The last war escrita por Tom


Capítulo 1
Parte I - A Queda


Notas iniciais do capítulo

OLÁ, VOCÊ! Faz algum tempo que não venho aqui no Nyah!, não é mesmo? Porém, meu amigo lindo e maravilhoso (KING GAY) está fazendo aniversário e resolvi presenteá-lo com essa história. Me desculpem erros ortográficos, não reli. Assim que eu tiver um tempo eu corrijo. Prometo.

A história será dividida em três partes. Não demorarei a postar as outras duas, eu acho (e nem posso). De qualquer forma, espero que desfrutem. Beijos na boca.



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— FUJAM! – gritou o jovem tritão. Sua cauda agitou-se com ferocidade, criando uma marola na água. Impulsionou-se para frente, nadando o mais rápido que sua pequena estrutura poderia aguentar. Várias sereias e tritões fizeram o mesmo – estavam desesperados. Conseguiam ver através da água o projétil preto que se aproximava e bem sabiam o que aquilo causaria assim que se chocasse contra algo sólido: a destruição de seus iguais, de suas casas, de toda a vida que tinham criado.

A última coisa que ouviram foram os gritos estridentes e desesperados. Depois, um silêncio fúnebre tomou conta daqueles mares.

[...]

— Comandante, o vilarejo Lussees¹ foi destruído. Eles estão se aproximando cada vez mais de nós. Era a última vila que separava os Meios Ermos do Império. O que faremos? – o homem-peixe aparentava exaustão; tinha nadado algumas boas léguas para passar suas recentes informações. O ataque fora um dos mais destrutivos e o saldo fora desagradável: todos os seres morreram. O tritão usava uma armadura com algas, que facilitava sua mobilidade. Estava de cabeça baixa, não era autorizado a olhar para seus superiores.

— Ninguém conseguiu escapar? – perguntou em voz baixa.

— Não, comandante. Todos estão m-mortos. – a voz do tritão falhou. Embargado pela emoção da tristeza, ele curvou-se e se retirou antes mesmo de ser autorizado a isso. Mas todos estavam daquela forma: tristes, enraivecidos, temerosos, desesperados. A vida de todos estava por um fio e, se não fizessem algo, toda aquela raça viveria apenas nas memórias de outros que tinham conhecimento dela.

— Eu preciso falar com a Rainha. Avisem-na que estou a caminho. – a comandante disse em voz firme. Era diferente de todos ali. Não possuía traços de anfíbios e nem mesmo cauda. Trajava uma roupa de batalha feita em couro e seu rosto era protegido por uma máscara completamente branca sem espaço para olhos, boca ou nariz. Sua visão assustava tanto inimigos quanto amigos. Conhecida como “Dwaau”², fora colocada como comandante dos Nove Exércitos mesmo não sendo descendente de nenhum ser de Serênia³. Os mais conservadores não apoiavam o fato de que “aquela que vinha da terra” possuía tanto poder dentro do reino, mas depois que ela destruiu a Legião Ártica⁴ – inimigos que viviam no oceano glacial ártico – sozinha, ninguém duvidou. Ninguém ousava enfrenta-la cara a cara. Ninguém sequer conseguia olhar para sua figura ou ficar calmo em sua presença. E ela não se importava nenhum pouco com isso.

[...]

O Império de Serênia se estendia ao oeste e leste, sul e norte, tão longínquo que nem o ser com a melhor visão conseguiria ver o seu fim. Fora construído há milênios e durante muito tempo ficou conhecido como o Reino de Atlântida⁵. Quando a Rainha Ellahora conquistou o poder, fez grandes mudanças na forma de governo que antes prejudicava a maior parte dos descendentes do antigo povo serênio. Não fora bem aceita, mas a prosperidade chegou com facilidade sob o seu controle. O comércio nunca tinha estado tão bem, as guerras haviam diminuído, os sinais de pobreza estavam sendo extintos, a hierarquia estava sendo gradativamente destruída e sereias que antes eram limitadas aos cuidados do lar estavam tendo suas chances de crescer. A justiça era finalmente exercida e os vilarejos ao redor da Grande Capital estavam tendo maior reconhecimento. O contato com o mundo exterior também estava melhor. A Rainha, de fato, tinha passado grande tempo no reino terrestre e aéreo para aprender um pouco mais sobre seus costumes e cultura. Era inteligente, sábia e decisiva. Sabia de segredos antigos que nem mesmo a Cúpula de Amhien⁶ poderia imaginar e embora não demonstrasse, tinha grande fonte mágica dentro de si. Era uma habilidosa feiticeira. Entretanto, todo o seu legado estava na mira de novos inimigos.

— Rainha! – um soldado chamou, pedindo permissão para falar. Ela se encontrava em seu trono; um livro velho estava posto sobre seu colo e ela olhava para suas páginas. Não o lia. Sua mente estava longe, vagando pelas águas e vendo todo o caos em que seu reino se encontrava. Seria cedo dizer o quanto a rainha estava desesperada? Não demonstrava, mas era exatamente isso que acontecia.

— Diga. – respondeu ao chamado em voz baixa. Não ergueu os olhos de imediato. O soldado ajoelhou-se e fitou o chão.

— A comandante está a caminho. Disse que não tem tempo para cerimônias. Precisa ver vossa majestade urgentemente. – o tritão falou rápido, não gostava de ficar dentro da sala do trono. O poder que aquele lugar emanava era demais para um ser tão ordinário como ele. Fez-se silêncio por pelo menos dois minutos; a rainha parecia discutir consigo mesma em pensamentos. Franziu o cenho – já sabia o que estaria por acontecer em seguida – e depois soltou um longo suspiro. Já estava vencida.

— Tudo bem. Não avisem da chegada da comandante para ninguém além da guarda, quero sigilo sobre isso. – sua voz saiu mais alta dessa vez, firme. Com um aceno modesto de mão liberou o soldado e logo após se ver sozinha, foi até o lado direito da sala onde monitores se elevavam. Procurou um em especial e após alguns toques conseguiu visualizar com clareza a imagem de um quarto luxuoso. Abriu a passagem de áudio para que pudesse se fazer ouvida. – Wiyll, eu preciso de você agora.

[...]

O silêncio em Serênia tinha se tornado comum. Não havia mais motivos para risadas, para festas, para conversas, para nada. As pessoas só saiam de casa para o necessário, isso quando saiam. Tinham medo de nadar pelas ruas e, de repente, uma bomba cair sobre suas cabeças. A Grande Capital e os vilarejos ao redor estavam em Alrd Dikko⁷, o que tornava tudo mais assustador. Além disso, todos já sabiam que os Meios Ermos tinham sido conquistados e agora a única coisa que os separavam de seu iminente fim era a Anamhali⁸, águas inabitáveis que nem eles e nem outros inimigos tinham coragem de cruzar. Mas não se podia esperar nada destes que agora os atacavam.

Sabiam pouco sobre eles, é verdade. Eram do meio terrestre, disso tinham certeza, e possuíam um poder bélico nunca visto antes. Ninguém sabia o que os motivava, mas aparentemente só queriam mais poder territorial. Nos becos e bares diziam que eles eram filhos de Haam⁹, mas outros diziam que eles eram comandados pelo próprio Haam. No início não se assustaram, porque confiavam que a Rainha Ellahora os derrotaria – como havia feito com todos os inimigos anteriores –, mas um mês já havia passado e tudo o que ela tinha conseguido fora três de seus nove exércitos destruídos.

Caos. Tudo estava um caos.

— Estou aqui, minha rainha. – o tritão que proferiu as palavras era jovem. Não aparentava ter mais do que 24 anos. Seu corpo moreno era esguio e magro e lhe dava aparência de fragilidade. Sua cauda diferenciava dos outros serênios: enquanto a da maioria era verde, a do jovem era azulada, quase roxa. Brilhava levemente em tons opacos. Seu rosto fino lhe dava o aspecto de esperteza e ele de fato o era. Nos olhos carregava certo pesar, provavelmente por tudo o que estava acontecendo.

— Quero que fique ao meu lado. A comandante está a caminho. – Ellahora ordenou de forma calma. No mesmo momento em que o jovem ouviu “comandante” ele se agitou e abriu um sorriso. Estava com saudades dela, muitas, e aquilo se tornou perceptível para a rainha que revirou os olhos. – Você poderia pelo menos fingir que se porta como um príncipe.

— Por favor, mamãe, você me conhece muito bem. – ele agitou sua cauda e foi para o trono menor e mais afastado que se encontrava ali. Wiyll era o único herdeiro da rainha Ellahora. Não sabia quem era seu pai e nem se importava. Sempre tinha em mente que sua mãe o havia matado depois do sexo ou algo assim e ele amava isso.

— É, não me diga... – a rainha resmungou enquanto estudava um mapa que se estendia sobre a grande mesa naquela sala. O tritão revirou os olhos e olhou para as próprias mãos, já entediado.

— Ela não vai demorar, né? Eu estava tirando meu sono de beleza. – ele continuou falando, mas foi ignorado pela sua mãe. – Para uma rainha visionária você é bem chata.

— Cala a boca, Wiyll. Eu estou ocupada. – ela reprimiu-o severa e voltou sua atenção para o que estava fazendo.

Não demorou muito até que a comandante chegasse. Três batidas na porta avisaram que ela estava ali. O tritão levantou-se empolgado de seu trono e a rainha ergueu a cabeça esperando que a convidada entrasse. Conversas do lado de fora e, finalmente, a garota se fez presente. Ainda usava armadura e a inseparável máscara, mas não estava armada. Era proibido até mesmo para ela entrar com algum armamento na sala dos tronos. Tudo se tornou um borrão para a comandante quando o príncipe nadou veloz em sua direção, apertando-a em um abraço de esmagar ossos.

— COMO EU SENTI SUA FALTA. – ele esbravejou. A mulher soltou uma risada baixa e passou o braço em torno da cintura do ser, abraçando-o também. A rainha esperou alguns segundos e depois pigarreou. Não que já não estivesse acostumada com aquela demonstração de afeto, mas o momento requeria uma conduta mais sóbria. Os dois se separaram e a comandante se curvou perante a rainha.

— Minha rainha, uma pena que nos reencontramos nessas condições. – falou solenemente. Ellahora abriu um pequeno sorriso e nadou até a comandante, colocando a mão em seu ombro esquerdo e fitando na direção que ela imaginou que estaria os olhos de sua subordinada atrás da máscara.

— Você sabe que não precisa se curvar diante mim, Ayå. E você sabe que não gosto quando faz isso. – a rainha falou e logo depois o sorriso morreu em seu rosto. Houve um silêncio breve antes da mulher retirar sua máscara, revelando um rosto jovem e cansado. Os olhos caídos, a boca trincada e a pele escura eram suas características mais visíveis. A máscara era um objeto mágico. Dava a condição à humana de respirar embaixo d’água e de nadar como se fosse um verdadeiro anfíbio. Fora presente da rainha quando decidiram que Ayå lideraria os Nove Exércitos. Quando na presença de Ellahora ela não precisava do objeto; a magia que a soberana continha em si era suficiente para manter a comandante bem.

— Não temos muito o que conversar, Ella. Você já sabe o que penso. Preciso voltar para a superfície. – a jovem foi breve. Encaminhou-se para a grande mesa onde estratégias de combate eram montadas no mapa. Observou as áreas em preto, áreas essas que ela tinha deixado levar pelo inimigo. Odiava-se por isso.

— Não. Você não vai. Já disse que não. Quem vai liderar minhas tropas? Se com você já perdemos três exércitos, imagine sem você. – a rainha redarguiu mesmo sabendo que aquela era uma batalha vencida. Enquanto isso Wiyll assistia aquela cena calado e afastado, pensando em algo de útil que pudesse dizer. Ouve um momento de silêncio profundo, as duas mulheres se fitavam enraivecidas. Ambas queriam o melhor para o povo serênio, ambas queriam dar um fim àquela ameaça, mas ambas tinham métodos bastante diferentes para chegar aos objetivos.

E então um clarão assustou-as. O jovem tritão se elevava nas águas calmas da sala do trono; os olhos brilhavam em um amarelo intenso assim como a luz que saia de sua boca aberta. Ele estava possuído? Parecia que sim. Nunca tinham visto nada do tipo e sentiram que o poder que o envolvia naquele momento estava além do que podiam explicar. Não se aproximaram temendo o que poderia acontecer, mas tão rápido a possessão começou, ela terminou. Ele caiu no piso e Ayå e Ellahora foram rápidas em sua direção.

— Wiyll. WIYLL! – a rainha gritou seu nome, mas ele estava desacordado. Notaram então um desenho que surgia lentamente em suas costas; era uma runa. Brilhava em um azul celeste e lhe cobria do pescoço à cintura. Assim que a “tatuagem” ficou completa, o tritão acordou. Abriu os olhos assustado e agitou sua cauda para todos os lados, como se estivesse pronto para lutar.

— Calma, sereio. Está tudo bem. – a comandante disse gentilmente enquanto dava um pouco de espaço para que o jovem se recuperasse.

— O q-q-que aconteceu? – gaguejou. Passou as mãos pelo dorso de seu corpo que estava dolorido, sem imaginar que ele agora possuía uma enorme runa tatuada. Ayå e a rainha se entreolharam como se conversassem sobre aquilo mentalmente. Ficaram em silêncio por um tempo e concordaram uma com a outra silenciosamente. – FALEM!

— Bom, meu filho, me parece que você é um Oráculo.


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Notas finais do capítulo

¹ Lussees: um dos vilarejos comerciais mais importantes do Império de Serênia.

² Dwaau: na língua serêana significa "deusa da guerra".

³ Serênia: nome dado à população de sereias e tritões.

⁴ Legião Ártica: nome dado ao exército dos seres aquáticos que habitavam o oceano Ártico.

⁵ Atlântida: (em grego, Ἀτλαντίς - "filha de Atlas") é uma lendária ilha ou continente cuja primeira menção conhecida remonta a Platão em suas obras "Timeu ou a Natureza" e "Crítias ou a Atlântida".

⁶ Cúpula de Amhien: considerada como a "mente" do império. Composta por anciãos. É sempre responsável por auxiliar a Rainha em suas decisões mais difíceis.

⁷ Alrd Dikko: em estado crítico. Havia toque de recolher e o Terceiro Exército cruzavam as ruas para manter maior segurança. Não era permitido qualquer conversa, barulho ou algo que pudesse alertar inimigos.

⁸ Anamhali: águas inabitáveis por conter em toda a sua extensão criaturas aquáticas perigosas.

⁹ Haam: em serêano significa "aquele que tudo vê". Equivalente ao deus dos deuses.



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