A Única Cor escrita por Gwynbleidd


Capítulo 7
Ato 1 - Gigantes e a Cor


Notas iniciais do capítulo

Ah eu me esforcei muito para fazer boas descrições nesse capítulo. Quero dedicar a Dessa que vem me ajudado muito, além de ser uma boa amiga!
Espero que gostem



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A ausência total do barulho humano é extremamente relaxante, é um evento que ocorre apenas quando não há mais pessoas vivas por perto, pessoas falam alto, não conseguem expressar-se direito e adoram pisar em toda a grama escura e molhada da chuva do dia anterior. Quando todas essas condições são completadas e respeitadas o ambiente se torna excepcionalmente calmo e agradável, onde o mais leve e sútil sinal da presença humana poderia acabar com um plano super bem bolado que levou dias para ser finalizado.

A sua mente está trabalhando a todo vapor e ele está à espreita, como um gatuno à surdina, camuflado pela vegetação alta e escura, é invisível aos olhos desatentos que estão espalhados pela mata, os troncos e galhos que caíram com o vento de ontem e que hoje já não existe mais, servem como uma manta da invisibilidade ao caçador ali oculto, mas se há um caçador trabalhando então também há uma caça e de fato ela está lá, o macaco branco, raro e muito especial, que só aparece depois de um dia chuvoso.

Ótimo meu amiguinho, agora não se mova. Pensou.

Turutu    Pôcutu   

Turutu    Pôcutu

... O som entrou em sua mente...

 

Uma vibração no solo o arrepiou por completo, o barulho que parece ser derivado das batidas de casco de cavalos no chão parece aumentar, no canto mais escuro e atrás da por mais bem guardada, o caçador gostaria de acreditar que tudo aquilo fosse apenas um sonho ruim e que não... Nenhum! Cavaleiro idiota viera o importunar agora, esse foi justamente um dos motivos que o fez optar por morar em um lugar isolado e silencioso. As pessoas não lhe importunam...

—Gioseph!!

.

.

.

Seu silencio foi perturbado, seu plano foi arruinado e o dia inteiro perdido, quando seus olhos retornaram para a sua presa ela não estava mais lá. Isso macaquinho, volte para a sua casa, viva mais um dia em liberdade, nos veremos depois da próxima chuva!

Como uma truta saltando da água, o homem levantou de seu esconderijo, folhas e pedaços de galhos voaram para ambos os lados como uma magnífica explosão de grama, barro e galhos. A égua branca relinchou assustada e parou batendo os cascos com força no chão, sua montadora segurou firmemente nas rédeas do animal e por pouco não voou para frente, indignada e ainda muito assustada passou a mão nos pelos do animal a fim de acalma-lo, o carinho na sua longa crina foi bem vindo e logo o animal se aquietou.

—Calma lá... Calma lá...— Murmurou baixinho perto da orelha felpuda e pontuda de sua égua.

O olhar de ambos se encontrou, o homem que agora não estava mais escondido é como uma montanha barrenta com quase três metros de altura, também é detentor de uma pança de dar inveja aos mais amantes de comida e bebida cevada, com a grande e peluda mão retirou um galho de sua longa barba crespa, preta e cinza, a sua boca grande mostrou dentes grandes e assustadores, ele grunhiu um resmungo de insatisfação. Allie nunca havia visto uma pessoa, ou criatura, tão peculiar em toda a sua vida, imaginou que gigantes não existiam mais, talvez aquele seja o último? Nossa ele poderia agora estar diante do último gigante vivo!

—Não garoto, eu não sou o último dos seres superiores.

Um sorriso de satisfação apareceu naquela bocarra, o grande homem balançou o seu corpo como um cachorro molhado, a maior parte das folhas caiu no chão, com exceção de uma que ficou pendurada na barba. *gihihi...* O garoto segurou a risada e o gigante olhou feio para ele, notou que os olhos dele possuem uma leve cor avermelhada, um cinza com tons de vermelho.

—Oras Joseph, onde estão seus modos? Virou uma besta quando se mudou para cá? Deixa o garoto em paz e nos sirva um pouco daquele chá especial que você tem escondido dentro da sua gruta.

—Garota insolente, esses humanos realmente são um estorvo. Onde já se viu uma coisa dessas?! Uma humana qualquer tem o disparato de atrapalhar-me na minha tão fabulosa caçada e ainda pede chá? Eu sempre penso que não falta me acontecer mais nada, mas ai o que acontece? Oras Johanna...

Ele andou resmungando em direção à sua casa, Johanna o seguiu tentando disfarçar o sorriso estampado em seu rosto há quanto tempo não via aquele gigante resmungão? Por outro lado, Allie a seguiu sentindo o seu corpo tenso, ele tenta segurar a constante batidas de dentes que revelam o quão desconfortável ficou com a situação, afinal o homem é enorme! E não parece contente com a visita inesperada deles, percebendo que o garoto não estava bem Johanna colocou a mão sobre os cabelos dele e os bagunçou.

Não liga para o Gioseph, ele é uma ótima pessoa, muito sábio também, acho que deve ter acordado de mau humor, só pode ser isso.

O tal Gioseph meio que os guiou até a sua casa que não ficava muito longe dali. O lugar era um tanto quanto alto, mas já era de se esperar devido ao tamanho dele e se o garoto pudesse adivinhar, diria que a porta feita com madeira de carvalho e pintada com um tom avermelhado tem cerca de quatro metros de altura, se quisesse abrir a porta teria que pular para alcançar a maçaneta. O interior da sala de entrada não chega a ser muito grande, há uma lareira anexada à parede da fachada e perto dela alguns quadros estão pendurados, do outro lado um largo sofá que caberia uns dez Allie’s sentados, ou um Gioseph deitado, em cima do sofá uma assustadora cabeça de alguma criatura desconhecida por ele, possuí um chifre grosso e pontiagudo no meio da testa, a boca está aberta revelando duas presas tão grandes quanto o seu braço.

—Está com medo garoto?

—Ahh!

Johanna viu que o menino estava concentrada observando o quatro e aproveitou para passar o dedo contra as suas costas, em um movimento vertical percorreu toda a espinha dele, Allie se arrepiou inteiro e gritou.

—Hanna! Isso me assustou!— Falou bravo e com o seu rosto vermelho.

—Hohahaha.— A risada vinda do próximo cômodo foi alta e escandalosa, Gioseph voltou com um bule grande e prateado em sua mão direita, na esquerda uma bandeja de mesma cor com três xicaras também grandes em cima. –Essa mulher é um demônio não é mesmo? Vive perturbando quem está quieto... Vamos não fiquem me olhando, sentem-se logo antes que eu mude de ideia.

Allie sentou na hora, mas Hanna foi ajudar o homem a servir o chá. Pegou uma xicara com suas duas mãos e esperou ele servir o líquido com cheiro de cerejeiras misturadas com casca de cereja e mais algumas coisas que nunca descobriu o que são.

—É maldade sua falar isso de mim Gi.— Ela falou junto com lindos sorrisos, estes que Allie estava vendo pela primeira vez. Lembrou-se que desde o momento que se encontraram as coisas vem sendo tensas, velórios, violência, chuva e muito medo, tudo vem acontecendo tão rápido que momentos como esse relaxam.

—Não me chame de Gi... Jo...

Seus olhos e ouvidos estão concentrados na simples conversa dos dois, as informalidades, os apelidos e as risadas gostosas de ouvir, tudo misturado ao cheiro delicioso daquele chá... Allie se sentiu acolhido, ficou um tempo vagando em seus pensamentos até que uma grande xícara de chá aparece em sua frente.

—Allie tudo bem?— Johanna perguntou entregando a xícara para ele e sentando no sofá ao seu lado.

—Sim-sim, eu só estava descansando um pouco.— Com as duas mãos levou o objeto com líquido quente à boca e o sorveu com delicadeza para não queimar a boca, o leve sabor adocicado e o aroma suave o fizeram sorrir, o chá desceu bem a garganta e foi bem vindo ao estomago. –Que gostoso!

—Hehe... Eu falei que o chá era especial.

—Tudo bem gente, deixando a conversa fiada de lado. O que você quer Johanna? Por que apareceu depois de... Dois anos.

A mulher suspirou e bebeu mais um pouco do chá antes de coloca-lo na mesinha de centro da sala, mexeu com a mão nas pontas de seus cabelos compridos, tudo para enrolar um pouco antes de falar, talvez pensar em uma maneira coerente de falar.

—Acho que esse menino pode ter um dom, ele tem linhagem nobre no sangue e conseguiu detectar presença humana há uma distancia além do que minha visão concentrada pode buscar. A questão é que ele não tem conhecimento nenhum sobre o mundo, sobre as brigas de trono, sobre o torneio...

—E você espera que eu ensine tudo isso para uma criança? Em quanto tempo?

—O mais rápido possível!

—HÁ! Vocês humanos me matam de rir... Olhe para ele, está cansado, com fome e é muito inocente, onde você o encontrou?

—Ele é filho de Marrie, ela está morta.

Um silencio constrangedor tomou conta da sala, nem o leve vapor subindo do chá e espalhando o aroma gostoso pelo lugar pode disfarçar o clima que se tornou tenso.

—Isso explica muita coisa, mas ainda sim, não vai acontecer um milagre aqui Johanna, o que você quer fazer é impossível, precisa de tempo, treinamento e preparação.

As palavras dele não eram novidades para ela, ela sabia que talvez ainda fosse cedo, mas é a sua única chance de mudar o julgo que cairá sobre Ponta Imperial se ninguém fizer nada. Virando para o lado do garoto que parecia perdido em um campo de batalha, levou sua mão às bochechas dele e as apertou.

—Allie o que acha de tomar um banho, colocar alguma coisa limpa e quentinha? Titia Johanna precisa ter uma conversa com o Gioseph.

Allie assentiu com a cabeça e levantou deixando a xícara na mesinha de centro.

—É só seguir reto e entrar na terceira porta a direita menino, vai ter roupões limpos no armário, podem ser grandes, mas você dobra a ponta que vai ficar tudo bem. Deixa a sua roupa suja do lado de fora que a “titia” vai lavar essa sua roupa que amanhã já vai estar seca e limpa.

—É Allie.— Ela concordou mesmo não tendo gostado muito da última parte.

Depois que o menino se retirou Johanna largou a xícara de chá e levantou indo em direção da lareira, remexeu a sua mão e logo alguns pedaços antigos de lenha se incendiaram.

—O que acha de mudarmos do chá para o licor? Ainda faz aqueles queijos de cabra?

—Sim... Ainda faço os queijos.


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Notas finais do capítulo

Eu coloquei uma imagem na qual imagino como a Johanna é.
É a primeira vez que eu tento colocar uma imagem, não sei se ficou bom kkkkk



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