The New Stylist escrita por CandyMadTribute


Capítulo 33
Sobre respirar


Notas iniciais do capítulo

Já faz tempo que não apareço aqui certo?
Primeiramente, EU SINTO MUITO
Eu acho que as coisas fugiram ao controle, não só da Estrella como ao meu também e por muitos meses eu me vi abrindo o bloco de notas e não escrevendo mais que duas frases.
( isso por que era a fase da história que eu mais ansiava escrever)
Mas por alguma causa desconhecida eu escrevi, nas ultimas 2h que eu deveria estar terminando um trabalho, as mais de 1.500 palavras para esse capitulo incompleto
Pra ver como a inspiração é caotica. Literalmente um ano para um capitulo que eu jurei ser o ultimo
!!!!SPOILER!!!!
Tem mais um, que eu espero não demorar mais um ano para escrever.
No mais, aos que (AINDA) estão aqui e aos que chegaram recentemente
Espero que gostem, nos vemos lá embaixo!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/682490/chapter/33

Eu andei tão apressadamente que quase sai correndo para chegar em casa. Meu antigo e reconfortante apartamento.

Eu abri a porta e me deparei com as paredes de um lilás tão claro e opaco que beirava o branco, o sofá de couro sintético e reconfortante, a televisão de um modelo fino mas não tão novo, as prateleiras repletas de livros a minha direita e a esquerda as portas intercaladas com porta retratos, uma janela enorme mais ao fundo recoberta com cortinas brancas. Eu soltei os sapatos de qualquer jeito em qualquer lugar e caminhei até a cozinha, agarrando um copo d'agua para só então rumar para o quarto.

Então eu liguei o computador e quis vestir algo quente. Me sentia fria, como se minha pressão baixasse a cada segundo e a ventania entrando não ajudava.

É fevereiro. É tarde, passam das onze, o vento se torna forte e mais forte e eu vejo o céu se tornar escuro e mais escuro. As nuvens se fecham mais e mais. A lua sumiu. As estrelas foram escondidas, seu brilho sumiu. Eu estou completamente sozinha.

Eu repassei minhas palavras até que o computador estivesse ligado e iniciei uma vídeo chamada enquanto tragava a água.
O barulho indicando a ligação se estendeu por longos minutos até que ela fosse atendida.

— A gente precisa conversar. Tipo agora.

Jungkook piscou um par de vezes. Como se tivesse levado uma bofetada na cara.

— Bom dia também Estrella. Não sei se ligou os pontos mas aqui são nove da manhã de um sábado e eu planejava dormir mais umas horas. Mas advinha quem foi acordado.

Ouch, ele estava magoado. eu conseguia sentir no tom de voz desdenhoso.

— Eu sinto muito, é urgente. Espero que tenha dormido bem.

Ele sorriu ladino, como se uma memória boa brincasse em sua mente.
— Tudo pra você é urgente. Mas é. Acho que sim. — Um silêncio surgiu e o frio aumentou. Eu senti meus pelos se eriçarem e Jungkook parecia ter o mesmo mau presságio. — O que quer falar?

— Eu estive pensando sobre... Sobre nós. E parece conclui que ambos estamos machucados mental e fisicamente. Foi por isso que eu resolvi ligar, quero ser honesta.

Eu vi a expressão de Jungkook se suavizar ao passo que ele apoiava o celular na cama de modo que eu lhe pudesse ver sentado em pernas de índio na mesma.

— Sobre o que?

Eu puxei o ar novamente.

— Eu nunca estive sozinha. Eu nunca tive meu tempo. Eu me descobri em meio a outras pessoas entrando em um relacionamento após o outro. Eu não queria estar sozinha, me trazia memórias ruins. E quando eu finalmente decido fazer isso você apareceu. E sinceramente eu não tenho uma queixa sequer a fazer. Você foi verdadeiramente a melhor coisa que poderia ter acontecido.

— Também, olha a concorrência...

Eu virei os olhos.

— Jungkook você foi a melhor coisa que poderia ter acontecido por que foi você. E apenas isso. Pode por favor me deixar terminar? — ele meneou a cabeça confirmando e eu respirei fundo mais uma longa vez. — Eu fui covarde. Muito. A verdade é que eu fugi, Feito uma criancinha vendo uma sombra que parece assustadora, mas na verdade é só um objeto aleatório. Quando eu entrei no hospital e vi como você estava eu me culpei. Muito. Por que é culpa minha.

— Estrella...

— Culpa minha por que eu não falei. Eu carreguei tudo sozinha. Todos os fardos que teriam sido muito mais leves e fáceis de lidar se eu tivesse contado. Mas eu fui covarde e não quis enfrentar nada. Eu quis varrer meu passado pra debaixo do tapete. E quando eu te vi machucado, eu vi tudo que eu ignorei na minha frente. E eu fugi com a desculpa mais que egoísta de que "era melhor pra você". Eu sinto muito.

A essa altura o vento já fazia barulho e eu podia ouvir coisas voando. Eu quis fechar a janela fronte a mim, mas achei q seria fugir novamente, então não me movi.

— Eu não vou passar a mão na sua cabeça. Eu não vou fingir que eu não estou magoado, por que eu estou. E muito. — Foi a vez dele puxar o ar. — Eu me senti inútil, enganado. Um mero coadjuvante na sua história, onde você faz tudo que quer e eu acompanho feito o idiota apaixonado que eu sou. Eu fiquei e estou com raiva. Mas é bom te ver admitindo o erro.

Aquilo me tirou um peso do peito. Eu não precisava estar certa, eu não esperava ser perdoada. Eu só queria ser honesta.

— Eu espero que possa me perdoar um dia. — Ele olhou pro lado e sorriu antes de olhar para mim.

— Eu também.

Um silêncio surgiu por alguns minutos enquanto eu re-organizava as palavras na minha mente.

— Foi pensando nisso, que eu decidi dividir as decisões que tomei, e deixar você decidir se quer ou não seguir comigo, seja como amigo ou namorado ou seja lá o que for.

— Tudo bem.

— A primeira delas é me demitir da BH, até então o combinado era assistir a distancia. Mas eu quero sair. Eu quero focar na loja. E eu quero voltar a dançar. É um fantasma que eu quero enfrentar.

— Onde eu entro nisso?

— Entra no fato que, você voltando comigo ou não, eu não pretendo voltar a Coreia. Por pelo menos 5 anos.

Houve um silencio, e eu ouvi barulho de chuva, mas não havia nenhuma gota caia do meu céu. Demorei alguns minutos até concluir que devia chover em Seoul.

— E Murilo?

— Foragido. O advogado da família dele me contatou. Me ofereceram muita coisa pra eu largar o processo.

— E você quer? — Ele pergunta e o céu começa a gotejar.

— Eu não sei. Eles prometeram deixa-lo longe de mim, mas eu não confio e nem sei se conseguiria viver com esse medo. Por outro lado durante todo o processo eu lidaria com o medo do mesmo modo. Então não sei.

O silêncio retornou. o frio aumentou, assim como as gotas que caiam do céu, ventava mais. Jungkook mordia os lábios, eu devorava minhas unhas. Ambos sem saber o que dizer.

Até que ele esticou o braço e alcançou um casaco. Azul.

— Por que você está com meu casaco? Eu procuro ele tem meses!

— Você esqueceu no hotel, no dia que a gente se conheceu. Eu guardei e disse que ia devolver. Mas os dias foram indo, indo, indo e eu esqueci. Mas sabe por que eu tô mostrando? — Neguei. — Eu tenho dormido abraçado com ele. Todos os dias. Por que é o mais próximo de você que eu tenho. Eu sinto sua falta Estrella. Muito. Mas eu não sei se posso lidar. Não com você sempre fugindo, me escondendo coisas, eu não sei.

Agora chovia forte, e o barulho era tão alto e forte que brigava com o barulho que me coração fazia. Correndo feito um louco, me fazendo enjoar e a cabeça pesar. Na verdade tudo pesava, e doía, doía muito.

— Foi por isso que eu liguei. Eu não quero mais fazer nada disso. De verdade. Eu não vou pedir seu perdão, eu não vou pedir pra você voltar, nem pra ir. Eu vou deixar isso nas suas mãos e vou aceitar qualquer decisão sua.
Ele soltou o ar.

— Eu posso ter um tempo pra pensar ?

— Quanto tempo você precisar. Eu vou desligar. Me ligue quando quiser falar.

Ele concordou e a ligação cessou.

Todavia o caos lá fora seguia cada vez mais intenso.

Uma tempestade havia chegado.

E eu não sabia se conseguiria enfrenta-la

 

***

Naquele dia choveu como não chovia a bons anos. Fortaleza sempre teve um clima inconstante e confuso, pela manhã chovia, a tarde era quente como o inferno, a noite esfriava e chovia horrores. Assim como era comum passar anos sem haver um só gota de chuva sequer, as vezes, havia um chuvisco de durava um minuto e aliviava o calor, mas de resto era, quente cruel, e seco. E amedrontador, por significava reservas baixas e poupar cada gota de água.

Mas isso não tornava a chuva algo puramente bom. O frio era aconchegante, mas tem seus problemas. As ruas alagam, você é levado pelo vento, casas inundam, pessoas perdem tudo. Como tudo existem dois lados da moeda.

E hoje chovia.

Normalmente, eu pesaria muitas coisas, eu me preocuparia com as pessoas que trabalham comigo e em como elas chegariam no trabalho e provavelmente estaria redigindo um e-mail dizendo, em letras garrafais e grifadas, "NÃO VENHA SE NÃO FOR SEGURO", pensando se seria seguro pra mim ir até ao trabalho ou ainda se valeria a pena abrir a loja e ter gastos sendo que se aparecessem duas clientes seria muito.

Mas, naquele momento, eu estava de certa forma em paz.

Sentada no sofá com um coberta e um xícara de chocolate bem quente. eu não me inquietava com a chuva mas encontrava certo conforto nela e por incrível que pareça, eu não sentia vontade chorar ou ficar mal. Eu havia conseguido alguns minutos de paz.

Havia a incerteza, o medo ainda existia ali, mas parecia que por alguns minutos eu podia ficar bem. respirar e esperar ter paz.

E eu sinceramente aproveitei cada segundo.

 

***

Eu soltei o ar, dei o ultimo passo, ergui meus braços e parei na quinta posição, aguardei a ultima nota cessar antes de faz uma mesura emendada a um plie e finalmente sair da formação e soltar o ar.

 

Eu senti falta disso.

O balé é rigoroso. Exige que você respire bem e saiba controlar o ar, que você contraia e relaxe os músculos em determinada contagem enquanto se mantem reta, com a cabeça bem erguida, os polegares escondidos e isso tudo equilibrada sobre os dedões do pé ou sobre uma sapatilha quadrada que comprime seus dedos ao máximo e faz dançarinas mais experientes não terem unhas e até mesmos dedos.

Dói, queima e te faz querer morrer de cansaço, mas de repente, aquilo tudo te faz bem, limpa sua mente e faz você se entender.

Eu sai da sala rumando ao trocador, tirei a saia envelope, e com certa luta o body grudado a mim pelo suor também tirei a meia calça grossa e um tanto suja junto. Por fim, as sapatilhas, as caixinhas malditas que me deram inúmeras quedas antes de conseguir andar propriamente com elas, se foram junto todo os resto permitindo meus dedos respirarem.

Eu vesti um blusão e chinelos, eu os odiava mas nos dias de aula eles eram necessários. Eu sai, agradecendo as outras alunas e a professora, e caminhei a passos lentos e exaustos até meu apartamento.

Já fazia um mês. Era março. E eu ainda não tinha nada certo.

A advogada dizia que o processo corria bem e Murilo, logo logo, seria preso. Mas eu tinha minhas ressalvas.

Meus pais sumiram, Léo dizia que eles levariam tempo, e eu tinha certeza de que esse tempo nunca findaria.

A Loja se reconstruía lentamente, começaria online e depois, muito depois eu abriria um versão física.

E dessa vez que estava no escuro.

E eu não poderia reclamar.

Eu ainda conversava com Jungkook, com certas dificuldades, as agendas eram cheias, conflitantes e ainda havia o fuso horário para complicar, apesar de ambos darem seu melhor, mesmo que o melhor fosse um "Como você está?", quase sempre respondido com um "seguindo em frente", mesmo que a verdadeira resposta fosse "eu não sei"

 

***

Agora fazem três meses, Jungkook lançou mais um cover e eu mais uma coleção. Voltei aos palcos e nunca me senti tão viva ao passo que me sentia orgulhosa de vê-lo crescer.

As conversas se tornavam mais constantes e o intervalo diminuíra de doze horas para duas, os "seguindo em frente" se tornaram longos textos contando fatos.

Eu contava, sobre o medo, sobre não dormir sem checar as trancas várias vezes e conferir se a empresa de segurança rondava as ruas, sobre como o processo caminhava a passos lentos e como eu sentia vontade de ceder, aceitar a quantia e ir para qualquer lugar, fazer qualquer coisa mas obter alguma tranquilidade no peito. Jungkook me encorajava a fazer o que me desse mais paz, e isso quase sempre me fazia concluir que só teria paz em ver Murilo na cadeia. Então eu respirava fundo e tentava mais um pouco. Acreditando que coragem é sobre enfrentar os medos e não sobre nunca tê-los.

E Jungkook contava seu lado, seu medo dos palcos e de decepcionar, não ser suficiente. Sua vontade de tentar novas coisas, ele sempre falava sobre criar algo e eu sempre dizia que ele poderia, que mesmo que falhasse ainda seria bom. Eu quase podia senti-lo sorrir para tela do celular antes de digitar um "talvez" cheio de inseguranças.

Era agoniante. Apesar das conversas nunca cessarem, eu nunca chegava perto de entende-lo ou saber o que se passava e cogitava perguntar. Mas acabava sempre retrocedendo e decidindo manter a promessa de dar-lhe o tempo preciso.

O que de certa forma não era ruim. Me dava tempo para me entender também. Eu precisava também de respostas sobre mim mesma.

Dizem que não se pode amar alguém antes de se amar e aquilo fazia cada vez mais sentido pra mim.

 

***

Lynn me ligou noite passada.
Eu havia posto os pés em casa após um dia exaustivo, estava perto da temporada de primavera-verão e eu nem sabia qual o tema da próxima coleção e nem achava inspiração para tal, mas cogitava seriamente algum grã-balé, quando o celular começou a reverberar em tom ensurdecedor.

Minha irmã raramente me ligava, exceto se algo muito grave ocorresse, então atendi com certa urgência.

— Eu estou com problemas.
Meu peito afundou como se alguém se tivesse jogado uma tonelada sobre ele. Então eu apenas apoiei o telefone entre o ombro e a orelha, enquanto trancava a porta, ficava descalça e me jogava sobre o sofá sem me preocupar se eu o estaria sujando de suor ou não. Minha irmã era minha prioridade agora.
— Então. O que houve?
— Seokjin. Seokjin foi o que houve.
— O que? Ele te machucou? Se aquele par de ombros idiota tiver feito algo eu juro por Deus que vou na Coreia chutar a bunda magra dele.
Lynn riu do outro lado da linha.
— Na verdade, quem provavelmente saiu magoado foi ele. — eu me sentei — Ele tentou me chamar pra sair eu... Sai correndo? Eu só...
— Não sabe lidar com atenção?
— É. Meio que isso.
Eu sorri.
— Explane.
Eu ouvi Lynn sugar o ar.
— Seokjin tem falado comigo todos os dias, e sido um bom amigo. Mas toda vez que ele toca no assunto "encontro" eu fujo feito o diabo da cruz. Eu penso em voltar e evitar isso tudo Estrella...
— Hey. Você viu o que aconteceu quando eu fiz isso. Magoei todos. Tudo bem se não quiser sair com ele, é uma diferença gritante de idade, tudo bem se quiser, tudo bem se quiser voltar e tudo bem se quiser ficar. Só não fuja sem explicar. É imaturo, injusto e irresponsável. Basta eu de idiota nessa familia.
Ela riu.
— Talvez. Eu só sinto que não tenho paciência pra isso, não agora. Se eu fosse uns anos mais velha talvez...
— Então diga pra ele. Exatamente como disse e depois decida o que fazer. Talvez Seokjin não se importe de esperar seu tempo sendo um bom amigo, talvez ele aceite ser apenas um amigo e talvez você volte. Como dizem, "o futuro a Deus pertence" certo?
Ela concordou.
— O seu também certo?
Eu sabia do que ela falava.
— Sim. O meu também — foi minha vez de soltar o ar — e eu espero que ele seja bom.
Eu pude ouvir Lynn sorrir.
— Vai ser.

***

Agora é Julho, o tempo esquenta e esfria como que numa montanha russa. Meio que reflete o agora. Eu sigo sem qualquer resposta de Jungkook.

Eu até achava que ele já havia esquecido.

Eu seguia trancando todas as portas e janelas e só conseguindo dormir depois de ouvir o segurança da rua passar pelo menos 3 vezes, mas me tranquilizava saber que Murilo seguia em prisão preventiva.

Até hoje, até exatas 08:00 da manhã de uma segunda-feira quando eu recebi um telefonema da minha advogada dizendo que o julgamento estava oficialmente agendado pra daqui a 3 dias.

3 dias. 3 dias pra finalmente ter fim. Mas 3 dias pra ficar frente a frente com meu maior trauma.

No dia um eu me permiti não fazer nada. Não atender ninguém, não entrar em rede social nenhuma, não sair de casa, não dançar, não produzir em qualquer nível. Eu apenas sentei, e tentei absorver aquilo. Pela noite eu liguei o celular, que eu havia desligado após resolver todas as pendencias com a advogada.

No segundo dia voltei a produzir. Eu respondi os emails, tentei resolver pendencias da loja e falei com Lynn por longas horas. Eu apenas apaguei na cama ao fim do dia.

No terceiro dia eu fiz de tudo para sair de casa. Eu me dei folga de todos os assuntos relacionados a próxima coleção, e fui pro estúdio, onde dancei ao ponto de não sentir mais dedo nenhum e ter poças de suor em todas partes do meu corpo, então sai de lá, comprei o maior milkshake que vi a venda, ele tinha quase um litro, e tomei enquanto andava a passos rápidos pra casa. Eu ainda tinha medo apesar do julgamento no dia seguinte. Deus sabe o tipo de represália que eu enfrentaria.

Eu jurei que iria tentar dormir, sabia que estava cansada e que eu precisava daquelas horas de sono para enfrentar aquilo.

Mas eu não consegui.

Eu sentia o peito galopar como mil cavalos selvagens em perfeita sincronia, o suor escapava das minhas mãos feito tempestade, como a que surgia na minha mente. Mil "e se" rondando me fizeram levantar da cama e andar por todo apartamento, num ciclo.

Levantar, verificar se as janelas tinham trancas bem cerradas.

Entrar no banheiro. Sair do banheiro.

Ir pra sala, fazer um circulo completo nela por inteiro verificando se tinha qualquer brecha em qualquer lugar. Sentar no sofá.

Mexer no celular nervosamente.

Ligar a tv, tentar ver qualquer coisa.

Não conseguir.

Voltar pro quarto.

Deitar.

Repetir o ciclo.

Isso infindas vezes, até que consegui fechar os olhos por mais de dois minutos e esses dois minutos viraram quatro, oito, dez, vinte, até virar uma hora completa e eu ter que acordar.

Oito e dez.

Eu suguei o ar varias vezes, sentindo tudo em mim arder com isso. Meu estomago se virou. E revirou.

Levou alguns minutos, mas eu controlei.

Botei o café no fogo, mesmo pensando que talvez não devesse traga-lo devido a dor de estomago, não toma-lo parecia absurdo e muito pior que a possível dor. De qualquer modo deixei ferver e fui para o quarto abrindo o guarda roupa e pesando que deveria vestir.

Meu primeiro pensamento foi vestir algo que passasse imponência, que mostrasse que já não havia medo. Como o vestido longo e reto cor de vinho tinto que eu tinha. Mas descartei, costas nuas não pareciam coerentes com um tribunal.

Pensei em usar preto,camisa social e jeans combinando, mas por algum motivo, eu sentia que soaria como se eu me compadecesse do estuprador, e acredite, eu só sentia nojo. Descartei.

Pensei em me mostrar superior, chegar rindo como se nada me abalasse e me mostrar confiante. Mas eu não sustentaria essa imagem por meia hora sequer. Não hoje.

Então suguei o ar e pela primeira vez num longo tempo calcei sapatos baixos, um par de Oxfords, peguei um par de calças social de cor clara e um blazer, que em nada marcava meu corpo, assim como as calças, e por dentro, uma blusa vinho de mangas curtas, como que um resquício da imponência que quis passar.

Eu suspirei, é engraçado pensar como um amontoado de linhas e tecido muda nossas visão sobre nós mesmas. A moda é algo incrível quando se fala disso, poder se fragmentar em varias, se transformar por inteiro quem quiser, contar mil histórias sem dizer uma palavra sequer,apenas mudando uma peça. É genial.
Desembaraço meus fios, eles cresceram bastante, passam dos ombros agora, não tem qualquer química e se ondula levianamente em cachos abertos. Corro meus dedos por toda a extensão e decido que quero me manter assim mais um tempo. Amarro os fios num rabo de cavalo baixo e nem tenho tempo de pensar com clareza se me maqueio ou não, quando a chaleira começa a fervilhar estrondosamente junto ao celular que avisa que tenho uma hora para sair ou chegarei atrasada.

Suspiro e desligo o fogo despejando o liquido borbulhante numa xícara.

Hora dar fim a isso.

De finalmente conseguir respirar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu espero que eu tenha feito esse ano valer esse capitulo e se não NÃO DESISTAM DE MIM EU JURO QUE EU ME ESFORÇO
Mas eu acho que o motivo da demora mesmo é que a Candy de 19 que vos fala, é bastante diferente da Candy de 16 que começou a narrar essa história, e equilibrar os dois lados foi intenso.
Assim como a Estrella.
Eu também tive que sair no tapa com ela até entrarmos em concordancia, espero que tenha valido e que gostem do final que SIM É NO PROXIMO AMEM
eu juro que vou tentar usar esse espacinho entre o penultimo semestre da facul (sim JA) e o ultimo para escrever por que se Deixar passar Deus sabe quando eu volto
Entã, obrigada a quem leu, a quem lê, me encham o saco por DM, MP, QUALQUER COISA por que: saudade de vocês.
Obrigada e até ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The New Stylist" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.