Desvios escrita por Sayumi Ota


Capítulo 13
Capítulo 12 - Razão


Notas iniciais do capítulo

Bem, oi gente! Desculpem pelo sumiço. Minha vida virou de cabeça pra baixo mais uma vez e eu precisei de um tempo para dar uma espairecida.
Este é o maior capítulo da história, então espero que seja uma recompensa pelo anterior.
Espero que gostem!



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Aquele sábado tinha um ar... pomposo. Diferentemente da forma como os sábados costumavam a ser, o dia pelo qual Cascão vinha enfrentando possuía uma essência rebuscada demais. Para ele, porém, aquele era um dia ainda melhor, pois ele havia decidido se libertar completamente de Cascuda. Já tinha prosseguido todo o caminho, chorado, reclamado, tentado reatar, brigado, e durante uns dias atrás tudo foi se amenizando. Quase como se fosse normal ele estar solteiro. Afinal, naquele instante ele usava uma fantasia do Capitão Pitoco feita com restos de TNT que ele achou, além de alguns acréscimos – também recicláveis – que o rapaz encontrou. E estava pronto para virar jogo.

A morena descia a rua silenciosamente. O frio em sua barriga poderia congelar ainda mais que a princesa do filme Frozen, porque a sua vontade era a de ficar em casa. No entanto, sendo amiga de quem era, ela não seria perdoada caso não comparecesse. Magali tinha andado pesquisando mais sobre o programa no qual Quim estava concorrendo, e pelo jeito ele tinha a prova final no sábado exato ao da festa da Carmem. Então ela não o veria lá, e ficaria mal como supunha ao vê-lo, provavelmente com uma garota, ou triste e solitário. E ultimamente Magali não sabia dizer o que era pior.

Cascão chegou às portas da mansão e encarou dois seguranças, exigindo o convite dele. Sem graça, Cascão procurou pela fantasia, e assim que achou o papel todo frufru, entregou aos guarda-roupas ambulantes. Os rapazes assentiram levemente com a cabeça, e o garoto entrou na casa de Carmem, onde uma música alta soava. Ele não sabia dizer o que era exatamente, mas parecia ser o tipo de música clássica.

Magali ajeitou a máscara em seu rosto, deixando praticamente só a região da boca sem o tecido da mesma. Ela andou indecisa até o dia anterior, e era tarde demais para fazer algo bem elaborado, como um cosplay de alguma personagem carismática, ou apenas algo mais legal do que o longo vestido vermelho que sua tia havia emprestado, um com a saia bem rodada, e a parte superior com alguns detalhes prateados. Parecia que ela estava indo a um daqueles bailes bem antigos, na opinião dela, ao invés de um baile a fantasia. Para não ficar só com o vestido, e também para evitar que ficassem apontando e questionando se ela tinha melhorado do chute de Quim, ela decidiu fazer uma máscara em um vermelho tom de sangue, que cobrisse a maior parte de seu rosto. E para ficar ainda mais irreconhecível, seus longos cabelos ficaram desamarrados. Ela não se sentia nem um pouco confiante, mas até mesmo para Magali, era bem visível que ela tinha de parar com todo aquele drama. Ela tinha que aceitar tudo como era, ou por enquanto, apenas tentar viver um pouco sem ficar triste.

Cascão logo encontrou alguns amigos. Titi, Jeremias e Cebola estavam conversando sobre uma partida de futebol que ocorreria no domingo, quando o moreno chegou. Os três pararam de falar e olharam o rapaz, de cima a baixo.

— Você nunca muda, né Cascão? – perguntou Titi, revirando os olhos. Ele estava com uma fantasia de Han Solo, o que era uma ofensa ao personagem, porém, Cascão estava alegre em ver que alguém mais curtia Star Wars.

— É, cara. – Jeremias em seu cosplay de Pantera Negra assentiu em concordância.

— Eu não sou o Cascão – respondeu Cascão. – Hoje eu sou o Capitão Pitoco.

— Sim, sim, Cascão. E eu sou um príncipe da Disney. – Cebola retrucou. Cascão não estava conseguindo identificar a roupa que o Careca usava, e ainda assim, parecia familiar a ele de algum modo.

— Ué, eu sempre pensei que você fosse uma princesa. – devolveu Cascão. Jeremias e Titi riram, enquanto Cebola estirou a língua. Ele pegou uma máscara e colocou-a no rosto.

— Podem ficar rindo aí. – Cascão finalmente se lembrou da veste de Cebola. Ele tinha usado aquela roupa para conquistar Mônica em um evento que eles foram. – Eu vou atrás das meninas.

E então Cebola se perdeu na multidão. Cascão estava um pouco orgulhoso de seu amigo. Perder a Mônica não foi fácil para o Careca, pior ainda foi ter aceitado o fato, e agora ele parecia não se importar tanto assim. Porém, Cascão nunca foi como o Cebola. Ele nunca teve que, de fato, paquerar alguém, pois sempre namorou a Cascuda. Perguntou-se novamente se ter vindo ao baile foi uma boa ideia.

— Mô, eu cheguei. – Magali estava em frente ao que pareciam ser seguranças da festa. Eles pareciam emanar uma áurea ruim, o que deixava Magali bem pior do que já estava. Mas, com tantos conhecidos que ela encontrara, e que não a reconheceram por causa dos trajes, a ideia de ter vindo não dava mais uma sensação de enjoo.

Do outro lado da linha, Mônica bufou.

Sua sorte é que estou escutando o barulho da festa, Magá, ou eu iria até a sua casa para confirmar se você tinha ido mesmo. – Magali esperou. – O DC está terminando de se arrumar e nós já vamos aí.

— Tudo bem. – respondeu Magali, um pouco mais baixo, pois alguns alunos do Limoeiro passaram por ela e entregaram os convites aos brutamontes.

— Tem certeza que não quer me contar a sua fantasia? Ou quer marcar um lugar para a gente se encontrar? – Mônica perguntou, aflita.

— Não, Mô. Tudo bem, aproveite a festa com o DC. Eu me sinto melhor estando aqui sem ser reconhecida. – murmurou Magali.

Tudo bem, Magá. Mas me diz uma coisa: você vai ficar bem? — Magali sorriu. Mônica sempre se preocupava com ela, era impressionante.

— Vou ficar, Mô. – E por mais que naquele instante as palavras soassem como mentira, Magali tinha a impressão que se tornariam verdade. Ou ao menos, ela gostaria que fosse assim. Hesitante, ela desligou o celular e entregou o convite aos seguranças. E engolindo a seco, ela entrou na mansão Frufru.

A música tinha alternado para um estilo eletrônico. Enquanto passava por pessoas com as mais variadas fantasias, Cascão procurava um lugar para se sentar. Não achava mais nenhum de seus amigos, e deprimido pela sua ignorância no quesito conquista, a festa de repente pareceu uma perda de tempo. Ele pegou uma taça com um garçom que estava passando, e achou um banquinho para sentar-se. Desconfiado, encarou o líquido laranja e sentiu o cheiro da bebida, pois duvidou que fosse um refrigerante de laranja. Não conseguiu decifrar o conteúdo e bebeu mesmo assim.

Sua cabeça começou a doer com a música Technologic do Daft Punk, e de repente tudo pareceu fazer mal a ele. O gosto doce da bebida em sua boca o deixava sedento por água, por mais irônico que parecesse. Ele olhava todas as pessoas dançando, inclusive o Cebola e uma garota que ele nunca viu, e de repente se deu conta que nenhuma daquelas meninas a agradava. Perguntou-se se a Mônica viria. E por mais que quisesse tirá-la do pensamento, queria também que Magali viesse.

Ela andava estranha com ele, como se o odiasse. Ignorava-o algumas vezes, e quando o respondia, quase sempre estava séria, mórbida. Ele tinha ido atrás de Joaquim para perguntar o que havia acontecido, porém o padeiro o expulsou da padaria, dizendo que não queria vê-lo se fosse para perguntar de Magali. Cascão havia até tentando puxar o assunto com Magali na primeira semana após o término. Tentou convencê-la a sair um pouco, deixá-lo ajudar, porém a morena não permitiu nenhuma das coisas. Ela apenas ficava quieta. E Cascão acabou desistindo.

Ao ver uma menina com um cabelo longo como o de Magali, Cascão pensou que ele estava errado. Ele tinha que sair dali, pedir desculpas a ela, e tentar de verdade animá-la, ajudá-la, mesmo se ela recusasse. Mesmo se ele percebesse de novo o quão insignificante ele era perto de Quim, e o quanto isto doía.

Magali o encontrou assim que foi para o centro da suposta pista, onde praticamente todos estavam dançando. Ela queria rir da fantasia de Cascão, feita com materiais recicláveis provavelmente, um cospobre digno do Capitão Pitoco. Ela continuou olhando-o, perguntando-se o porquê de o amigo estar tão pensativo.

Apesar de ter combinado mentalmente que não falaria com nenhum conhecido, o desejo de Magali era conversar com o Cascão. Eles quase não estavam se falando. A culpa a impediu de ir até ele e puxar conversa, pois ela o estava evitando também. Não queria que as pessoas maldosas pensassem que o término tinha a ver com o Cascão. Já deviam estar brigando com o Quim, e colocar o Cascão para ser julgado também seria insuportável.

Ela continuou parada no meio pista, olhando-o, quando um casal bateu nela. Era o suposto Justiceiro do último baile, e sua convidada não parecia em nada com a Mônica. A música eletrônica acabou, e o Justiceiro virou-se para pedir desculpas à Magali. Ela reconheceu a voz, mas não sabia exatamente de quem era. O rapaz a olhou de cima a baixo e ofereceu uma mão para ela. A música Shake it Off da Taylor Swift começou a tocar.

— Me concede esta dança? – perguntou ele. Magali quis dizer não para ele, mas estava curiosa para saber quem era aquele por quem Mônica tinha se apaixonado, ainda mais que parecia um conhecido à ela. Como não era uma música romântica, Magali assentiu e começou a balançar o corpo, lentamente. O mascarado imitou os movimentos dela, e Magali deu uma rápida olhada para Cascão, que ainda continuava sentado e pensativo.

Magali e o parceiro dançaram até a música acabar. Não tinha sido ruim, porém o mascarado não falou mais nada, e Magali não conseguiu decifrar quem era ele. Quando estava pensando que perdeu seu tempo, o rapaz falou.

— Você dança muito bem. Parece uma amiga minha. – disse ele, despedindo-se. O queixo de Magali caiu, devido ao espanto. O rapaz por quem sua amiga se apaixonou era o próprio Cebola.

Cascão viu seu amigo se divertindo com outra garota, uma aparentemente muito bonita, que tinha o cabelo parecido com Magali. A música acabou e Cebola logo saiu dali, enquanto uma melodia rápida tocava. Cascão observou a morena, que olhava confusa para a direção de Cebola, e decidiu ir atrás do amigo. Ele levantou e caminhou até a direção da garota.

— Oi, você viu o – A garota estava esperando ele terminar de falar, quando alguém o empurrou e ambos caíram no chão. Cascão rapidamente se pôs em pé, e estendeu a mão para a garota, sentindo-se muito mal pela situação constrangedora que tinha acontecido. Ela aceitou sua ajuda e ficou de pé.

— Olha, hum, desculpe – pediu ele. Ela parecia paciente e intimidadora. Ou ao menos agora Cascão sentia seu rosto corar por causa do tombo dos dois. Uma música romântica começou a tocar e Cascão desistiu da ideia de procurar por Cebola. Iria embora sem avisá-lo, mesmo. Ele começou a sair de perto da morena, quando alguém o puxou pelo braço. Ele se virou e era a moça. Cascão sentiu seu coração bater mais rápido. Será que ela estava com raiva.

— Po-pode dançar comigo? – perguntou ela, timidamente, com uma voz rouca, como se estivesse sendo forçada. Cascão olhou para os lados, achando que era com outra pessoa, quando se lembrou que ela estava segurando seu braço.

Ele assentiu, como uma recompensa à garota, pela situação anterior. Ele segurou a mão direita dela com a sua esquerda, e colocou a mão dele nas costas dela. Os dois começaram a dançar, enquanto a música tocava.

I'm not a perfect person

There's many things I wish I didn't do

But I continue learning

I never meant to do those things to you

And so I have to say before I go

That I just want you to know

Magali sentia seu rosto corado, e seu coração batendo rápido. O que tinha dado nela por pedir para que ele dançasse com ela? The Reason também não ajudava o clima a ficar menos constrangedor. Ela colocou a cabeça no peito de Cascão.

I've found a reason for me

To change who I used to be

A reason to start over new

And the reason is you

Cascão não sabia o porquê daquela garota ter deitado a cabeça no peito dele. Era estranho e ao mesmo tempo o deixava feliz, ele não sabia direito. Ele sabia que a última vez que dançara com alguém foi com Cascuda, e ainda assim, aquilo não estava tão triste assim.

I'm sorry that I hurt you

It's something I must live with everyday

And all the pain I put you through

I wish that I could take it all away

And be the one who catches all your tears

That's why I need you to hear

Magali se perguntou porque ela estava se comportando daquela maneira. Talvez fosse por causa daquele quase dos dois? Por que agora ambos estavam solteiros de novo e talvez ela não quisesse pensar na ideia de gostar dele? Ou de se desapontar como da última vez? Teria Cascão alguma vez gostado dela? Ou ela que se apaixonou por Cascão uma vez e nem percebeu?

I've found a reason for me

To change who I used to be

A reason to start over new

And the reason is you

And the reason is you

And the reason is you

And the reason is you

Cascão sentia que era um idiota. Ter uma garota daquelas em seus braços enquanto dançava e ficar pensando em outra. Na verdade, em outras. Ele tinha que ver se Magali estava bem, não ficar se divertindo.

I'm not a perfect person

I never meant to do those things to you

And so I have to say before I go

That I just want you to know

De repente, Magali sentiu todo um peso de novo cair em seus ombros. O que ela estava aprontando agora? Por que sempre tudo ficava confuso se tratando do Cascão? Era porque ele era um amigo muito próximo? Ou porque agora os dois tinham a chance de revelar o que sentiram um pelo outro daquela vez? Ou só ela sentiu? Ou era cedo demais? Ou por acaso ela queria esquecer o Quim e Cascão a ajudaria? Não. Tudo menos aquilo. Ela sabia que não agia assim.

I've found a reason for me

To change who I used to be

A reason to start over new

And the reason is you

Cascão quase se soltou da garota para ir atrás de Magali, quando a mesma se afastou um pouco de seu peito. Cascão se virou para olhá-la, para saber o que tinha acontecido.

I've found a reason to show

a side of me you didn't know

a reason for all that I do

and the reason is you

Magali estava cansada de viver incerta sobre o passado, arrependida ou apenas confusa pelo que poderia ter acontecido. Ela se soltou de Cascão por completo, primeiro tendo afastado a cabeça do peito dele, e depois se desvencilhando, e colocou-se na ponta dos pés. Ela segurou o rosto dele e antes que pudesse pensar duas vezes para se impedir, deu a ele um beijo rápido.

Ela se soltou dele, certa de que seu rosto estava mais vermelho que o vestido e viu a expressão chocada de Cascão.

— Eu, eu, me desculpe. – pediu ela, esquecendo-se de forçar a voz. Ela começou a correr em direção à porta, e sentiu que estava sendo seguida. Abriu as enormes portas de madeira, e correu para fora. Quando passou pelos degraus, ouviu uma voz.

— Magali? – gritou Cascão.

Magali parou, e virou para olhá-lo. Ele parecia muito mais confuso que ela. Magali negou com a cabeça e voltou a correr, para longe dali. Ele não podia saber que era ela.

Cascão observou a garota desaparecer distante, e jogou seu corpo em um dos degraus, com a boca aberta. Magali não só o beijara, como mentira para ele. Aquela voz dócil com toda a certeza era dela.

E o que ele fazia agora?


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada à nandinha berry e MelMelissa por comentarem!! Suas lindas, muito obrigada, vocês me motivam a continuar. E também à fofa da Hanninha99 que comentou em um monte de capítulo, apesar de a história já estar tão adiantada assim (muito obrigada mesmo!!).
Bem, eu não tenho muito o que dizer. Espero saber o que vocês acharam. Vejo vocês nos comentários! Até o próximo o//. Bombons de chocolate



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