Rogue abriu os olhos avermelhados que estavam sendo incomodados pelos raios de sol. Sorriu minimamente ao perceber que seu travesseiro era, na verdade, o antebraço de Sting. O loiro ainda dormia tranquilamente e Rogue tinha a impressão de que a falta de luz deixava o amante ainda mais lindo do que era naturalmente. Levou sua mão ao rosto do nakama e o acariciou com o polegar. Suspirou pesadamente e tentou se levantar, mas sentiu algo puxando-o para baixo. Quando caiu em si, estava com a cabeça apoiada no peito do amado, sendo envolvido pelos braços do mesmo.

—Ainda está muito cedo, Rogue… só mais alguns minutinhos. -murmurou o Dragão Branco, no ouvido do moreno.

—Não é não. Temos que ir para a guilda, Sting… -o filho de Skiadrum apoiou as palmas das mãos sob o tronco nu do mestre da Sabertooth, tentando se soltar de seus braços.

—Bobinho, já estamos na Saber… nos aposentos reais, eu que mando, agora volte a dormir. -reclamou ainda sem abrir os olhos.

Rogue corou de leve, envergonhado por ter esquecido de que o quarto do loiro localizava-se na parte superior da guilda.

—Não podemos dormir mais, Sting. -protestou Cheney- Minerva e Yukino vão voltar hoje da missão com Frosch e  Lector. Além de recebê-las, teremos que ler toda a pilha de relatórios, escrever uma carta formal para o prefeito de Hargeon pedindo desculpas pela destruição causada por Rufus e Orga, oficializar novos pedidos, fazer as contas para saber se ficaremos com o orçamento apertado ou não, e…

Sting suspirou e abriu os olhos numa expressão séria.

—Rogue, cala a boca e volta a dormir. -Eucliffe murmurou e tapou os olhos com o antebraço que antes serviu como travesseiro para o companheiro.

Rogue suspirou e levantou-se, recolhendo suas muitas roupas, que teimava em usar, mesmo com o loiro insistindo que tantas camadas não eram necessárias.

Ele realmente queria passar mais alguns minutos deitado ao lado do “irmão”, se possível, gostaria de passar o dia todo ao lado do garoto. Ah, se eles ao menos pudessem assumir a relação ou os sentimentos que ambos sentiam… Só o moreno sabia o que sentia todas as vezes que passava pela porta do quarto do mestre, todas as vezes que se despedia do loiro, saindo pelos fundos apenas para retornar pela porta da frente e fingir que nada aconteceu. Apenas ele sabia o que sentia quando ambos eram obrigados a colocarem as máscaras.

Já havia pedido ao loiro para se declararem, mas teve que concordar com a resposta. Não podiam criar tamanho escândalo. Imagine que vexame, dois garotos, dois companheiros, praticamente irmãos, se amando de outro jeito?! Provavelmente correriam muitos boatos, e ninguém amava mais a privacidade do que Cheney. Sim, valeria a pena, pelo menos para eles, que o amor entre os Dragon Slayers fosse gritado para os quatro cantos do mundo, mas agora não eram só eles. Agora carregavam o peso de uma guilda inteira nas costas, com seus membros e suas responsabilidades.

Com a “morte” de Jiemma e o sumiço de Minerva, viram o momento perfeito para deixarem de ficar aos beijos pelos cantos da guilda, movidos pelo sentimento de que poderiam ser pegos a qualquer momento, mas continuavam, quase como um vício. Porém a notícia de que quem assumiria o “trono” da Sabertooth era Sting veio como um furacão, acabando com os planos de contarem para todos. Já não podiam mais pensar de maneira tão egoísta, não podiam deixar que tamanha decisão afetasse o nome da guilda de qualquer maneira.

Sting se levantou rapidamente e segurou o outro pelo pulso, selando seus lábios em seguida. Rogue entendeu o que o loiro quis dizer. Não era um beijo de despedida, mas sim um de “até logo”. Não pôde deixar de sentir a felicidade crescer em seu peito. Mais do que amava a privacidade, Rogue amava Sting.

Quando seus lábios se desvincilharam, o moreno saiu pela porta do grande quarto, fechando-a em seguida. Cheney suspirou mais uma vez, nunca se acostumaria com essa sensação. Essa era a hora que ele rezava para que nunca chegasse, quando teria que descer as escadas e fingir que nada nunca acontecera. Uma vez quase fora pego por Yukino enquanto descia. Rogue foi altamente questionado sobre o que ficou fazendo lá em cima por tanto tempo. Sua sorte foi ela acreditar que ele havia passado os últimos 40 minutos tentando acordar o loiro. Nunca duvidara da ingenuidade da albina, mas aquilo ultrapassava suas expectativas.

Espreguiçou-se depois de descer o último degrau. Decidiu que não iria sair apenas para dar a volta, só destrancaria as portas e esperaria alguém chegar. Caso fosse questionado sobre como entrara lá, se o loiro ainda não tiver descido, responderia que tinha uma chave reserva por conta dos constantes atrasos do filho de Weisslogia.

Para sua surpresa, alguns minutos depois, o de profundos olhos azuis estava indo ao seu encontro. Cheney sabia que ele iria querer aproveitar que estavam sozinhos. E aproveitariam, se as portas não tivessem sido abertas, revelando três sombras, já que o Exceed verde já agarrava a perna do dono. Yukino e Minerva se aproximaram rapidamente junto de Lector. Não demorou muito para que Eucliffe decidisse que esperariam todos os outros para festejarem na piscina mais uma missão realizada com êxito.

Agora seria como todos os dias, Rogue teria que suportar a mescla de sentimentos e insegurança que sentia em seu peito quando a albina lançava olhares apaixonados para o loiro, ou quando entendia as indiretas super inteligentes da senhorita. Pelo menos agora não tinha mais que aguentar os boatos de que o outro Caçador de Dragões teria um caso com a loira da Fairy Tail. Boato que foi desmentido quando a garota assumiu o relacionamento com o companheiro de time. Cheney se sentia apreensivo, não podia evitar, sabia que por detrás da boa relação entre as magas de sua guilda havia uma guerra pelo loiro.

Seria como todos os dias, sentiria a mesma melancolia de sempre, o mesmo ciúmes do que é seu, seu Sting. A mesma mescla de raiva e amor, a mesma carência e sensação de vazio, que diminuíam a cada beijo roubado em algum canto da guilda. Sentiria-se assim até ter seu loiro de volta para si de novo, até seus corpos se tornarem um só na noite seguinte.

Sentiria-se assim, até que formassem o perfeito Yin-Yang