Roda do Tempo escrita por Seto Scorpyos


Capítulo 13
Capítulo 13




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Hermione encarou Draco com surpresa não disfarçada. O loiro olhou em volta e não escondeu o desconforto por ser alvo dos olhares.

— Granger, existe algum lugar onde podemos conversar?

Ela balançou a cabeça e se levantou.

— Não sou mais Granger, Malfoy. – indicou uma sala no fundo.

Apesar das paredes de vidro, podiam fechar a porta. Houve um momento de silêncio e então, Draco resolveu ser absolutamente sincero.

— Vim a sua procura porque Harry disse que podia me ajudar. – ele começou, sentando-se.

O olhar da bruxa cintilou.

— Quando esteve com ele?

Draco não notou a ansiedade dela e deu de ombros.

— Foi logo depois do ataque ao estádio... uma semana, talvez mais.

Com um suspiro, Hermione o encarou.

— Como posso te ajudar? – perguntou, empurrando a preocupação para o fundo da mente.

— Preciso saber como reverter o feitiço obliviate. Harry me contou que conseguiu com seus pais.

A bruxa franziu a testa – O que aconteceu?

Draco a encarou por alguns minutos e ela corou.

— Desculpe. Não é realmente da minha conta. – sorriu, sem graça – Bem, eu usei obliviate, mas apenas alterei a memória dos meus pais, não apaguei. Pelo que sei, não há reversão no feitiço obliviate quando usado para apagar, a não ser pela tortura intensa.

O bruxo a encarou e então, balançou a cabeça.

— Então é isso... - depois de alguns minutos, ele se levantou - Obrigado por seu tempo, Hermione.

A bruxa ficou paralisada, observando-o se inclinar galantemente e deixar o pequeno escritório.

 

Fora do ministério, ele andou rapidamente e dobrando uma esquina sem ninguém, aparatou. Repareceu fora dos limites de Hogsmead, onde Narcisa e Scorpius o aguardavam dentro da carruagem.

— E então? – o jovem perguntou, ansioso.

— Ela não usou o feitiço para apagar e sim, para trocar. Hermione não conhece reversão para o feitiço. – ele se sentou e cobriu as pernas, geladas por causa da neve – Pesquisei em alguns livros e realmente não existe um contra feitiço.

— Eu também pesquisei na biblioteca da família, não há nada. – Narcisa respirou fundo – E hoje de manhã ela chegou com a bagagem, dizendo que não faz sentido permanecer na fazenda enquanto marido e filho ficam aqui.

— Lucius deve estar adorando. – Draco comentou, baixo.

— O único jeito de resolver isso é indo ao ministério para fazer o teste de magia, com testemunhas. – Scorpius disse, fazendo os dois mais velhos encará-lo – Faremos isso. Contaremos tudo a ela, e então a levaremos ao ministério. Ela não vai poder dizer que inventamos isso, não com provas.

— Será impossível esconder isso dos jornais. – a bruxa falou, seca – E também do seu pai, Draco. Ele tem inúmeras conexões no ministério e pode facilmente interferir.

— Tem outra saída. – Draco comentou, olhando para o filho – Podemos nos apagar da memória dela definitivamente.

Scorpius encarou o pai e depois, a avó.

— Quer dizer, apagar tudo? – a hesitação na voz dele soou clara.

— Também posso apenas me apagar da memória dela. Podemos alterar sua concepção e criar a memória falsa de um pai morto na batalha. – os olhos de Draco não deixaram o filho.

— Mas com isso podemos ainda ficarmos juntos? – o jovem olhou de um para outro – Pode funcionar?

— Não há como ficarmos juntos, Scorpius. Sua mãe e você teriam uma vida totalmente diferente, afastados dos Malfoy e longe de Lucius. – a voz de Draco falhou levemente.

— Talvez até tenhamos que apagar Draco da sua memória, para sua segurança e de sua mãe. – Narcisa completou, seca.

— Pai... – Scorpius disse, angustiado.

— Não vou pedir a você que escolha entre sua mãe e eu. Já fez isso uma vez e sei que se preocupa e não está feliz longe dela. – o bruxo respirou fundo – Mas também não posso me obrigar a agir como se nada tivesse acontecido, filho. Não posso voltar e apagar o passado. – o bruxo riu sem humor e olhou para fora – Pensando bem, é justo. Harry perdeu a família toda por minha causa.

— Não é por causa dele que está perdendo tudo. É por causa do que seu pai teve a capacidade de fazer. – Narcisa disse, os olhos faiscando.

— Pai... – o jovem desviou os olhos e molhou os lábios, hesitando – Não pode pensar em apagá-lo das suas memórias? Vocês não estão juntos mesmo e nós podíamos voltar a....

Scorpius se calou e empalideceu diante do olhar terrível de Draco.

— Me pediria isso? Mesmo sabendo que nada disso é minha culpa e que foram sua mãe e Lucius que... – a voz do bruxo engasgou e por alguns minutos, ninguém disse nada. - Para a mansão. – Draco ordenou, fazendo a carruagem levantar vôo.

— Pai, me perdoe, eu não quis...

Draco não olhou mais para o filho. Narcisa, a seu lado, tocou de leve sua mão e sentiu-a gelada. O silêncio os seguiu até a mansão.

 

Assim que desceram da carruagem, Lucius e Astoria os aguardavam. O patriarca estava com um sorriso vitorioso nos lábios.

— Que bom que chegaram, estávamos à espera. – ele disse, ignorando o olhar terrível da esposa e do filho.

Astoria se aproximou de Draco e ele educadamente beijou seu rosto. Guiando-a com o braço, subiu a escadaria e quando passou ao lado de Lucius, este disse baixinho.

— Avisei que não permitiria.

Draco levou a esposa para a ala do casal e Scorpius os seguiu, preocupado e culpado. Astoria sentou-se segurando as mãos do filho.

— Por onde andaram? Estou há dias esperando que voltassem! – inclinando-se, a bruxa serviu chá para os três – Eu...

Scorpius viu o momento em que ela arregalou os olhos e parou de falar. Quando ele virou a cabeça, viu o pai com a varinha na mão.

— Não... – murmurou.

Obliviate!


******


Narcisa encarou a porta da ala fechada e engoliu seco, apoiando-se à parede.

— Temos nossa família completa de novo.

A bruxa se virou e encarou o marido, altivo e arrogante.

— Nunca perdoarei você por isso, Lucius. – afirmou, a voz baixa e firme – Nunca.

Afastando-se, ela o deixou parado e entrou em seus próprios aposentos e sentou-se na cama, esperando. Levou mais de uma hora até que Draco entrasse. Ela não esperou que ele dissesse algo. Levantou-se e invocou um pequeno baú.

— Vamos.

 

Já estava escurecendo quando a carruagem deixou a mansão de novo, indo para o leste. Narcisa mandou uma mensagem para o primo e logo, providências foram tomadas.

— Estarão seguros lá? – Draco finalmente rompeu o silêncio, encarando a esposa e o filho desacordados.

— Sim. Noel olhará por eles. A venda das minhas jóias dará os meios para que não falte nada a eles. – o filho a encarou e ela encolheu os ombros – Se tivéssemos que nos preocupar com isso e enviar ajuda, Lucius acabaria sabendo.

Draco olhou em volta. O sobrado era pequeno, mas confortável e estava bem conservado. A vila, afastada e mista, meio trouxa e meio mágica. Controlando-se, o bruxo respirou fundo.

— Naevia!

A pequena elfa apareceu no meio da sala. Os olhos enormes o encararam com expectativa.

— Posso pedir que mude um pouco suas funções? Acha que teria a permissão de Harry? – ele perguntou, abaixando-se.

— Mestre Harry ordena que eu cuide de mestre Draco e mestre Scorpius. – ela afirmou, balançando vigorosamente a cabeça.

Narcisa entrou na sala e olhou rapidamente para a pequena elfa.

— Noel já foi. Scorpius e Astoria agora são Sebastian e Heloísa Hoyth. – exausta, a bruxa se sentou sem se importar com Naevia ouvindo – Ela é viúva da segunda ascensão de Voldemort e não se preocupe, o marido era do ministério.

— Dinheiro... – Draco perguntou, a voz soando rouca – Não pensei nisso...

— Fiz com que Scorpius... – ela se interrompeu e comprimiu os lábios – Sebastian, fosse o dono de uma oficina de objetos mágicos no fim da rua. Noel me disse que amanhã ou depois já terá o valor da venda das jóias, a casa e a loja estão abastecidas. Fizemos também um feitiço de confusão, para ele não se lembrar direito do valor que possui ou outros detalhes...

— As pessoas da vila se lembrarão que são estranhos. – Draco constatou, franzindo a testa.

— Podem até estranhar, mas não se lembrarão com certeza de que não estavam aqui ontem. – ela se levantou e encarou o filho – Draco...

— Foi o melhor, mãe. – ele respondeu, desviando-se da bruxa – Pode cuidar dos dois para mim, Naevia?

A pequena elfa olhou de um para outro, séria.

— Devo servir a mestre Draco, que diz para ficar e cuidar. Naevia fica e cuida, mas tem que contar a mestre Harry.

Narcisa olhou o filho, que sorriu tristemente.

— Não há outra pessoa a quem eu confiaria esse segredo. Pode contar a Harry e se acontecer alguma coisa ou eles precisarem de algo, me avise. Qualquer coisa, Naevia. – o bruxo afirmou, sério.

— Sim, mestre Draco.

— E nunca fale para eles de mim, está certo? Depois de hoje, eles não me conhecem mais. – o bruxo acenou para a elfa e deixou o sobrado. Narcisa respirou fundo.

— Noel, o homem que estava aqui mais cedo, é meu primo e alguém de confiança. Se precisar de algo urgente, fale com ele. – a bruxa olhou em volta – Os galeões que meu filho vai mandar devem ser colocados no baú que deixei no quarto, e para onde irá o dinheiro que Noel conseguir com as jóias. Mantenha-o seguro, está bem?

Naevia concordou com a cabeça.

— Mestre Sebastian saberá dele? – perguntou, respeitosa.

— Sim, mas deixei um pouco de confusão com o valor. Assim não estranhará quando o volume for aumentado.

— Sim, senhora.

Narcisa lançou um olhar para a sala e saiu, atravessando o pequeno jardim. Draco estava parado perto da cerca.

— Não quer se despedir... talvez um momento... – ela ofereceu, baixo.

— Não.

A bruxa não disse nada e embarcaram na carruagem.

— Quer que eu fique um pouco? – ela ofereceu quando ele desceu perto do apartamento.

— Agradeço, mãe, mas preciso ficar só. – ele respondeu, segurando a mão dela por um momento – Agradeço pelo que fez hoje e devolverei as jóias...

Ela ergueu uma mão, interrompendo-o.

— São apenas jóias, filho. Não considero que perdi nada e não me deve nada. – segurou firme a mão do filho – Eu sim... Sinto muito pelo que perdeu hoje.

Draco concordou com a cabeça e se afastou sem olhar para trás. A carruagem se elevou de novo e Narcisa chegou à mansão já amanhecendo. As luzes estavam acesas e havia movimento no interior. Assim que a carruagem aterrissou e um criado a ajudou a descer, Lucius apareceu no alto da escadaria, a expressão carregada. A bruxa subiu os degraus com calma e passou pelo marido, que apertou o castão da bengala até seus dedos perderem a cor.

— Deixem-nos. – o bruxo ordenou à criada, que saiu quase correndo do quarto de Narcisa.

A bruxa terminou de tirar os sapatos e se ergueu, encarando o marido.

— O que vocês fizeram? – Lucius perguntou, a voz baixa e ameaçadora.

— Você atingiu meu filho de uma maneira irreversível. – a bruxa se aproximou, sustentando o olhar de Lucius.

Antes que ele pudesse reagir, ela pegou a varinha e o prendeu à parede.

— A partir de hoje ainda seremos casados, mas nunca mais dividirei o leito com você. Se for atrás do meu filho, eu mesma me encarregarei de destruir o que sobrou do seu patrimônio. – a voz dela se manteve firme – Saiba que se tentar qualquer coisa, ou se eu souber de qualquer amante não muito bem escondida, farei com que minha família cobre cada centavo que depositou com você. Acho que isso não será bom depois de todos os ataques de Dionísius, não é?

O olhar dele se tornou estreito.

— E pare com essa coisa de me ameaçar. Sou tão perigosa quando você, caro marido. E tenho bem menos pontos fracos do que você. – Narcisa o soltou e ele puxou a varinha, furioso.

Ambos se encararam, as varinhas apontadas. Depois de alguns minutos tensos, ambos as baixaram.

— Eu resolvi tudo, Narcisa. Astoria e Draco podiam retomar o casamento e tudo seria esquecido. – ele afirmou, guardando a varinha na bengala.

— Você estava disposto a condenar meu filho à infelicidade apenas para esconder seus erros. - a bruxa rebateu, balançando a cabeça – Nunca passou pela sua cabeça o clima horrível que teríamos que enfrentar dia após dia entre as paredes dessa mansão. Nunca considerou o que obrigaria a mim e a Draco a enfrentar todos os dias... e Scorpius, irmão do próprio pai...

— Eu havia decidido apagar a memória deles também. – o patriarca olhou a esposa – E a sua... mas os jornais dando detalhes e Dionísus alimentando todo o escândalo, tornou essa saída impossível, mas eu podia ter alterado a memória de vocês...

— Devia ter feito isso antes. Devia ter apagado a memória de Astoria, assim, ninguém nunca saberia além de você. – a bruxa deixou a varinha sobre a mesinha e se sentou, exausta – Afinal, foi o fato dela confidenciar à tia que proporcionou a oportunidade que Dionísius teve para descobrir.

 - Narcisa, onde estão eles?

Ela o encarou e sorriu, balançando a cabeça.

— Eu lancei em mim mesma o feitiço a caminho para cá. Não sei onde estão Astoria e Scorpius, nem o que aconteceu com eles, mas me lembro perfeitamente que causou a infelicidade do meu filho o separando de Scopius. – ela se levantou, atravessou o quarto e abriu a porta – Saia, não existe mais vítimas para você nessa casa.

Lucius e Narcisa se encararam e ele saiu, a cabeça erguida. A bruxa ainda o observou pelo corredor, antes de fechar a porta.


******


Draco sentou-se sozinho na sala e encarou a manhã que já ia alta. Exausto, mas sabendo que não ia conseguir descansar, se inclinou e pegou a garrafa de vinho sobre a mesa e despejou na taça.

— Tenha uma boa vida, Sebastian. – murmurou, baixinho.


******


Harry franziu a testa com a dor no braço. Esfregou-o e uma pontada mais forte o fez ofegar.  Do outro lado da mesa, Teddy parou de jantar com o garfo a caminho da boca.

— Pai...

O feiticeiro arregalou os olhos quando a dor finalmente desapareceu, assim como a tatuagem de Scorpius Malfoy.

— O que...

Apesar da expressão intrigada de Teddy, Harry não disse mais nada, então, Naevia aparatou no meio da cozinha.

— Mestre Harry...

O mago encarou a pequena com olhos tristes e Teddy olhou de um para outro.

— Vou para o meu quarto. – disse, baixo.

— Não. Naevia tem minha permissão para te contar. Melhor você saber de tudo o que está acontecendo para não ser pego de surpresa.

Os dois se sentaram à mesa novamente e Teddy colocou a elfa sentada sobre a mesa. A pequena relatou tudo que acontecera horas antes.

— Por Merlin! – o jovem murmurou, chocado.

— Obrigado, Naevia. Tem minha permissão para cuidar deles e por favor, se algo acontecer me avise. Se não a mim, avise ao Teddy, está bem?

Ela balançou a cabeça vigorosamente e então, desapareceu. Houve um momento de silêncio tenso.

— Draco me contou sobre o feitiço obliviate que Lucius lançou em Astoria, mas nunca pensei que chegassem a isso... – Harry balançou a cabeça, tocado.

— Mas... não havia mesmo outro jeito? – o jovem bufou, exasperado – É claro que não com Dionísius fazendo um escândalo não havia como esconder. Mas... e as pessoas da vila, não vão reconhecê-los dos jornais?

— Não conheço a vila que Naevia mencionou, mas se é mista, não há muita informação do mundo bruxo. E tenho certeza que Narcisa tomou alguma providência quanto a isso.

Teddy encarou Harry.

— Vocês dois sofreram perdas terríveis... – comentou, baixo.

— Eu por minha culpa, mas Draco não. Ele perdeu Scorpius por causa de Lucius. – Harry massageou as têmporas, fechando os olhos. Os efeitos da poção inibidora estava passando.

— Eu nem consideraria que foi sua culpa perder seus filhos, pai. – o jovem encolheu os ombros quando o mago olhou para ele, confuso – Você estava infeliz há muito tempo, e eles não viram. Quando aconteceu, escolheram a saída das vítimas, mais fácil e nenhum deles tentou ver a coisa toda do seu ponto de vista.

Harry apoiou os antebraços na mesa e descansou a cabeça.

— Mas não é inteiramente culpa deles, também. Eu era pai e marido, e de repente arrumei um homem como amante, e pior, que foi meu inimigo quase a vida toda. Podia estar infeliz e triste, mas nada os preparou para o que fiz. No começo fiquei bravo por ser julgado com tanta severidade, mas pensando bem, eles não podiam ter outra reação. Eu sou o salvador do mundo bruxo, estava casado já há algum tempo, com três filhos e um cargo importante no ministério da magia. – o mago suspirou – Aos olhos do mundo, eu tinha tudo que podia querer ou precisar.

Teddy encolheu os ombros – Para ser sincero, eu também fiquei chocado quando soube.

— Pois é. Agora imagina como não foi para Tiago Sirius, Alvo Severo e Lílian Luna. Tiago já estava fora de Hogwarts e Alvo no último ano, mas Lílian ainda tem tempo pela frente. – Harry passou o dedo pela tatuagem solitária ao lado do corvo – Não posso sequer imaginar como deve ter sido difícil para eles.

— Isso não dava o direito de desistirem da sua paternidade. – o jovem acusou, sério.

— Eles só estavam reagindo, e creio que com muita influência de Gina.

— Se pensa assim, por que não concordou em dar a eles o direito a seu sobrenome? – Teddy perguntou, curioso – Pelo jeito, entendeu a reação deles como normal e...

Harry ergueu o corpo.

— Toda ação gera uma reação, Teddy. – encolheu os ombros – Posso entender que sentiram vergonha e raiva de mim... posso entender porque ficaram do lado da mãe em tudo e... está tudo bem para mim. Agora está, mas... não apaga o jeito como me trataram... não apaga o que disseram... e quando foram ao ministério dizer que não queriam mais ser Potter, não estavam apenas rejeitando meu sobrenome, estavam rejeitando a mim.

O mago se levantou, suspirando, mas se apoiou pesadamente na mesa.

— Nesse ponto concordo com você, não tentaram ver a coisa toda do meu ponto de vista ou tentar salvar pelo menos o relacionamento de pai e filhos. – olhou o filho, balançando a cabeça – Tenho que admitir que sinto muita falta deles e gostaria que estivessem conosco pelo menos um pouco, mas também confesso que me assusta a forma como simplesmente me riscaram da vida como se não fosse nada. Ninguém que ama é capaz disso.

— Pai... – Teddy também se levantou, encarando o mago.

— Você veio de longe por mim. Assim que voltei Andrômeda me mandou mensagens e bolos... eu fugi de Luna por meses mas ela simplesmente ignorou e com Rolf foi a mesma coisa. Quando voltei e mandei uma mensagem, eles agiram como se nada tivesse acontecido. Nenhuma pergunta, nenhuma cobrança. Quatro pessoas.

— Melhor qualidade do que quantidade. – o jovem comentou, com um sorriso.

— Passei a pensar assim depois que voltei. Muito menos complicado.

— E com Draco, vai vê-lo? – Teddy soou curioso.

Pela primeira vez Harry hesitou claramente.

— Não sei, filho. Não sei se consigo lidar com a carga dele e com a minha.

O jovem empalideceu.

— A poção não está funcionando? – perguntou, a voz baixa.

— Eu sabia que não ia funcionar por muito tempo. – a voz do feiticeiro falhou.

Teddy, horrorizado, viu quando o sangue começou a escorrer do nariz do mago, então dos olhos e do ouvido. Em minutos o jeans de Harry manchou de sangue e o mago perdeu as forças. Teddy o apoiou e o levitou até a banheira.

— Por Merlin, pai!

***********************


Sirius entregou a carta para a coruja e a observou voar pela janela. Já era a qüinquagésima terceira em duas semanas e pela enésima vez, se amaldiçoou por não ter tido coragem de voltar para casa assim que pode no dia do casamento. Esperou demais.

Desceu os dois andares e se refugiou na sala evitando a cozinha. Era lá que costumavam ficar mais tempo, conversando e rindo enquanto cozinhavam. Sentou-se e pegou a garrafa de firewisky já no fim.

— Por favor, Remus... por favor... – pediu, baixinho.


****


Gina quase gritou quando Lílian a avisou que Harry estava na sala, esperando para falar com ela. Quando a filha deixou o quarto, a bruxa rodopiou e gargalhou alto, cobrindo a boca em seguida.

— Levou tempo, Harry... mas agora será para sempre! – murmurou, satisfeita.

Desceu para a sala e fez uma entrada dramática, perdendo um pouco a pose ao ver a quantidade de pessoas. Todos os do grupo de Harry e a maioria dos de sua família. Hermione estava no canto ao lado de Sirius, carrancudo.

— Vim em busca do contra feitiço, Gina.

A bruxa se virou e não escondeu o espanto diante da figura magra e pálida do ex marido. Harry havia perdido massa corporal e estava apoiado pesadamente no braço de Teddy e em uma bengala.

— O que... – ela começou e parou, hesitando.

— Seu feitiço é forte e me fez perder quinze por cento do sangue do corpo a cada vez – ele comentou, o rosto vazio de expressão – Bom trabalho!

— Não é o meu feitiço, eu só conheço o... – consciente dos olhares, ficou sem palavras.

— Não diga isso. Sabemos que foi você que falou do feitiço para Remus, e também o por quê. Pode, por favor, me dizer o que preciso para terminarmos de uma vez? - ele atalhou, exausto.

— Preciso falar a sós.

Ela não esperou que ele respondesse. Se virou e andou apressadamente, entrando em uma saleta lateral. Harry respirou fundo.

— Pai... – Teddy não escondeu a apreensão.

— Tudo bem. – ele sorriu dolorosamente e olhou Arkyn e Andreas – Vou ficar bem.

Teddy o acompanhou até a porta e quando Harry apoiou-se na parede para entrar, sussurrou o feitiço que tornou-a transparente. Molly imediatamente se levantou.

— Isso é um insulto! Mas o quê... – protestou, irritada.

— Nossa filha não tem o direito da privacidade, Molly – Arthur rebateu, gelado – Não interfira.

— Mas você sabe... – ela parou e engoliu seco, olhando o grupo de Harry reunido e atento.

Arthur não respondeu e se sentou pesadamente ao lado de Alvo, pálido e petrificado.

Harry se encostou à parede, sentindo as pernas amolecerem.

— O feitiço, Gina... – pediu, a voz baixa.

A bruxa o encarou.

— Não acha que eu o darei em troca de nada, não é? Ainda mais que todos estão lá fora pensando que arquitetei tudo isso...

— E não o fez? Não armou com Sirius para chegarmos até aqui, nesse momento?

Gina e Harry se encararam.

— Estou lutando com as armas que tenho pela minha família. – ela rebateu, incomodada.

— Uma guerra perdida, minha cara. O feitiço, por favor.

Ela tirou do bolso da saia uma caixa minúscula e estendeu a ele, que se apoiou mais para abri-la. Dentro havia três frascos de um líquido escuro.

— Poções? Não tem muito sentido... – ele comentou, neutro.

— Essas poções ajudarão a conter a perda de sangue por algum tempo. Acho que três serão suficientes para que faça algumas coisas antes de ter o feitiço definitivo. – a confiança voltou para a bruxa, que se recostou à mesa e sorriu.

— Que seriam...

O mago não demonstrou surpresa, o que fez Gina hesitar.

— Vamos nos casar de novo, Harry. E não quero um casamento pequeno só para amigos, como foi o primeiro. Quero algo grande e que será lembrado por todos! – a voz dela ficou levemente estridente – Teremos uma nova lua de mel e mais um filho para selar nosso casamento, que dessa vez terá o voto perpétuo.

Harry a encarou e elevou uma sobrancelha, mas não a interrompeu.

— E o principal... vai me deixar lançar o obliviate em suas lembranças com ele. Todas, para sempre. – a expressão da bruxa se tornou dura – Quando sairmos dessa sala, vai dizer a todo mundo que pensou bem em toda a sua vida enquanto esteve perdendo sangue e descobriu que a sua família é mais importante do que qualquer coisa. E principalmente para aquele bando lá fora... eu não vou aceitar ser questionada.

Houve um momento de silêncio e então Harry guardou a caixa de poções no bolso. Gina sorriu, vitoriosa.

— Conseguiu esse feitiço com Dekell? Enquanto estava na cama com ele? – o feiticeiro perguntou, olhando-a calmamente.

Gina arregalou os olhos e empalideceu.

— O quê?

— Devo dizer que ele se aproximou de você a mando de Rodolfo Lestrange, que concebeu um plano que ainda não descobri qual é, para se vingar da sua mãe pela morte de Bellatrix. Ele e Antônio Dolohov conseguiram fugir da batalha final e juraram contra Molly e Remus.

A bruxa empalideceu ainda mais e balançou a cabeça.

— Não sei do que está falando... – protestou, baixo.

— Remus está desaparecido e à mercê de um ataque por causa do que o incitou a fazer. Se algo acontecer a ele, acho que terá problemas com seu aliado nisso tudo, Sirius. – a voz do mago não se alterou.

— Como ousa sequer insinuar... – a mulher demonstrou descontrole na voz, que soou desafinada.

— São pessoas perigosas, Gina. Seus novos associados não querem te ajudar em nada e sim, reclamar vingança. E começaram com esse feitiço que provavelmente foi lançado para me matar pela falta de sangue no corpo... – ele se virou para sair – E para constar, não aceito seus termos.

Antes que ela pudesse se recuperar, Harry abriu a porta e deu de cara com Teddy, que olhou a bruxa terrivelmente. O jovem estendeu o braço e amparou Harry, atravessando a sala. Saíram pela porta e Arkyn e Andreas fizeram o mesmo, seguindo-os.

Hermione, a boca aberta de choque e descrença, encarava a cunhada.

— Como pôde fazer tudo isso? – perguntou, espantada.

A bruxa saiu quase correndo da sala e Rony a seguiu, sem olhar a irmã.

Sirius se aproximou de Gina, paralisada na porta da saleta.

— Antônio Dolohov? Rodolfo Lestrange? – ele perguntou, a expressão cheia de nojo

— Eu não sei do que ele estava falando... – ela tentou rebater, a voz bem baixa.

— E Remus? Era para ele ter desaparecido mesmo, não é? Foram atrás dele para terminar o que começaram... Gina, se algo... – o animago engoliu as palavras desesperadas.

Balançando a cabeça em negação, o bruxo deixou a sala e Alvo se levantou, indo até a porta. Os bruxos haviam desaparecido.

— Harry enfeitiçou a parede quando entraram na sala. – Arthur explicou, se levantando e olhando a filha com os olhos sombreados – Acho que ele já previa algo assim e para ser sincero, todos nós já prevíamos, mas não a esse ponto.

Gina abriu a boca para responder e Arthur ergueu uma mão, impedindo-a.

— Não há nada a dizer nem explicar. Qual é o contra feitiço?

A bruxa hesitou claramente.

— Ele não concordou em voltar para mim... – ela respondeu teimosamente.

— Vai matá-lo porque ele não te quer mais? – Gui se aproximou, incrédulo – Vai condenar o homem a sofrer por que não quer mais esse casamento ridículo?

— Por Merlim, Gina! Nunca pensei que me envergonharia tanto... – Carlinhos comentou e olhou para os pais – Vocês sabiam sobre isso, não é? No casamento... já sabiam dessa loucura...

— Ela não nos contou a verdade. – Arthur respondeu, olhando a filha de cabeça baixa – Inventou outra história mais aceitável.

— Qual é o contra feitiço, mãe? – a voz clara de Tiago soou.

Gina ergueu a cabeça e olhou os presentes.

— É meu único trunfo, não entendem? É minha única chance de ter minha vida de volta! – protestou, a voz aumentando de volume a cada palavra – E podem achar errado e o que quiserem, mas é a minha única saída!

Ignorando todos, a bruxa saiu da sala e aparatou no jardim. De volta à própria casa, deu voltas e mais voltas e acabou se escondendo no quarto quando ouviu os filhos voltarem.


****


Harry parou na porta do quarto de hóspedes e se amparou totalmente em Teddy, a seu lado.

— Me dê um momento... – pediu, a voz num sopro.

Levou bem mais que um momento, mas o jovem se manteve firme. Harry respirou fundo e entrou, apoiando-se no braço de Teddy e sentou-se pesadamente.

— Quando Urick morreu me deixou uma herança considerável, mas nunca depositei em Gringotes por causa de Gina. Trouxe para cá todos os livros e objetos que ele me deu, além dos que consegui depois.

— Uau! Não acha que seria melhor deixar em Gringotes? – Teddy olhou o tamanho dos baús – Agora não tem mais problema!

— Provei por mim mesmo que Gringotes não é o lugar mais seguro do mundo. Além do mais, o mais precioso aqui não é o dinheiro e sim, os livros de feitiços e outros objetos. Dinheiro sempre se dá para ganhar trabalhando, e muito se pode conseguir com magia. Os livros e alguns objetos que estão aqui são únicos no mundo e outros, possuem poucas cópias.

O jovem respirou fundo e encarou o bruxo.

— Não vou me despedir, pai. – rebateu, baixo – Não mesmo.

— Não estou me despedindo. Estou te mostrando onde estão meus tesouros para o caso de eu não conseguir. É tudo seu. – dispensando com um gesto cansado a explosão do outro, o mago fechou os olhos – Fiz um testamento e entreguei a Rolf.

— Eu não quero pensar em desistir ainda. Gina não pode ser tão inflexível e também, tem seus filhos. – disse, baixo – Não pode deixá-los de fora da sua herança.

— Eles já tem o que queriam de mim, que foi o dinheiro. – a voz do feiticeiro soou fria – E eu não tenho mais tempo nem paciência para lidar com eles. – Harry tentou tirar o casaco, mas precisou da ajuda de Teddy e então, dobrou a manga da camisa - Quando eu me for, as proteções que criei em todos os lugares vão cair a não ser que tome meu lugar como âncora.

— Não sou tão poderoso quanto você, pai. Não sei se consigo proteger as pessoas do jeito que faz... – Teddy balançou a cabeça – Não acho que vou conseguir.

— Não vai do mesmo jeito que eu porque somos diferentes. Mágicas diferentes e pessoas diferentes, já te ensinei sobre isso, filho. – Harry o encarou – Do seu jeito, no seu tempo, vai conseguir.

Teddy sorriu e encolheu os ombros.

— Tem mais fé em mim do que eu mesmo.

— Não se esqueça que já lutei a seu lado e sei do que é capaz. Minha fé não é baseada em fumaça ou promessas vãs de poder. – Harry sorriu e bagunçou o cabelo do jovem.

Teddy se levantou e Harry fez o mesmo, franzindo a testa por causa do esforço.

— Naquela estante tem um livro com a capa azulada e...

Não terminou. O feiticeiro não conseguiu mais segurar o corpo e caiu, sangrando. A poção do frasco durava pouco tempo. Pouco demais.

Teddy levou o pai para a banheira e pelas horas seguintes, chorou sentido enquanto o sangue escorria do corpo debilitado do feiticeiro. Luna, avisada, veio imediatamente e não conseguiu segurar as lágrimas também. Os dois juntos estabilizaram Harry com sua magia e esperaram.

— Essa mulher devia ser presa! Deviam prendê-la e obrigá-la a dizer o contra feitiço! – a bruxa, chorando, espalhou magia prateada sobre o irmão desacordado.

— Ela fugiu, Luna. – Teddy respondeu, baixo – Ela fugiu e se escondeu.

— Precisamos de reforços. – ela disse, erguendo a cabeça – Alguém que saiba sobre feitiços das trevas.

Teddy olhou exasperado para ela.

— Meu pai sabe muito e nem ele conhece algo que possa...

Ela fez um gesto impaciente.

— Harry é bonzinho demais! – a bruxa encarou o jovem e limpou as lágrimas, mas como estava com as mãos no mago, sujou-o de sangue – Desculpe Teddy... estou perdendo meu irmão e não sei...

O jovem balançou a cabeça.

— Eu também não sei, Luna... – os dois se encararam – Também não sei...


****


— Como esse feitiço funciona mesmo?

Arkyn olhou para a folha.

— Precisamos fazer uma árvore e criar raízes para Harry. Sustentá-lo. – explicou, baixo – Nos tornaremos irmãos, irmãs e todo o resto e nossa magia vai estabilizá-lo.

Luna encarou o homem e franziu a testa.

— Mas não curá-lo. – afirmou, séria.

— Não. Não encontrei ninguém que conheça o feitiço que foi usado. Pesquisei também e não achei nada. – Arkyn encolheu os ombros – Não faço a menor ideia de onde Gina tirou isso.

— Eu também perguntei por aí. – Tek afirmou, sombrio – Nada.

— Nem nos livros antigos do meu pai tem alguma coisa. – Teddy acrescentou, com um suspiro – E ele não consegue muito mais.

— Vamos tentar esse feitiço. – Rolf se aproximou e pegou a folha – Não parece complicado e... – parou e elevou uma sobrancelha – amante?

Arkyn corou um pouco e então, deu de ombros.

— Qualquer um pode ser um amante. – respondeu, ácido.

Rolf voltou a ler o feitiço e então, balançou a cabeça.

— Aqui não diz amante no sentido de um relacionamento baseado em sexo ou dinheiro. Aqui diz “amante do coração” Isso muda um pouco as coisas, não acha?

— Temos que ir atrás do Draco. – Luna se levantou – Eu vou.

Sem esperar, a bruxa aparatou e Arkyn avermelhou o rosto de raiva.

— Não precisamos dele! O que aquela louca foi... – parou, engasgado e então, arregalou os olhos.

Os olhos escuros de Rolf estavam cinza transparentes.

— Nunca mais, nem em seus delírios à noite sozinho em seu quarto, ouse pensar ou se referir à minha esposa desse jeito novamente. - Arkyn foi liberto do feitiço e caiu pesadamente, buscando ar em grandes goles. O pescoço estava com marcas arroxeadas – Fui absolutamente claro?

— Se ele não entendeu, posso deixar ainda mais claro – uma voz baixa e rouca soou. Quando os bruxos se viraram, deram com Harry apoiado à parede, encarando o ex-auror com os olhos verdes iridescentes.

Andreas ajudou Arkyn a se levantar. O bruxo tossiu e engoliu a raiva de forma óbvia, mas capitulou.

 - Desculpe... fui indelicado. – disse, a voz rascante quase não saindo.

— Reunião de cúpula?  O que eu perdi? – Harry andou alguns passos, mas não teve forças e se sentou no colo de Tek, o mais perto dele – Me dá carona?

O bruxo riu, apesar do medo em seus olhos e levou a cadeira levitando até perto da mesa. O feiticeiro se inclinou e passou para uma cadeira, encolhendo os ombros.

— Não me azare, Andreas... – pediu, olhando-o por cima da folha que pegou na mesa.

— Tudo bem. Só uma carona, em suas condições atuais e temporárias, eu deixo. – o outro rebateu, arrancando risadas baixas.

— Feitiço de sustentação? – depois de lançar um olhar para a folha, Harry encarou os bruxos – Onde conseguiram isso?

— Arkyn trouxe. – Teddy se sentou sobre a mesa ao lado de Harry – Vamos fazer.

O feiticeiro os encarou e então, deixou a folha cuidadosamente sobre a mesa.

— Esse feitiço faz uma ligação forte e eterna entre as raízes da árvore. – explicou, sem olhar para ninguém – E tem alguns detalhes que... bem, acho que não estão familiarizados.

— Eu estudei o feitiço, Harry. – Arkyn rebateu, depois de beber um longo gole de água – Minha prima me explicou tudo e acho que pode funcionar.

O mago o encarou.

— Não duvido da magia de vocês. Não é isso. – respondeu, calmo – Só penso que deviam...

Parou ao notar os olhares cheios de pânico e suspirou ao sentir algo escorrer em seu rosto. Não esteve consciente muito tempo mais depois disso.


*****


Luna encontrou Draco no Beco Diagonal e, ignorando os dois outros que o acompanhavam, o pegou pelo braço e aparatou. O bruxo se soltou com um puxão assim que apareceram em uma rua mais afastada, longe do ponto inicial.

— O que acha que está fazendo? – perguntou, olhando-a irritado.

— Harry foi enfeitiçado pela esposa e está morrendo. Faremos um feitiço de sustentação e preciso que você tome seu lugar como amante e se junte ao resto de nós. – a bruxa não fez rodeios.

Draco recuou um passo e a encarou, pálido.

— Gina fez o quê? – perguntou, chocado.

— Um feitiço negro. – Luna sacudiu as mãos, impaciente – Achamos um feitiço que pode nos dar tempo até aquela vad... mulher... – se corrigiu, mastigando as palavras – resolva nos entregar o contra feitiço. E então, vai ajudar?

O bruxo passou a mão pelo cabelo e olhou a mulher.

— O que preciso fazer?

— Vamos fazer o feitiço de sustentação, e precisamos de todos que pudermos encontrar com poderes suficientes para manter Harry estável. – ela explicou, falando rápido – Temos irmãos e irmãs para fazermos uma árvore para ele, mas precisamos da magia do amante.

— Qual o feitiço que ela usou? E porquê? – ele perguntou, ignorando a expressão exasperada de Luna.

— Gina está descontrolada. Na verdade sempre esteve e colocou na cabeça que Harry iria voltar e poderiam viver a mentira de novo. Não aconteceu e agora, meu irmão está pagando por ter se apaixonado por você. Acho que deve isso a ele. – a bruxa soou seca e ambos se encararam – Vou mandar uma coruja com o local, a data e a hora do feitiço. – o olhar dela pesou sobre ele – Não sei até que ponto Harry é correspondido, mas espero que seja na mesma proporção.

A loira desapareceu e Draco ficou parado alguns minutos antes de aparatar também.

 

 

Depois de mandar uma coruja com desculpas pela interrupção aos dois sócios, Draco respirou fundo e preparou uma dose generosa de whisky, encarando a janela. A campainha soou e ele ergueu uma sobrancelha, erguendo-se.

— Essas coisas trouxas tem sua utilidade, não acha? – Narcisa entrou no apartamento assim que o bruxo abriu a porta.

— Mamãe... – ele fechou a porta e a seguiu.

A bruxa tirou a echarpe e se sentou, olhando em volta.

— Está bem espartano, mas agradável – depois encarou o filho – Como está, Draco? - ele se sentou e serviu-a. Olhando o copo cheio sobre a mesa, ela elevou uma sobrancelha – Espero que não esteja se apoiando na bebida...

Draco estendeu o copo e ambos trocaram um olhar pesado.

— Por favor, não me julgue, mamãe... estou trabalhando o máximo que posso, mas não consigo que seja o suficiente.

Ela tomou um pouquinho da bebida e respirou fundo.

— Noel me mandou uma coruja. Eles estão indo bem. Scor... – ela parou e comprimiu os lábios – Sebastian demonstrou ter talento para o negócio.

— Receberam o dinheiro? – ele perguntou, a voz baixa.

— Sim, mas Sebastian não quis que fosse deixado no baú e levou-o a Gringotes. – Narcisa sorriu de leve e balançou a cabeça – Sempre procurando a forma mais segura...

— Bom.

Ele se recostou e bebeu mais da metade do copo, atraindo o olhar da bruxa.

— O que houve, filho? – a voz dela soou suave.

Sem hesitação, Draco contou a Narcisa a conversa que teve com Luna. A mulher franziu a testa, confusa.

— Como ela conseguiu enfeitiçar Harry Potter? – perguntou, balançando a cabeça – O homem demonstrou muito poder ultimamente.

— Não sei. Minha informante foi Luna... e ela não se preocupou em me contar a história toda. Falou apenas de um feitiço de sustentação... – ele encarou o copo – Jogou na minha cara que eu devo a ele e praticamente me intimou a participar.

— Se ele está morrendo... – Narcisa murmurou, surpresa.

— Não acredito nisso! – ele protestou, encarando-a – Não mesmo! E mesmo que esteja realmente enfeitiçado, o que um feitiço de sustentação pode fazer contra um feitiço negro?

— Pode dar a eles tempo para conseguir o contra feitiço. – ela respondeu, tomando mais um pouco de bebida – O que realmente está incomodando você, Draco?

Ele a encarou por alguns minutos e então, virou o copo. Narcisa observou em silêncio o filho se servir de mais e se levantar, andando de um lado para outro.

— Não entendo como ainda me pergunta... – ele finalmente disse, olhando para fora – Meu filho, que não é meu filho, está definitivamente fora da minha vida. Meu pai e minha esposa me traíram. – ele se virou e a encarou – Nossa fortuna está sendo dilapidada pelos ataques do meu meio irmão.

— Eu entendo o que está passando por causa de Scorpius... e não consigo sequer imaginar como é.  – ela rebateu, deixando o copo sobre a mesinha – Mas não é esse o real problema atual, não é? – perguntou, perspicaz – O problema real é que Harry Potter precisa que você admita publicamente, ou pelo menos para algumas pessoas, que foram amantes e que existe sentimento e não apenas sexo.

Draco encarou a mãe, empalidecendo. Narcisa encolheu os ombros, sustentando o olhar do filho.

— Eu nunca o questionei quando o escândalo veio a público. – a voz dela baixou de tom – Não posso dizer que notei alguma coisa enquanto estava acontecendo e como você ficou ao lado de Astoria, achei que tudo não havia passado de um caso sem importância, como todos os outros. – ela inclinou a cabeça – Embora deva admitir que fiquei surpresa por ser Harry Potter.

— Não conversarei sobre isso com a senhora, mamãe. – ele respondeu e se virou para a janela de novo.

— Nunca conversamos, na verdade. – ela desviou os olhos do filho e respirou fundo – Seu pai arranjou seu casamento e não conversamos. Depois veio o escândalo e não conversamos. Mesmo depois do que tivemos que fazer com Astoria e Scorpius, não conversamos.

— Conversar não resolveria nada, mamãe. – Draco suspirou – Conversar nunca resolve.

A bruxa se levantou e encarou as costas do filho.

— Scorpius me contou sobre sua conexão com Harry. De como a magia do feiticeiro acalmou a sua. – ela baixou o tom de voz – Não acha que ajudá-lo ajudaria vocês dois?

— Se, e é um grande se - ele se virou e cruzou os braços – aquela mulher realmente conseguiu enfeitiçar Harry, tenho certeza de que aquele bando vai conseguir resolver o problema sem que eu tenha que bancar o idiota.

Narcisa franziu a testa. – Bancar o idiota?

Draco riu, sem humor.

— Mamãe... acha mesmo que não estão esperando uma declaração de amor cheia lágrimas e suspiros? Não acha que estão se juntando para que eu diga que o que tivemos foi mais do que, como a senhora disse, sexo?

— E foi? – a bruxa perguntou, o olhar intenso.

O bruxo a encarou e respirou fundo, virando-se para a janela.

— Eu não tenho nenhum tipo de sentimento especial por ele, mamãe. – quando se virou de novo, os olhos de Draco estavam frios – E teria dito isso àquela lunática, se ela tivesse me deixado falar.

Narcisa encarou o filho e balançou a cabeça.

— Bem, é embaraçoso ter que admitir que tanto eu quanto Scorpius estávamos errados, então. – a bruxa pegou suas coisas – É bom ver que está administrando suas perdas com equilíbrio, filho.

— Achou que eu o amasse? – ele perguntou, a voz fria.

A bruxa se dirigiu para a porta e a abriu, só então se virando para devolver o olhar. Draco a encarava, uma sobrancelha erguida.

— Eu achei que sim. Na verdade, podia afirmar isso sem qualquer sombra de dúvidas até cinco minutos atrás. Bom, a culpa não foi inteiramente minha por pensar assim. Espero que se lembre de todas as vezes que mencionou ter sentimentos por Harry. – o olhar dele vacilou diante das palavras de Narcisa – E espero que se lembre que foi esse o motivo que deu à Astoria como explicação para não poder amá-la.

 - Isso não significa que eu o amo. – o bruxo rebateu, seco.

— Não. Não significa. – a bruxa sorriu calmamente – Que pena que eles procuraram a pessoa errada, então. Espero que eles consigam porque um mundo sem Harry Potter é um mundo mais cinza, não acha?

Narcisa saiu e Draco encarou a porta fechada, incrédulo. Depois de alguns minutos congelado, se sentou novamente e se serviu de mais bebida.


******


A coruja chegou dois dias depois da conversa e Draco encarou longamente o pergaminho contendo o local, a data e a hora do feitiço. Passou a noite inteira bebendo e o dia seguinte em reuniões infindáveis tendo que encarar o olhar pesado de Lucius. Evitou pensar sobre a noite próxima e se ocupou o máximo que conseguiu com tudo o que encontrou pela frente.

Já era noite alta quando voltou ao apartamento e depois do banho e de duas ou três taças de vinho é que viu o bilhete de Luna sobre a mesa. Franziu a testa e olhou o relógio na parede.

Haviam se passado seis horas.

Draco aparatou no campo aberto.

Lumus!

O brilho tênue na ponta da varinha foi jogado para cima e clareou o suficiente para o bruxo ver que havia um círculo marcado no chão, mas fora isso, não havia nada ali.

O feitiço tremeu e se encerrou e Draco conjurou-o novamente, deixando-o na ponta da varinha.

— Será que eles vieram ou... de repente, não puderam vir. – murmurou, olhando a clareira – Acho que não vieram, no fim.

Uma rajada de vento frio o fez se encolher e momentos depois, entrava no apartamento. Ignorou o bilhete e se serviu de whisky para esquentar. Não levou uma hora até que se erguesse de um pulo e começasse a andar de um lado para outro, atormentado pelas vozes de Luna e Narcisa.

— Não! Não vou acreditar que dependiam de mim! – falou para a sala vazia, pegando o copo de novo – Não o grande Harry Potter!

Depois de alguns minutos, atirou-o contra a lareira e reprimiu um grito de raiva.

— Não tem nada a ver comigo! Não tem! – em vez de gritar, a voz baixou de tom até o murmúrio – Não posso! Não posso ir até lá e dizer... não posso!

O dia clareou na janela e Draco continuava bebendo e falando consigo mesmo, ora baixo, ora quase gritando. O elfo doméstico que substituiu Naevia observou por algum tempo e resolveu avisar Narcisa quando o bruxo começou a destruir os móveis e quebrar o que via pela frente.

Quando a bruxa entrou pela porta, aberta pelo elfo, encontrou o filho desgrenhado e completamente bêbado, jogado no chão da sala semi destruída.

Com esforço, ele se levantou e passou a mão pelo cabelo, cambaleando.

— Eles tem razão, mamãe... sou um maldito covarde! – afirmou, a voz enrolada.

Narcisa respirou fundo e inclinou a cabeça.

— Você não foi, não é? – perguntou, baixinho.

Draco abriu e fechou a boca várias vezes e teve que se amparar no sofá virado, antes de começar a chorar.


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