O Mistério do Fabergé Proibido escrita por Soleil Rouge


Capítulo 5
Foie-gras


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, leitores! Me desculpem pelos 8 dias de atraso, o trabalho apertou hahahaha. Espero que gostem do capítulo!



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Não conseguia simplesmente parar de encarar o jovem bem à minha frente. Ele era lindo, como Friedrich, era idêntico à Friedrich, como já havia dito. No entanto, havia algo de diferente.

— Querida irmã... — sussurrou Dr. Watson. Não tirei os olhos de cima daquele homem, apesar de saber que era por isso que Dr. Watson me chamava.

“Friedrich” olhou para mim. Um frio passou pela minha barriga, era agora que seríamos desmascarados. Esperei alguns segundos para ser reconhecida, mas isso não aconteceu. Foi então que comecei a me atentar aos detalhes que o fazia um tanto diferente do jovem de Whitechapel. Seu olhar era mais inocente, se essa seria a palavra certa, não era divertido, mas não era frio nem cortante, era bondoso. O cabelo também era diferente, não tinha aquele aspecto rebelde mesmo com o uso do gel, este era bem arrumado.

— Ouso adivinhar que sua irmã já viu meu irmão em algum lugar. — comentou o jovem abrindo um sorriso simpático enquanto ajeitava o guardanapo em seu colo.

— N...não. — gaguejei, corada.  Mais uma vez estava estragando o nosso disfarce. — Eu só estava pensando em outro acontecimento e o senhor está sentado bem à minha frente, não tinha para onde olhar.

 — Ah, claro. Desculpe minhas suposições, de fato, Londres é uma cidade muito grande para encontrar meu irmão perambulando por aí na mesma manhã em que chegou. — ele alcançou o cardápio de vinhos. — Meu nome é Franz, Franz de Mecklenburg.

Franz, o gêmeo de Friedrich que era extremamente religioso e não aceitava o futuro casamento de sua prima mais próxima, Alice de Hasse. Era Franz que Mr. Holmes gostaria de conversar, não era? Mas ele deve ter errado e encontrou Friedrich, só então percebeu que Franz deveria estar hospedado no Savoy, junto com seu irmão, e nos colocou na mesma mesa que ele. Havia algo em meus pensamentos que não combinava, certamente era o suposto erro de Mr. Holmes, não era possível que ele cometesse um erro tão bobo.  

— William e Geraldine Bexley. — ouvi a voz de Mr. Holmes vinda de um lugar misterioso.

Mr. Holmes surgiu pelo lado esquerdo de Dr. Watson e deu palmadinhas em seu ombro, em seguida, olhou para Franz e os dois trocaram apertos de mão antes que um garçom puxasse a cadeira ao lado de Franz para que Mr. Holmes se sentasse. Franz se apresentou novamente, ainda com um sorriso simpático no rosto.

— Matthew Beresford. — apresentou-se Mr. Holmes, também muito simpático e com uma tranquilidade impressionante. — Apreciando a visita a Londres?

— Vim aqui a negócios, Mr. Beresford. Mas pude dar uma passeada pelo Tâmisa essa manhã.

— A melhor hora para se passear pelo Tâmisa. — comentou Dr. Watson. — Quais seriam seus negócios, se me permite perguntar.

— Sim, foi um ótimo passeio, o clima estava muito agradável, apesar de ser inverno. Negócios da indústria de meu pai, Mr. Bexley. Somos nobres alemães, mas meu pai investiu na indústria têxtil e também na de carvão.

— Seu pai parece um homem de visão, Mr. de Mecklenburg. Carvão é a principal fonte de energia das indústrias e a indústria têxtil já está bem formada a essa altura de nosso século. — disse Mr. Holmes.

Mr. Holmes fez um rápido e discreto gesto para um dos garçons, que veio imediatamente. Mr. Holmes fez os nossos pedidos, eram pratos franceses, aquele tão famoso foie-gras, nunca havia comido, mas esperava que fosse bom, pois estava morta de fome.

Eu sei, é uma vergonha eu não saber os nomes de pratos franceses ainda, mas nós éramos uma família mais simples quando papai ainda estava vivo. Também demorei certo tempo para me adaptar à vida nova que mamãe havia conseguido para gente ao se casar com Lorde Croome, quer dizer, Donald. Na verdade, talvez eu ainda não tenha me acostumado, o que é outra vergonha, já que faz sete anos que estão casados, era para eu ser devidamente uma dama.

— Por favor, uma garrafa de Château Lafite. — pediu Franz ao garçom depois de pedir o mesmo prato que Mr.Holmes. — Esse é o melhor vinho para acompanhar um Parfait de Foie-Gras e Salade Mignonne.

Todos nós concordamos, apesar de eu mesma não saber nada de vinhos também, tomava quando me serviam, não sabia o que era o que, só que havia alguns muito gostosos e doces e outros que ardiam minha garganta quando engolia.

— E quanto aos senhores e à senhorita, o que fazem em Londres? — perguntou Franz, olhando-nos com certa curiosidade.

Tomei alguns goles de água, que os garçons já haviam colocado à mesa, provavelmente enquanto estava distraída olhando para Franz. Eu mesma não estava preocupada em responder, sabia que Mr. Holmes teria uma resposta na ponta da língua, mas nada havia me preparado para a que ele deu.

— Viemos especificamente para o baile de Sua Majestade essa noite. — Mr. Holmes falou com tranquilidade.

 Eu engasguei e precisei que Dr. Watson desse umas batidinhas nas minhas costas. Como eu iria a um baile da rainha? Será eu teria que beijar sua mão? Como me comportaria? Nunca tinha sido treinada para esse tipo de evento, com esse tipo de pessoas! Eu precisei me concentrar para manter a calma, talvez eu começasse a ficar com dificuldades para respirar. Não seria nada bom chamar a atenção para mim mesma e o que Mr. Holmes pensaria de mim se eu passasse mal só por causa disso?

— Ah! Eu e meu irmão também iremos. A Rainha Victória mandou os convites assim que soube que estávamos aqui. Somos primos de Alice de Hasse, neta dela por parte de mãe.

— Fico muito feliz que já tenhamos conversado um pouco com o senhor, assim teremos alguém interessante para conversar caso fiquemos entediados. — disse Mr. Holmes, não pude evitar não imaginá-lo tentando me agradar como ele estava fazendo com Franz, seria muito divertido!

O vinho chegou, fomos servidos e os rapazes começaram a conversar sobre política. Eu não participava muito desses assuntos, isso não era problema, sempre foi esperado que as mulheres não dessem opinião quando se tratava de política e economia. Lorde Croome, quer dizer, Donald, sempre diz que mulheres devem ser felizes e não se importarem com essas coisas e que a maioria, quando opinava, causava constrangimento na roda de conversa. Sinceramente, acho que existem dois motivos para a causa de um constrangimento nesse caso: o primeiro é que não somos educadas para isso, então podemos não saber o que estamos falando e o segundo é quando uma mulher fala uma verdade que os homens não querem ouvir. Pensando isso, eu decidi, naquele momento, que pesquisaria tudo sobre política e economia quando voltasse para casa. Ah! E também tentarei costurar uma calça, foi uma experiência maravilhosa vestir uma essa manhã.

No entanto, apesar de minha empolgação para aprender mais sobre o assunto tratado, não estava entendendo muito. Só sabia que Franz havia ido à Rússia para discutir com o Czar Nicolau I sobre a indústria de carvão e prestar consultoria sobre umas dúvidas que o czar tinha sobre como lidar com a industrialização. Nada sobre o casamento de sua prima e o czarevich foi mencionado. Assim, decidi dar uma passada no lavabo feminino, confesso que queria me olhar de novo no espelho, para ver o vestido da Madame Cousteau.

O lavabo era lindo. Havia cinco pias de mármore e cinco espelhos ovais com a moldura de mármore, combinando com as pias. Também havia um suporte de frente para as pias, para deixar tudo mais prático para retocar o pó de arroz e o batom. Só então eu percebi que não usava nenhuma maquiagem.

Virei-me para o espelho para examinar o meu rosto pálido e sem graça. Um vestido Madame Cousteau merecia mais do que isso. Não, eu estava feliz demais usando aquele vestido e tinha que ser feliz em paz. Nunca me importei com maquiagem, por que me importar naquela hora?

Uma moça entrou no lavabo, interrompendo meus pensamentos. Sua pele estava bronzeada e saudável, seus cabelos castanhos claro estavam presos em um coque delicado, seu vestido era incrível, havia flores vermelhas de tapeçaria bordadas por toda a saia e parte do colete que cobria o forro acobreado. Ela pousou sua bolsinha cobre no suporte, pegando apenas o batom. Depois se acomodou a um espelho de distância de mim.

— Tenho um batom perfeito para o seu tom de pele e esse vestido na minha bolsa. — disse ela ao se virar para mim repentinamente sorrindo.

— Não precisa se dar o trabalho! — exclamei, surpresa com a reação a moça desconhecida, que já retirava o batom de sua bolsinha.

— Você tem um contorno de lábios perfeito! — falou ela enquanto segurava meu queixo delicadamente para passar o batom. Achei sua atitude um tanto invasiva, mas ela parecia muito entusiasmada.

— Obrigada. — falei quando ela terminou. O batom era realmente perfeito, um rosado tão natural!

— Não é nada! Esse vestido lindo tinha que ter uma corzinha. Meu nome é Charlotte Hopwood.

— Geraldine Bexley. — nós duas trocamos apertos de mão.

— Vi que está na mesma mesa daquele alemão... Franz. — comentou ela, olhando-se no espelho.

— Ah, você o conhece?

— Não muito bem, mas meu pai estava pensando em me arranjar um casamento com ele. Como ele é? — esse mundo de pessoas importantes parece tão pequeno, como a moça no banheiro pode estar prometida para o jovem que está sentado à mesma mesa que eu?

— O conheci agora no almoço. Mas ele parecia muito gentil. — comentei, sem saber por que me sentia meio desconfortável, mas ao mesmo tempo sentia que responderia qualquer coisa que ela perguntasse.

— Que pena. Bom, o verei no baile essa noite. Espero que ele me tire para dançar.

— Tenho certeza de que ele fará isso. — sorri para ela.

— Não tenha tanta, será um baile de máscaras! Tiraremos à meia-noite. Não é emocionante? Tão Romeu e Julieta! — o olhar de Charlotte era sonhador, suspeitei de que ela havia se apaixonado por Franz à primeira vista. Já eu mesma fiquei animada com a nova informação, toda aquela tensão de conhecer a rainha sumira, ela não saberia dizer quem era quem.

Não sabia se poderia contar a ela que eu iria ao baile, de repente me ocorreu que nós não fôssemos realmente, que era só uma conversa de Mr. Holmes. Esse pensamento me deixou um tanto desanimada. De qualquer forma, despedi-me de Charlotte, desejando-lhe boa sorte e voltei para a mesa.

— Miss Bexley, achei que não estava mais com fome. — comentou Mr. Holmes quando eu cheguei.

— Uma moça começou a conversar comigo. — peguei uma garfada pequena de foie-gras.

Foie-gras era horrível, minha vontade era de cuspir. Da forma mais discreta possível, procurei pelo meu copo d’água, mas ele havia sumido, então peguei o vinho. Era até melhor que fosse o vinho, assim disfarçaria o gosto daquela coisa horrível.

Os três continuaram a conversar durante todo o almoço, enquanto isso, eu tentava acabar com aquele prato o mais rápido possível e sem parecer um monstro. Uma garfada, um gole de vinho, esse era o padrão.

— Querida irmã, melhor parar de tomar tanto vinho. — disse Dr. Watson. — Já é a terceira vez que o garçom enche a sua taça.

Mr. Holmes olhou para mim, seu olhar era divertido, Franz também olhou, ele sorriu, já Dr. Watson pegou a minha taça e a colocou do seu lado esquerdo. Eu não havia percebido em nenhum momento o garçom enchendo a minha taça. Acho que Dr. Watson só ficou incomodado com o meu procedimento e a tirou de mim.

— Ótimo. — falei com uma voz um tanto esganiçada. — Já terminei de comer mesmo.

Os rapazes continuavam a me olhar, como se esperassem alguma coisa. Não sei o que esperavam, mas suas expressões estavam muito engraçadas. Tão engraçadas que sorri, depois eu ri e, quando dei por mim, estava apoiada na mesa dando gargalhadas. Também havia começado a suar, estava muito quente ali, apesar no inverno.

— Olha, vocês têm que diminuir a temperatura do sistema de aquecimento. — falei para o garçom mais próximo de mim, que veio correndo (comicamente) até mim assim que o olhei.

— Acho melhor a senhorita repousar. — disse Mr. Holmes. Não sei por que ele disse isso, eu estava normal, feliz por estar ali e cheia de energia.

Antes que eu pudesse retrucar, Dr. Watson me ergueu da cadeira. De repente, me senti meio tonta, acho que teria caído de volta se ele não tivesse me segurado. Mr. Holmes falou que ele me acompanharia até o quarto. Então Dr. Watson continuou com Franz, ouvi-o pedir desculpas, mas ainda não sei por quê. Homens, sempre tão confusos.

Mr. Holmes me conduzia com uma das mãos em minhas costas. Ele parecia com pressa, mas não estava constrangido como Dr. Watson ficara.

— Dr. Watson é tão pomposo. — comentei enquanto estávamos no elevador.

Mr. Holmes olhou para mim e começou a rir. Eu não precisava de muito para achar uma coisa engraçada, ri junto com ele. Rimos tanto que não percebemos que o elevador havia chegado ao terceiro andar até o moço do elevador (a profissão dele tem algum nome? Elevador é uma coisa tão nova!) nos avisar.

— Por que estamos aqui? — perguntei ofegante quando saímos do elevador.

— Ora, porque os Bexley e Lorde Beresford estão hospedados aqui. Seu quarto é o 311, Miss Bexley. O meu, o 312, de frente para o seu e o de seu irmão o 313, ao lado.

Ouvia bem o que Mr. Holmes falava, mas o corredor era apenas um borrão. Esbarrei em alguém, quase caí no chão, mas tanto Mr. Holmes como o homem me seguraram.

Dessa vez era Friedrich. Impossível ser Franz e, pelo que sabia, não havia trigêmeos. Ele me reconheceu, eu sabia que sim, seus olhos se arregalaram e sua boca se abriu suavemente. Sorri, muito feliz em vê-lo, mas Mr. Holmes me puxou com força e, para a sorte de Mr. Holmes, nosso quarto era logo ao virar o corredor, de forma que entramos rapidamente.

— Ei! Esperem. — ouvi a voz de Friedrich gritar, mas já era tarde demais.

— Miss Collins, você me proporciona momentos inigualáveis. — comentou Mr. Holmes jogando-se no sofá, depois de ter me acomodado na cama enorme e confortável do quarto.

Sorri. A cama estava tão gostosa, o teto cor gelo com os lírios dourados era tão bonito! Fechei os olhos e comecei a relaxar, esperando pelo baile que estava por vir. Ou não.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem e não se esqueçam de deixar seu feedback :)



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