Scott ordenou que Malia ficasse comigo hoje de noite, mas claramente não dará certo. Passo na delegacia antes de ir pra casa, afinal, eu estou com o Scott dessa vez, é melhor alguém estar comigo caso algo dê errado e eu acabe presa com alguém me controlando. É, eu pensei em todas as consequências possíveis.

      Entro na delegacia e procuro Jordan, mas eu não o encontro.

— Clark - chamo - você viu o Jordan?

— Ele foi atender a um chamado... Se quiser esperar, Lydia...

— Tudo bem... Obrigada.

        Sento-me no banco e aguardo. Olho de um lado para o outro e noto que ele pode demorar. Pego meu celular e vejo que Scott mandou uma mensagem pra mim perguntando onde eu estou. Bloqueio o celular e volto a esperar. Escuto a porta se abrindo ao meu lado e vejo que é o Xerife.

— Temos visita... -ele fala ao me ver - Oi Lydia... Algum problema sobrenatural?  - ele fala baixinho e eu sorrio pra ele.

— Não, eu só vim atrás do Jordan - digo

— E você está bem? - abro a boca pra falar, mas ele continua - entre, vamos conversar.

Fico sem saber se aceito, mas ele não perguntou, afirmou, então fico meio que sem saída. Entro com ele na sala dele.

— Sente-se - ele diz

Eu me sento em frente a mesa e ele se senta em sua cadeira.

— Você está bem? - ele pergunta novamente

— Sim, estou. E as coisas por aqui?

— Mais calmas - ele diz - na verdade, bem estranhas.

— Por estarem tão calmas?

— Não. Por que recebemos chamados que muitas vezes não se tratam de muita coisa, mas sempre iguais.

— E o que é? - pergunto

— As pessoas nunca sabem dizer direito o que aconteceu, é como se mexessem com suas mentes.

E eu sinto um aperto no peito. Tudo que ouvi sobre desaparecer e agora isso... Tudo isso pode estar ligado.

Respiro fundo

— Falou com o Scott? - pergunto

— Farei isso hoje.

Ele olha por cima dos meus olhos e sou tentada a olhar também, mas antes que decida, ele fala

— Acho que quem você esperava chegou

Olho para trás e vejo Parrish de pé conversando com Clark e segurando os quadris

— É a sua deixa - o xerife diz

Sorrio sem graça pra ele e me levanto. Me direciono para a porta quando ele fala

— Lydia - olho para ele - se acontecer algo estranho, me avise

Assinto com a cabeça e saio, Jordan me vê assim que eu saio

— Lydia? - ele diz com um tom preocupado e se aproxima - está tudo bem?

— Sim, está, eu só estava conversando com o xerife... Na verdade, estava te esperando.

O xerife passa por nós

— Queria falar comigo? - Jordan diz

— Sim.

— O que foi?

— Vai estar de plantão hoje a noite?

— Não... Na verdade, eu já estava folgando agora mesmo...

— Ótimo, vamos pro meu carro.

— Espera, vou pegar minhas coisas.

Ele pega uma mochila e nós partimos para o meu carro. Eu conto tudo a ele e ele topa ir pra minha casa. Eu ficaria meio sem graça em fazer esse pedido, mas é preciso.

   Em casa, como de costume, não preciso explicar pra minha mãe nada sobre garotos no meu quarto. Tomo um banho e logo depois deixo que Jordan também tome. Pego comida pra gente porque eu estou morrendo de fome e provavelmente ele também.

    Comemos uns sanduiches e refrigerantes pra acompanhar. Ao fim do lanche, ele me olha fixamente e depois de um tempo, finalmente fala

— Você vai mesmo se arriscar?

— Vou, é o que devo fazer.

— Não, você não deve nada.

— Claro que sim, alguém precisa de mim.

— Você nem sabe quem.

— Olha, se esses dons vieram pra mim, tem uma razão.

Ele bufa

— Agora eu vou tentar me concentrar - digo

— Faça isso.

De repente, vejo alguém entrar pela minha janela. É Malia.

— Oi - ela diz pra mim - tchau - ela diz olhando pra Jordan

— Como essas pessoas sobem pela minha janela assim?! - falo

— Simples, só...

— Foi uma pergunta retórica - interrompo-a

— Ah... É...

— O que faz aqui, Malia?

— Vim tomar conta de você

Ela se joga na minha cama, entre mim e Jordan, que estava numa cadeira junto da cama

— O que faz na minha cama? - digo

Ela está de costas pra mim e olhando pra Jordan, deitada de lado e apoiando a cabeça na mão

— Você pode ir - ela diz

— Malia, o que está fazendo? - pergunto

— Eu posso proteger ela mais do que você - Jordan diz

— E eu dou mais concentração a ela, e ainda posso proteger, então você pode ir...

Ela se levanta e vai empurrando o Jordan até a porta

— Tchau! -ela diz ao fechar a porta na cara dele

— Malia, o que está fazendo?

— Scott disse pra eu vir

— E você está aqui... Vai fazer o que? me dar um soco?

— Você me irrita muito, nossa. Mas, estou mais calma agora.

— Eu nem te fiz nada e você já estava nervosa.

— Você me atiçou, então ia levar.

— Você é mesmo uma maluca.

— Agora se concentra ai e acha o que você tanto quer.

— É só você ficar quieta e calar a boca...

— Okay

Ela se joga na minha cama e eu fico encarando-a

— Mais pra lá por favor - digo

Ela vai

— Um pouco mais

Ela recua mais

— Mais

— Eu vou cair da cama assim

Forço um sorriso

— Ta, entendi

Ela vai pra cadeira

— Perfeito.

Ela revira os olhos

   Encosto a cabeça no travesseiro e fecho os olhos. Respiro fundo. Hoje vai ser um dia raro, um dia que não tomei remédio pra dormir. Penso se Malia ficará ali me olhando mesmo e me incomodo.

— Estou incomodada - digo

— O que foi? - Malia pergunta

—Não fique olhando pra mim o tempo todo...

— E o que tem a ver? Você fica ai mostrando esses peitos e essas pernas com essa camisolinha, mas não é algo que eu goste, fique tranquila... e também não é algo que eu já não tenha visto, olha aqui...

Ela ameaça a levantar a camisa, mas eu me adianto

— Não! Não, eu já entendi!

Reviro os olhos e respiro fundo.

  Encosto a cabeça no travesseiro novamente. Foco-me no silêncio, foco-me no vazio. Essas coisas não vem a mim quando quero, não posso projetar nada. Porém, consigo ouvir coisas... Murmúrios, gemidos, choros...

    Tudo parece estar entrando em foco e eu não esperava conseguir tão fácil. As vozes estão aumentando em minha mente. Aquela voz familiar, aquela mesma pessoa, aquele mesmo pranto.

Alguém me tira daqui por favor

A voz já não tem força para pedir.

    Eu tenho que ajudá-lo. Foco-me mais em entrar dentro da cabeça daquela voz, daquele choro. De repente, vejo imagens rápidas. Não como os flashes , mas do lugar onde provavelmente está esta pessoa. É escuro, parece estar sob a terra. Como posso dizer que estou aqui? Como posso me comunicar? Não posso me desconcentrar agora ou perderei a conexão. É quando sou surpreendida

Scott... Scott, você tem que me encontrar... Sinta meu cheiro... Lydia, Lydia, desvende isso tudo... Você sempre conseguiu, por favor... Não se esqueçam de mim...

  Eu tenho o impulso de levantar, mas não posso, tenho que me concentrar.

Meu jeep, meu pai, o departamento, meu quarto...

Departamento? O xerife?

Lydia, não se prive dos seus poderes, não agora.

Ele precisa saber que estou ouvindo, ele precisa saber que estou aqui. Eu consigo ver o que ele vê, talvez eu consiga fazer ele ver o que eu vejo.

— Eu estou aqui - tento - vou te ajudar. Me ouça.

Não tenho retorno. Ele não me ouviu.

  Se ele não me ouve, posso projetar imagens e falas para que ele ouça e veja... Eu tentarei, tentarei de tudo. Foco-me nele, em seu pranto, nas imagens que posso ver através dele e, pra minha surpresa, consigo me materializar. Estou num túnel subterrâneo, um corredor. Quando me viro, vejo alguém. Um jovem, mas não vejo seu rosto. É como se tivesse um borrão... Eu não o vejo, apenas seu corpo. Ele está ferido, está preso à parede e de pé. Me aproximo dele.

Você está por aqui, seu desgraçado? Me tira daqui!

Me aproximo dele e encosto minha mão em seu rosto que não vejo. Ele parece sentir, pois ele para completamente. O borrão em seu rosto agora parece falhar, hora sai, hora volta... muito rápido. Eu não lembro de seu rosto, por isso não posso vê-lo.

    Fecho os olhos e volto Àquele momento em que estávamos todos na frente de um jeep. Em que eu chamei Malia e Scott, que chegaram Hayden e Liam. Deixo que ele veja

— Pessoal? - ele diz

Tiro a mão de seu rosto

— Vocês estão me procurando... - respiro fundo em alívio - Lydia, é você que está aqui?

Eu me assusto, porém aproximo meu rosto de seu ouvido

— Não desista - digo - estamos vindo atrás de você.

Acordo em súbito, Malia se assusta

— O que foi?! - ela exclama

— Chame o Scott - digo - Vamos até o xerife.... Eu já sei o que fazer.