Knight of Night escrita por Marcelo Albuquerque


Capítulo 5
Confiança




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  Lucas definhava nos registros da ASI tentando entender as máfias, como aquele jogo funcionava no tabuleiro chamado Star City. Apesar de se parecer fácil, entender hierarquias, táticas, operações, como tudo funcionava era cansativo, mas o jovem agente era incansável, pertinente e nada podia o parar. 

Departamento de Polícia de Star City – DPSC (21:40) 

     Com a soltura de Risada, Star se esqueceu dos encontros e desencontros do submundo do crime, a explosão e a derrota das grandes máfias na noite passada passaram batidos, o que em outra ocasião causaria um alarde de caos e temor, graças à Risada, não passou de um evento corriqueiro. Que oportuno, não? 

     Mas não passou abatido por todos, a Procuradora-geral, Marina Dunquerque, mãe de Lucas, sabia o que tamanho evento significava, que uma troca no poder, às vezes é bom, às vezes é ruim, mas uma pessoa, segundo à própria, realista, sempre pensa no pior cenário. Marina foi enfrentar o comissário, queria respostas. O povo escolheu bem sua procuradora. 

     Estamos de volta ao escritório do comissário, marrom e escuro. 

     - Nós cuidamos das ruas, procuradora, prendemos os caras maus, depois, somente depois, é sua alçada. – Diz o comissário sentado em sua cadeira, claramente furioso. 

     - Me poupe – fala Marina de frente para o comissário, sua raiva é tamanha –. Sabemos como as coisas funcionam nessa cidade. Eles não me procuraram ainda, pois sabem que não estou à venda, que meu escritório não é corroborado. Mas o seu comissário, gesta essa cidade há quase vinte anos, quantos tiveram no poder e quantos deles o pagaram? 

     - Como ousa?! Vêm até meu gabinete para fazer acusações fraudulentas. É mesmo filha de Cat, louca e possessiva igual à mãe! – Diz o comissário furioso. 

     - Perde os argumentos e passa para ofensas? Muito maturo, comissário. – Marina se apoia na mesa, olha nos de olhos do comissário – Me diga, o que fará para manter os cidadãos de Star bem, tranquilos enquanto dormem? 

     Comissário se debruça sobre a mesa. 

      - Farei o que fiz durante todos esses anos, o que manteve esse prédio em pé, o que manteve os meus oficias vivos, procuradora, NA-DA! 

     Marina olha com desapontamento para ele. 

     - Fechará os olhos, deixará que eles se matem e levem o povo com eles? 

     - Melhor do que cruzar canto a canto dessa maldita cidade atrás deles, custando a vida de homem e mulheres, promotora, que só querem voltar para a casa a noite e ver suas famílias. – Diz o comissário solenemente. 

     - Você não está falando com o povo ou com a impressa, não tem necessidade de mentiras. Sei muito bem do que é feita essa corporação, dinheiro de drogas, armas, mortes, tráficos e de tudo mais. – Diz Marina direcionando-se à saída. 

     - Existe uma verdade nisso, Marina, se eu fosse as ruas haveria muito mais sangue. Mesmo que eu queira, a polícia não aguentaria uma cruzada. 

     Marina saí do escritório. 

     A frustração de Marina é tamanha, seu escritório tenta trazer paz e conforto para Star, mas é apenas seu escritório, a corrupção é estrondosa nessa cidade, cansativa e dolorosa. 

Uma Lanchonete em Los Island (21:10 – Alguns dias depois) 

     Para a surpresa de ninguém, Risada foi convidado para alguns programas de televisão, deu entrevistas e mais entrevistas, ele estava adorando. Lucas, por outro lado, desconfiava das atividades do ex-criminoso, então o manteve sob investigação. 

     A cidade estava esperando algo de ruim acontecer, mas nada aconteceu. Don Morene se exilou em Black Island, ilha ao sudeste da cidade, ninguém sabia se ele revidaria. Já Mauricio Troy e Franco Rodriguez expandiram seu império, ninguém podia os parar. Nem mesmo a polícia. Mas, com as novas gangues no poder, as coisas perderam o rumo, não havia mais regras, nenhum código de conduta. Star estava se tornando uma terra de ninguém. Os assaltos, mortes, invasões perderam a linha. As gangues menores que um dia seguiram as Mafias Russa e italiana, se rebelaram, elas também queriam poder, queriam um pedaço de terra que tanto cobiçavam. 

     Sem dinheiro, sem armas, sem seguidores, mas com poder. Mauricio e Franco fizeram alguns acordos, fragmentaram a cidade, deram partes as gangues pequenas. Na verdade, acreditavam ser apenas um contratempo, quando o dinheiro chegasse, as armas chegariam, logo, o poder definitivo. 

     Um caos define Star City, Lucas não se aquietava e por algumas noites interferiu em transações, roubos, assassinatos. Acreditava que estava ajudando a polícia, que estava fazendo o trabalho que ASI se recusava a fazer. Obvio que Gabriella o contrariava, mas nada que eles não pudessem resolver. Depois de tanto adiar a noitada com os amigos, Gabi convenceu Lucas a sair, a se divertir. 

     Em uma mesa com quatro lugares, Gabriella e Lucas estão sentados um de frente para o outro. Eles estão em uma lanchonete, um lugar com tema dos anos 60. 

     - Foi uma má idea. – Diz Lucas olhando a hora em seu celular. 

     - Não, não foi uma má ideia. – Diz Gabriella lendo o menu. 

     - Eu poderia estar lá fora, salvado uma vida, impedindo um roubo ou até mesmo uma troca de drogas. 

     - Isso é trabalho da polícia. Até onde sei, você não é de lá. 

     - Se prezamos pela segurança do povo, por que não devemos assegurar a todos? – Pergunta Lucas claramente inconformado. 

     - Se Star sofrer ameaças do tipo: Ogivas nucleares, guerras, atentado terrorista ou qualquer outra coisa que custe a vida de milhões, aí sim estaremos lá. – Diz Gabriella ainda procurando algo para comer. 

     - Eu decidi defender a cidade, minha cidade das coisas ruins que a ameaçam. Não importa o que aconteça. 

     - Está bem, Batman. – Gabriella baixa o menu, olha nos olhos de Lucas – Não estamos aqui para falar de trabalho, estamos aqui para se divertir. Minha prova é daqui alguns dias, preciso esparecer e você também. 

     - Está bem, não vamos falar de trabalho. - Diz Lucas, agora pegando o menu para si. 

     Gabriella olha ao seu redor, vê tudo muito monótono, ela está inquieta. 

     - Ok, vamos falar de algo que está me incomodando. – Diz Gabriella tirando o menu das mãos de Lucas. 

     - O fato de sua prova ser daqui alguns dias, e sua reação de ansiedade foi voltar a pegar seu ex? – Diz Lucas, como se estivesse esperado o momento certo para falar aquilo. 

     - Ha-ha-ha. Muito engraçado, senhor Dunquerque. Mas eu estava na seca e ele estava lá, a merce… Mas não é isso que quero falar. – Gabriella sorri de lado – Vamos falar da razão a qual você tem evitado a Daiane nos últimos tempos. 

     - Eu não tenho a evitado. - Diz Lucas tentando desconversar. 

     - Jura? Você deixa de mexer no telefone para não mandar mensagem para ela. 

     - As vezes acho que você sabe muito da minha vida. – Fala Lucas tentando desviar o olhar. 

     - Não seja um idiota! Você gosta dela, muito provavelmente ela também gosta de você. 

     - Eu acho que não. Mas, mesmo que gostasse, não vai acontecer. 

     - O que foi? Tem medo de quê, Lucas? 

     - Eu não diria medo, mas sim receio de perder a amizade. E também, – Lucas diminui seu tom – eu saio, definitivamente, todas as noites correndo risco de vida, não posso dizer a ela, Gabi, ela não entenderia. 

     - Certamente ela entenderia, ela é inteligente, não uma burra. Ela estaria do seu lado, Lucas, ela somaria. 

     - Não posso correr esse risco, não com ela. – Diz Lucas frustrado. 

     - Se pensar assim, não arranjará ninguém pelo resto da sua vida. 

     Lucas coça a cabeça, respira fundo e vê Daiane e Arthur entrando ao longe. 

     - Eles chegaram. – Diz Lucas tentando disfarçar a angústia que a conversa trouxe. 

     - Uma noite perfeita, vá se declarar. – Diz Gabriella levantando. 

     - Não. – Responde com um sorriso forçado no rosto. Ele também se levanta 

     Os amigos se cumprimentam, então Arthur senta ao lado de Lucas, e Daiane do lado de Gabi. 

     - Pensei que nossa reunião não aconteceria. – Diz Daiane prendendo seus cabelos loiros. 

     - Com Lucas desmarcando tantas vezes, é de se imaginar que esteja muito ocupado. – Diz Arthur. 

     - Como disse mais cedo, apenas algumas não casualidades no trabalho da minha vó não me permitiu sair. – Diz Lucas com mais uma mentira. 

     - É de se imaginar, eu leio os artigos que sua vó publica. A forma como ela leva aborda os transtornos no submundo do crime, como em meio a tanta corrupção na nossa cidade, ainda exista alguém que renove as esperanças dessa cidade. – Diz Daiane sorrindo. 

     Lucas observava ela falar apaixonadamente, Gabriella só observava Lucas. 

     - Chega a ser divertido. – Diz Gabi encarnando de Lucas, então percebe que os outros também estavam lá – Digo, a forma que ninguém se importa como o DPSC não liga para nada, isso chega a ser engraçado. – Diz Gabriella embaraçosamente, tentando se livrar num jogo de cintura. 

     O telefone de Lucas toca, ele vai atender longe dos amigos. 

     - Viu? Nunca tem tempo para nós. – Diz Arthur. 

     - Chega! – Diz Gabriella levantando. 

     - Onde vai? – Pergunta Daiane. 

     - Dá uma bronca no seu amigo. – Diz Gabriella andando em passos largos

     Gabi atravessa a lanchonete a procura de Lucas, ela o avista falando no telefone perto de um aquário. Ao chegar perto dele, em uma reação inesperada, típica de Gabriella, ela pega o celular e joga dentro do aquário. 

     - ENLOQUECEU?! Grita Lucas 

     - Não é hora de trabalho, estamos aqui para se divertir. 

     - Eu estava falando com o Gabriel… – Fala Lucas vendo seu celular no meio dos peixinhos. 

     - Até ele está metido nisso. – Diz Gabriella com ar de desaprovação 

     - Ele me deu uma pista sobre o Risada, uma pista que pode provar que ele não é o bom samaritano. – Diz Lucas pegando seu celular.

     Quando Lucas chama Risada de "O Bom Samaritano", faz uma clara alusão à manchete do tribuna. 

     - Sabe quem deve se preocupar com isso? O comissário.

     - Se ele se importasse essa cidade não estaria nesse caos. – Fala Lucas secando o celular na blusa. 

     - Está bem, – Gabriella puxa Lucas pelo restaurante – amanhã você se preocupa com os mafiosos, com assaltos a bancos, com as mortes, drogas e tudo mais, hoje somos apenas adolescentes curtindo. 

      - Está bem, só era uma boa pista. – Diz Lucas se soltando de Gabriella. 

      - Não importa. 

      Eles voltam a mesa, Lucas senta no lugar da Gabi, ficando ao lado de Daiane. 

      - Eu escutei você gritando. – Diz Daiane para Lucas. 

      - Acho que tem a ver com isso. - Diz Arthur pegando o telefone de Lucas encharcado. 

      - Eu joguei o celular dele no aquário. - Diz Gabriella rindo. 

— Você é maravilhosa. - Diz Daiane rindo. 

     - É só por no arroz Lucas, fica novinho em folha. - Diz Arthur rindo 

     - Ela me convenceu, hoje será apenas nós quatro curtindo. - Diz Lucas 

Em Algum Lugar em Old Island (22:35) 

     Desde que salvou as três pessoas na missão que lhe concedeu o “castigo” de Alice, Lucas se tornou obcecado pelas máfias. Ele percebeu o quão devastador esse império é para a cidade, quantas vidas são dadas em troca de fortuna e drogas. Talvez tentando ser o herói que o pai um dia fora, ele quer acabar com esse terror e dor que existe em Star City 

     No ponto em questão, a ligação que Lucas recebeu estava certa, Risada se encontraria com alguém duvidoso, em um lugar duvidoso. Talvez, apenas talvez, se Lucas não estivesse ocupado com os amigos, tudo o que este encontro vai proporcionar no futuro não ocorresse. 

     Agora estamos em Old Island, uma ilha no nordeste da cidade, abandonada. Um dia já fora o centro de Star City, um lugar cheio de vida e populoso. Hoje, não resta nada além de prédios velhos e destroços. Nos anos 40, um desastre natural – na verdade não foi um desastre natural, mas isso não importa, agora – fez a ilha começar a afundar. Pelo perigo de vida, é estritamente proibido pisar na ilha. 

     Na sacada de um prédio antigo, Risada observa a antiga cidade, os prédios antigos, algumas ruas mais distantes é possível ver apenas os topos de prédios altos, os pequenos já estão submersos. 

     - Não é majestoso? – Pergunta uma voz Calma e fria. 

     Risada se vira, sua visão é de um homem de meia-idade, baixo, um pouco calvo, os cabelos que lhe restam é uma mistura de castanho com grisalho. Trajava um terno escuro. 

    - Uma cidade inteira abandonada, devastada pela natureza, inundada. – Diz o homem se aproximando de Risada. 

    - Mais que majestoso, oportuno. Uma ilha inteira sem lei, onde os criminosos podem se esconder, onde policias não existem. – Fala Risada tentando decifrar o homem. 

      - Sabe qual a parte da história dessa ilha que ninguém conta? Que antes da intervenção divina, estava dominada pelo crime, pelo ódio, pelos caras maus. – Diz o homem admirando a visão, enquanto os ventos da noite fria batiam em seu rosto. 

     - Não seria Star se fosse diferente. Essa cidade é dominada pelos caras tenebrosos. 

     - Mas sempre escondidos. Está na hora das coisas mudarem, chega de se esconder dos holofotes, está na hora de brilhar. – Diz o homem rindo. 

     - Eu não sei ao certo o que quer, então sem rodeios, senhor? – Pergunta Risada, um pouco incomodado com a situação. 

     - Allencar. Mas claro, sem rodeios. – O homem respira fundo – Eu te tirei da prisão, Risada, eu o trouxe de volta ao mundo dos vivos. 

     Como parte da interpretação, Risada esbanja surpresa. Claro, o ex-criminoso, apesar de não parecer, é muito inteligente, capaz de desenrolar tramoias inimagináveis. 

     - Então você cobrará seu favor. – Diz Risada calmamente 

     - Essa cidade não tem ideia das coisas que acontecem a noite, apesar de se ter o borborinho de uma guerra pelo poder, ninguém imagina o quão sangrenta será. Mas você e eu sim. 

     As engrenagens de Risada estavam funcionando, ele já percebeu o que o homem quer, mas isso vai de total encontro para o que ele havia planejado. 

     - Eu sei o que planeja, - fala o homem seriamente - aparecendo em entrevistas atrás de entrevistas, tomando para si o amor do público, o amor dos cidadãos dessa cidade. 

     - Perdoe-me, senhor Allencar, mas não vejo como essa oferta pode ser de meu agrado. – Fala Risada com um singelo sorriso. 

     - Você não entendeu, você fará exatamente o que eu mandar, se não irei te jogar em um lugar pior que o D’avilla. – Diz o homem rispidamente. 

     Risada queria saber quem era o homem misterioso, até onde ele iria. Em um movimento rápido, Risada tira uma faca do bolso e a pressiona contra o pescoço do Senhor Allencar. 

     - Você acha que sou como esses bandidinhos de quinta espalhados pela cidade? Não, não. Eu sou maior que isso. – Diz Risada calmamente. 

     - Eu não duvido disso, por isso dentre tantos e tantos eu o escolhi. Mas eu vim previnido. – O homem olha para o peito de Risada, onde um pequeno círculo vermelho reluz – Snipers. 

     Risada solta o homem, então dá uma gargalhada. 

     - Eu preciso que essa cidade viva os piores dos piores dias, sangue e dor pelas ruas, um caos que somente você pode trazer. 

     - Por que? – Guardando a faca. 

     - Não importa. Pare com seus planos, desista das entrevistas, você não é o bom samaritano. Suma por algum tempo. Então volte, volte trazendo dor, caos e medo. – Diz o homem. 

     - Se um dia, quando o poder estiver em minhas mãos novamente, eu te encontrar, você será um homem-morto. – Diz Risada seriamente. 

     - Você nem imagina pelo que está por vir. – Diz o homem saindo. 

     Definitivamente, os planos de Risada foram por água abaixo, tudo o que planejou até aqui não serve mais. Alguém quer o verdadeiro terror na cidade, mesmo que Risada não entenda o motivo, ele entende que o homem que encontrou tem poder, tem influência. Ele já se deparou com pessoas assim ao longo dos anos, o que o fez não duvidar do senhor Allencar. 

     O pior pesadelo da cidade está a solta, pronto para matar, destruir e corromper.

 


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Notas finais do capítulo

Allencar quer que Risada saia de suas amarras, faça o que faz de melhor, destruir e matar, ele quer que ele traga dor para Star, mas por que?
Acompanhe o próximo capítulo amanhã (27/01).



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