Roda do Tempo escrita por Seto Scorpyos


Capítulo 3
Capítulo 3




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Harry entrou em sua sala no Ministério e olhou em volta. Fazendo um gesto com a mão, lançou uma pequena névoa que rapidamente se espalhou pela sala e logo, diversos pontos começaram a explodir em pequenos fogos de artifício.

— Então é assim que sempre descobriam sobre mim... – comentou, sombrio.

A névoa detectora encontrou vários objetos enfeitiçados tanto na ante sala quando na sua própria e Harry observou-os explodir pouco depois de indicarem seus donos. Não foi surpresa ver o jornal local e nem Draco Malfoy.

O mago se virou e colocou a mão espalmada no umbral da porta, concentrando-se e murmurando algumas palavras. Um brilho prateado se concentrou embaixo de sua mão e subiu pela madeira, contornando o portal totalmente e depois se espalhando pela parede até cobrir toda a ante sala. Minutos depois, eram as paredes da sua própria que brilharam levemente, antes de tudo ficar como antes. Harry cercou o lugar com proteções e barreiras contra espiões, condicionando-os à sua presença como chefe dos aurores.

— Assim que eu deixar o cargo, os feitiços se encerrarão. – murmurou para a sala vazia.

Parado na porta da sua sala, as duas partes totalmente abertas, encarou o lugar e suspirou, estava uma bagunça. A mesa, enorme, cheia de pastas e pergaminhos bagunçados. Correspondência se acumulava no canto da mesa e havia também um monte de envelopes no chão.

O mago bagunçou o cabelo e tirou o casaco.

— Isso vai dar trabalho... – comentou para si, um pouco desanimado.

Quando Hilda chegou, não escondeu o espanto em vê-lo sentado, cercado de pastas e coisas.

— Senhor Potter! – ela exclamou, surpresa.

— Bom dia, Hilda. – ele devolveu, sorrindo de leve.

O homem que estava a sua frente não podia ser comparado ao de seis meses atrás, ela pensou. Harry estava grande e forte, a barba aparada e o cabelo mais curto. Além da aparência saudável impressionar, a aura do mago também estava diferente. Ele transpirava controle e poder.

— Seja bem vindo de volta, senhor. – ela sorriu mais abertamente.

— Obrigado.

Mas antes que ela saísse, um homem entrou na sala e olhou em volta, irritado. Harry se levantou e ergueu uma sobrancelha. Hilda avermelhou o rosto.

— Este é Orondill Monroe e estava interino como chefe dos aurores... – a secretária explicou, baixo.

— Vou ser efetivado assim que esse arremedo de... – a voz fina e esganiçada do homem soou, autoritária – Bem, senhor Potter. Não precisamos mais de você e na minha gestão esse departamento...

— Ficou aqui seis meses e minha sala está assim? – o mago o interrompeu, olhando a bagunça.

— Esse trabalho deveria ter sido feito pelo senhor e não por mim. – o homenzinho se empertigou – O próprio ministro me pediu que desse andamento a este departamento, não que limpasse sua bagunça.

— Que bom que fez o que ele pediu. Agora se puder sair, como pode ver tenho trabalho. – Harry deu a volta na mesa.

— Eu sou o chefe interino e... – o rosto de Orondill avermelhou de indignação.

— Até que eu voltasse. Estou aqui e estarei por mais três meses, então pode sair e obrigado por sua ajuda, embora eu não ainda saiba ainda o que fez por aqui.

A voz firme de Harry fez Hilda sorrir, mas o outro não achou graça.

— O ministro me garantiu que o senhor não iria voltar e que eu deveria assumir a pasta definitivamente. Este departamento precisa de pulso firme e...

Harry se aproximou do homem e apesar de não fazer nenhum gesto para intimidá-lo, o outro recuou.

— Eu sou o chefe dos aurores por mais três meses depois do fim da minha licença. Isso foi decidido pelo próprio ministro e se que ele quiser mudar as regras tudo bem, mas vai ter que partir dele. – o tom do mago baixou e congelou – Agradeço sua ajuda, mas como o senhor mesmo disse, vou limpar minha própria bagunça agora.

Os olhos verdes faiscaram atrás das lentes e Orondil recuou um pouco mais, ajeitando a gravata.

— Bem... vou ter que reportar isso ao ministro e é muito irregular... – gaguejou, dirigindo-se para a porta – Terá notícias minhas, senhor Potter.

— Aguardo ansiosamente. – o mago rebateu, cruzando os braços.

Harry acompanhou o homem com o olhar até que saísse e então, voltou para trás da mesa.

— Ele não fez nada além de discursar e participar de jantares. – Hilda esclareceu, com um suspiro – Nunca sequer chegou a ler um relatório ou ordenar uma investigação.

— Não me surpreende. – o bruxo respondeu, olhando a bagunça – Bem... vamos por partes. Por favor, Hilda, contate os aurores em campo e peça um relatório das missões de cada um, o mais detalhado possível. Enquanto isso, vou separar essas coisas.

— Sim senhor. – ela prontamente se dirigiu até a porta, mas parou e se virou.

Harry a encarou, inclinando a cabeça levemente.

— Que bom que voltou, senhor.

— Não estou certo se quero realmente estar aqui, mas com certeza você faz esse lugar valer a pena, Hilda. – o elogio a fez corar até a raiz do cabelo – Pode deixar as portas abertas.

Ela sorriu sem jeito e se dirigiu para a sua mesa. Harry se concentrou em separar aquela montanha de bagunça. Pela próxima hora, chegou a se sentar no chão para trabalhar melhor e usou magia para separar os vários tipos de documentos à sua volta. Vários chefes de departamento vieram para vê-lo, a maioria por simples curiosidade, mas Hilda foi firme e não permitiu que passassem da mesa dela.

A visão impressionante de Harry Potter sentado no chão da sua sala cercado de documentos e pergaminhos flutuando acabou por satisfazer a maioria.

— O senhor não vai almoçar? – Hilda perguntou, parando no limiar da porta.

O mago ergueu a cabeça e sorriu de leve, massageando o pescoço.

— Não acho que consiga. Por favor, pode trazer alguma coisa para mim? – respondeu, levantando-se com agilidade.

Ela admirou o porte firme e viril do auror, corando um pouco no processo.

— Claro, senhor... eu... - parou ao ver o dinheiro e sorriu, pegando-o – Volto em uma hora.


      Quando ela voltou, entrou de uma vez segurando o embrulho e parou ao ver o mago beber de uma garrafa com um líquido amarelado. A expressão dela se fechou imediatamente.

— Aqui está o seu almoço, senhor. – disse, deixando o embrulho sobre uma mesinha perto da porta – E seu troco.

Assim que se virou para sair sem sequer esperar a resposta, foi parada pela voz firme do auror.

— Hilda, é apenas suco de abóbora. – quando ela se virou, espantada, ele estendeu a garrafa. Estava a centímetros dela – Quer experimentar para conferir?

Parou, sem saber o que dizer. O cheiro do refresco não deixou dúvidas de que ele estava falando a verdade.

O rubor se espalhou pelo rosto dela imediatamente. – Desculpe, senhor... eu só...

— Separei estes envelopes que vieram com convites diversos. Por favor, responda a cada um que estive fora em uma licença por problemas pessoais e peça desculpas por não ter respondido ao convite a tempo. Responda aos atuais também que por causa do período afastado, não terei condições de comparecer a nenhum desses eventos. – ignorando o desconforto dela, deixou a garrafinha sobre a mesa e estendeu uma pilha de envelopes abertos para a secretária, que baixou a cabeça.

— Sim senhor.

— Conseguiu contato com todas as equipes de aurores? – ele voltou para trás da mesa, sem olhá-la de novo.

— Sim senhor, pelos canais habituais. Estou esperando as respostas. – a voz dela saiu bem baixa.

— Ótimo. Agora... quanto a estes pedidos de investigações de objetos mágicos... porque estão parados a tanto tempo?

Hilda finalmente encontrou coragem para olhar para o chefe, que devolveu o olhar calmamente.

— Estão esperando o relatório do departamento de artefatos. Mandamos os pedidos, mas ainda não responderam. – a secretária explicou, um pouco mais segura.

— E porque estão demorando tanto?  Não cobramos? – ele franziu a testa, confuso.

— É que... – ela hesitou claramente e desviou os olhos – Bem...

— O que aconteceu? – diante do comportamento dela, ele estreitou os olhos – Hilda, uma pergunta simples, uma resposta simples.

— É que o responsável pelo setor é o senhor Weasley... e o senhor não queria ter que confrontá-lo com a demora...

Harry suspirou e segurou uma mecha de cabelo. Hilda ainda esperou um pouco e se virou para sair.

— Espere, Hilda. – a secretária se virou para ele – Temos os formulários de envio para o departamento de artefatos?

— Temos sim, senhor.

— Ótimo. Devolva todos esses pedidos e anexe na capa o formulário comprovando que pedimos a análise. Vou deixar que a Artefatos responda porque não analisou os itens.

A secretária o observou separar duas pilhas grandes de pastas e usando magia, transportou-as para uma mesa na ante sala.

— Despache hoje ainda e também as respostas para os convites. Isso vai deixar apenas os relatórios das missões para serem analisados. – ele comentou, olhando as pilhas de papel.


       A bagunça no chão da sala de Harry já sumira quando ele se sentou no canto para almoçar. De onde estava, ouviu Hilda ditar as respostas dos convites para as penas repetidoras e despachar com o responsável pelas corujas.

No meio da tarde, por insistência da secretária, ele concordou em fechar uma das portas para ficar mais tranqüilo e poder ler com calma as investigações em andamento. Algumas já não tinham relatórios atuais há meses e outras, pareciam totalmente infrutíferas.

— O senhor ainda vai ficar mais um tempo? – ela perguntou, parada na porta já com o casaco.

— Vou. Quero terminar esses relatórios simples antes de analisar as missões. – ele respondeu, com um sorriso cansado.

— Até amanhã, senhor.

— Até amanhã, Hilda.



        *****

No meio da manhã seguinte, Harry ouviu a bagunça na ante sala e se levantou, dando a volta na mesa quase ao mesmo tempo em que as portas de sua sala foram abertas com violência. Rony, seu antigo amigo, estava ofegante e furioso.

— Como se atreveu? – ele gritou, descontrolado – Como pode fazer isso?

O mago fez um gesto e Hilda saiu, fechando as portas atrás dele.

— Eu apenas devolvi os processos, Rony e...

— Eu não sou Rony para você, seu maldito imundo! – a raiva era tanta que ele cuspiu e se aproximou, ameaçador – Não ouse me chamar como um amigo chamaria!

— Apenas por ainda o considerar é que vou avisar para se afastar, Weasley. – a voz gelada do mago fez o ruivo piscar, confuso e indignado.

Ronald fez um gesto, mas antes que pudesse pegar a varinha, ficou petrificado. Os olhos arregalados se fixaram no mago à sua frente que sequer havia se mexido.

— Mandei os processos porque não vou mais escutar nada por sua causa. Você quis fazer pirraça e se recusou a finaliza-los e posso apostar que foi apenas por que queria causar problemas para mim. Bem, conseguiu. Causou problemas e dor de cabeça, mas isso é passado agora. – Harry deu a volta e se aproximou da porta – Vai ter que explicar porque simplesmente não fez o seu trabalho para as pessoas que dependem dele.

O ruivo foi liberto do feitiço e quase caiu, puxando o ar. Assustado, deu a volta sobre si e apontou a varinha para o mago parado perto da porta, que sequer deu atenção.

— Agora por favor, saía da minha sala e nunca mais cogite em gritar com a minha secretária. Aqui não é o seu departamento.

Sem ligar para a ameaça do antigo amigo segurando uma varinha, Harry abriu a porta e indicou a saída para Rony, que demorou um pouco para obedecer.

— Não finja que é normal... que não passa de um bêbado afeminado e perdedor... que foi posto para fora do ministério... todo mundo sabe disso. – o ruivo destilou o veneno, maldoso – O grande Harry Potter não passa de um fracassado invertido, agora.

— Agradeço por acompanhar minha vida, Weasley, mas sinceramente, não me preocupo muito com o que pensam que sabem sobre mim. – o mago encarou o ex amigo. – Ainda estou aqui e sou o chefe dos aurores.

Hilda estava parada ao lado da mesa na ante sala e observou o chefe do Departamento de Artefatos sair vermelho e irritadíssimo.

— Uau! – murmurou, encolhendo-se quando Rony bateu a porta de saída com violência atrás dele.

Harry voltou para sua sala e fechou as duas portas. Sozinho no silêncio, respirou fundo e bagunçou um pouco o cabelo, com os olhos fechados.

— Que bagunça! – murmurou, um pouco cansado.

 

****

O mago puxou uma cadeira e acomodou Luna, que deixou a enorme bolsa no chão. Harry se sentou de frente para ela, com um sorriso divertido.

— Trouxe a casa inteira aí dentro? – perguntou, agradecendo com um gesto de cabeça ao pegar um cardápio do garçom.

— São coisas importantes para as mulheres. – a loira rebateu, ajeitando-se.

Os olhos verdes desviaram-se do cardápio para a amiga.

— Está bonita! – elogiou, verdadeiramente impressionado.

Ela encolheu os ombros e o encarou. – Você também está muito bem. – devolveu, com um sorriso – Não estava nas últimas vezes que te vi, mas agora... está muito garboso, Harry.

— Garboso? – o mago ergueu uma sobrancelha e riu, divertido.

— Estou tentando ser chique. – ela ficou séria, mas depois riu junto com o amigo.

Quando o garçom se aproximou, ele fechou o menu.

— Queremos salada e frango, por favor. – pediu, erguendo os olhos para o rapaz.

— E para beber? – o jovem perguntou, solícito.

Houve um silêncio constrangido, quebrado pela loira.

— Suco de limão bem gelado, por favor.

Harry a encarou e suspirou. – Desculpe por antes... – pediu, envergonhado – Eu não...

— Você estava passando por muitas coisas, Harry. – ela respondeu, inclinando a cabeça – Sempre passou por muita coisa e só caiu uma vez.

— Caí uma vez e veja só... destruí tudo. – ele completou, sombrio.

— Concordo que foi feio, mas acho que foi necessário. – diante do olhar espantado do mago, ela deu de ombros – Você estava se afogando naquela vidinha sem graça, Harry. Estava infeliz de todas as maneiras que alguém pode ser infeliz na vida... – Luna se inclinou e pegou a mão do amigo – Ele não te merecia, mas fez o favor de sacudir tudo e agora, dá para reconstruir.

Um flash fez o mago balançar a cabeça e Luna se endireitar.

— Não achou mesmo que Harry Potter e Luna Lovegood Scamander sairiam para jantar e não seriam fotografados, não é? – ele perguntou, fazendo piada.

— Vão dizer que somos amantes de novo, não é? – ela riu, deliciada – Acho que dessa vez estoura uma veia na testa do Rolf!

— Você abusa do pobre do seu marido... – o auror murmurou, solidário.

— Ele é muito sortudo, isso sim! – ela rebateu, com um enorme sorriso – Eu sou única!

Harry sorriu ao ver a amiga relaxada, mesmo com a ameaça de mais manchetes. Depois que o jantar foi servido, ela pegou o garfo.

— E então, Harry, por onde andou para voltar assim tão bem? – perguntou, curiosa.

O mago sorriu e tomou um pouco de suco, dando de ombros.

— Conheci um amigo que me indicou o caminho certo. Ele me deu emprego e me ensinou coisas que me ajudaram e vão me ajudar muito daqui para frente. – diante do olhar dela, ele balançou a cabeça – Tive que trabalhar para me manter, Luna. Sabe que Gina ficou com todo o meu dinheiro no banco.

— Mas seu padrinho tinha que te dar alguma coisa, não é? – ela perguntou, franzindo a testa – Afinal, o dinheiro é seu e mesmo que ela tenha direito a uma parte, não é certo te deixar sem nada. – com um suspiro irritado, ela bebeu do copo – Mulher desprezada é fogo!

O mago riu e balançou a cabeça.

— Tenho que admitir que fiquei ressentido, mas agora não. Se ela ficou com tudo, tenho apenas que cuidar de mim de agora para frente.

— O que acha que ela fará quando te ver assim, tão bonito e tão bem?

— Não pensei sobre isso. Depois que nos divorciamos, ela fez questão de viajar e mostrar que estava bem, apesar de tudo. – Harry encolheu os ombros e encarou a amiga – Apenas Alvo ainda falava comigo depois do escândalo, mas depois que fui afastado do Ministério, ele se recusou a me ver ou responder minhas cartas...

Os olhos dela cintilaram, irritados.

— É mesmo uma pena esse julgamento fulminante e moral... Acha que agora isso vai mudar? – a bruxa perguntou, os lábios comprimidos.

— Eu não sei se quero que mude, Luna. - ela arregalou os olhos diante da resposta do mago, que balançou a cabeça – Eles nunca se preocuparam em saber se eu estava bem e mesmo antes, sabiam que tinha alguma coisa errada e nunca fizeram questão de saber o que era. Nenhum deles. Fingiam que tudo estava bem apenas para não terem de se preocupar com nada e quando tudo explodiu, acharam um culpado conveniente e o isolaram.

— Está ressentido. – ela constatou, séria.

— Meus filhos não são mais crianças, Luna. Lílian sabia que eu e a mãe dela não estávamos bem e insistia muito que eu devia ser melhor para ela. – o olhar verde escureceu um pouco – Eles nunca pareciam me ver como pessoa e sim, como o herói do mundo bruxo e principalmente, o herói da mãe deles. – a expressão do mago ficou tensa – Nunca fui uma pessoa real para eles.

 - Sinto muito, Harry. – Luna ofereceu, um pouco triste – Sei o quanto eles significam para você.

O mago balançou a cabeça e varreu o restaurante com o olhar. O lugar não estava cheio, mas algumas pessoas se apressaram a desviar o olhar, culpadas pela curiosidade.

— Acha que estavam ouvindo? – a bruxa perguntou, olhando em volta.

— Lancei um feitiço de confusão assim que sentamos aqui. – Harry esclareceu, atacando o prato colocado diante dele – Acham que estamos falando de nargulês.

Luna demorou um pouco para entender a resposta e riu, divertida. Ambos começaram a comer e a conversa foi para temas mais divertidos e aleatórios.

 

****

Hilda bateu levemente na porta, atraindo a atenção de Harry.

— Senhor... o senhor Lupin veio vê-lo... – disse, incerta.

— Tudo bem. Pode deixá-lo entrar.

Remus sorriu para a secretária e quando entrou na sala e Harry se ergueu para recebê-lo, não escondeu o espanto.

— Harry, está... por Merlim! – apertou a mão estendida e sorriu mais abertamente - Você está ótimo!

— Obrigado. – o auror indicou uma cadeira e o outro se sentou, ainda encarando-o – Posso ajudar em alguma coisa?

O sorriso satisfeito do professor falhou e se desmanchou.

— Não precisa ficar tão na defensiva, Harry... eu vim ver como está, afinal, você recusou meu convite para jantar. – havia um leve toque de reprimenda na frase.

Harry se recostou e encarou o outro. – Não tenho intenção nenhuma de me encontrar com a Gina. – ao ver a expressão surpresa do padrinho por afinidade, sorriu irônico – E meus filhos não fazem questão de me ver, então não havia motivo para o jantar.

— Eles ainda estão um pouco... – Remus se remexeu na cadeira, incomodado – Bem, não é fácil aceitar a situação e na idade deles...

— Fala como se eles ainda fossem crianças.

Sirius arregalou os olhos e encarou o afilhado. – Mas... bem... eles ainda são...

— Tiago já se formou em Hogwarts. Alvo já está no último ano, com dezessete e Lílian com 16. Não estou vendo nenhuma criança, Remus.

O tom seco de Harry surpreendeu Lupin, que engoliu seco, sem jeito.

— Bem...  para nós, sabe como é... – encolheu os ombros, desviando o olhar – Sempre os vejo como crianças e não penso muito na idade deles.

— Não vejo como ignorar isso. – o outro rebateu, rápido.

— Bem... não ia ser nada elaborado. Eu queria mesmo era saber de você e contar as novidades... Tiago está trabalhando com Hermione no Departamento de Execução das Leis Mágicas... – o professor sorriu – Os dois se dão muito bem, pelo que eu sei. Gina quer voltar a trabalhar no Profeta Diário, mas está um pouco preocupada por não estar atualizada em quadribol. Ela está longe dos jogos há muito tempo...

O professor parou. O olhar de Harry, verde e fixo, o estava trespassando.

— Arthur sempre pergunta de você. Molly ainda está muito chocada e enraivecida e...

— Tem falado com Teddy ultimamente? – o auror interrompeu, o olhar ainda fixo.

O constrangimento de Remus aumentou e ele se mexeu ainda mais.

— Está desconfortável... quer um suco ou alguma outra coisa? – Harry soou um pouco mais amistoso, apesar do olhar terrível.

— Não, não quero nada, obrigado. – Lupin limpou a garganta e respirou fundo várias vezes – Teddy está bem, pelo que sei. Não tenho falado com ele ultimamente... Andrômeda me escreve...

— Assim que voltei de viagem, a primeira coisa que fiz foi escrever para ele. Está num treinamento de ervas ou algo assim, mas já se comprometeu a vir me ver assim que for liberado. Espero que não o proíba.

Lupin arregalou os olhos e encarou Harry, chocado.

— Eu não faria isso! E além do mais... ele esteve fora e talvez não saiba nada...

— Eu contei a ele com todos os detalhes escabrosos.

O professor abriu e fechou a boca várias vezes, surpreso. Recostou-se à cadeira e respirou fundo.

— Não quis que ele soubesse por outros e me envergonho de não ter pensado nisso antes. Para minha sorte, cheguei primeiro e contei tudo o que aconteceu neste ano. Não sei ainda o que ele pensa, mas disse que virá para mim assim que estiver livre. – o sorriso do auror, pela primeira vez, veio terno – Estou ansioso...

— Teddy ainda está namorando Victorie... e talvez... – Lupin se interrompeu, corando absurdamente – Mas bem... você é o padrinho dele...

— Eu não tenho nada a ver com o namoro dele, mas se ela tiver algum tipo de prevenção contra mim tudo bem, vou ficar feliz se ele não me excluir totalmente, ainda que não possa mais vê-lo com frequência.

— Harry....

— Não vou mais aceitar tantos julgamentos, Remus. Estou cansado disso. – o auror respirou fundo – Na verdade, como ele se sente e pensa, é minha única preocupação no momento. Isso e sua posição.

Lupin piscou, confuso. Harry balançou a cabeça.

— Não posso dizer que está sendo neutro nesse assunto, padrinho.

O título fez o rubor de Remus aumentar ainda mais e ele suspirou, cansado.

— Sirius tem sido difícil. Reconheço que pelo que aconteceu, ninguém esperava, mas ele está tornando as coisas muito piores. – fechou os olhos rapidamente – Ele queria que você vivesse um romance de conto de fadas...

— Que fosse alguém que não existe, vivendo algo que não existe. Esse não sou eu e para ser sincero, lamento o transtorno que causei para todo mundo, mas não posso ignorar o que consegui no fim de tudo.

O professor encarou o afilhado com atenção.

— Estou vendo que está melhor fisicamente. É muita mudança para seis meses, apenas. Onde esteve?

— Perdido a maior parte do tempo. Passei fome, frio e sede... fiquei doente... mas encontrei um amigo inesperado que me ajudou muito, em tudo.

Harry sorriu ao lembrar o amigo e Remus sorriu também, tocado.

— Quem é ele? – perguntou, curioso – Quero conhecer quem fez tão bem ao meu afilhado...

— O nome dele era Urick. Está morto agora.

Remus arregalou os olhos, espantado. – Morto, mas como?

— Ele foi enfeitiçado há algum tempo. Estava sofrendo e morrendo lentamente então decidiu por tomar uma poção venenosa. – a voz do mago falhou e ele hesitou claramente – Foi generoso o bastante para me dar seus últimos meses e uma amizade que, mesmo acabada agora, é a mais preciosa para mim, depois do professor Dumbledore.

Harry estava visivelmente emocionado.

— Desculpe. Sinto ter te feito se lembrar e sofrer... – o professor murmurou, constrangido.

— Não tem como não me lembrar dele ao olhar no espelho toda manhã. Se não fosse por ele, provavelmente eu não teria conseguido.

Ambos ficaram em silêncio por alguns minutos.

— Disse que passou por necessidades... porque não nos procurou? Porque não pediu ajuda? – Lupin se inclinou para frente – Não estou te culpando nem nada, mas esperamos por uma palavra sua por muito tempo. Ficamos preocupados.

— Nós quem, Remus? Sirius? Que sequer falou comigo depois do escândalo? Ou Gina, que gritou e xingou até perder a voz? – o mago sorriu, frio – Seja absolutamente sincero... se eu tivesse pedido, teria me ajudado a ficar bem sem voltar com a Gina?

Lupin piscou, pego de surpresa. O sorriso de Harry esfriou ainda mais.

— Molly chegou a dizer que eu não mereci todo o trabalho que tiveram para me manter vivo durante a guerra. O senhor Weasley não disse nada, pelo menos para mim... os outros se limitaram a me amaldiçoar e se colocaram inteiramente ao lado de Gina. Menos o Gui e o Carlinhos... esses pelo menos me cumprimentam. – o mago deu de ombros – Havia bilhetes deles me esperando, Carlinhos evitou me amaldiçoar, se limitou a perguntar se eu sabia o que estava fazendo. Gui foi mais acessível e até ofereceu o chalé para eu ficar, se precisasse.

— Sei que muitos de nós tiveram reações extremadas, mas... por Merlim, Harry, largar o casamento por um caso com Draco Malfoy? – Lupin respirou fundo – É muito, tem que admitir.

— Concordo.

A pronta aceitação de Harry fez Remus piscar, confuso. O auror riu e balançou a cabeça, absolutamente calmo.

— Isso não tem graça. – o professor comentou – É da sua família que estamos falando.

— Eu sei. – o mago rebateu – Sei melhor que ninguém, padrinho, mas não vai adiantar eu tapar o sol com a peneira e fingir que nada aconteceu. Eu e Gina não temos mais a menor condição de voltar a conviver, não por ela... sei que poderia arrumar uma muleta para a história toda e colocar uma pedra, mas por mim. Eu não posso mais viver daquele jeito.

— Ainda sente alguma coisa por ele? – a pergunta veio baixa e cautelosa – Ainda tem se encontrado?

— Sim para a primeira e não para a segunda. - o lobisomem arregalou os olhos e encarou o auror, que encolheu os ombros – Sei que ele foi um canalha comigo. Sei que fugiu e fingiu que não era com ele... racionalmente, sei que ele não merece um segundo do meu pensamento e muito menos um  grama dos meus sentimentos, mas infelizmente, não é assim que funciona.

Remus suspirou e passou a mão pelo pescoço, também cansado.

— Isso tudo é muito extenuante... e sinceramente acho que já deu para todo mundo. Fico feliz que esteja melhor. – hesitou e então, sorriu sem graça – Por causa das últimas manchetes, o juiz determinou que você já está apto a cuidar do seu próprio dinheiro... e eu vim para isso também... um acordo e... – tirou a chave do cofre em Gringotes e colocou sobre a mesa – devolver isso.

Harry encarou a chave e lembrou-se de todas as vezes que passou fome e sede, sozinho na estrada. Podia ter sido diferente se tivesse dinheiro, mas teve também que admitir que talvez não tivesse deixado a bebida se tivesse acesso ao cofre, antes.

— Fique e faça um inventário geral. Ela pode ficar com metade do dinheiro, afinal, é direito dela. – o auror não fez nenhum gesto para pegar a chave – Depois pode mandar para mim o que sobrar com o recibo assinado.

— Tenho um controle de gastos desde o divórcio... – Lupin corou um pouco – Foi complicado não deixá-la fazer tudo o que queria, mas consegui... um pouco. – guardando o objeto de novo, o professor suspirou – E para as crianças?

Harry não escondeu a surpresa. – O que tem?

— Bem... – Lupin molhou os lábios, sem jeito – Pelo menos dois são ainda menores, ainda que seja por pouco tempo... e Tiago...

— Gina dá mesada a eles? – o auror balançou a cabeça, incrédulo – Bem, acho que se Tiago já está trabalhando, não preciso dar a ele mesada. Nem mesmo para os outros dois, mas não quero que Gina derrube o mundo na minha cabeça, então vamos estabelecer um valor para cada um...

Durante alguns minutos, discutiram valores e referências. Harry anotou tudo em um papel e assinou, estendendo-o para o professor, que franziu a testa, preocupado.

— Lílian não vai gostar nada disso... acho que ela gasta mais do que esse valor por mês... para os rapazes, acho que não vai ter problema... bem, talvez com Alvo...

— Eles tiveram um ano livre com meu dinheiro, Remus. – o auror comentou, seco – E note que não estou pedindo para saber onde gastaram e todo o resto. Se eles não quiserem aceitar, aceito a arbitragem do juiz.

Lupin estremeceu levemente com a perspectiva de encarar um juiz de novo.

— Vou falar com eles o mais rápido que puder e então te mando uma coruja. Onde está morando?

Harry sorriu de leve – Ainda não tenho nenhum lugar para chamar de lar, mas assim que eu ajeitar, te aviso.

O professor encarou o auror, que sequer piscou com a mentira. A despedida foi rápida e Harry respirou fundo ao voltar para a sala depois de tê-lo acompanhado até a porta.

— Foi melhor que eu esperava... – murmurou, aliviado.


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