O Garoto, os Amigos, a Faculdade escrita por God Save The Queen


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Sejam legais, sim?



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>>o Ponto de vista: Jessica
    Eu e Will estávamos estranhamente enjoativos, tínhamos virado aqueles casais que ficam o tempo todo grudados, nem que seja apenas nesse fim de semana.
    Decidimos parar pra comer em uma lanchonete charmosa que tinha seus encantos. Não estava muito cheia, por isso achamos uma mesa com facilidade, mas antes que pudéssemos sentar, Will ficou encarando uma mesa ao longe.
— O que foi? - perguntei curiosa.
— Aquela é a Trina? - segui seu olhar e me assustei.
— Acho que sim. Nossa, ela está com o Chris.
— O cara da sua turma?
— Esse mesmo, mas eu achei que eles se odiassem, quer dizer, que ela o odiasse.
— Parece que não mais. Devemos falar com eles?
— Não, acho que... - mas antes que eu pudesse terminar, Trina nos viu e sinalizou para que nos aproximássemos.
— E agora? - perguntou Will.
— Agora vamos lá.
    Quando chegamos mais perto, Trina parecia transbordar alívio por nos ver, o que não era o caso do Chris. Seu rosto demonstrava desconforto com a nossa presença.
— Olá, casal maravilha. - falou Trina.
— E aí? Faz um tempinho que não te vejo. - ela sorriu.
— Andei ocupada.
— O que estão fazendo aqui? - perguntou Will nada discreto.
— Acho que o mesmo que vocês. Desejando um hambúrguer. - falou Chris sem muita simpatia e com razão.
— Ainda não pedimos nada, acabamos de chegar. - respondeu Will como se não tivesse percebido o tom de Chris, ou talvez não tivesse mesmo.
— Querem se sentar conosco? - perguntou Trina.
    Eu falei "não", na mesma hora que Will disse "claro", o que fez Trina levantar uma sobrancelha e Will me olhar curioso.
— Bom, é que eu quero um tempinho só com Will, você se importa? - perguntei pra Trina, mas senti o olhar agradecido de Chris.
— Claro que não. - falou ela.
— Ótimo, a gente se vê. - praticamente arrastei o Will dali.
— O que foi isso? - perguntou ele.
— Você não percebe nada, não é?
— Eu sou homem, você não deveria esperar nada diferente.
— Chris não queria que sentássemos lá.
— Mas Trina...
— Trina estava querendo se safar de alguma coisa. - Will me encarou como se eu fosse alguma terapeuta.
— Não estou entendendo nada.
— Ah, por favor, Will.
— Mas você não disse que a Trina o odiava? - revirei os olhos.
— Primeiro que eu estava exagerando. Segundo que você deveria saber que o ódio e amor andam lado a lado.
— Mas Jessie... - eu o beijei para que ficasse quieto.
— Ainda bem que você é bonito, William. - ele sorriu.
— Vou levar isso como um elogio e vou ignorar suas intenções por trás dessa frase.
— Melhor assim. Vamos pedir?

 

>>o Ponto de vista: Chris
    Depois de tanto insistir, de todas as ligações, de todas as abordagens forçadas pelo corredor, todas as mensagens e aparições sem avisar no seu apartamento, Trina aceitou sair comigo pra conversar.
    Pela primeira vez as coisas estavam dando certo de alguma forma, ela ainda não tinha me batido, não tinha me xingado e estava sendo relativamente gentil comigo o que era um progresso.
— Então, Mead, o que você quer tanto falar comigo?
— Eu sinto muito. - isso pareceu pegá-la de surpresa, muito de surpresa.
— Você sente? - sua voz estava ríspida, mas eu via pelo seu olhar que ela estava confusa.
— Sim, eu sinto. Eu sei que fui um baita covarde, eu sabia no momento que você me perguntou se eu queria vir pra Nova York que eu não viria. Eu já tinha me decidido, mas mesmo assim achei que merecesse uma despedida. - ela cruzou os braços e me encarou com olhos tão frios quanto gelo no Ártico.
— E você achou que seria uma ótima ideia fazer sexo comigo antes de me dispensar?
— Eu sei que fui um idiota, mas eu gostava muito de você, mesmo. Eu era uma criança, Trina, nós dois éramos. Eu tinha medo de fugir e perder tudo o que era meu por direito. Meu pai ficaria furioso e não me daria herança, nem a empresa, eu me apavorei.
— E em que parte dessa sua história fazer sexo comigo se encaixa? - respirei fundo.
— Eu era apaixonado por você. Droga, Trina, eu sou apaixonado por você. Eu só queria que tudo desse certo naquela noite, que eu esquecesse que era um covarde. Eu queria que aquela noite fosse memorável pra nós dois antes que você me odiasse, porque eu sabia que ia me odiar.
— Nisso você acertou.
— Poxa, Trina, me perdoa. Eu sei que eu errei, mas já faz três anos. Eu não conseguia pensar em outra coisa a não ser no fato que eu tinha te decepcionado, que eu tinha te magoado de alguma forma. De repente, o dinheiro e a empresa do meu pai não me pareceram tão importantes.
— E aí você resolveu vir pra Nova York?
— Sim, eu pensei que não tinha lugar melhor pra recomeçar do que no lugar que tudo tinha começado a desandar.
— Você sabia que eu estava na New York University?
— Eu não tinha certeza, mas eu sabia que você amava essa cidade e que ela significava liberdade pra você. Sabia que você não ia embora daqui tão cedo.
— Você não me conhece. - sua voz estava um pouco abalada, o que me deu coragem.
— Claro que conheço. Sei que usa as palavras como armas quando está irritada, sei que a última vez que você chorou foi quando viu seu pai com outra mulher, sei que ama bibliotecas, mas odeia ler e que só vai pra lá por causa do silêncio, sei que não usa roupa branca porque é a cor preferida da sua mãe, sei que odeia música pop, mas gosta do Michael Jackson, sei que ama Londres porque acha o céu da cor da sua alma. Trina, eu te conheço muito bem. - seus olhos estavam arregalados e ela me encarava em choque.
     Eu queria que ela dissesse alguma coisa, qualquer coisa, mas antes que eu pudesse evitar ela estava chamando alguém. Era a Jessica com o namorado idiota dela, eu até fiquei feliz por saber que eles estavam bem, mas eu não queria vê-los agora.
— Olá, casal maravilha. - falou Trina com uma felicidade que eu sabia que era forçada.
— E aí? Faz um tempinho que não te vejo. - falou Jessica.
— Andei ocupada. - eu senti o olhar de Trina em mim pelo canto do olho.
— O que estão fazendo aqui? - perguntou o namorado idiota da Jessica.
— Acho que o mesmo que vocês. Desejando um hambúrguer. - falei reunindo minha irritação sem conseguir me conter.
— Ainda não pedimos nada, acabamos de chegar. - eu não sabia se ele era idiota, ou fingia que era.
— Querem se sentar conosco? - perguntou Trina e eu olhei pra ela sem acreditar, mas Jessica falou "não", na mesma hora que Will disse "claro", o que fez Trina levantar uma sobrancelha e Will olhar pra ela curioso.
     Eu sabia que Jessica tinha olhado pra mim e entendido o meu olhar, fiquei muito agradecido.
— Bom, é que eu quero um tempinho só com Will, você se importa? - falou Jessica e Trina deu um sorriso amarelo.
— Claro que não.
— Ótimo, a gente se vê. - ela praticamente arrastou o namorado dali.
     Ficamos encarando o rosto um do outro sem saber o que dizer por um tempo. Eu queria confrontá-la, mas minha coragem tinha ido embora.
— Não acredito que você se lembre de todas essas coisas. - falou ela em um sussurro. Quase ri de tanto alívio.
— Claro que lembro. Eu já disse que sou apaixonado por você. - ela ficou me encarando sem expressão.
— Não acredito em você. - respirei fundo.
— Tudo bem, eu entendo. Mas, por favor, me perdoa.
     Ela abriu a boca pra falar alguma coisa quando a garçonete chegou com os nossos pedidos, eu quase gritei com o segundo pior momento inoportuno da história. Trina ficou olhando pra mim até a mulher sair da nossa mesa.
— Eu... é... eu não sei, Chris. - suspirei.
— Por favor.
— Você não imagina o quão magoada eu fiquei. Eu tinha 16 anos, estava com medo e assustada, só que acima de tudo eu não aguentava mais aquela vida.      Não aguentava mais a reclusa que os meus pais tinham comigo, a falsidade e a cobiça que tinha naquele lugar. Você era o único que sabia, era a única pessoa que eu confiava e mesmo assim eu senti sua traição como uma faca no meu coração.
— Eu sinto muito.
— As piores traições vem de pessoas que você amou. - prendi a respiração.
— Você realmente me amava? - ela deu um meio sorriso.
— Claro que eu amava. Por que você acha que eu fiquei magoada?
— Mas amor é sério, Trina. Você não pode deixar simplesmente de me amar, pode? - ela deu de ombros.
— Ainda não sei. - peguei a mão dela em uma situação desesperada.
— Eu não quero te pressionar, nunca. Mas saiba que eu te amo e ainda lembro de tudo sobre você.
     Várias emoções se passaram pelos olhos dela, mas no fim ela apenas começou a comer. Tentei não deixar aquilo me abater, se ela não saiu correndo ou me bateu era porque tinha feito a diferença pra ela. Então meio contrariado, comecei a comer também.

 

>>o Ponto de vista: Jessica
— Você falou com o Josh hoje? - perguntei e Will levantou a cabeça.
— Sim, ele me ligou. Por quê? - dei de ombros.
— Ele me deu carona ontem e falou várias vezes que eu deveria perdoá-lo. Achei que ele deveria saber que a gente está bem. - ele sorriu.
— Ele me ligou de manhã. Parecia estar feliz. - sorri.
— Acho que ele não aguentava mais me ouvir.
— Até parece. Josh é um garoto legal. - Legal até demais, apenas pensei.
— Sim, ele é.
— E essa Allison? Quero conhecê-la.
— Você vai gostar dela. Já somos amigas.
— E a Chloe? Você tem falado com ela?
— Ainda não falei, mas sei que vai se sentir traída por eu não ter contado pra ela logo de cara.
— Talvez entenda que ela estava longe demais nesse caso. - soltei uma risada meio sem humor.
— Não acho que ela vai entender, então deixe as coisas como estão.
— Você que sabe.
— E nossos pais? Eles chegam quando, você sabe?
— Meu pai me mandou uma mensagem avisando que eles chegam amanhã a noite. - sorri.
— Isso quer dizer que temos mais uma noite pra gente? - Will deu o seu melhor sorriso sacana.
— Nada me deixa mais feliz.
— Eu até tinha pensando em fazer outras coisas hoje, mas acho que já podemos ir pra casa. - falei.
— Sabe, Jessica, adoro quando pensamos a mesma coisa.
     Sinceramente? Acho que eu estava apaixonada demais para o meu próprio bem. Não que eu me importasse, é claro.


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