Hello... It's me. escrita por Gambino


Capítulo 1
Capítulo Único




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Os olhos fechados ajudavam a garota - ou melhor, a mulher de vinte e oito anos completos naquele dia - a apreciar o vento que batia de modo suave contra sua pele, como uma caricia de um amante apaixonado e amoroso. A sombra de um mínimo sorriso apareceu nos cantos de seus lábios, demonstrando seu agrado com aquilo enquanto os fios ondulados e castanhos balançavam graças à brisa a medida em que seus braços se abriam. E então, aquela sensação de que ela poderia voar tomou conta de seu corpo, fazendo-a entreabrir as pálpebras lentamente e fitar o horizonte formado por grandes arranha-céus.

“Olá, sou eu…” Foi isso o que a jovem escutou naquele manhã ao resolver ouvir os recados de seu correio eletrônico. Aquela voz masculina, lenta e com um leve sotaque italiano metido no inglês. Ela fechou os olhos e trouxe a xícara azul de café para contra o peito, como se estivesse tentando se proteger das lembranças que aquele timbre lhe ocasionou além do arrepio que percorreu sua pele. “Eu estava me perguntando se… Depois de todos esses anos você gostaria de me encontrar… Para falarmos sobre tudo o que aconteceu…”

Ela se esforçou tanto para conter qualquer emoção com aquele recado simples, e conseguiu, até o presente momento. Uma lágrima solitária traçou um caminho único sobre a pele macia de sua bochecha e morreu entre seus lábios rosados e entreabertos, aos quais já não tinham mais qualquer resquício de um sorriso, e com isso, seu olhar vazio deixou de deslumbrar a floresta de pedra a sua frente e passou a dar atenção para a rua movimentada logo abaixo. Tantos veículos e tantas pessoas, cada uma perdida em seu próprio mundinho, com os seus problemas tão patéticos e se importando apenas com elas mesmas. Mas quem ela estava querendo enganar? Encontrava-se no mesmo barco, deixando-se levar pela correnteza que por muitas vezes quase a virou.

‘Depois de todos esses anos’... Foi o que ela ouviu em seguida, e sentiu na pele as consequências desse tempo. Todos disseram para ela que o tempo devia curá-la, mas ela não se curou nem um pouco. A mulher ficou durante um longo tempo escorada contra a parede, o café esfriando na caneca entre suas mãos enquanto ela tinha o olhar fixo para o céu azul do lado de fora de seu apartamento. Ela deveria responder? Aceitar conversar com ele?

“Olá, você pode me ouvir?” Esforçou-se tanto para que sua voz não saíssem falha, tremida enquanto o nervosismo percorria suas veias. Ela queria tanto ouvi-lo outra vez, ao mesmo tempo em que esperava que ele não atendesse. “Estou na Califórnia… Sonhando com quem costumávamos ser… Quando eramos mais jovens e livres… Eu… Eu esqueci como era antes do mundo desabar aos nossos pés…” Sem conseguir dizer qualquer outra palavra, ela desligou e segurou a cabeça entre as mãos, deixando os dedos entrelaçados em seus cabelos ao respirar profundamente, tentando conter todas as emoções que procurava guardar dentro de si.

E que agora finalmente transbordaram, ela colocou ambas as mãos sobre a boca e conteve um soluço a medida em que as lágrimas deslizaram por sua face. Há uma grande diferença entre eles agora e um milhão de milhas, as quais ele estava disposto a eliminar se assim ela permitisse. A jovem já não se sentia mais livre estando no alto daquele prédio, com aquela brisa fresca e aquela visão maravilhosa da noite sendo iluminada pelas luzes da cidade.

Ela se sentia presa.

Presa a ele.

Presa ao passado deles.

“Devo ter ligado mil vezes… Me desculpe por tudo o que fiz… Mas quando ligo parece que nunca está em casa…”  Estas haviam sido as primeiras palavras que ele dirigiu a ela após aqueles anos. Por um momento ela acreditou que ele realmente se importasse e sentisse muito, mas então lembrou que não podia confiar nele. Não podia confiar em ninguém, nem em si mesma. “Pelo menos eu posso dizer que eu tentei te dizer… Me desculpe por partir seu coração… Mas não importa, claramente isso não te machuca mais…”

Ela ergueu seus olhos entristecidos para o céu negro e sem estrelas outra vez. Estava a um passo de mudar tudo. Literalmente. Um passo para trás e terá que lidar com o passado. Um passo para frente e Game Over. O que deveria ser? O que deveria escolher? Ela era corajosa ou era covarde?

“Você conseguiu sair daquela cidade onde nada nunca acontecia?” Ela já sabia que sim, ela sabia - por intermédio de outros - que meses depois dela ter ido embora daquela pacata cidade em que todos se conheciam, ele havia saído também, alegando que aquele lugar era pequeno demais para a grandiosidade, para a ambição, dele. Mas será que era verdade? Não era apenas por remorso e cansaço dos comentários que os vizinhos cochichavam enquanto ele passava pela rua? Pelo corredor da escola? No andar debaixo da casa em que morava?

A jovem fechou seus olhos lentamente a medida em que seus braços se abriam outra vez, inclinando a cabeça para trás e deixando com que o seu próprio corpo tomasse a decisão que a sua mente relutava em escolher… E então… Segundos depois… Tudo o que havia era o frio e a escuridão...


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Notas finais do capítulo

E então gente, vocês acham que ela se jogou do prédio mesmo ou ela só caiu pra trás e desmaiou no sereno da noite hein???? Deixem suas opiniões, expectativas, o que sentiram enquanto liam, etc etc nos comentários! Vou adorar ler e responder.

Ps: Não citei nomes, mas escrevi pensando em Delena...

Até!

K,.



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