O atual diretor de Hogwarts já não dormia direito há meses... Saía por vezes de seus aposentos particulares e vagava pelos desertos corredores do castelo, tão escuros, sombrios e ermos durante a noite e a madrugada... Mas era exatamente assim que ele gostava: quieto e soturno...

Esbarrava com um ou outro agente disciplinar fazendo ronda vez ou outra, em suas andanças noturnas, mas eles obviamente não o importunavam...

...Apesar de o mestre de poções se sentir um tanto incomodando com a presença deles ou de qualquer outra pessoa, naqueles momentos onde procurava somente a solidão ...

Em várias daquelas ocasiões procurava pelo Espelho de Ojesed na da calada da noite, e diante dele permanecia por algumas horas, vendo aspectos de sua vida que desejava modificar, e velhos desejos não realizados, mesmo sabendo serem impossíveis!

Em outras noites ia até a sala da direção, extraía uma ou outra de suas memórias mais sombrias acerca de seus encontros com o Lord das Trevas e atividades como Comensal da Morte, colocando-as na penseira, aquela que pertencera à Dumbledore...

Costumava fazer o mesmo na sua própria, que era menor e permanecia tipicamente guardada em seu quarto... Porém nela depositava suas lembranças mais íntimas e emocionais, principalmente as relacionadas à Lily Evans e ao antigo diretor...

...E dentre as lembranças que mais tiravam o sono do mestre de poções se encontrava justamente a morte de Dumbledore...

Haviam noites, inclusive, em que seus passos também o levavam até aquela torre onde tudo acontecera... De lá a insistente e gélida brisa noturna zumbia em seus ouvidos...

E lá ficava reflexivo olhando a paisagem noturna e solitária, vendo ao longe a silhueta dos dementadores que agora circulavam pelos arredores de Hogwarts por ordem do ministério, controlado por seu mestre Lord Voldemort...

Naquela noite especificamente procurara mais uma vez o Espelho de Ojesed sem sucesso... Concluíra sarcasticamente se por vezes ele aparentemente gostava de mudar de lugar por "vontade própria", ou pela vontade de alguém a quem infelizmente o bruxo desconhecia de quem poderia se tratar...

Foi então que, já seguindo pelo corredor do terceiro andar planejando voltar aos seus aposentos nas masmorras, ele caminhava tendo como guia a débil luz da lua que penetrava pelas frestas mais claras dos vitrais laterais, e esta lhe foi mais que suficiente para que ele percebesse que o corredor não estava de todo vazio...

Mais alguém também vagava por ali no escuro, e Severus Snape logo notou que não se tratava de um agente ou qualquer outro funcionário... era uma aluna!

Alguém que provavelmente se arrependeria amargamente de ser pega pessoalmente por ele fora do dormitório àquela hora, imaginava que fosse uma grifinória... Que adoravam desprezar regras!

Resolveu pôr-se então a caminhar bem próximo atrás dela, a uma certa e constante distância, seguindo-lhe os passos cuidadosamente até que fosse notado, intencionando ver para onde ela iria antes de repreendê-la...

Enquanto isso Neelie por sua vez logo notou não estar mais sozinha... Sentia passos muito próximos aos seus no carpete, e engoliu em seco... Já sabia que não mais encontraria a tal torre onde ficaria a Sala da Disciplina, ao menos não naquela noite... Preocupava-se agora em descobrir quem a seguia no escuro...

Num movimento rápido sussurrou um "Lumus" e virou-se... Deu com os olhos a altura do peito de uma figura alta, que parecia ser um homem... E sentiu o coração na garganta ao notar que suas vestes eram tão negras quanto toda aquela escuridão...

—Quem...é...você...?

A garota sonserina respirava fundo e sentia o coração na garganta ao ouvir aquela pergunta dita lentamente por aquela voz tão grave profunda...e que lhe parecia...de certa forma tão familiar...? Estava ao mesmo tempo confusa e sentindo a varinha tremer levemente na mão...

—Quem...é...você?!

Ele repetiu a indagação enfaticamente, e com um tom gélido... Se aproximando da garota, intimidando-a e fazendo-a recuar, ficando um tanto acuada entre ele e a parede... Ela o reconhecera no mesmo instante em que havia murmurado "Lumus" para acender a ponta da varinha!

Severus Snape... A quem Dafne chamava de "nosso querido diretor", e ela mesma havia comparado a um "diamante negro" ao vê-lo de longe... Agora o via ali há centímetros, naquele instante, mesmo naquela escuridão...

Agora olhando aquela face austera e ríspida, que a encarava, parcialmente iluminada pela luz tênue da ponta de sua varinha, que lhe tremia entre os dedos...

...E aqueles olhos profundos, negros e letais encarando-a intimidadores, via que esta comparação feita anteriormente certamente apenas cabia se fosse pela frieza e rigidez que uma pedra de diamante de fato poderia possuir...

...E pela cor que de fato dominava quase toda aquela figura... Pois apenas seu rosto pálido e severo como o significado de seu nome juntamente com seu nariz adunco se destacavam, o resto, desde seu cabelo às roupas, se misturavam totalmente à escuridão silenciosa do ambiente...

...Até então arregalava os olhos arrepiando-se e sem nada conseguir dizer... Coração disparado no peito... Mas não lhe daria o gosto de demonstrar isto, e de repente encarou-o nos olhos, cerrando os lábios com antipatia...

—A senhorita... não vai me responder...? Pois me acompanhe!

—...Epans, senhor! Me chamo Neelie Epans!

Mas já era demasiado tarde para respostas... O bruxo já caminhava esvoaçando suas vestes negras atrás de si, das quais a garota ouvira mais o som do que as via no escuro... Ela então achou que devia segui-lo, pois pensou por bem não contraria-lo tanto...

§§§§§§

Chegando à diretoria, após entrarem Snape selou a entrada com um movimento circular de sua varinha e voltou-se bruscamente... Com a face carrancuda olhava para a aluna, vendo-a melhor agora na claridade do escritório...

...E qual não foi a surpresa de Neelie ao notar que repentinamente o diretor perdia seu ar carrancudo ao encará-la pela primeira vez na caridade... Se encaravam olhos nos olhos...

Seu olhar naquele momento era... De espanto? Ou de surpresa somente...? Um semblante de confusão... Sim, ele a olhava certamente estranho, com a boca semiaberta... Será que era porque a conhecia...? Ou estava admirado por não conhecer...?

Ele se aproximara como se a inspecionasse, centímetros face a face, quase nariz a nariz fazendo-a estremecer ao ouvir a respiração dele tão junto a sua... Porém não perdeu uma certa severidade no olhar ao encará-lo... Jamais se demonstraria intimidada!

A garota sonserina pensou em utilizar o mesmo método com que havia intimidado Parkison, para ao menos tentar aparentar indiferença diante do homem a sua frente... Moveu-se para cruzar os braços...

E, qual não foi sua surpresa ver que Snape de repente em segundos havia levantado o nariz com arrogância e cruzado os braços frente ao peito, exatamente como ela pretendia fazer... Como se adivinhasse o que ela faria ou penetrasse sua mente...

Olhava-lhe arrogante e austero... Recuperara imediatamente a sua postura altiva... Era como se pudesse amedrontar qualquer criatura com aquele olhar... As vestes negras caídas sobre os braços cruzados como uma enorme asa de morcego...

—Posso saber...o que a senhorita fazia...pelos corredores...esta noite...?

Ele perguntava pausadamente, em tom grave e lento, erguendo uma das sobrancelhas e com o olhar sério e enigmático...Ainda sem descruzar os braços... Aquilo era no mínimo quase teatral!

Neelie sentiu lhe invadir a absoluta certeza de que não era a primeira vez que via e ouvia aquela pessoa, aquela voz, aquela situação... E percebendo isso sentia um frio na espinha... Mas não aparentava!

Tentava disfarçar também como sentia que o coração palpitava diante das obsidianas que se fixavam nela, e das palavras ditas por aquela voz marcante... Por que se sentia assim?

...Não lhe interessava saber agora! Se esforçou para aparentar indiferença, e acreditava conseguir... Sim, de fato aparentava semelhante arrogância... Respondeu pausadamente no mesmo tom...

—Eu... Estava com...insônia! Resolvi sair para andar...

—Tem sorte... de ter este brasão em seu peito... e ter sido encontrada justo por mim!

Então era isso? Antes quando ele a estivera inspecionando era o seu brasão de sonserina na capa do uniforme que ele reconhecera... Fizera bem em não sair do salão comunal sem ela! ...Então de fato ele a conhecia, como todos os alunos da Sonserina...?

Neelie neste momento sentia-se mais segura diante de Severus Snape... E tentava usar com ele aquilo que descobrira na aula de Artes das Trevas: a Legiminência... Havia conseguido penetrar a mente da professora Lenora facilmente, não é? Por que não na dele...?

Poderia conseguir na do diretor também, e assim decifrar seus olhares enigmáticos e saber que memórias ele tinha dela mesma de fato... Manteve a face o mais tranquila e indiferente que pôde e tentou discretamente...

As feições dele mudaram de sério e enigmático para gélido raivoso... E no mesmo instante ele veio pra cima da garota com o olhar fumegante, tendo passado de intimidador para completamente aterrorizante... Ele não a tocou, mas se quer precisava...

—Como se atreve?! Então você acha... que pode sondar minha mente assim!

O tom de voz dele agora era cortante e malicioso... Mais baixo que antes, porém assim parecia mais letal... Neelie estava entre ele e a enorme estante de livros que havia no escritório... E ofegava pelo susto repentino...

Ela mal podia se mexer direito, de tão próxima que a face dele se colocava da sua... Tentava desviar o olhar mas não conseguia... E manter-se calma mas sabia que estava ofegando de leve e com o coração quase saindo pela boca...

Ainda assim o enfrentava encarando-o de frente, mesmo que não conseguisse ainda responder... E mantinha aparência calma, mesmo quase prendendo a respiração, enquanto a voz grave prosseguia irritada aparentemente com certa amargura...

—...É um insulto que uma aluna tente usar Legiminência em mim! Mesmo sendo você... Alguém que a tenha aprendido em grau avançado para sua idade...

Quase estremeceu enquanto Snape ergueu o canto da boca, sorrindo maliciosamente... Mas não lhe daria a satisfação de demonstrar isto, enquanto ele continuava a falar pausadamente e em tom perigoso...

— A senhorita... ousa duvidar... da minha Oclumência!? Eu devia... invadir a tua mente... e brincar um pouco... para ensiná-la a ser mais humilde!

Continua...