48 Horas, ou não... escrita por Mariannatuts


Capítulo 2
Capítulo 2.


Notas iniciais do capítulo

O primeiro capítulo não teve muitos comentários, mas tudo bem. Espero que gostem.



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 Me sentei.

— Claro que vi. – Afirmei.

— Não, você não viu. Te ligaram ontem, e você foi para varanda atender, e não me deixou que fosse atrás de você. Estava bem revoltada, aliás. Ficou tanto tempo no telefone, que optei por dormir. – Explicou, agora aparentando preocupação.

— Como assim?? – Perguntei, sentindo uma onda de desespero percorrer meu ser.

— “Como assim” digo eu! Alana! O que você fez?? – Perguntou, preocupada.

— Eu não sei! – Confessei.

— Ai meu Deus! Eu queria tanto ter tempo para dar uma ótima lição de moral agora, mas infelizmente não tenho. Falamos sobre isso no caminho – afirmou, e se levantou deixando a coberta cair. - Levanta, são 6 horas, 6:40 precisamos estar no colégio.

— Droga! – Exclamei.

                                                    ***

 O colégio estava quase vazio, somente as turmas do terceiro ano. O pessoal que chegava estava se acomodando em cantos quaisquer, todos evidentemente com sono. Me encostei na parede. Minha cabeça estava doendo horrores, provavelmente por sono. Meu estomago roncou. Comecei a procurar o saquinho de cereal que guardei na mala. A mala era quase uma mochila de rodinhas. Só que a metade do tamanho. Extremamente pequena. Me levantei, com o cereal na mão.

— Preciso falar com você – cochichou em meu ouvido, seu tom era ilegível.

Ele estava consideravelmente perto. Me afastei, para poder ficar cara a cara.

— Era para trazer seu café da manhã, se não trou...

— Calma Lins... não quero sua comida. – Interrompeu-me.

 Eric sempre me chamou pelo sobrenome.

— O que é, então? – Perguntei curiosa, abrindo o saquinho, e colocando um punhado na boca.

— Então você resolveu vir? – Perguntou, quase surpreendido.

 Engoli.

— Eu confirmei presença, uma semana atrás. – O lembrei.

— É eu sei, mas é que... – sua voz era um murmúrio, ele me puxou mais para perto. – Eu achei que talvez você não viesse, pelo que aconteceu ontem... – Cochichou.

 Olhei incrédula. Eu raramente conversava com Eric, não por rixas nem nada, só por não termos os mesmos grupos de amigos. De todas as coisas que eu considerei ter feito ontem, Eric não estava em nenhuma das possibilidades.  

— Como assim? – Perguntei, ainda perplexa.

— O que? Como você não lembra? Nunca tinha te visto tão preocupada, como pode ter esquecido tão rápido? – Perguntou, pasmado.

 Gelei. Senti meus batimentos acelerarem, coloquei minhas mãos no bolso do casaco, e apertei o tecido fofo.

— Eu não lembro o que aconteceu ontem – confessei. – Eu achei que tinha dormido vendo o filme, mas a Bia me disse que não. Por favor, me diz o que você sabe – estremeci, por que estava tão preocupada ontem?

 Ameaçou falar algo, mas não o fez. Me encarava, como se estivesse se decidindo, sobre o que fazer.

— Fischer, por favor! – Mantive a voz séria.

 Para qualquer outra pessoa, estaria suplicando. Mas de toda escola, Eric é o que eu menos converso, não tenho intimidade alguma com ele. Me preocupa só de saber que ele está envolvido nisso, pois não vejo motivo para estar. 

— Talvez seja melhor para você, não saber o que aconteceu... – Falou, fitando a parede ao meu lado.

A preocupação se transformou em fúria.

— Como é? Por qual razão você acha que tem o direito de esconder algo meu, de mim? – Perguntei, furiosa.

 Ele hesitou. Me surpreendi comigo mesma, por ter ignorado toda a intimidade que eu não tinha, e o ter repreendido, sem nem ter moral para o fazer.

— Se mantenha sóbria, e pare de exigir respostas, de quem não te deve. – Falou, ignorando a moral que também não tinha.

Eu ri. Não sabia que os Fischer admiravam tanto, atos recíprocos.

                                                     ***

 No começo do ano, havia rumores de que seriam dois ônibus e um trailer, a turma com as maiores notas, ficariam com o trailer, ninguém acreditou muito, e quem acreditou, esqueceu com o passar do tempo. Bom, o rumor era verdadeiro, tem um trailer. Estávamos todos em linhas retas, no meio do pátio. Cada sala possui 35 alunos, mas não foram todos de cada turma que confirmaram presença. No 3A – minha sala – vieram 21. No 3B, 26 alunos e no 3C 33. Hoje mais do que nunca, agradeço por não estar no 3C.

—Você sabe quais professores vão conosco? – Cochichou Bia, que estava do meu lado, na fila.

— Não... quais são? – Perguntei.

— Também não sei... se nem você sabe, acho que ninguém sabe – falou e riu.

 Desde o primeiro ano do 2ª colegial tenho essa fama, de saber os segredos das pessoas. Na verdade, não sei, mas uso essa fama a meu favor.

— Aham... – Falei, imersa em pensamentos.

A porta da sala dos professores se abriu, a diretora e três professores saíram de lá. A diretora se posicionou na frente das fileiras, séria – ela sempre estava séria -.  Os professores ficaram alguns passos para trás, nos encarando.

— A divisão não vai ser feita por turmas. Cada professor escolherá seus alunos da maneira que achar melhor. Senhor Ferraz, fique à vontade para começar. – Se pronunciou, rapidamente e autoritariamente.

Deu alguns passos para trás, e se juntou aos professores. O “senhor” Ferraz – se dirigiu à nossa frente, e sorriu. Ele chegou no meio desse ano, para substituir o professor antigo, que pegou licença paternidade.

— A minha turma será de 20 alunos, pois ficaremos no trailer – a galera vibrou, o interrompendo. – Continuando, não comemorem tão cedo. Como sabem, sou professor de educação física, e terão que fazer muita atividade física, obrigatoriamente – ele falou alto, para que todos escutassem. – Só vou escolher um aluno. Esse aluno irá chamar outro, e seguirá assim até completar minha turma.

Nos encaramos. 80 alunos, mas somente 20 iriam no trailer.

— Lohana. – Chamou o professor.

Contive o riso. Lohana foi até ele, e o cumprimentou assentindo, formal.

— Alana. – Prosseguiu Lohana.

Sorri, e me juntei a eles.

— Beatriz. – Chamei.

— Eric. – Bia convidou.

— Gerald. – Eric chamou.

Eu ri o riso que estava contendo. Alguns minutos depois, o grupo estava completo.

— Vocês serão a equipe laranja.

— Orange, gostei! – Alguém disse.

— Você está em um país lusófono, viva de acordo. Sou professor de educação física, não de inglês – Repreendeu o professor.

                                                    ***

Seguíamos para o trailer, quando o professor começou a falar, ainda andando.

— Tem dois quartos. Um quarto é meu, claro – ele riu. – E o outro, vocês podem considerar como o quarto do líder, quem se sair melhor nos desafios que irei passar, ganhará. Vocês também podem convidar um amigo, irei dar o benefício da dúvida a vocês e permitirei chamarem quem quiser da turma... – uns sorrisos maliciosos surgiam, em alguns rostos. O professor como se tivesse sentido, continuou. – Lembrando que os quartos têm câmeras, e todo o resto do trailer também.  – Finalizou, sério.

— Até o banheiro? – Perguntou, algum indivíduo que não identifiquei pela voz.

— Ah sim, isso é outra coisa que tinha que falar, obrigado por lembrar – ele parou de andar, pois já estávamos na porta do trailer. – Não tem banheiro. – Falou, e adentrou no veículo.

O aglomerado de murmúrios, acabou se tornando alto o suficiente, para o professor se irritar.

— Parem de ser babacas! Vocês têm sorte por estarem com o trailer! As outras duas turmas vão em ônibus desconfortáveis e lotados, e estão reclamando por não ter banheiro? – Bufou. – Pelo amor de Deus! Comam e bebam na hora certa, que os horários de parada para banheiro e afins, coincidirão com suas necessidades – olhou em volta. – Quem não estiver satisfeito, pode ficar à vontade para trocar com algum estudante que irá em um dos ônibus.

Um silêncio dominou o local.

— Como eu imaginava – finalizou, e nos fitou.

Estávamos parados em frente ao trailer. Ele estava no segundo degrau do trailer, de frente para nós.

— Podemos entrar ou não? – Perguntou, Lohanna.

O “senhor” Ferraz dirigiu o olhar a ela, e sorriu.

— Claro.

Ele entrou por completo, e fez um gesto com o braço esquerdo, nos convidando para entrar.

Enquanto a turma entra, consigo ouvir algumas exclamações.

O trailer não é “enorme”, mas é grande o suficiente para que vinte alunos fiquem acomodados. De início tive a sensação de estar dentro de um ônibus, mas então meus olhos encontraram uma porta preta, que provavelmente leva para os quartos, ou pelo menos, um deles. No fundo há uma escada em espiral, que leva para o segundo andar do trailer. Grande parte dos alunos já estava devidamente aconchegados nos acentos reclináveis, com o estofado azulado. O cheiro que paira no ar, é uma mistura de incenso com gasolina, o que para mim, parece algo agradável.

—Alana! – Beatriz exclamou me empurrando, aparentemente eu estava bloqueando o caminho, me direcionei a duas poltronas livres, onde sentei na com vista para a janela – Vamos ver o que tem lá em cima!

Ela não me deu alternativa, então a segui até as escadas, onde Bia ficou nos últimos degraus, olhando para o que tinha lá.

—É interessante... – ela comentou, finalmente deixando o caminho livre para que eu pudesse subir.

Ali existe uma cozinha, toda em granito preto e branco, com os moveis fixos no chão e outra porta, essa por sua vez, branca.

— Alana? – Perguntou, Lohanna.

— Eu – falei, me virando.

— Podemos conversar? – Perguntou.

— Hum, que formal! – Debochei, sorrindo, e a segui.

Fomos lá para baixo, e nos sentamos no fundo, em cadeiras vazias. Aparentemente, todos tinham ido dormir tarde na noite anterior, pois já estavam acomodados em suas poltronas, e quietos.

— Então, o que você quer me dizer? – Perguntei, sorridente. Já imaginava o que era.

— Quer namorar comigo? – Perguntou, alto o suficiente para que as pessoas se virassem para nos encarar.

A fitei incrédula, por alguns segundos que pareceram minutos.

— É, você sabe, desde que nos beijamos na semana passada... venho me apaixonando por você a cada novo nascer do sol! – Lohana exclamou, no mesmo tom.

O que?

Ela riu alto. As pessoas ainda nos encaravam, como se nunca tivessem visto um casal lésbico – apesar de não sermos um -.

— É brincadeira, sabe que essa não é bem minha praia... só queria tirar esse sorrisinho do seu rosto, de quem sempre sabe de tudo – afirmou. – E vocês já podem ir cuidar da vida de vocês! – Falou se referindo aos alunos que nos encaravam.

Eu ri. Essa menina é louca, mas tem humor.

— Ok, agora sério – falou e eu assenti. – Você é a única que sabe sobre... você sabe...

— Não, não sei – afirmei.

Mas sim, eu sei. Lohanna me encarou.

— Ah, saquei! O lance de fingir que não sabe de nada, que nunca soube! Gostei! – Exclamou, agora falando mais baixo.

— Na verdade, eu realmente não sei, o que eu sei – falei.

— Sobre eu ter ficado com o professor... na festa. Eu sei que você lembra! – Ela cochichava.

Eu ri.

— Sim eu lembro, só queria ouvir você falar mesmo...

— Vá cagar! – Ordenou.

— Essa é uma das coisas que não vou poder fazer aqui – a lembrei. – Enfim, o que você quer? – Perguntei.

— Quero que você por favor não faça piadinha nenhuma sobre isso, sabe que estou ficando com o Gerald, e apesar dele ser um galinha, é muito ciumento!

— Não me diga! É meu melhor amigo! Amo ele, sério. Mas, não dê corda demais a ele, porque no fim... bom, sempre tem um fim quando o assunto é o Gerald. – A lembrei, novamente.

Ela se calou.

— Ok, não vou fazer piadinha nenhuma, até porque não terá graça alguma, já que só eu sei. – Comentei.

Lohanna nunca me contou sobre ela e o professor, provavelmente nunca contou a ninguém. Eu descobri por conta própria.

— Espero que só você saiba mesmo. – Falou, tensa


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Notas finais do capítulo

O que acharam da Lohanna? E esse Eric? Não deixem de comentar.