So In Love escrita por Cris Oliver


Capítulo 1
I




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O capitão Bartolomeu Shaw, ou Bart como os familiares e alguns amigos o chamavam, não estava mais acostumado com o conforto que seu quarto, localizado no segundo andar da casa da mãe, na pequena cidade de Overlook, lhe proporcionava. A vida de militar havia feito com que perdesse o hábito de se despreocupar e relaxar, mas um incidente com um soldado, um carro e bebida alcoólica no último mês, havia o obrigado à voltar a, pelo menos tentar, se acostumar com aquilo tudo.

Bart suspirou encarando o quarto que agora parecia muito pequeno para corpo evoluído graças à longas horas de intensa musculação. Tudo ali parecia frágil demais, assim como ele fora aos dezoito anos, antes de abandonar aquele quarto, sua família, seus amigos e sua cidade em nome da carreira militar.

— E agora, cá estou eu de novo. – ele resmungou largando a mochila pesadamente antes de caminhar até a cama e sentar lentamente nela.

Na ausência de ruídos que pudessem indicar a fraqueza da mesma, ele resolveu relaxar e deixou o corpo cair ao encontro do gasto colchão enquanto pensava como faria para se acostumar à pacata cidade de sua infância durante os próximos seis meses, período de licença que foi obrigado à retirar graças à fratura na coluna.

— Soldado idiota. – ele resmungou, passando a mão pelos cabelos morenos, que haviam crescido durante sua estadia de quase um mês no hospital.

— Tão resmungão. – a voz da irmã, Helena, fez o militar se sentar o rapidamente que pode, sorrindo, enquanto abria os braços para a caçula da família Shaw.

— Senti sua falta, grandão. – ela riu, apertando os braços fortes do irmão.

Eles se afastaram e Helena Shaw, ou apenas Lena, se sentou ao lado do irmão, enquanto ele a encava. Não era mais a garota cheia de espinhas e cabelos, tingidos de um loiro amarelado, revoltos de quinze anos que ele deixara para trás. O rosto infantil, a tinta amarela e a pele oleosa haviam sido trocados pelo rosto coberto por boas camadas de maquiagem e os cabelos negros devidamente arrumado. As rugas ainda não eram tão presentes mas, os olhos experientes do capitão, conseguiam ver uma ou outro no canto dos olhos e na testa. A gordurinha infantil também se fora. Agora ela era uma mulher, tinha vinte e oito anos, uma carreira como jornalista de um jornal local, um casamento feliz e uma filha de três anos.

— O que você tá fazendo aqui? Você não deveria estar trabalhando?

— Quando o seu marido é o chefe, você tem liberdade de sair mais cedo. – ela sorriu encarando os mesmos olhos azuis que ela tinha. Aquela era uma das semelhanças que os Shaw compartilhavam.

— Além disso, eu precisava ver como o meu irmão preferido estava. – A morena alisou o rosto do irmão. – Você deixou todo mundo preocupado, Bart.

— Eu só fiquei alguns dias internado. – ele torceu o nariz enquanto lembrava de seus dias no quarto branco e sem graça. Odiava hospitais e toda sua áurea de tristeza.

— Foi quase um mês, Bart. Quase um mês! – ela gritou a última frase, sentindo os olhos arderem ao lembrar do desespero ao saber que o irmão estava no hospital. – Você sabe como é desesperador saber que alguém que você ama tá em coma por todo esse tempo? E ainda por cima sem poder visitá-la?

O militar abraçou a irmã assim que ela começou a chorar.

— Tá tudo bem agora, Lena. Eu estou aqui, não estou? – ele sussurrava enquanto embalava o pequeno corpo da irmã mais nova. – Eu estou bem.

O abraço durou até que o telefone da jornalista tocar. Ela era esposa do chefe, sim, mas ainda tinha que cuidar de suas tarefas. Helena foi embora, mas não sem antes avisar que voltaria logo, e dessa vez trazendo sua filha e seu marido para que fossem oficialmente apresentados ao irmão mais velho.

Após a saída da irmã, foi a vez de Elizabeth Shaw, a mãe de Bartolomeu, entrar no pequeno cômodo.

— Ele parece menor agora, não é? – foi o que ela disse assim que entrou no quarto, surpreendendo o filho que, distraído com sua mala, não percebeu a entrada da mãe.

— Eu não tenho mais o mesmo tamanho que tinha desde a última vez que entrei aqui, não é? – ele sorriu encarando a mãe.

Tudo em Overlook poderia ter mudado, exceto pela mulher parada em sua porta. Os cabelos loiros, cortados perfeitamente acima dos ombros, mas agora, com um pouco mais de branco do que se lembrava. A pele leitosa, os olhos incrivelmente azuis e o sorriso gentil sempre seriam os mesmos, mesmo que a pele do rosto estivesse mais enrugada devido ao tempo. Bart acreditava que ela seria a mulher mais gentil que ele conheceria em toda sua vida.

— Claro que não. Meu bebê cresceu. – ela abraçou o moreno. – É bom ter você em casa de novo.

— É bom estar aqui. – o militar sorriu.

 

 

 

Alguns dias depois de sua volta, Bart percebeu que mesmo se sentindo bem, não conseguia mais habitar o pequeno quarto da casa da mãe. Sabia que sua estadia em Overlook era por pouco tempo, mas estava acostumado a viver sozinho. Por isso, com a ajuda de Helena e com um pouco de tristeza de Elizabeth, ele acabou encontrando um pequeno, mas aconchegante apartamento há alguns quarteirões depois da casa da irmã e alguns quilômetros distante da mãe.

Com a ajuda das duas, em poucos dias, tudo estava pronto para que pudesse viver sozinho em seu próprio lugar. E um dia após sua mudança, depois da festa de inauguração que a irmã insistiu em fazer, ele resolveu aproveitar o fim de tarde típico do início de primavera e conhecer seu novo bairro.

Caminhou pelas ruas largas e bem arborizadas da cidade em que cresceu, tentando se lembrar de tudo que um dia ele conheceu tão bem. Mas era uma tarefa difícil, já que assim como ele, Overlook havia tido várias mudanças drásticas. Várias lojas que costumava frequentar durante a adolescência haviam mudado. A pequena cidade interiorana agora parecia uma cidade grande com todas suas lojas de marca e requinte, assim como uma faculdade importante que havia instalado seu campus ali a alguns anos.

Bart parou em frente à um café quando percebeu que a coluna começou a doer. Aquele era seu sinal para sentar e relaxar, como o médico, a mãe e a irmã haviam mandado, por isso, resolveu entrar no estabelecimento quente e aconchegante e foi se sentar em uma das mesas perto da janela, onde poderia continuar sua inspeção da nova cidade.

— Boa tarde, como posso servi-lo? – uma voz doce e educada, atraiu a atenção do militar que logo virou-se para encarar sua dona.

A garota sorria gentilmente enquanto o encarava com seus enormes olhos castanhos, que combinados com a pele leitosa e os lábios cheios e rosados o faziam se lembrar das bonecas que a irmã brincava. Os cabelos, tão castanhos quanto os olhos, estavam presos em um coque alto, exibindo o pescoço longo e branco. O pequeno corpo estava coberto de jeans e camiseta com a logomarca da cafeteria. No crachá de fundo vermelho, o nome “Kirby” estava escrito em branco, numa fonte padrão.

Ele pigarreou, saindo de sua inspeção, quando percebeu as bochechas da garota tingirem-se de vermelho.

— O cardápio, por favor? 

Ela apontou para a mesa, ainda sorrindo, e dessa vez, foi ele quem ficou vermelho.

Enquanto lia as opções e os preços, ele fez uma nota mental de voltar naquela cafeteria outras vezes.

Muitas outras vezes.


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Notas finais do capítulo

Então, olá!Avisos sobre essa história:
— provavelmente, eu vou demorar pra postar o próximo capítulo, mas ele vai vir!
— todo e qualquer tipo de comentário faz bem pras postagens ocorrem mais rápido
— o próximo capítulo é narrado pela Kirby!
— Dream Cast: http://imgur.com/a/8C24F



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