Impressionante como morar sozinha gera dividas e mais dividas. O salário mixuruca que eu ganho naquele emprego mal dá pra pagar o aluguel imagina só o restante das contas. Água, luz, gás, supermercado, acho que esse mês eu to ferrada. Acabei de fazer as contas e olha só que beleza vou ficar devendo a luz. Maravilha, ficou tudo escuro, já cortaram a minha luz. Poxa eram só dois meses de atraso. Minha única solução é arrumar alguém pra dividir o apartamento comigo, porque eu simplesmente não tenho condições de sustentar uma casa sozinha. O final de semana passou e segunda-feira fui à Universidade após meu expediente de trabalho naquela butique chique que me explora feito uma escrava e que nem um salário descente eu recebo. Na Universidade deixei no mural um aviso de “procura-se jovem para dividir um apartamento no centro” com meu telefone e endereço, agora era só rezar para alguém gentil e honesto se oferecesse para morar comigo. Minhas primeiras aulas foram tranqüilas, estou no segundo período de administração e não vejo a hora de encontrar algum emprego na minha área e largar aquela perua que chamo de patroa na lama.  No final das aulas fui embora com Tenten que é a minha melhor amiga desde a terceira série, ela tem uma vida boa, os pais bancam TUDO que ela precisa, ela inclusive tem um carrão do ano.

— Que bom que hoje você aceitou minha carona. – diz ela dirigindo calmamente

— Eu nem seria louca de recusar hoje. Estou cansada, frustrada, endividada e sem saco algum para ir até o ponto de ônibus esperar durante horas até algum ônibus aparecer.

— Tudo vai se resolver Sakura.

— Você fala isso porque sua vida é perfeita Tenten. Você veio de uma família rica, você mora com o seu namorado lindo, gostoso e milionário numa cobertura luxuosa e faz a faculdade que quer e não a que deve fazer se quiser ser bem sucedida uma vez na vida.

— Sakura, eu sei que a vida não está fácil pra você, mas tudo vai se ajeitar. Tenha fé. Aliás, se você não quer fazer administração tranque o curso e faça a que tem vontade.

— Não é tão simples assim. Eu tentei Tenten só que eu não passei no vestibular pra medicina e pra não perder um ano acabei começando a fazer administração e, além disso, eu não teria como me manter na faculdade de medicina. Eu não tenho nem dinheiro pra pagar minhas contas no final do mês, imagina só o material necessário para ser médica?

— Eu entendo, se eu pudesse te ajudar mais eu juro que faria. – disse preocupada comigo

— Você já me ajudou. Você me arrumou um emprego naquela loja e ainda decorou o meu apartamento. Além de aceitar ser a minha fiadora. (Tenten tem um ótimo coração, sempre me ajuda quando preciso, minha mãe era empregada da família dela e os pais da Tenten pagaram meus estudos até o vestibular, depois que ingressei na faculdade Tenten sabendo que eu não tinha condições de me manter na capital pagou meus primeiros meses de aluguel e ainda me arrumou um emprego, só que o dinheiro que eu ganho lá mal dá pra sobreviver, mas mesmo assim sou grata pelo apoio da minha amiga.)

— Queria fazer mais por você. Você sabe que é como uma irmã pra mim não sabe?

— Claro que sei, mas você já fez muito. Aliás, eu vim pra capital pra terminar meus estudos e ser independente. Não posso ficar recorrendo a você toda vez que alguma coisa der errado.

— Eu sei que você vai vencer todos esses obstáculos. Nunca conheci alguém mais valente que você. – sorriu sincera.

— É. Eu realmente não tenho medo da vida.

— É e também não tinha medo dos playboyzinhos da nossa antiga escola, se lembra de quando você levou advertência porque bateu em três deles? – ria relembrando a nossa infância.

— Lembro. Ué, eles tinham preconceito comigo só porque eu não era rica que nem eles. Mereciam uma surra.

— Eu concordo.

Tenten me deixou em casa, já era meia-noite e meu apartamento tava muito escuro. Como faz falta luz elétrica, sorte que eu ainda tinha um maço de velas, que foi o que me salvou. Dormi incomodada, afinal tava muito quente e nem o ventilador eu podia ligar. Vida injusta. Vida tirana.

No dia seguinte fui ao trabalho normalmente. Quando saí de lá recebi a ligação de alguém dizendo que queria falar comigo sobre a vaga no apartamento. Era um homem. Sabe eu não queria dividir meu apartamento com um homem (medo de ser estuprada oi?), mas eu tava numa situação tão critica que teria que ver pelo menos como era esse tal de Gaara. Marcamos para a entrevista ser no final de semana, porque era o único dia que eu e ele estaríamos livres. A única coisa que esse tal de Gaara me contou sobre ele é que está no quarto período de odontologia. Enfim agora era só esperar.