Quem diria que um dia eu, Sakura Kinomoto, iria viajar para outro país? Não que eu fosse extremamente pobre. Mas com o salário de professor do meu pai, um pouco do dinheiro das bolsas e palestras do meu irmão e os do meu, tínhamos uma vida que dava para viver bem, sem todo o luxo que muitas pessoas ansiavam. Porém, viajarmos para outros países não estava dentro do nosso bolso. Tudo bem que meu pai podia, pois a universidade bancava suas pesquisas. Então ele viajava para muitos países.

E, atualmente, ele estava pesquisando sobre algo na China fazia um bom tempo. E, depois de ter ganhado um sorteio em que o prêmio seria uma passagem de avião para Pequim, não podia simplesmente desperdiçar uma sorte assim, antes de entrar na universidade. Aguardava ansiosamente para papai. Fazia meses que não o via e a ideia de conhecer um lugar novo, com uma cultura quase semelhante a minha deixavam-me mais eufórica ainda. Quem poderia imaginar que eu iria tirar uma sorte assim?!

Sorri em meio aos meus pensamentos, mas fui logo tirada dele pelo anúncio do piloto.

— Senhoras e senhores, em breve estaremos chegando à China. A viagem segue tranquila sem nenhum tipo de incidentes. Esperamos que estejam aproveitando a viagem. Lady's and... — porém antes que o piloto pudesse completar, a nave foi atingida por uma turbulência fazendo-a sacolejar como se alguém sacodisse com raiva um celular que não queria funcionar.

As caixas de comunicação começaram a falhar e os restantes dos passageiros entraram em pânico quando as máscaras de oxigênio surgiram sobre nossas cabeças. As aeromoças tentavam acalmar os passageiros, dizendo que apenas era uma mudança de ares. Poderia dizer que fui corajosa e que não entrei em pânico, mas estaria mentido. Não sabia o que fazer, tentei pegar desesperadamente a máscara, mas o avião sacodia tanto que era quase impossível pegá-la.

Então um estrondo propagou-se e uma turbina começou a liberar fumaça. Se antes era um caos, agora tinha virado o pandemônio. Já podia acreditar que minha sorte havia sido deixada no Japão, assim que embarquei. Não sabia o que fazer e algo me dizia que aqueles eram meus momentos finais. Enquanto a gritaria rolava a solta, apertei com força a mascara sobre o rosto, fechando os olhos e rezando para todas as divindades possíveis; agradecendo meus 18 anos de vida, os amigos que fiz, as pequenas vitórias que tinha conquistado, a companhia do meu pai e do meu irmão. Parece que depois de 15 anos iria me juntar à minha mãe.

Conformada com minha morte e desesperada, com toda a adrenalina percorrendo meu sangue. E o desespero e a grande vontade de chorar a tona. Segurava firmemente a poltrona, sentindo meu corpo ser pressionado contra ele. Pessoas rolavam pelos cantos enquanto caíamos em direção as águas internacionais, no provável esmagamento e morte certos.