De todos os olhos, guardarei os teus. De todos os passos, seguirei o caminho que eles trilharem. Mas cuidado com o chegar da noite. Todas as cores e corações se misturam na escuridão. Revela-te a ti mesmo, excêntrica alma. O melhor ouvinte é aquele que dorme ao som das suas palavras, que dilui sua crítica no fel da intimidade até reduzir-se ao nada. As palavras não machucam quando ditas silenciosamente. Em teu nada entendo o tudo que somos.

Somos feitos do pó das estrelas ancestrais das constelações errantes. Não se guie pelo meu norte. Seu sul é tempestuoso e volátil. As horas fogem da marcação de seus ponteiros certeiros. Ninguém é invulnerável, porém você quase se tornou intocável. Meus dedos congelam antes de chegarem a tua face muda. Silêncio reina. Noite em suas entranhas e tempestade em minha consciência. Inverno febril esse que há entre nós.

Um abraço apertado numa despedida fria. Um movimento dos olhos esconde inúmeras palavras. Meu discurso é falho. Minha voz emana do peito, de um coração quase pulsante. A rotina corrói tanto quanto o tempo destrói. Aos poucos voltamos ao pó de onde viemos. O cair de uma lágrima ou uma gota de suor não faz mais diferença. A balança nunca esteve em equilíbrio. O tempo permanece o mesmo, porém nossas vontades nunca foram tão diferentes.

Caminhar sobre as águas exige uma mente forte. Não quero ser o desequilíbrio da sua sobriedade. Blasfemo o teu criticismo como quem rejeita um tipo de cura. Desconstruir-me dessa forma não humana não te fará mais certo. Não existe dono da razão. Não é noite porque é dia; não é eterno porque é imortal; não somos nós porque somos apenas eu e você. Dois mundos parecidos demais para orbitarem no mesmo universo. Dois polos idênticos se repelem, a física estava certa. Inúmeras coisas parecem certas vistas de fora.

Quando suas mãos se tornarem fracas e a alegria da descoberta murchar, me enterre em sua memória. Faça com que eu seja acessível. Faça-me uma lembrança desejável, mesmo que os dias se tornem cinza. Não te deixes se tornar monótono, soterrado pelas areias do tempo, cansado demais para sentir, sonhar, viver. Tome cada fôlego como se fosse o último, mas sem deixar ser tomado pelo desespero do fim. O extraordinário não morre sem deixar uma trajetória. As melhores conclusões nascem dos últimos suspiros.