CAPÍTULO UM - Alice in Wonderland...?

Repentinamente ela acordava de um sono profundo e indesejado. Parecia que dormira por anos, querendo ter despertado muito antes. Abrindo melhor os olhos estava um tanto escuro, mas logo percebeu-se em meio à penumbra...

Contudo o ambiente era confortável e lhe parecia por demais aconchegante, via-se deitada num sofá grande e preto, de couro muito macio. Levantando-se um pouco notou-o próximo à uma lareira de pedra, onde distinguiu uma cobra em auto-relevo encrustada na pedra escura.

Esfregou os olhos por instantes e se perguntou, como havia ido parar ali? Era como se despertasse ali pela primeira vez... Mas porquê? Olhava tudo em volta maravilhada, era um tanto estranho o fato de não se reconhecer parte daquele mundo, mas ao mesmo tempo sabia que aquele lugar lhe era como um refúgio!

Era como se já houvesse estado ali de passagem várias vezes... Vezes maravilhosas, entretanto sempre curtas! Tinha aquele lugar em algum recanto de sua mente, como em memórias vagas. Porém desta vez era diferente! Sentia isto claramente, apesar dos estranhamentos...

Sabia que estava na escola, em Hogwarts... Em seu salão comunal: sonserina. Mas aonde estariam os outros alunos e alunas?  Caminhava por todo o espaço em busca deles e delas, seus convivas. Mas era um mistério o fato de estar sozinha ali tanto tempo, sem ver viva alma!

Passava os olhos pelos tapetes e sofás luxuosos, os móveis de madeira de lei lustrosa, escura e pesada, estantes com dezenas de livros em uma das paredes, os lustres com as elegantes luzes esverdeadas, as janelas que nunca poderiam ser abertas transparecendo as águas do lago, lembrando-lhe que todo aquele conforto estava submerso...

Se aproximava das janelas de vidro grosso e trabalhado submersas em água, com curiosidade, e enquanto se admirava por toda aquela água nunca entrar... Repentinamente algo enorme e negro a assustou, ao que ela constatou ser a famosa lula gigante, apenas passando.

Continuava arrastando as vestes negras de seu uniforme por todos os cantos da grande sala comunal das masmorras, na sua busca por seus convivas... E nada! Já estava perdendo a paciência!

Começava a imaginar que havia algo errado... Foi quando olhou de relance um canto de parede perto da estante de livros e levou outro grande susto, recuando um pouco, ao ver alguém vestido de preto ali...

...Mas logo percebeu que era apenas seu reflexo num espelho, apesar de não reconhecê-lo! Então uma abrupta dor de cabeça se apossou da garota, e ela apoiou-se na mesa frente a estante de livros...

Sentia uma dor lancinante entre os olhos, flashes de imagens desconexas passavam por seus olhos, sua cabeça parecia um caldeirão cujos ingredientes haviam sido mal misturados, prontos a explodir... Um pensamento lhe veio mais forte que tudo:

—Pai! Meu pai corre perigo... Preciso salva-lo... Mas como?

A aflição tomando conta de seu peito e ela buscava tateando desesperadamente entre as prateleiras da estante... E depois cambaleou, e caminhou um pouco incertamente, a angústia por sair dali e encontrar seu pai...

...Embora nenhuma imagem conhecida lhe atravessasse a mente naquele momento, apenas dor e um aperto no coração... Que a fizeram cair sobre o sofá onde antes acordara, gritando por seu pai novamente...

—Ei Epans! Relaxa aí! Dormir no sofá de novo ainda vai... Mas o que houve, teu pai não está aqui! Provavelmente no ministério, onde ele sempre deveria estar...

O dono da voz falava um tanto arrogante, porém com certo grau de seriedade nas palavras. O garoto loiro e magricela a fitava por um instante, enquanto outros em volta riam maliciosamente, e ele completou:

—Acorda, garota! Até parece que algum bicho te mordeu! Ninguém morreu! Ao menos ninguém importante... Ainda...

A última palavra ela não tinha certeza se ele havia sussurrado ou apenas pensado...mas tinha uma certeza absoluta de que apenas ela ouvira. O garoto levantou do sofá em frente ao que ela estava, e se foi com outros dois a seguí-lo...

Então outras duas figuras sentaram-se próximas a ela, que observava ainda tonta.

—Malfoy tem razão, Neelie! Você anda muito tensa... Não há motivos! Não somos sangues ruins e nem ninguém das nossas famílias e nosso diretor de casa é diretor de Hogwarts!

—Mandamos nesta escola, amiga! Se liga! Você não tem porque ficar assim!

De certa distância, uma terceira figura discreta observava a tudo com interesse. Solitária e com um livro nas mãos, recostada a uma mesa próxima e sem perder nenhum detalhe da conversa que se dava nos sofás.