" O melhor momento para dizer que você já encontrou

o caminho certo,é quando você para de procurar por mais.."

Três semanas depois

 _Nossa Lis,que lugar lindo!! - escuto Thea exclamar quando entro na sala vinda do banheiro. Os enjoos tem diminuído bastante mas ainda são um incomodo. Estou com dois meses e duas semanas e apesar de as pessoas dizerem que não,eu já começo a notar minha barriga. Discreta ainda. Me sento ao seu lado,de frente para a tela do computador.

 _Onde vocês estão agora? - Barry pergunta, tentando ver a paisagem por detrás de Lis. -É um vale?

'Não. Uma reserva ambiental. Chama-se Bonito...' diz e,virando a tela do computador,nos mostra a vista da janela do quarto onde estão..' Na verdade acho que devia ser Lindo,de tão lindo que é isso aqui!!!' ....'Concordo.' ,ouvimos a voz de Oliver.

—Ai cunhada,que ciúmes que tô de vocês!! - desabafa Thea,os olhos brilhando.  Oliver tinha decidido,no meio do caminho para o aeroporto,mudar os planos da viagem que fariam. À principio iriam fazer um tour pela Europa.Mas de tanto ouvir Duda cantar e decantar as belezas naturais de seu país,Brasil,e por amar a natureza e aventuras,ele falou com Lis e acabaram voando para lá. 

'Sério gente,temos que tirar férias juntos para virmos aqui. Vocês vão amar!!'  Distraídos com a conversa,tomamos um susto quando a porta abre e Duda entra com um sorriso de um canto a outro.

—Só uma coisa a declarar: Deus é pai,não é padrasto! -declara. Nos olhamos sem entender nada até que vemos Tommy entrando seguido por um rapaz muito parecido com ele.

—Olá,boa tarde a todos os presente -se inclina e me beija na boca - E aos ausentes ! -acena para a tela do computador- Ollie,está vivo meu velho? E fora da cama,que surpresa!!! -provoca fazendo Oliver gargalhar do outro lado da tela ao mesmo tempo em que Lis fica vermelha feito um pimentão.

'Que bom que está recuperando seu senso de humor Tommy,já estava ficando preocupado achando que tinham feito lobotomia em você!' ,-revida a provocação .

—Bem que meu pai e meu futuro sogro andaram tentando,mas pra felicidade geral da nação não funcionou! -diz.

Depois da descoberta da gravidez e principalmente após o pedido de casamento, Malcom e meu pai tomaram por missão infernizar a vida de Tommy. Cada um cobrando mais dele do que o outro. Usando a desculpa de que ele precisava ser mais responsável,o atormentavam dia após dia: de um lado meu pai,que cobrava mais maturidade por parte dele;Do outro,Malcom,que o fazia permanecer na Global até bem depois do expediente revisando projetos e orçamentos. Havia dias em que ele levava as coisas na esportiva até mesmo fazendo piada de alguma situação (o que deixava ambos irritados),em outros ficava com um mal humor terrível e em outros tivemos que interferir,eu Rebecca e minha mãe,para evitar uma discussão  ou algo pior. Mas,entre mortos e feridos,como Roy e Barry diziam,salvaram-se todos. Pelo menos até agora.

 'A conversa tá boa mas é hora de sair. Temos mais um passeio pra fazer nesse lugar honroso!' ,nos provoca,rindo.

—Isso maninho,tripudia em cima da gente!- bufa Thea- O mundo dá voltas viu.Me aguarde ..- ameaça, mas com um riso no rosto.

—Até porque essa folga toda já vai acabar mesmo. - é a vez de Barry provoca-los.

'Nós também amamos vocês todos!',Lis fala. 'Nos vemos daqui quatro dias.Beijos,beijos,beijos ,beijos..'  e desconecta.

—Bandidos,só pra nos matar de inveja! -resmunga Thea--Você conhece aquele lugar lá Duda? -pergunta - Duda? -chama a garota,que está distraída olhando o rapaz que viera com Tommy.

—Hã,como? Desculpa,não ouvi bem -diz ficando vermelha.

—Sei...Dá pra vê por que! -Thea comenta,rindo. - Não vai nos apresentar seu amigo não maninho?

—Primo,na verdade -faz sinal para o rapaz,que observava as fotos na parede - Felipe,estes são Duda,secretária da agência,Barry,fotografo,iluminador e cinegrafista ,Thea,minha meio irmã e faz nada oficial da agência ..- da um passo pro lado para evitar ser atingido por um bibelô arremessado por ela - e por último,porém a mais importante de todos,minha noiva Sara. -termina se esquivando de vários objetos arremessados por Barry,Thea e Duda.

—Muito prazer em conhecê-los,todos - diz com um forte sotaque.

—Felipe é italiano -informa Tommy- Foi na casa da família dele que passei grande parte daqueles dois anos.

—O prazer é todo nosso Felipe -digo,estendendo a mão para ele,que a segura e beija-Seja bem vindo!.   Ao verem o gesto dele,tanto Thea quanto Duda estendem as mãos,recebendo o mesmo tratamento que eu.

—Há,deixa o Roy saber disso!! -caçoa Barry.

—Não tem nada pro Roy saber fofoqueiro! -faz uma careta para ele -Só estou sendo educada.

—Aproveitando a deixa -Tommy começa a dizer -Vou precisar da educação de vocês. Vou acompanhar Sara no pré natal. Portanto,teria como vocês acompanharem o Felipe até lá em casa? -pergunta -Minha mãe já esta sabendo da vinda dele.

—Sem problema. Eu o levo. -se prontifica Barry,tocando ombro de Felipe,que estava ocupado sendo "simpático" com as meninas.."Tinha que ser primo do Tommy mesmo!",penso,rindo.

—Certo então. Felipe.-chama e ele se vira para ele - Como tinha te falado,vou sair com minha noiva,mas meu amigo aqui,vai te levar em casa. -informa num italiano perfeito,me surpreendendo.

—Tranquilo,primo! -afirma o outro com um sorriso.

—Caramba,é uma cópia do Tommy! -brinca Barry nos fazendo rir.

Deixamos Felipe aos cuidados dos três e saímos.   Ele estaciona em frente ao prédio onde fica o consultório e descemos do carro.  Estamos caminhando para a entrada quando escuto o ruido do motor de uma moto e instintivamente agarro o braço de Tommy,puxando-o para mais perto de mim.Ele se vira,assustado.

—O que foi? -pergunta 

—Nada..Só..Foi só um susto.-gaguejo. Era a primeira vez que voltava ao lugar onde tive a experiência mais linda e  a mais angustiante de minha vida. Ao lembrar,sinto o corpo tremer.  Tommy percebe e me abraça. Entramos no prédio,seguindo direto para o consultório. Nos sentamos na recepção para aguardar minha vez.

—Sara Lance -chama a recepcionista após alguns minutos.

—Em breve Sara Merlyn,ou Lance Merlyn - diz Tommy piscando para a garota,que fica com o rosto vermelho na hora. Reviro os olhos,puxando-o pra dentro.

—Você não tem jeito! - bufo e ele sorri.  

Depois de alguns exames,medir pressão,peso e uma nova ultra,nos sentamos de frente para a Drª Manning.

—Então,Sara. Seu peso tá ótimo,a pressão também....-Tommy a interrompe.

—Engraçado,não sei porque achei que estaria alta! -diz,me provocando. Em resposta,lhe dou um beliscão no braço que o faz "subir" na cadeira! -Uiii...-esfrega o local.

—Não,não está ótima -reitera a doutora,rindo - Agora quero saber dos dois: alguma dúvida?

Olhamos um para o outro..."Um monte e uma em especial!Só não sei se vou ter coragem de perguntar na frente dele!",penso.  Vendo nossa indecisão,ela inicia a conversa.

—Pois bem,vamos para as mais comuns e frequentes e ai ,se surgirem mais,vocês me dizem,certo? -concordamos com um gesto de cabeça.--Pra começar,uma que é bem comum e que a maioria tem vergonha de perguntar:até quando podem ter relações,durante a gravidez.- ambos ficamos sem jeito--A resposta é até quando quiserem,puderem ou sentirem-se confortáveis. Vocês dois é que determinam isso,de acordo como se sentem. Se está bom e confortável para ambos,nada impede que continuem tendo relações até perto do parto.

—Tanto assim! -se assusta Tommy -Quer dizer,não afeta o bebê?

—Não afeta,não machuca,não doí.Pelo contrário. Se a mãe está feliz o bebê também está. Ele sente o que ela sente:alegria,tristeza,medo,ansiedade..A relação até ajuda a fortalecer os músculos da pélvis para o parto. O tempo,ou seja,até quando ,quem vai determinar são vocês.

—Existe uma posição mais adequada ou errada? -me atrevo .

—Errada seria aquela que cause dor ou desconforto. Adequada,mais uma vez,quem vai dizer são vocês. Outro fator que determinante é caso ocorram dor ou sangramento. Ai você tem que me comunicar pra fazermos exames e ver se está tudo bem. De resto,enquanto houver desejo,não tem problema. O que me leva a outra pergunta frequente: é normal sentir desejo,sexual no caso,durante a gravidez?.. Pode ou não acontecer.Em alguns casos,existem mulheres em que o desejo diminuí,em outras some por completo,em outras se mantem e em outras aumenta. Depende da genética de cada uma. Já tive pacientes que simplesmente enjoaram do cheiro do parceiro e outras em que o cheiro as estimulava ainda mais.

"Meu caso!" ,penso,sentindo o rosto pegar fogo.

— O segredo é um só: conversar. O casal,vocês,tem que conversar.Somente assim vão saber o que agrada aos dois.

Após mais alguns esclarecimentos,nos levantamos para ir embora,agradecendo por tudo.

—Não foi nada. Se tiverem alguma dúvida,podem me ligar. E antes de irem,só mais uma coisa. Um conselho,não como médica,mas como amiga,mulher e esposa,pros dois: nada de chamá-lo de pai e nem você chamá-la de mãe. Ele não é seu pai nem ela é sua mãe. Vocês são um casal.

Saímos do prédio e mais uma vez me pego agarrando-o pelo braço. Entramos no carro. A certa altura,percebo que não estamos indo nem pra minha casa nem pra casa dele.

—Onde estamos indo Tommy? - questiono.

—A um lugar. -responde  misterioso.

—Onde??

—Calma curiosa. Já,chegamos. -anuncia parando em frente a um condomínio  novo situado perto do mar. Reconheço o lugar porque é onde fica o apartamento de Lis e Oliver,ou melhor,onde eles vão morar quando voltarem da lua de mel.

—O que viemos fazer aqui? -quero saber,tirando o cinto e abrindo a porta para descer do carro-Oliver pediu para providenciar alguma coisa pra volta deles?

—Nops! - diz. -Vem comigo.-chama estendendo a mão. Seguro e o acompanho até um dos prédios. São três no total.Um ao lado do outro.É um condomínio recém inaugurado,com quadras,piscinas,parquinhos,e outras coisas.  Um senhor nos espera na entrada. Depois de nos cumprimentar,entrega um envelope a Tommy,que agradece. Entramos no elevador ,indo até a cobertura. 

—Tommy,o que estamos fazendo aqui?-pergunto,desconfiando já saber a resposta.

—Então....Apesar de serem chatos pra cara****-morde a língua,me fazendo rir - Tanto seu pai quanto o meu tem razão. Não dá pra ficarmos nos encontrando na sua ou na minha casa.Primeiro porque tem sempre muita gente,segundo porque tem sempre muita gente  e terceiro porque...

—Tem sempre muita gente! -completo sua frase,rindo.

—Pois é. Antes do casamento,vim aqui com Oliver pra verificar se tudo estava correndo bem com as reformas,instalação dos moveis,enfim,tudo. Ai vi que ainda tinham apartamentos pra vender.....-abre o envelope retirando um molho de chaves de dentro- E comprei um. Pra nós dois. Ou melhor,pra nós três!