Acapella escrita por Nayou Hoshino


Capítulo 5
Esquecer não é de todo ruim




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Key nos deixou em casa depois do lanche, era mais prático já que ela estava de carro e eu e Misty estávamos a pé. Embora as duas tenham se dado bem às minhas custas, eu estava feliz e satisfeito com o resultado do nosso passeio. Ter chegado de carro em casa rendeu algumas perguntas de Leigh, mais ainda de Rosalya quando ela descobriu que era uma garota no volante. Depois de uma infinidade de perguntas que eu não soube responder, ela me liberou e eu finalmente consegui chegar no meu quarto e me trancar como de costume.

Percebi, quando Key foi pagar a o conta, que ela tinha uma tatuagem em seu pulso. Uma clave de sol, já a tinha visto muitas vezes nas revistas de Castiel. Na hora, pareceu pouco importante, mas pensando agora até que não era má ideia chamá-la para ouvir nossa banda ou até mesmo fazer parte dependendo do rumo das coisas. O próprio Castiel vinha reclamando do excesso de testosterona nos ensaios, Misty não gostava de acompanhar os ensaios, mas sempre comparecia aos show para me apoiar. Cheguei a pegar o celular para mandar uma mensagem para Key contando minha ideia, mas só então lembrei que não tinhamos trocado números, se queria ter uma amizade com ela isso era um passo importante que não podia pular.

Meu celular vibrou no bolso e eu o peguei, uma mensagem de Misty:

“Até que foi divertido. Obrigada por ter sido um vitoriano chato e me obrigado a ir :P”

Não pude conter um sorriso, sacudindo a cabeça para um lado e para o outro. Ela não mudava nunca, sempre fora durona e teimosa... Mas no fundo, era adorável. Enviei uma mensagem de volta agradecendo e abusando dos smileys, do jeito que ela gostava de fazer propositalmente para me irritar, pois sabia que eu não entendia metade dos significados. Deixei o celular sobra a mesinha de cabeceira ao lado do único porta-retrato do meu quarto, que envolvia uma foto antiga minha com meu irmão e nossos pais na frente da fazenda, típica foto de quem é do interior e mora em uma fazenda. É, tipo a dos filmes mesmo. As outras fotos da nossa família estavam no álbum dos meus pais, algumas poucas enfeitavam a sala do pequeno apartamento onde eu vivia com Leigh.

Peguei a foto com um pouco de saudade e a observei por um momento, dominado por um sentimento de nostalgia. Fazia tempos que meus pais não nos visitavam, era difícil a viagem da fazenda pra cidade grande, ainda mais para dois senhores de idade. Tinha sido difícil me acostumar a vida sem eles, mas agora eu só me concentrava em ter algo para lhes contar sempre que vinham.

— Lysandre! — Leigh me chamou, pela intensidade da voz estava na beira da escada que levava da loja à nossa casa.

— O que foi, Leigh? — Me levantei e abri a porta, atravessando a sala a passos lentos.

— Sua amiga quer te ver! — ele respondeu, dizendo algo mais baixo de forma que eu não conseguisse ouvir por conta da distância.

— Amiga? — perguntei, abrindo a porta e começando a descer as escadas.

— Olá... — Key acenou do pé da escada com um sorriso — Acho que esqueceu uma coisa no meu carro... — Ela sacudiu o meu bloco de anotações com uma das mãos.

— Ah... — eu apalpei meu corpo istintivamente procurando por ele, mesmo o vendo na minha frente. — É verdade... Obrigado.

Eu desci mais alguns degrais até conseguir alcançar o bloco, pegando-o e dando um sorriso de agradecimento para Key. Rosalya pigarreou de trás dela, atraindo minha atenção.

— Ela voltou todo o caminho apenas para lhe trazer seu bloco de notas — Rosa cruzou os braços, empinando o quadril para o lado numa pose mandona. — Ofereça pelo menos um copo d'agua e agradeça direito.

— Não precisa... — Key riu sem graça, acenando a mão na frente do rosto.

— Ele insiste. — Rosa abriu um sorriso, indicando que Key podia subir.

Soltei um suspiro um pouco constrangido, Rosalya era decidida e não deixaria Key em paz. Ela gostava de ver meu irmão feliz e sabia que nada o deixava mais feliz do que me ver me dando bem com outras pessoas. O problema é que às vezes ela exagerava um pouco e acabava causando um pequeno desconcerto em mim e em suas outras vítimas. Fiz um gesto para que Key apenas desistisse e me acompanhasse, dando meia volta e subindo de volta as escadas. Ouvi os passos dela logo atrás de mim e fiquei um pouco nervoso, a única pessoa de fora da minha família que eu já tinha trago em minha casa tinha sido Misty, mesmo assim, ela era quase da família então não contava muito. Pelo menos eu e meu irmão tinhamos o hábito de manter as coisas sempre arrumadas, o que tornava tudo um pouco menos vergonhoso.

Aguardei na porta enquanto ela terminava de subir, logo ela alcançou a sala e olhou em volta, parecendo surpresa.

— Então é assim o apartamento de dois homens... Até que é organizado. — ela me olhou com um sorriso bobo — Esperava algo mais bagunçado.

— Nossos pais nos ensinaram bem. — Dei uma risada, indo até a cozinha que ficava quase do lado da porta. — Quer uma água? Ou um suco... um café...?

— Obrigada, mas ainda estou com a bebida do Starbucks bem recente, então estou bem. — Ela fez um joinha pra mim, mexendo o polegar de forma divertida. Seus olhos parecem ter localizado algo atrás de mim, então me virei antes que ela pudesse fazer a pergunta, acompanhando seu olhar. — Sua família?

— Sim, meus pais... — Sorri para a foto que Leigh tinha tirado dos meus pais enquanto eles riam fazendo o café da manhã.

— Ah, seus pais? — Ela pareceu surpresa, provavelmente pela idade deles, como sempre acontecia. — Agora seu jeito faz um pouco mais de sentido...

Dei uma risada e aproveitei que estava na cozinha pra me servir um copo d'agua, caminhando até o sofá e me sentando. A encarei por alguns segundos mas ela ainda parecia distraída com a foto dos meus pais. Será que sentia falta de seus pais e seus irmãos?

— Me diga, como são seus pais? — tentei ser educado, indicando o lugar ao meu lado para que ela se sentasse.

— Ahm... Meus pais? — ela parecia meio pertubada, mas veio até mais perto, sentando-se onde eu indicara. — Bom... Acho que são normais. Quer dizer, fui criada só pela minha mãe e por um padrasto que... Bem, não nos dávamos muito bem.

— Ah... Sinto muito... — corei e me repreendi mentalmente, tinha dado uma bola fora e tanto agora. Toquei justamente em um assunto delicado... — Eu não queria ser indelicado...

— Não se preocupe. — ela sorriu pra mim, tentando disfarçar algo. — Isso é... Sertanejo Universitário?

Ela deu uma gargalhada enquanto apontava para o ar, só então eu consegui ouvir uma música baixinha, quase imperceptível, era o toque do meu celular. Corei um pouco, tinha esquecido de mudar o toque e agora Key podia achar que eu, um rapaz tão trevoso, curtia uns arrochas escondido da sociedade. Me levantei apressado e fui direto para o quarto, alcançando o celular um pouco antes do último toque.

— Alô? — disse, ainda um pouco afobado.

— Fala grisalho... Então, só queria avisar que não vamos poder ensaiar esse fim de semana, a Debrah está aqui mano... — Castiel suspirou do outro lado da linha, mas dava pra perceber que ele estava feliz

— Ah, tudo bem então. É só um final de semana. — dei uma risada na tentativa de fazê-lo relaxar. — Além do mais, tem que aproveitar sua namorada também, não estão juntos nem a duas semanas e já se vêem tão pouco....

— Não vou deixar uma mulher entre os nossos sonhos sonhos maninho, só vou passar esse final de semana inteiro com ela porque ela meio que me intimou e tal, tentei resistir mas... — ele gaguejou um pouco

— É, eu sei como é... — contive uma risada, Castiel odiava se mostrar um rapaz apaixonado, mas era exatamente como ele tinha soado para mim.

— Valeu então por entender Lysandre, nos vemos na segunda! — ele disse animado antes de desligar.

Desliguei o aparelho e olhei para a tela onde os números piscavam de leve indicando a hora: 20:15. Virei para trás e me surpreendi com Key ali na porta do quarto. Ela tinha sido educada ao ponto de não entrar, mas seus olhos percorriam distraídamente as fotografias cuidadosamente coladas em um painel de camurça sobre a minha cama.

— Você é bem fotogênico, parece um lorde inglês em todas as fotos. — ela disse numa risada suave. Logo se dando conta de algo e corando um pouco — Ah, desculpe ter me entrometido assim... Só fiquei um pouco curiosa.

— T-tudo bem... Eu acho. — dei uma risada nervosa enquanto passava a mão pelos cabelos um pouco tímido. Era certo ela estar no meu quarto sendo que nos conhecemos a menos de uma semana e era a primeira vez que vinha à minha casa? Tenho quase certeza que isso não era nada vitoriano para nenhum de nós dois.

Ela desceu o olhar do painel de fotos para a cama ligeiramente bagunçada, corando um pouco antes de seus olhos correrem para a bagunça de folhas e cadernos que estava sobre a minha escrivaninha.

— Você escreve bastante... Deve ser bem criativo. — ela se inclinou um pouco para frente, tentando enxergar melhor ainda sem entrar no quarto.

— Obrigado, mas acho que não é pra tanto... — sorri e estiquei um pouco a cama enquanto ela estava distraída. — Pode entrar, Key. Você não é um vampiro nem nada assim... — dei uma risada

— Tem razão né? O único vampiro aqui é você. — ela riu ainda mais, apontando para minhas roupas enquanto dava alguns passos para dentro do cômodo.

Key olhou um pouco em volta, parecendo um pouco curiosa e admirada dependendo do que via. Acabou por sentar em minha cama, apoiando as mãos na mesma e se inclinando um pouco para trás.

— Você realmente vive em um ambiente criativo, agora tuuuuudo faz sentido.

— Um escritor precisa de inspiração às vezes... Embora a maioria das minhas músicas sejam criadas fora deste quarto. — Dei uma risada e comecei a organizar um pouco a escrivaninha, separando as folhas em usadas e não usadas.

— Hum... — ela olhou para o teto, encarando a tinta branca um pouco descamada por alguns segundos. — Você deve estar certo... Viver como um pássaro não deve ser a fonte de todas as suas inspirações.

— Isso é meio subjetivo... — Me sentei no banco da escrivaninha, ficando de frente para Key. — Na fazenda onde cresci eu geralmente escrevia em lugares fechados. Acho que é o prazer que importa.

Key me olhou rapidamente com um sorriso um pouco travesso e deu uma pequena risada, corando um pouco. Ela se levantou em seguida, inclinando-se pra arrumar a cama onde tinha se sentado e ajeitando a roupa em seguida.

— Eu tenho que ir agora, ainda preciso arrumar algumas coisas em casa... — Ela olhou pra mim, com um sorriso meio triste, como se não quisesse me deixar sozinho ou, só talvez, ficar sozinha.

— Venha, eu te levo até lá embaixo... — Me levantei também, retribuindo seu sorriso. Tinha gostado de sua visita.

— Oh, obrigada Lys-senpai... — Ela deu uma risadinha, fingindo uma reverência e logo começou a rir ainda mais.

Dei um tapinha na testa dela, me juntando a ela na risada descompassada. Fomos caminhando até a porta e de lá descemos as escadas. Ao chegar na loja, Rosalya e Leigh nos observaram do balcão e eu corei um pouco, mas Key apenas acenou para eles agradecendo pela gentileza que fizeram ao recebê-la.

— Obrigada também Lys, e veja se não perde mais esse bloco. — ela piscou pra mim, quando chegamos na porta da loja.

— Vou tentar. — pisquei de volta para ela.

Ela ficou na ponta dos pés para me dar um beijo na bochecha e apertou o controle do carro, que piscou do outro lado da rua. Mais uma olhada e um aceno e ela atravessou a rua, entrando em seu carro e manobrando para subir a rua. Com toda a surpresa eu acabei me esquecendo de falar para ela sobra minha ideia, mas nem ia adiantar muito falar agora já que Castiel passaria o fim de semana meio em off com a nossa banda de dois — a qual nos recusávamos a chamar de dupla. Virei para trás e vi que Rosalya me encarava com um largo sorriso em seu rosto, assim que viu que eu a olhava ela fez um coraçãozinho com as mãos e me mandou um beijo, dando uma risada em seguida que se intensificou ao ver que eu tinha corado com sua brincadeira.

Apenas neguei com a cabeça a infantilidade da minha cunhada, me rendendo a dar uma risada após desviar o olhar e subir as escadas de volta para o quarto.


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