senhor, as mãos dele tremiam e ele utilizava uma bengala para se apoiar. A fúria dela sumiu num Segundo e ela ficou surpresa.

—Com licença, pode repetir, Senhor?

Quem é esse homem? Por que ele está falando comigo?

— Eu quis dizer que está com uma expressão carrancuda como se algo a estivesse irritando. Mas não devia fazer expressões assim para aquele jovem sacerdote. –ele deu um sorriso fraco- Sabe, se tem algo lhe incomodando, pode contar, quero dizer, conte-o, tenho certeza de que ele irá escutar, porque ele é um indivíduo humilde.

E-eh? Do que ele está falando? Como ele sabia que eu estava furiosa com o Lionel? Não… Será que eu estava com o olhar fixo nele por muito tempo…? É-e um mal-entendido!

—Desculpe, Eu não deveria ter feito aquela expressão… Ainda tenho um longo caminho pela frente para mudar de classe.

—Bem, se a senhorita é aprendiz dele, ele certamente lhe ensinará muitas coisas. Ele é um homem que sempre se esforça para ajudar os outros. Da última vez que ele veio aqui, ele ajudou a todos, mas, algumas vezes eu sinto que é ele quem mais precisa de ajuda.

Ah… Isso me soa familiar… Eu tive a mesma impressão…

—Mas se puser um sorriso nesse seu lindo rosto, isso com certeza o deixará feliz em saber que você aprecia o aprendizado com ele.

—Sorrir pelos outros, é…?-ela murmurou para si mesma com uma expressão de dúvida-

—Bem, ele faz isso o tempo todo, mesmo quando ele está numa situação tão difícil. Eu nem acreditei quando o vi como um alto-sacerdote pela primeira vez… Alguém tão jovem, com tantas responsabilidades… Ele pode enfrentar muitos desafios no caminho…

Lorde Glenn confia de verdade nele e o elogia… Porém, até agora, eu nunca testemunhei a extensão de seus poderes…

—Mas não se aborreça! –o senhor de idade tocou no ombro dela- Você é jovem demais, se se preocupar tanto assim nesta idade, suas rugas vão aparecer antes que note! Hahahah! Se vai fazer seu rosto ficar com rugas, seria melhor que fossem as rugas de um sorriso!

Qual o problema desse velho? Não ligo pra rugas! Não estou aqui pra ser modelo, sou uma guerreira!

            Quando o ancião terminou a frase, ele sumiu da vista dela, e a mulher, mais uma vez, tinha as sobrancelhas franzidas. Aiden ouviu um suspiro pesado. Era Lionel que parecia ter perdido as esperanças de faze-la se divertir naquele lugar.

—Que foi? Vai me dar outro sermão? –a voz dela parecia desafiadora, mas era fofo-

—Não. –ele riu como se ela tivesse feito algo engraçado- Vamos.

            Ele deu um olhar de perfil por um breve segundo e a expressão dele escureceu, mas o sorriso dele logo clareou o rosto de novo.

—...

Ele viu alguma coisa…? Se sim, ele não parece querer me dizer… Me pergunto por que o Lorde Glenn me deu um trabalho pra cuidar de um cara desses…

            Passado algum tempo, a lua estava em seu pico, e a festa estava mais cheia. Aiden perdeu Lionel de vista por um segundo. Ela sentia insegurança. Em parte, era porque ela não trajava sua armadura, e por outro lado, era apenas por causa dos seus instintos. Ela tinha duas adagas por baixo do vestido. 

            Suspirou, tinha perdido-o de vista novamente, era difícil prestar atenção às pessoas que a abordavam e ao sacerdote ao mesmo tempo, ela nunca estivera em tal situação antes, a falta de experiência dela estava atrapalhando.

Preciso encontrá-lo logo.

            Após finalmente o avistar, cercado de pessoas que conversavam com ele com sorrisos amigáveis no rosto, perto de uma das imensas janelas da mansão, ela se aproximou cuidadosamente, se posicionando atrás dele, para não interromper a conversa.

—Oh, então, padre Lionel, não irá se hospedar em minha casa?

—Me desculpe, a igreja já providenciou as acomodações para mim e minha aprendiz.

—Aprendiz? –o homem fitou Aiden, analisando-a- Ela é uma Lady refinada. Se está preocupado, posso providenciar um quarto para ela também.

Lady? Não esperaria menos de um homem rico e esnobe!

—Fico lisonjeado de ser digno de sua atenção, porém, devo recusar, Senhor. Como eu havia dito, meu compromisso é com a igreja e com as pessoas desta cidade, devo dedicar atenção incondicional a eles. Se precisar de ajuda, posso ajudá-lo também, basta me pedir.

            O sorriso dele era brilhante, mas as palavras dele feriam o orgulho do outro, que não escondeu o fato, mostrando uma expressão de desgosto.

Ele mereceu. Aquele patife. Me olhando como se eu fosse um pedaço de carne. E eu não sou uma lady.

—Agora, com sua licença…

            O sacerdote manteve o sorriso, e estava prestes a virar de costas para o homem insatisfeito, mas neste momento Aiden sentiu uma intenção assassina. Os instintos dela se inflamaram. O sangue ferveu em suas veias, ela impulsivamente agarrou ambos os braços dele com as mãos, impedindo-o, o corpo dele estremeceu com a força que ela aplicou no movimento.

—Aiden…?

Tem algo pairando no ar… Essa sensação…

            Ela olhou ao redor, tentando esconder o nervosismo, foi ela viu algo vindo de fora, acertando diretamente a janela. Os reflexos dela a fizeram empurrar Lionel, e ela caiu no chão após derrubá-lo, a tempo de sentir os estilhaços de vidro caindo em suas costas e no chão.

            Ela se levantou abruptamente, podia ver as faces aterrorizadas dos convidados, olhando para um objeto em particular. Uma flecha de fogo, cujas chamas espalhavam-se pelo salão. As pessoas entraram em pânico, correndo por todo o lugar, alguns convidados pegaram água para apagar as chamas.

            Aiden ainda estava aturdida, ela tinha alguns cortes no rosto e nos braços, mas ela conseguiu olhar pela janela quebrada e ver, ao longe, uma pequena figura de uma pessoa no topo de um prédio, imersa em sombras, certamente aquele que alvejou Lionel. Um caçador habilidoso, para atirar uma flecha daquela distância…

            Estreitando os olhos, ela se preparou para a batalha, pegando uma das adagas escondidas debaixo de suas roupas. Lionel estava perturbado, os olhos dele abriram-se em surpresa, e ele tentava ter uma noção do que acontecia.

—Aiden, o-

—Fica quieto! –ela ordenou- Seu assassino está longe, vou atrás dele!

            Ela se preparou para pular da janela, mas antes que o fizesse, uma estranha sensação de medo a tomou. Mais uma vez, ela tinha a sensação de que havia algo for a do lugar. Quando ela virou para trás para gritar com o sacerdote de novo, ela só conseguiu abrir a boca quando testemunhou um homem tentando esfaqueá-lo com uma espada curta. Felizmente, Lionel foi rápido o bastante para desviar do golpe.

O quê?! Dois assassinos? Um combatente de curta distância e um caçador com alto alcance?! Não está um pouco cedo pra ser tão severo?!

            Ignorando o caçador do lado de fora, ela direcionou sua lâmina contra o homem que ameaçava Lionel.

—Ei, Senhor, por que não encara alguém do seu tamanho?!

—Hein?! Uma sacerdotisa me desafiando?! –o homem riu- Que piada!

—Não, você é a piada!

            Ela tomou a iniciativa, contudo a lâmina dela era menor do que a dele, e isso se provou uma desvantagem quando ele fez um corte no braço dela, mas ela também o atingiu, esfaqueando o estômago dele.

—Sua…

            Enfurecido, o homem segurou o braço que ela usou para atacá-lo, com a adaga ainda dentro dele, e desferiu um corte nela também, Aiden tentou desviar, mas não havia tempo, quando ela menos esperava, uma barreira a impediu de ser dividida em duas.

            Ambos os combatentes olharam olharam para o lado, onde estava Lionel com uma das mãos estendidas.

Kyrie Eleison. Sua fúria não pode atingir esta senhorita, senhor.

            O semblante dele estava sério e suas sobrancelhas, levemente franzidas, uma visão rara que Aiden não esperava ver, já que ele estava sempre sorrindo.

Essa é a minha chance!

            Ela socou o homem, e ele a largou. Restringindo o braço dele, ela o forçou a soltar a espada, e então, o derrubou no chão, empurrando a face dele contra o piso enquanto puxava um dos braços dele para trás.

Me diga quem lhe contratou!

            A face dela estava obscurecida e o tom que ela usava fez parecer que ela era uma torturadora que poderia quebrar o braço dele a qualquer instante. O homem se tremeu e resistiu para escapar dos fortes braços dela, mas não conseguiu.

—Ah, antes disso, permita-me lhe dizer uma coisa, senhor assassino… -ela sorriu maleficamente- Não sou uma sacerdotisa, eu sou uma Cavaleira

            A ênfase que ela deu à palavra causou um calafrio no homem, e o grito de medo dele ecoou por todo o salão.

—E-eu não sei de nada!!

—Humph. É óbvio que é uma mentira!-ela esticou mais o braço dele, fazendo-o grunhir de dor-

—E-eu juro… -tinha lágrimas escorrendo dos olhos dele- E-eu não sei quem é a pessoa… Eu fui contratado por outro assassino… Não vi a face do mentor que bolou todo esse plano!

—Me diga a verdade! –ela pisou nas costas dele- Se não…

—Eu juro! Eu juro! Foi o outro cara… Urgh… Uh… -ele corizava desesperado-

Tch! Ele não pretende me dizer nada, mas… Que homem fraco…

            Enojada, ela o solrou e confiscou a arma dele, deixando-o no chão. Mesmo assim, o oponente dela estava apenas esperando por uma oportunidade, e quando teve, enquanto Lionel tentava ajudar os outros, ele lançou algo.

            Aiden sentiu uma picada no braço e perna direitos. Os membros dela ficaram entorpecidos e ela caiu de joelhos. Ela suava olhando para os membros dela que não se moviam.

Agulhas?! Estão envenenadas… Droga! Aquela raposa astuta, tentando me derrubar! É isso que eu ganho por vir aqui sem usar uma armadura!

            O homem se levantou fadigado, um sorriso cobriu os lábios secos dele e ele tocou na ferida que estava parando de sangrar. Aiden forçou os músculos para tentar se levantar, mas a mão direita dela que deveria estar segurando na espada curta, não obedecia aos comandos dela.  Ela cerrou os dentes e forçou o braço esquerdo para pegar a espada, se erguendo pronta para atacar o inimigo novamente.

—Como se isso fosse me parar!

—Tch! Mulher obstinada!

            Quando ela estava prestes a acabar com seu oponente num só ataque, ele subitamente desmaiou, e por trás dele, estava o sacerdote que acabara de deferir um golpe na cabeça dele, pondo-o para dormir. Aiden estava sem palavras.

Ah… Eu sabia disso! Mostrando a verdadeira face! Um sacerdote devia lidar com alguém dessa maneira?

—Ah, por favor, não me olhe com essa expressão… -ele parecia ofendido, mas a face dele estava inexpressiva logo após-  Se ele continuasse com a luta, ele iria morrer. E você também não deveria se deixar provocar tão facilmente.

—Humph, morto ou não, ainda tenho um inimigo para perseguir! O caçador está lá fora!

            Novamente, ela olhou para a janela quebrada e andou, mas uma mão agarrou no braço esquerdo dela, fazendo-a parar. Ela virou os olhos para a pessoa que bloqueava seu caminho, ninguém menos que Lionel, com um ar severo. Os olhos dele tinham um olhar aguçado, diferente dos traços gentis que costumavam estar presentes.

Lionel. Me larga.

—Aiden, sua missão está completa, eu estou vivo. No momento, essas pessoas precisam de ajuda, e você não está em condições de perseguir alguém habilidoso como um caçador á essa hora da noite.

—Nem tentem me impedir! Não vou permitir que aquele assassino continue por aí, livre pelo mundo.

—Aah. –o sacerdote suspirou profundamente, fechando os olhos- Você é teimosa demais para seu próprio bem.

H-hein? O que ele está tentando fazer?

            Ele segurou o rosto dela com as mãos e deu uma cabeçada.

—Aaargh!

No que ele está pensando?! Ele enlouqueceu?! Esse… Esse bastardo!!!

            Ela caiu de joelhos e ele se ajoelhou também. Aiden sentiu uma dor imensa por causa do golpe. Ela tocou a testa dolorida com a mão esquerda e se debruçou sobre o próprio corpo. O sacerdote também massageava a testa que estava vermelho-sangue. Um sorriso torto se desenhou nos lábios dele, e ele ate se sentia um pouco culpado por fazer aquilo.

—Ai! Sua cabeça é dura que em pedra, não me admira que seja tão teimosa. –ele brincou, dando um riso-

—S-seu imbecil! –ela o encarou e insultou irada- O que está fazendo?!

            Embora quisesse socá-lo naquele exato momento, o corpo dela estava pendendo para os lados, talvez por causa do ataque surpresa do sacerdote, mas ela não queria admitir isso.

Esse sacerdote fajuto…! Me colocando nessas situações!

—Pessoas extremas demandam medidas extremas. –o riso dele foi suave, mas ele parecia estar se divertindo com aquilo-

—Guh… Isso…

            Tudo ao redor estava girando. Ela se sentia tão tonta. O braço e perna ainda estavam dormentes, ela podia cair a qualquer minuto, mas ele segurou nos ombros dela e encostou a testa na testa dela, fechando os olhos. O cenho dela se torceu e estava prestes a reclamar, mas as palavras não saíam da cabeça, a expressão dela mudou de irritada para incomodada.

Hã…?O quê?

—Você está mais calma agora, Aiden? –ele disse calmo e gentilmente- Sei que não quer admitir, mas há momentos em que devia evitar seguir em frente sem medir as consequências.

            Ela estava tão enraivecida, ainda assim… fazia muito tempo que ela não sentia um calor assim. Assim como a personalidade dele, o toque dele era caloroso. Ela estava sempre de armadura, por isso aquilo não era uma sensação frequente, mas ela sentia que, mesmo se estivesse com a armadura, ela ainda teria a mesma sensação.

—Fico agradecido que tenha me protegido, e entendo o quanto deva estar frustrada por perder um inimigo tão perigoso, mas no momento, tem pessoas precisando de nossa ajuda… Não seja tão apressada, cedo ou tarde, haverá uma oportunidade para acertar as contas. Seja paciente agora.

            Uma luz verde-claro emanou dele e ela o ouviu murmurar algumas palavras, era o poder dele. Não era um poder forte e impetuoso, era mais como uma energia branda que lavava os ferimentos dela. Aquela aura não afetou somente os ferimentos, mas também o coração dela. Quase como se pudesse aliviar os grandes pesos que haviam dentro dela.

Por que tem uma atmosfera tão pacífica? Eu queria brigar com ele, mas…

—Bem, -ele a soltou, com o sorriso habitual na face- Devemos ajudar estas pessoas…

            Ele levantou-se estendendo a mão para ajudá-la, embora os pés dela cambaleassem. Ela permaneceu em silêncio durante todo o tempo em que ajudava os outros, com o olhar baixo.

Não consigo entender o que há de tão especial nele para as pessoas tentarem matá-lo… Além disso, não acredito que ele bateu mesmo num assassino em numa cavaleira (eu) que estava protegendo-o só para evitar mais lutas.

Que tipo de pessoa age assim…? Estou bastante curiosa agora para saber quem é você de verdade… Lionel… Será que o seu verdadeiro eu é esse que distribui sorrisos ou esse que usou força bruta e violência para impedir uma luta?

            Fixando o olhar nas costas daquele homem, ela ponderava, franzindo as sobrancelhas mais uma vez. O homem que sorria feliz só pelo fato de estar ajudando outras pessoas, como se fosse uma criança sorrindo sem motivo algum.


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