Apaixonada? Até parece escrita por sweettlovve


Capítulo 7
Tédio


Notas iniciais do capítulo

Yo, minna-san!
Boa leitura, gomen qualquer erro.
Ja ne.



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Mais um dia. Um dia tedioso, porém lindo, principalmente àqueles que podem sair de casa ou fazer qualquer outra coisa.

Vejamos, o que eu fiz desde aquele pedido de "sinceras" desculpas? Lavei, sequei e guardei a louça do almoço e jantar; tive a honra de escutar os lendários sermões de meu pai; e para piorar drasticamente a situação: sem acesso a aparelhos eletrônicos ou que façam uso de wi-fi. Mas por outro lado, fiz o dever de matemática e biologia, organizei meus amados livros e melhor ainda: maneiras criativas e práticas para torturar Justin.
Minha mãe, para me deixar afundar na bosta de vez, ainda não fez menção sobre aquele castigo "conjunto" com o infeliz.

Como é fácil perceber, minha vida está um mar de rosas. Eu vou ter um treco se continuar trancada sob um teto. Vou enlouquecer! Ficar só num quarto, sem companhia, sem passatempos me corrói. É um pouco triste. Mas porque estou incomodada? Poderia estar pior.

Não aguento! Me levanto da cama, guardo meu livro na prateleira e saio do meu refúgio de paredes azuis.

Vou até a sala e outros cômodos a procura de mamãe. Entro em seu quarto e o avisto vazio, mas sendo suíte, e a porta do banheiro fechada com som de água caindo; tomando banho.

Como minha falta de educação se sobressai, bato na porta com insistência.

– O que foi, Daniela? Não se pode mais nem tomar banho em paz?! Esqueceu?, cas-ti-go! - Grita irritada, no entanto, o som sai abafado pelo chuveiro. Ah, pelo visto vou morrer sozinha de castigo por causa de uma brincadeira.

– É... Deixa para lá... Eu só vou comer alguma coisa e descansar no meu quarto - ela murmura algo em aprovação e eu me retiro do quarto espaçoso em tons de bege e marrom.

Desço as escadas de madeira de dois em dois e me dirijo à cozinha. Preparo um lanche com bastante ketchup e alface, um suco de uva e uma goiaba para voltar ao quarto/ prisão.

Tá, não é tão ruim meu quarto: paredes azul-turquesa, estante e prateleiras brancas, mesa de estudo, cama, guarda-roupa... Um quarto normal, exceto pela minha fixação por bichos de pelúcia.

Depois de me alimentar devidamente, uma ideia seduzente aparece, me tentando a ficar mais tempo castigada. Já estou ferrada mesmo...

Elizabeth, aquela vaca que eu tenho como amiga, está num emprego novo e como bela amiga que eu sou... Fazer uma visitinha...

A cada dois meses Liz enjoa do emprego e busca um novo, a bola da vez é ser caixa de supermercado. Conforme me explicou, irá aparecer um cliente sexy para ela lançar seu charme. Tirando o detalhe que ela tem uma mente de velha tarada e pervertida, é uma boa pessoa.

E como sair de casa escondida sem ser descoberta, tem como? É claro!

– Usar a rede de Pó de Flu (Harry Potter), espera, não tenho lareira! *lágrimas*

– Desaparatar. Nunca recebi minha cartinha de Hogwarts...

– Vassouras? Tive um trauma aos nove anos por pular dá escada montada na vassoura...

O jeito é sair pela minha janela. E, por ser muito sortuda, na parede de casa cresce aquelas plantas que criam raízes no solo para se manterem em pé. Fácil, fácil.

E eu nunca pensei em sair sorrateira pela porta? Sim, sempre, mas fui pega no ato onze vezes. Triste.

Levo meu prato e copo até a cozinha e quando passo pela sala, vejo mamãe lendo sem notar que tem uma filha inquieta.

De volta a minha bat-caverna, esconderijo, muquifo...; visto uma calça jeans preta, camiseta dos Beatles, all-star de couro e um colar com um pingente de pedra cor azul-safira. Penteio com os dedos minha franja reta e amarro meu cabelo ruivo num rabo de cavalo alto. Pego um dinheirinho para doce e iniciar missão!

Com leveza, abro a janela puxando-a para cima e coloco metade do meu corpo para fora, procuro um ponto em que me apoiar e jogo o resto do meu corpo para fora. Descendo com cautela, vou me segurando a planta. Quando faltava pouco mais de um metro, meu pé direito escorrega e minhas costas se choca com a grama. Meio "grogue" com a queda, me levanto e começo a caminhar.

Fim de tarde, quase seis horas. O céu, daquele intenso azul, se misturava com o alaranjado, tons de rosa e poucos raios solares. O vento esfriando conforme a noite chegava e eu, caminhando sem pressa pelas calçadas pouco movimentadas.

Agora sim, posso respirar em paz e me sentir bem melhor.

Liz, mesmo consciente de que estou de castigo, já deve ter pensado que me matei. Vou fazer surpresa!

Meus olhos esverdeados se fixam numa barraquinha de churros, ninguém é de ferro...

– Por favor - sou educada quando quero -, um de chocolate e outro de doce de leite.

Quando terminei de comer os churros - ótimos, diga-se de passagem - já estava na esquina do mercado quando o vejo: alto, moreno, cabelo cor de mel e olhos da mesma cor. Justin, sem olhar para trás e perceber minha presença, entra no mercado e uma ideia "maravilinda" brota nessa cabeça.

É, o fim do meu tédio chegou.

Mercado adentro, procuro Eliza e não demorou muito para avistar uma figura alta, cabelos loiros presos num coque desajeitado e uma face indiferente.

– Hey!, sua vaca! Aqui, ó! - Grito a poucos metros de distância e a vejo virar o pescoço com um sorriso estampado no rosto.

Chego até ela.

– Minha vadia favorita!

– Tem outra? - A acuso com um olhar fulminante.

– Você é única, sabe disso! Mas... o que faz aqui?

Me finjo de ofendida na hora.

– Quer dizer, 'tá liberada do castigo? - desvio o olhar - Sua mãe sabe que... Daniela, Daniela! Você fugiu! - sorrio amarelo.

– Estava cansada de ficar sozinha... - Faço bico. - Mas, você não vai acreditar! O Justin acabou de entrar e... Favorzinho da minha queridinha Elizaaaaa! - Começo a contar o plano.

– E o meu emprego, Dani? - fiz minha melhor cara de cachorro que caiu do caminhão da mudança e está sozinho faminto na chuva. - Iria pedir demissão mesmo...

– Te amo, Liz!

Elizabeth fecha o caixa e eu vou procurar o dito cujo. No corredor de shampoo, perfeito! É o destino! Quando ele larga o carrinho no canto e vai para outro corredor, observo que para consultar o preço do shampoo, meu plano começa.

Pego um produto e danifico o código de barras (sem querer querendo, eu juro!) e escondo nas compras dele.

Volto ao caixa de Liz e me sento no chão ao lado dela.

Sim, eu sei que é errado, eu só fiz isso porque o Justin...

...O que ele fez, mesmo? Ah, esquece! Só para matar o tempo.

– Ei, rapaz! O caixa abriu, pode vir! - No momento em que Eliza o chama, juro que pude sentir metade do mercado parar e lançar um olhar mortal. Quinhentas pessoas passaram nesse mesmo caixa e perguntaram se estava aberto. Trouxas... Brincadeira...

– Bom dia, CPF na nota? - Caramba Liz, que voz de falsete.

– Não, obrigado. Elizabeth?

– Ah, oi Justin!

Eliza começa a passar os produtos e ficou difícil segurar o riso.

– Ah, um produto está danificado, eu providencio outro.

– Quê pr- - Antes dele terminar a frase, eu apareço como num passe de mágica, pego o microfone e faço minha melhor voz de falsete:

– Por favor, caixa 16, produto danificado. Algum funcionário vá ao quinto corredor e pegue uma embalagem de preservativos 250 unidades, maior prazer e lubrificação, sabor morango. Tamanho P, repito, P. - Olhei pela primeira vez no rosto dele e o vejo vermelho, só não sei de vergonha ou raiva.

– Daniela... - Ih, não me chamou de ruivinha... - Me dê um único motivo para não te matar. Só um! - Ele olha no fundo dos meus olhos, com as sobrancelhas franzidas e uma expressão não muito legal...

– Cara feia para mim é fome! - digo essa frase e me apresso até a saída onde já era noite e as estrelas brilhavam  timidamente.

– Volta aqui! - Justin estava a poucos metros de mim sem compras sem nada. Ele não tem que voltar para casa, não?

Corro mais rápido sem me importar para onde meus pés estão me levando.

Corre, corre, corre... As únicas palavras que passam pela minha mente.

Com a respiração acelerada, sentindo meu coração pular pela boca, noto que estou mais devagar e isso é péssimo.

Viro a esquina e me escondo no beco mais próximo. Tento inutilmente corrigir a respiração para não denunciar minha posição, infelizmente, isso não foi preciso. Ele virou nesse beco e me fitou com os braços cruzados. No escuro não consegui decifrar sua expressão, mas tenho certeza que não era de felicidade.

Ele também está recuperando o ar. Sinto sua respiração acelerada bater contra meu rosto, na verdade, minha testa. Isso me deu consciência de que estamos separados por poucos e míseros centímetros.

– Me diz... Você é usuária de drogas... Você... Só pode... Ter... Algum problema...

– Bem... Para matar o tédio... - Isso é um bom motivo, é?

– QUÊ?! - Não para ele...

Num movimento rápido, chuto sua canela e saio correndo de novo. Não estava um clima bom...

Para minha incrível sorte, vejo um ônibus e entro desesperada, pago a passagem e me sento só no último assento. Sã e salva.

Sã...

E salva...

– Tô curioso para saber o que sua mãe pensa das suas travessuras...

Solto um grito ao ver Justin do meu lado. Como ele entrou e se sentou do meu lado sem eu perceber?

– Quer me matar de susto?! - Digo com a mão no coração.

– Você que quer me matar! Eu não sei você, mas era para eu já estar em casa.

– A culpa não é minha se você não aguenta brincadeiras!

– Ah, claro! Desculpa, dona da razão, com certeza é normal alguém me atender e dizer para o mercado inteiro sobre camisinhas.

– Viu? É normal! - cruzo os braços. - E espero, que você saiba também que metade de curiosos está te escutando.

– Me diz, como pode existir alguém tão sem educação e sem noção?

– Agora o senhor Justin "coitadinho" está me ofendendo?

– Não, imagina, é só impressão!

– Não aumenta o tom de voz comigo, que eu não sou suas amiguinhas! E nem vem reclamar, você sabe que quem começou tudo isso foi você! Naquele dia de aula, satisfeito?

– Claro, se eu soubesse que quem frequentasse a escola fosse você desistiria da vaga.

– Então, desiste, colega!

– Ei, dá para o casalzinho parar de discutir? - O motorista diz se achando o dono da razão. Folgado.

– Eh? Vai cuidar da sua vida, então. - Saio pela porta mais próxima e me encontro na rua sozinha novamente.

Que saco! Será que é proibido viver em paz agora?

Retiro a fivela e solto meu cabelo, já estou ficando com dor de cabeça.

E eu estou com frio. Linda hora que eu decidi sair de casa! Pior ainda: sem celular.

Burra! Burra! Burra!

Para onde eu vou? Reformulando: Onde eu estou?

Burra! Burra! Burra!

– Ruivinha! - Minha salvação! Ele me seguiu. Isso é bom ou ruim?

– Hm, perseguidor.

– Menos, tá? Você que é louca de andar sozinha pela noite!

– E desde quando você se importa comigo?

– Pode ter certeza que não é de hoje a tarde. Aliás, onde estamos?

– Quem me dera!

– Quê? Quem mora aqui a vida toda é você! Eu acabei de me mudar.

– Não me culpa! Você que me obrigou a isso.

– Claro, nossa, eu iria te matar, é?

– Parquinho! - Minha atenção é posta no parque ao meu lado. Tanto tempo que eu não brinco em um! Dane-se o Ken.

– Hã? - Saio correndo até chegar ao pequeno espaço coberto de areia e me sento no balanço.

Começo a me balançar enquanto Justin para ao meu lado.

– Olha a criancinha! Que fofoooo, brincando no parquinho! - Ele agarra minhas bochechas e as aperta - Fofaaaa!

– Fica na sua, cosplay de Thor!

– Você tem sardas! - Me ignora e se aproxima de mim, me fazendo novamente sentir sua respiração bem perto do meu rosto.

– Sim, e daí? - será que ele não sabe o que é "meu espaço"? - Vai, me empurra!

– Olha a minha cara de empregado?

– Vou precisar dizer de novo?

Ele começa a me empurrar, é tão legal brincar de balanço.

– Vai mais rápido, parece que não teve infância! - Aí esse corno escuta o que eu disse, me empurra e eu caio de cara na areia.

– Ruivinha...? - Logo, sinto braços me virando para cima. Começo a tossir areia desesperada, vermelha com uma leve falta de ar. - Ei, respira!

– Vo... C... Me... M... Matar? - digo com dificuldade cuspindo areia.

– Claro! "Vai mais rápido!" - ironiza numa tentativa fajuta de imitar minha voz.

– Hum! - Viro a cara e percebo sua mão balançando na minha cabeça retirando areia.

Permaneço sentada e Justin pega o celular.

– Vou ver onde estamos - avisa. - Só você para sair por aí sem celular.

– Você acha mesmo que se eu tivesse meu celular, teria saído de casa?

Minha atenção é puxada pelo céu estrelado e a lua nova, mas depois me pego observando-o. Estranho.

– Agora só precisamos saber como voltar.

– Depois vemos isso - volto minha atenção para o silêncio da noite.

Finalmente, meu tédio acabou.


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