Eu estava no telhado de minha casa, como sempre fazia, olhando o pôr do sol, a espera de meu vizinho. Desde que Ian descobriu esse meu gosto por telhados, começou a aparecer todas as quartas. Não foi algo que eu contei, joguei a indireta, ou demonstrei, ele apenas notou. Nesse telhado, longe de tudo e todos, consigo focar, pensar, refletir. A primeira vez que subi aqui, o intuito era muito mais trágico do que atualmente. Eu não tinha total certeza que morreria, mas se me jogasse de cabeça, pelo menos um coma eu conquistaria. Felizmente, antes de o fazer, pude notar o quão silencioso e belo é aqui de cima.

— Está ai? – Perguntou Ian, me tirando de meus devaneios.

— Claro.

Ele tinha um notebook em uma das mãos, e uma barra de chocolate na outra.

— Qual vai ser o filme trash da vez? – Perguntei, encarando o chocolate.

— Pode pegar – falou, estendendo a mão que segurava a barra. – Dessa vez você pode escolher. 

O encarei.

— Sério? Sem crianças infelizes que atiram em balões?

Certa vez vimos um filme sobre uma menininha que não gostava de aniversários. Não gostava de felicidade. Não se julgava merecedora de felicidade. Em um de seus aniversários, pediu a seu pai, para que comprasse 8 balões, também pediu para que emprestasse sua arma de pressão. Deu a cada balão uma letra.

Ela atirou em cada balão.

Quando seu pai perguntou o porquê disso, sua resposta foi curta: “se lembra de cada letra? Então, elas formam meu nome”.

— Sem crianças infelizes, e sem gatos que vão para a escola.

— Isso não era um filme. Era um gato em uma coleira, com um uniforme, para onde ele iria? – Perguntei, risonha.

— Você pensa cada coisa! Pode escolher qual quiser!

Um silencio predominou o local.

— Então eu escolho olhar você. E ver esse lindo filme que é seus olhos – sussurrei.