A Única Cor escrita por Gwynbleidd


Capítulo 8
Ato 1 - O plano da Cor


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo eu estava inspirado para escrever!! Existem revelações importantes nele rsrs



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/683707/chapter/8

O líquido rubro escuro preencheu o diâmetro da taça de cristal e parou com uma leve ondulação na borda, Gioseph repousou a garrafa sobre a grande mesa feita com madeiras de eucalipto e depois sentou em uma das cadeiras, como tudo na casa possuí um tamanho exagerado para as pessoas normais, Johanna senta, mas seus pés ficam a centímetros de tocar o chão. Ela precisou de firmeza para segurar a taça que não é tão leve, aproximou a mesma até o seu nariz e inalou o cheiro doce do álcool destilado com acerolas. – Muito bom meu amigo, você sempre foi um ótimo cozinheiro.— Depois do breve elogio tomou um terço do licor da taça e a deixou sobre a mesa.

—Certo... Direto aos assuntos então?  Já tivemos formalidades de mais para um dia só.— Falou o gigante com um pouco de pressa, ele sabe que a vinda dela até a sua casa representa muitas coisas distintas e no fundo espera por algo inesperado, gostar de ser surpreendido é uma característica excêntrica que os gigantes possuem, por serem criaturas antigas e sábias gostam de gabar-se de seus conhecimentos.

—Calma, uma fatia de queijo primeiro.

Pegou a faca que possui o tamanho de uma adaga e cortou uma fatia generosa do queijo amarelado levando-o até a boca e mordendo um pedaço.— Novamente, muito bom.— Ela sorriu satisfeita e relaxou seu corpo na cadeira, tombou as costas e respirou bem fundo.

—Parece cansada Jo.

—E estou, tem sido dias difíceis, e os que estão por vir serão muito piores, preciso que escute com atenção meu amigo.

Assim que a moça escutou o barulho do jovem entrando na banheira/piscina no banheiro da casa, começou a narrar os fatos.

 

(...)

 

A bela jovem com cabelos brancos como as nuvens de um céu ensolarado, passeia sobre a trilha feita com pedras circulares no parque das flores na capital, o lugar fica um pouco mais afastado da grande arvore da vida e das regiões mais habitadas e barulhentas. Ela caminha com graça enquanto suavemente balança seu guarda chuvas vermelho, preso, com sua mão direita, seu longo vestido de cor cinza claro toca na altura de sua canela, quão bela visão é poder ficar olhando-a andar e andar sem destino, um homem considerado sortudo, está escorado no guarda corpo de uma pequena passarela sobre as águas de um encantador córrego cristalino, seus cabelos escuros balançam com o vento e lhe cobrem parte do rosto, quando coloca seus olhos na moça um grande sorriso surge nos lábios róseos e macios, prontamente ele avança na direção dela e a segura pela mão.

—Minha Johanna, você está encantadora, linda como os lírios e girassóis!

—Ai eu mereço Lorean haha.— Ela sorriu contente e envergonhada ao mesmo tempo, tentou parecer normal, mas a sua áurea de felicidade flui por seu corpo e parece espalhar pelos cabelos que brilham contra o sol. Um doce e delicado beijo iniciou oficialmente o encontro dos dois, seus lábios se amassaram com delicadeza e se soltaram de maneira lenta.

—Eu tenho notícias um tanto quanto perturbadoras. É sobre o torneio que irá ocorrer.

—O que você sabe Lorean?— Perguntou com as sobrancelhas abaixadas de preocupação.

—Ouvi do próprio King Red, esse será o último torneio, pois alguém que conhecemos e pensamos estar morta há muito tempo, na verdade está apenas dormindo.

As palavras dele invadiram a sua mente de maneira confusa. – Quem conhecemos e pensamos estar morta?— Perguntou levando a mão até o seu queixo e segurando o mesmo para pensar.

A iniciada, a matriarca, ela não morreu, mentiram para mim, mentiram para você Johanna. King Red a escondeu por todos esses anos e agora ele pretende consumar o poder dela e confirmar a sua autoridade sobre a cor vermelha, tudo isso durante o torneio.

A face da mulher ficou branca, como se fosse possível ficar mais pálida do que já é e quase desaparecer em meio ao ar. Ela tentou falar algo, mas a voz lhe faltou no momento, não conseguia falar e muito menos pensar em algo, sentiu como se centenas de dardos a atingissem na pele fazendo-a sangrar, logo as forças faltaram e ela se agarrou ao guarda corpo, evidentemente que as suas pernas ficaram bambas e imediatamente Lorean a segurou pelos ombros.

—Johanna... Eu sei que é um choque, mas eu preciso de você comigo.

—Eu... Só preciso de um tempo er... Viva...Viva!

Ela levou a mão na cabeça e expressou muita dor, sua respiração acelerou e foi tomada por uma falta de ar inexplicável.

—Lo...rean, Isso...— Ela levantou seu rosto tremulo, suas íris arregaladas chacoalhavam de medo e ansiedade, a boca tornou-se um deserto de rosas secas e murchas. —O que acontece? O que acontece se ela voltar Lorean?

—Ela absorverá toda a cor vermelha restante do mundo.

 

(...)

 

—E foi mais ou menos isso o que aconteceu Gioseph, estamos nos organizando há três meses e quando recebi a carta de Marrie e soube de seu falecimento eu tive uma ideia, irei inscrever Allie no torneio como meu afilhado.

—O que? Johanna você!— O gigante a interrompeu mas ela o interrompeu também.

—Escute homem!— Ela se aproximou e colocou a mão na lateral da boca, como quem vai contar algum segredo. —Eu sei que o menino não pode ganhar, mas eu não preciso que ele ganhe preciso apenas de uma distração. Imagine só Gioseph, eu sou uma nobre vou poder escolher em qual páreo ele vai entrar e depois que eu revelar a notícia que ele possuí sangue da realeza correndo em suas veias, todos ficaram em choque! Nos seremos os holofotes e enquanto isso Lorean e o seu grupo estarão invadindo o túnel de sangue. É perfeito, King Red não estará lá, pois vai estar no evento dando abertura para as lutas.

—Johanna, mas você disse que os planos dele são de despertá-la durante o evento, provavelmente haverão soldados lá.

—Estamos preparados Gioseph! Eu confio no Lorean ele é um guerreiro poderoso.

—É um plano arriscado que pode ser que de certo.

—Dará certo, mas para isso eu preciso de sua ajuda meu amigo.

Johanna colocou a mão no antebraço do homem e segurou com força, seus olhares se cruzaram em uma fina linha onde ela demonstrou ser assustadora, um clima tenso parece emanar do corpo dela e seus olhos se tornam vermelhos como o fogo.

—O garoto tem potencial, mas ele não resistirá ao combate, provavelmente morrerá... Eu preciso que você o ensine a sobreviver por uma luta, Gioseph eu não posso deixar ele morrer a sua mãe pediu para que eu cuidasse dele, sei que é irresponsável mas... – Ela soltou o braço dele e todo o clima pesado sumiu, seus olhos agora ficaram vermelhos marejados e duas finas lágrimas escorreram. —Você entende que ele é meu meio irmão, não entende? Depois que a Marrie fugiu do castelo por causa das ameaças da minha avó, eu nunca mais tive notícias dos dois até que ela morreu... E agora eu irei usá-lo... Ahhhh Gioseph eu sou um ser humano sem coração.

Ela cruzou os braços sobre a mesa e deitou a cabeça em cima, começou a chorar abafado pelos braços e a tremer como uma criança. — Há dias isso tem me perturbado Gioseph...— Quando levantou, seu rosto ficou amassado e todo marcado com um tom vermelho que gradualmente foi sumindo, o homem tomou para si todas as magoas e dores dela, levantou de seu lugar e repousou sua mão sobre o ombro da garota.

—Eu sabia que você não viria por um motivo idiota, eu farei o meu melhor, mas não espere que ele vá chegar a ganhar algo e se vocês demorarem muito para agir e a luta se estender, o garoto pode ficar cansado e será só uma questão de tempo para o pior acontecer.

—Eu sei.— Ela segurou na mão dele e encostou seu rosto choroso nela, puxou com força o ar na tentativa de destrancar as suas narinas. —Eu farei a minha parte.

Um sorriso sem graça apareceu no rosto dela, o fato de seu amigo Gioseph querer dar o seu melhor é muito mais do que ela poderia ensinar ao jovem, com toda certeza ele será um ótimo professor e isso a trouxe um alívio. O barulho da porta abrindo tirou a concentração dos dois, rapidamente ela limpou o seu rosto com a mão e levantou para disfarçar.

—Allie já tomou um banho! Se sente melhor?

O garoto a olhou confuso, não entendia o por que ela dela estar triste e chorando.

—Sinto sim, aconteceu alguma coisa Hanna?

—Sim uma ótima notícia! Gioseph vai treinar com você, eu só estou contente Allie.

O menino olhou para o homem alto que retribuiu o olhar com um sorriso e fez um sinal de positivo com o dedo polegar, uma risada inesperada e alegre saiu da boca do garoto, ele abriu um sorriso e pela primeira vez demonstrou estar empolgado.

—Eu vou poder ajudar então?— Ele olhou para os dois esperando uma resposta.

—Vai sim garoto, mas você vai precisar ser forte! O dia aqui começa bem cedo.

—Eu aguento!— Allie disse em meio aos sorrisos e logo o clima alegre se espalhou para todo mundo, foi uma agradável noite.

—Hehe isso é ótimo Allie que bom que você está animado, mas agora é a minha vez de tomar um banho e trocar de vestes.

 

(...)

 

O quarto está todo escuro e em silencio, depois de uma longa viagem finalmente o garoto pode sentir uma cama quente nas suas costas e uma coberta grossa sobre seu peito, porém, apesar de todo o conforto que a noite lhe proporciona, o menino não consegue dormir e se vê perdido em meio aos próprios pensamentos, recordou-se da família abrigada naquela cabana e da história que Johanna havia lhe contado, o que havia acontecido àquelas duas irmãs? Por que a história pareceu ser tão triste? Foi então que ele percebeu que por 14 anos viveu sozinho com sua mãe em uma vida isolada e super protegida, sentiu-se perdido em um mundo muito grande e repleto de histórias diferentes para lhe contar. Por que sua mãe havia o deixado longe do mundo? O máximo que ele fazia era ir da escola para casa, para o parque, o jardim... Nada mais. De repente um som de batida na porta o acordou de seus devaneios.

—Allie está acordado?— Era a voz da moça do guarda chuvas vermelho.

—Estou sim...— Ele respondeu sentando-se na cama e puxando a coberta até altura de seus ombros.

—Então eu vou entrar.

A porta abriu lentamente e a luz do corredor adentrou no local, Allie não conseguiu distinguir a moça direito, seus pés descalços entraram primeiro e ela ficou parada em uma posição que a luz ofuscava o seu corpo, era como se raios de luzes emanassem dela e o deixassem cego, em instantes tudo ficou claro e ele a viu pela primeira vez sem o vestido longo e o guarda chuvas por perto.

Johanna caminhou despreocupadamente até a beira da cama onde ajeitou um lugar para sentar de lado, sua roupa casual é uma improvisação de uma camiseta grande de Gioseph, fazendo um longo e folgado vestido branco, o seu cabelo lavado ainda está molhado e cai liso sobre os ombros e pela primeira vez o menino notou que ela utiliza um colar prateado repleto de pedras vermelhas, parecidas com a do anel de seu pai.

—Que bonito Hanna.— Ele falou hipnotizado, nunca havia visto joia mais bonita que aquela e combinando de maneira tão perfeita nela.

—Obrigada Allie. É uma lembrança de um parente que faleceu, não era para ser minha, mas não tiveram escolha.

—Eu sinto muito, parece que nos dois perdemos pessoas importantes não é mesmo? Mas também ganhamos outras, se não fosse por você eu não sei o que estaria fazendo agora e por isso que eu vou aprender muito com o Gioseph.

Johanna ficou sem resposta na hora, aquilo que ele disse remexeu com o seu coração embora ele não soubesse o por quê disso. —Allie, isso foi muito bonito, obrigada por estar aqui e não estar com medo, você é muito corajoso de ouvir tudo o que eu te contei sobre o torneio e ainda sim querer ajudar.

—Você não pensou duas vezes em vir me ajudar.

—Haha.— Ela riu meio sem graça agora. —Parece que é verdade. Allie.— Ela chamou.

—Sim?

—Amanhã estarei voltando para a capital, será apenas você e o Gioseph por duas semanas, depois disso eu venho te buscar e... O que for para acontecer acontecerá!

Allie concordou com a cabeça, por dentro ele estava se corroendo de medo e insegurança, seu coração pequeno bate tão forte que o deixa assustado e ansioso, mas no próximo segundo tudo isso mudou, os braços de Johanna percorreram o contorno e a nuca dele, ela o abraçou e encostou seu rosto no ombro dele.

—Vai ficar tudo bem, eu nunca deixaria algo de ruim acontecer com você.

Ela se afastou lentamente e mostrou-lhe o mais belo de seus sorrisos, tão encantadores quanto admirar um jardim de rosas vermelhas.

—Iaay!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então!!! O que acharam? Tentei expressar bem os sentimentos dela pelo menino, espero que tenha dado certo rsrs
Esse foi o final do Ato 1, os próximos capítulos terão uma visão diferente, buscando explorar o mundo que por enquanto está sendo apresentado a vocês de maneira lenta, tudo isso devido ao fato de Allie ser apenas um garoto com uma mente simples e não daria para eu escrever tantas explicações sobre como tudo é. Enfim, até logo o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Única Cor" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.