Só quem realmente passou por algo como isso na vida sabe a dor que eu sinto agora, a dor de perder alguém que ama, a dor de perder tudo na sua vida, a dor de perder a razão do seu viver, a dor de morrer por dentro.

Poucos sabem o significado da palavra amar, e esses que sabem, muitas vezes não tem tempo de aproveitar essa sabedoria toda, esse dom que recebeu, partem tão cedo que não podem ter a chance de curtir a si mesmos.

A vida nos ensina a saber lhe dar com os obstáculos, muitas vezes eles são tão grandes que pensamos em desistir, mas conseguimos vencê-los e descobrir que podemos muito mais do que pensamos, e isso nos ajuda a encontrar o nosso verdadeiro destino.

Eu pensava que o meu seria estar ao lado de David pelo resto de minha vida, mas acabei descobrindo que foi ao contrário, foi David que estava destinado a ficar ao meu lado pelo resto de sua vida.

Eu o conheci aos 17 anos em uma praça da cidade, ele estava sentado em um banco, com o rosto banhado em lágrimas, olhando o por do sol por detrás das árvores, o coração despedaçado pela morte da mãe, eu havia acabado de ser expulso de casa por assumir minha homossexualidade, e ali, juntos, abrimos nossos corações um para o outro, mesmo sem nos conhecermos, a última coisa que falamos naquele dia foi:

- Como se chama?

- David, e você?

- Pierre, muito prazer!

E depois, seguimos caminhos diferentes, eu fui para a casa de um tio e ele voltou para sua casa, fomos nos ver somente 2 anos depois, quando nos encontramos no mesmo lugar da primeira vez e começamos a conversar melhor, foi ai que nos apaixonamos e começamos a nos ver todo dia, até que eu tomei vergonha na cara e o pedi em namoro.

Então, foram mais 5 anos de maravilhas em minha vida, até que, um dia antes de eu dar uma aliança decente a ele e o pedir em casamento, ele foi assassinado por seu pai.

É isso mesmo, pelo pai.

Ele tinha problemas com bebida, David odiava que ele bebesse, ele implicava até quando eu bebia uma garrafa de cerveja, mas eu o entendia, era o trauma de infância que ele carregava, seu pai batia muito em sua mãe, ele sempre estava atrás de dinheiro, e quando ela morreu ficou atrás de David, mesmo depois que compramos nossa casa e fomos morar juntos. Um dia, David ainda não havia recebido seu salário ainda, e não podia dar dinheiro ao pai, então, foi assassinado por ele, assim, do nada, um pai mata um filho por dinheiro, é como o mundo está hoje.

Me lembro de seu enterro, fiz questão de escolher sua roupa preferida, fiquei ao lado de seu caixão o tempo inteiro, até seu pai aparecer por lá, o que me fez ser obrigado a... bem... matá-lo.

Mas não consegui, a única coisa que consegui fazer foi quebrar a cara dele e ganhar 7 anos em cana por isso, poderia ter pegado até mais, mas felizmente eu tenho um bom advogado.

E hoje, exatamente hoje, fazem os benditos 7 anos, 7 anos da morte de David, e 7 anos de prisão, hoje, eu posso me ver livre desse inferno, eu posso ir ver David.

As portas da prisão se abriram e eu sai para a liberdade, não queria nem ir para casa, eu queria ver David. Meus pés foram automaticamente me levando para o cemitério, eu precisava vê-lo, precisava. No caminho comprei flores, rosas vermelhas, ele as adorava, comprei as mais belas da loja, carreguei-as comigo até seu túmulo, quando cheguei vi sua foto, seu rosto angelical me mostrava um lindo sorriso que seus lábios formavam com tanto carinho, seus olhos me passavam a sensação se carinho que ele me dava toda vez que tocava minha pele, como eu sentia sua falta...

- Hey, eu estou livre! E vim te ver! - foram as primeiras palavras que eu disse.

Contemplei seu rosto por mais um tempo em silêncio.

- Você está lindo... - segurei algumas lágrimas que queriam transbordar pelos meus olhos - senti sua falta todo esse tempo.

Então, não pude mais segurar, meu rosto foi tomado pelas lágrimas, elas tomavam-no pela mesma razão que tomavam o rosto de David quando o vi pela primeira vez na vida: a dor de perder alguém.