Chegamos em casa por volta das 23 horas, nossos pais estavam no sofá abraçados vendo um filme qualquer na Tv, pareciam tão felizes. Quando eu os via assim tinha esperança de que o amor da minha vida estava bem ali, seja essa pessoa o Will ou não.
— Vocês chegaram. - falou minha mãe.
— Chegamos.
— Nossa, estão bonitos, foram aonde?
— No lugar onde fomos quando nos conhecemos. - falou Will.
— E foi legal? - sorri.
— Muito.
— Fico feliz. E compraram as roupas do casamento?
— Sim. Eu comprei um vestido lindo e o Will comprou um terno qualquer. - Will sorriu.
— Ela está com inveja da minha beleza dentro daquela roupa.
— Isso com certeza. - falei, minha mãe e Richard se entreolharam.
— Sei...
— Bom, eu vou subir porque preciso de um banho de banheira.
— Claro que precisa. - ignorei minha mãe e me virei para falar com o Will.
— Obrigada pela noite, de verdade.
— Sabe que não precisa agradecer. - beijei rapidamente sua bochecha e subi as escadas em direção ao meu quarto.
     Fiquei mais de uma hora na banheira pensando e ouvindo música. Pela primeira vez desde que terminamos eu e Will conversamos de verdade, sem brigas, nem constrangimento, como se fossemos amigos de longa data. Parecia mesmo que tudo estava bem.
— Jessie? - fiquei surpresa quando ele bateu na minha porta.
— Só um minuto.
— Tudo bem. - me sequei rapidamente e me enrolei no roupão.
— Olá. - falei e ele sorriu.
— Roupão não é tão legal quanto toalha. - dei um tapa na sua testa.
— Presta atenção, garoto.
— Ah, desculpa. Pensei que pudesse estar dormindo.
— Não, estava de molho na banheira, mas entra aí.
— Eu só vim entregar seu celular. Acabou ficando no meu bolso quando eu peguei pra usar a calculadora.
— Ah, obrigada.
— O Josh te ligou algumas vezes.
— Por que não atendeu? - ele ficou sem graça.
— Eu não sabia se podia...
— Claro que podia. Ele deve querer falar sobre amanhã. - Will, nitidamente, fez um esforço sobre humano para parecer desinteressado.
— Vocês... hum... vão sair amanhã? - sorri.
— Eu te contei sobre a Lílian.
— Você vai com ele?
— Sim, ele me pediu. Disse que não queria vê-la sozinho, e bom, afinal eu que insisti para que ele a visse.
— Não, claro, faz sentido.
— Algum problema pra você? - ele pareceu surpreso.
— Pra mim? Bom, não faz diferença.
— Claro que faz diferença. Estamos finalmente nos entendendo e eu não quero estragar isso. - ele sorriu.
— Eu não me importo que vá. Acho até que seria bom se você fosse. O Josh não é muito bom lidando com essas coisas sozinho.
— Tudo bem.
— Tudo bem. - ficamos um tempo em silêncio, o Will parecia um pouco sem jeito com a minha pergunta. - Eu já vou indo.
— Boa noite, Will. E obrigada de novo pela noite.
— Foi um prazer e você sabe. Boa noite, Jessie.
     Depois que ele saiu fiquei um tempo olhando pra porta, imaginando se ele também estava sentindo isso. Essa tensão misturada com medo e insegurança. Se sim, como íamos conseguir lidar com isso?
Antes que eu pudesse sequer colocar uma roupa, o meu celular tocou de novo.      O Josh provavelmente já estava desesperado e a qualquer momento podia aparecer aqui em casa. Achei melhor atender de uma vez.
— Alô?
— Ah, graças a Deus, Jessie. Já estava preocupado.— achei graça.
— Não passou pela sua cabeça que eu poderia estar dormindo.
— Você estava?
— Não, mas eu poderia.
— Desculpa por quase surtar.
— Não, eu que peço desculpas por não atender logo. É que eu e o Will saímos hoje e acabei esquecendo meu celular com ele.
— Ah... hum... vocês saíram?
— Sim, tínhamos que comprar as roupas para o casamento, depois fomos ao cinema e a um rooftop.
— Sei... E foi divertido?
— Foi ótimo. Mas você me ligou por um motivo, certo?
— Claro. Eu queria saber se você ainda vai comigo amanhã encontrar com a Lílian.
— Com certeza, eu prometi não foi?
— Na verdade, você não prometeu.
— Ah, não? Então, Josh, eu sinto muito... - ele soltou uma risada contagiante.
— Engraçadinha.
— Que horas você marcou com ela?
— 18 horas. Você pode?
— Sim, creio que sim. Se eu não me engano minha aula termina ás 16:30.
— Ótimo. A gente se encontra amanhã então.
— Tudo bem, até amanhã.
— Até!
     Eu queria muito mesmo que essa Lílian pudesse perdoar o Josh, que ela mostrasse que ele era só uma criança na época. Mas são tantos "se" que eu escolhi evitar pensar no assunto. Eu só precisava de uma boa noite de sono e foi o que eu fiz.

>>o
     Acordei com o despertador, mas sem nenhuma vontade de levantar. Pensei várias vezes se não deveria perder a primeira aula, mas como eu já tinha faltado vários dias por causa do meu lance com o Will, achei melhor levantar e resolver isso de uma vez.
    Dessa vez, o Will não estava no café da manhã. Na verdade todos já tinham saído, mas Richard (sempre muito legal) tinha deixado o dinheiro pro táxi do lado da cafeteira. Comi rapidamente e segui para mais um dia na faculdade.
    Eu já estava mais ou menos na entrada do meu prédio quando o furacão Allison me agarrou e me abraçou com um sorriso enorme, com o Phelipe logo atrás fazendo aquela cara de "Eu sinto muito por isso".
— Bom dia pra você também. - falei e ela sorriu.
— Por que você sumiu?
— Eu sumi?
— Sim, você sumiu. Eu te via quase todo dia, ou pelo menos nós conversávamos todo dia e agora você desapareceu.
— Foram apenas três ou quatro dias, Alli.
— Três ou quatro dias sem notícias.
— Desculpe, não farei mais isso.
— Acho bom. E oh, nós dois queremos agradecer pelo convite.
— Já receberam o convite do casamento?
— Chegou hoje de manhã. - falou Allison.
— Eu fiquei lisonjeado, Jessica, mas sinceramente eu odeio usar terno.
— Sinto muito por isso.
— Eu também, minha querida Jessica, eu também.
— Eu tenho aula agora, mas podemos conversar depois? - perguntou Allison.
— Claro. Podemos almoçar juntos. - falei.
— No almoço eu e Phelipe já marcamos com Jack e Abigail. Mas depois da aula? Você pode?
— Não posso, já marquei com o Josh.
— Vai sair com o Josh? - perguntou Allison curiosa.
— Sim, longa história.
— Vocês estão ficando? - perguntou ela de novo.
— Claro que não. O Josh me contaria. - falou Phelipe, mas depois parou. - Ele me contaria, né?
— Sim ele contaria e não, não estou ficando com ele. Só vou ajudá-lo em uma coisa.
— Você me contaria, não é?
— Claro, Allison. Olha, e amanhã? Amanhã é sábado, podemos fazer alguma coisa.
— Tudo bem. Eu te ligo mais tarde. - falou ela.
— Ótimo, a gente se fala. - abracei Alli mais uma vez.
— Beijo, beijo. - e corri para minha aula.

>>o
— Está tudo bem, Jessica? - perguntou Chloe.
— Tudo ótimo. Por quê?
— Você parece ansiosa.
— Não, é só uma coisa que eu estou pensando.
— Tem certeza?
— Tenho sim. Já decidiu a roupa pro casamento? - ela abriu um sorriso.
— Ainda não, mas você prometeu que ia sair comigo, lembra?
— Ah é claro. Vamos marcar isso.
— Amanhã? - dei de ombros.
— Vou ver e te falo.
— Tudo bem.
— E você, Chris? Já falou com a Trina?
— Sobre o casamento?
— Sim.
— Ainda não. Será que ela já recebeu o convite?
— Provavelmente sim. O de vocês já chegou, certo? O da Allison e do Phelipe, também. Creio que o dela já tenha chegado.
— Ótimo, vou falar com ela hoje.
— Vão sair mais tarde? - seu sorriso era meio idiota, mas de um jeito fofo.
— Vamos ao cinema.
— Estou tão feliz por você.
— Eu também.
— Eu estou torcendo para que vocês deem certo.
— Obrigado, Jessie. Valeu mesmo.
     Meu celular começou a tocar repetidamente, obviamente era o Josh. Eu já estava começando a ficar nervosa com a situação, eu não sabia o que esperar e imaginava o que ele deveria estar sentindo.
— Alô?
— Sou eu.
— Já saiu da aula?
— Estou saindo agora.
— Então, vamos?
— Estou pirando, Jessie.
— Ei, relaxa. Vai dar tudo certo.
— Espero que sim.
— Já confirmou com ela?
— Sim. Ela já está indo pra lá.
— Hora de ir, certo?
— Certo. Me encontra na entrada?
— Claro, estou indo pra lá.
— Valeu mesmo.
— Não por isso.
     Juntei minhas coisas, me despedi de Chris e Chloe, e fui encontrar com o Josh. De longe percebi seu olhar inquieto, ele parecia batucar na perna. Nitidamente, estava nervoso.
— Vamos?
— Graças a Deus, você chegou.
— Ei, para de pirar. Respira, conta até 10 e aí podemos ir.
— Desculpa, eu realmente não estou bem.
— Percebi. Vamos, mas por favor, para de mexer a mão.
— Tudo bem.
     Caminhamos até lá em silêncio, eu podia sentir a tensão e o nervosismo emanando do Josh o que fazia com que eu ficasse tensa e nervosa. E de repente, ele parou como se estivesse em choque.
— O que foi? - perguntei e ele apontou.
— É ela, Jessie. - e lá estava ela.
     Lílian era uma garota sem dúvida bonita, seu cabelo era preto e estava solto em cachos. Ela parecia uma menina simples, estava apenas de calça, camisa e jaqueta, mas de longe dava pra ver suas curvas. Eu podia entender por que o Josh se interessou por ela, pelo menos a primeira vista.
— Bonita. - ele sorriu.
— Sim, ela é.
— Coragem! - ele respirou fundo.
— Vamos lá.
     Assim que chegamos mais perto ela nos viu, seu sorriso era tímido e ela sinalizou que tinha nos visto. Era não parava de mexer em um colar simples com dois corações entrelaçados e pela cara do Josh ele conhecia esse colar.
— Oi. - falou ela. Sua voz era firme, mas com certeza ela estava sem graça.
— Oi. - falou Josh do mesmo modo.
— Você é a Jessica. - sorri e estendi a mão que ela apertou.
— Isso mesmo.
— Lílian.
— Prazer.
— Você ainda está usando esse colar? - perguntou Josh, ela deu de ombros.
— Nunca tirei, talvez por hábito, talvez porque me relaxa.
— Você que deu pra ele? - perguntei. - Bonito.
— Dei, há um tempinho atrás.
— Pensei se poderíamos tomar um café? - perguntou ela.
— Claro.
     Nosso caminho até o Starbucks foi rápido e silencioso, nem o Josh, nem a Lílian se olhavam apenas caminhavam. Eu me sentia no meio de um tiroteio, perdida e vulnerável.
     Depois de pedir as bebidas, muffins e finalmente escolher uma mesa, que eles se olharam a primeira vez. Eu podia jurar que os olhos dela brilhavam.
— Eu... é... fiquei bem surpresa quando você me ligou. - falou Lílian.
— Na verdade, a Jessica me convenceu a isso.
— Sério?
— Sim, eu só achei que algumas coisas tem que se resolver mesmo que demore. - falei.
— Você está certa, eu só não tinha coragem de falar com você.
— Lílian, eu só queria dizer que eu sinto muito mesmo. Sinto muito pelo o que eu fiz você passar, por ter te abandonado, por ter te tratado mal, eu só... sinto muito. - o Josh parecia desesperado, quase aliviado.
— Eu sei. Eu já te perdoei.
— Perdoou? - ela sorriu.
— Faz tempo que sim.
— Ah... hum... isso sim é surpreendente.
— Não tinha porquê eu continuar remoendo isso depois de tanto tempo.
— Nem tanto tempo.
— Nem tanto tempo. - Josh soltou um suspiro totalmente aliviado.
— Mas o que aconteceu depois que você foi embora? - perguntou ele.
— Bom, depois que nós conversamos e eu tive certeza de que você não queria o bebê eu pensei que não podia deixar de tê-lo. Meus pais sempre insistiram tanto para que eu fosse morar com minha irmã na Austrália e eu sempre recusava por sua causa, então pensei que seria perfeito se eu fosse. Não contei para os meus pais que estava grávida, apenas disse que tínhamos terminado e que eu queria passar um tempo fora. Contei apenas pra minha irmã e ela prometeu guardar segredo até o bebê nascer. Depois de dois meses, eu acabei dormindo na banheira e quando eu acordei estava toda coberta de sangue... - ela parou por um momento e eu achei que ela fosse chorar, mas ela se manteve firme. - Eu fui correndo para o hospital, mas já era tarde demais. Eu tinha perdido o bebê. Lá disseram que foi aborto espontâneo e que a culpa não era minha.
— E não era. - falei e ela sorriu.
— Agora sei disso, mas fiquei muito mal por um tempo. Achei que você deveria saber, mas estava muito magoada pra te ligar, então liguei para o Will. Imaginei que ele sabia, porque se você contaria isso pra alguém seria pra ele. Conversamos por um tempo e ele prometeu que te contaria. Então apenas tentei seguir com a minha vida e esquecer que isso tinha acontecido.
— E você está bem? - perguntei.
— Estou. Já superei isso e já perdoei o Josh. Não posso culpá-lo por fugir, afinal éramos crianças. Sei que você estava com medo e eu também estava, eu só não tinha coragem de tirá-la de mim.
— Eu sinto muito mesmo. - a voz do Josh era de cortar o coração. Lílian pegou sua mão e apertou com um sorriso.
— Está tudo bem.
— Obrigado por me perdoar, você sempre foi incrível.
— E você sempre foi um péssimo mentiroso.
— Mais ou menos.
— Então me conta, como você está? - perguntou ela.
— Estou bem. Estou na New York University, faço Ciências Políticas.
— Claro que faz. Seus pais ainda são idiotas? - ele riu.
— Com certeza. Certas coisas nunca mudam.
— E a Chelsea? Estou com saudade dela.
— A Chelsea está como sempre. Também está na New York University fazendo Jornalismo.
— Jornalismo? Parece mesmo com ela.
— E está namorando o Derek. - Lílian arregalou os olhos.
— O Derek? Derek caladão? Derek nerd, esse Derek? - soltei uma risada.
— Você conhece o Derek? - perguntei.
— Eramos todos da mesma escola. Ele também está na NYU?
— Sim, Biomedicina.
— Mas quem diria?
— Eu, com certeza não, porém a Chelsea está apaixonada e eu dou o meu apoio.
— O seu apoio? Desde quando você apoia a Chelsea namorando?
— Desde que o Will conversou com ele. - falei.
— E o Will como ele está?
— Está bem. Também está na NYU, faz Economia.
— Isso é tão a cara dele. Continua com a Megan-nojo-Dashner? - eu que estava inocentemente bebendo meu café quase cuspi de tanto rir.
— Não, ela traiu ele com o Jackson. - foi a vez dela de quase cuspir o café.
— O Jackson?
— Pois é, longa história.
— Estou com tempo.
— Bom, naquele ano que você se mudou pra Austrália, a mãe do Will faleceu.
— Elizabeth? O que aconteceu?
— Câncer de pulmão.
— Ah, que barra. Eu gostava tanto dela. - fiquei surpresa.
— Conheceu a mãe do Will?
— Sim, eu já tinha ido algumas vezes na casa do Will quando eu... hum... namorava o Josh. Mas continua a história.
— Enfim, obviamente o Will ficou muito mal. Ele ficou péssimo e a Megan não era muito boa lidando com isso. Então ela simplesmente resolveu começar a ficar com o Jackson. Obviamente isso não ajudou em nada a situação do Will, de qualquer maneira, eles terminaram e ela saiu de vez das nossas vidas, até que... - Josh parou de falar meio sem querer. Era nesse momento que eu entrava na história, afinal quando eu apareci, a Megan reapareceu.
— O que aconteceu? - perguntou Lílian curiosa.
— Bom, foi aí que eu entrei.
— Como? - soltei um belíssimo suspiro e contei.
— Mais ou menos um ano e alguns meses atrás, a minha mãe e o pai do Will começaram a namorar. Nós acabamos ficando muito próximos e nos apaixonamos, começamos a namorar. Só que bem, o meu vizinho que era o cara que eu gostava antes do Will, o Nathan, começou a namorar com a Megan e bom, o clima ficou mega estranho porque eu e ele éramos amigos, enfim... agora, somos todos amigos. O Nathan e eu superamos essa fase, a Megan não é mais uma megera e eu e o Will não estamos mais namorando.
— Uau. - falou Lílian um tanto chocada.
— Pois é... - ela sorriu.
— A pessoa não pode nem passar um tempo fora do país que perde toda a diversão. - sorri.
— Mais ou menos.
— Mas a sua mãe e o pai dele continuam namorando?
— Vão se casar mês que vem e moramos todos na mesma casa. - ela fez uma careta.
— Então você mora com seu ex-namorado? - dei de ombros.
— Simples, eu sei.
— Eu sinto muito por você. Ainda gosta dele? - olhei de canto de olho para o Josh que tinha escolhido aquele momento para olhar pra janela. Lílian percebeu que tinha alguma coisa errada.
— Gosto, ainda gosto dele. - falei por fim.
— O que vocês fizeram? - perguntou ela.
— Como assim? - falou Josh entregando tudo na voz.
— Eu conheço esse olhar, Josh. Já vi no seu rosto antes. - ele deu de ombros.
— Não quero falar sobre isso.
— Claro que não. Enfim, depois dessa história fiquei pensando se eu não poderia ver a turma toda de novo...
— Claro. A Chelsea vai adorar te ver de novo.
— Você contou pra alguém sobre o que aconteceu, tirando o Will?
— Não, ninguém sabe sobre isso tirando o Will e a Jessie. Eu só falei que tínhamos terminado e que você tinha se mudado para a Austrália.
— Tudo bem. E Jessica, eu quero te dar um conselho: se você gosta de alguém de verdade, não deve pensar nos prós e contras. Não pensa se vai ser pra sempre, apenas torça que seja. E se por acaso, não der certo, tenha plena certeza de que fez tudo que podia para que desse.