Arkhé - Perseguidos escrita por Yendel


Capítulo 5
Café, biscoitos e caça ao tesouro


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 5...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/682019/chapter/5

Acordei em uma cama muito mais macia que a minha, e assim que abri os olhos e olhei em volta percebi que ainda estava com as roupas do dia anterior e que aquele definitivamente não era o meu quarto. Lembranças do dia anterior começaram a voltar na minha cabeça, e de toda a loucura que tinha acontecido, a única coisa que consegui me lembrar foi de que tinha esquecido a minha mochila no banheiro do colégio.

Procurei pelos meus All Stars, e os achei perto da cômoda, olhei dentro procurando pelo meu celular (O quê? É um ótimo lugar para guardar coisas, e eu não tenho chulé). Uma pessoa normal mandaria uma mensagem para os pais só para dizer que eu estava viva, mas esse não é o meu caso, não sei nem se os meus repararam que eu não voltei para casa. De qualquer forma meu celular estava descarregado, ótimo. Aliás, como é que eu tinha ido parar naquele quarto mesmo? Espero que não tenha feito nada de que me arrependa depois...

Olhei em volta e vi algumas fotos penduradas na parede. Era de um garotinho de olhos verdes com o que parecia ser o pai dele, pela semelhança e... Espera, olhos verdes? Eu estava no quarto do Alex! Uma parte curiosa da minha cabeça estava pensando em explorar o lugar e descobrir mais sobre ele, e a outra entrava em pânico, como eu tinha ido parar lá???

Calma Catarina, nada para se preocupar, depois de todas aquelas maluquices de ontem, o Alex te trouxe para a casa dele, e então começou a chover forte e você não teve como ir para casa, então ele disse que você poderia passar a noite aqui e que eu poderia até escolher o quarto, você simplesmente subiu as escadas, entrou em qualquer quarto, tirou os tênis, deitou na cama e apagou.

Calcei meus All Stars, e fui sair do quarto, mas uma parte de mim ainda queria explora-lo, então me decidi: uma olhadinha, só ia dar uma olhadinha rápida. Em frente a cama tinha uma grande estante cheia de livros, fui passando a mão por eles até parar em um. Era todo preto. Comecei a folheá-lo e percebi que as 50 ultimas folhas não se mexiam, eu não tinha nem como passar as folhas, o livro acabava na página 340, o restante dos papéis parecia colado, tentei ver a “última” página, nesse caso a 340 mesmo, estava meio solta no meio, como se tivesse um buraco no meio das páginas que vinha depois, e tinham colado algumas páginas que estavam antes. Ah ele era esperto, aposto que isso não tinha sido acidente, ele deveria ter escondido alguma coisa aqui, balancei o livro, ouvi um som de algo se mexendo lá dentro.

Estava procurando alguma coisa para rasgar aquelas páginas, quando ouvi a porta se abrindo, coloquei o livro de volta na estante rapidamente.

—Oi! – Disse nervosa.

—Oi. O que você... Como você entrou aq...

—Ahn... Eu já estava de saída. Desculpe o incomodo. É que...

—Quer saber, deixa pra lá. – Ele sorriu, parecia tão envergonhado quanto eu – Err... Tem café lá em baixo, você quer?

—Café?

—Ahn, sim?

—Ah meu deus eu adoro café! Vamos logo.

Desci as escadas correndo.

—Sempre fui fissurada por café. A pessoa fala café e tem minha total atenção. Acho que eu devo estar falando café demais não?

Ele estava rindo.

—Ei, não ria! – Falei enquanto batia em seu braço.

Ele foi até a cozinha pegou uma caneca e colocou o café. Bebi de uma vez e estendi a caneca para ele.

—Mais.

Ele ergueu as sobrancelhas, mas colocou mais.

Enquanto bebia o café, dessa vez mais devagar. Olhei o apartamento dele mais atentamente. Não tinha prestado muita atenção a esse fato ontem, então só fui me dar conta de que ele morava na cobertura hoje.

—Uau. Esse lugar é realmente grande.

—Pois é, acho que tem uns 7 quartos aqui, nunca parei para contar mas... Se duvidar algum dia desses eu ainda acho alguma sala secreta que eu nunca vi na vida.

—Sério?

—É, quando acordei hoje e fui de procurar nos quartos de hóspedes e não te achei pensei que você tivesse ido embora. Fiquei surpreso quando te achei no quarto do meu pai. – Disse ele sorrindo.

Espera. Então o quarto era do pai dele? Típico. Bem minha cara confundir essas coisas. Ele tinha falado que eu podia escolher entre os quartos de hospedes aí vou eu e durmo no quarto do pai dele, e quando acordo ainda acho que o quarto é dele. Sério. Só eu mesma.

—É sério? – Comecei a rir – Foi mal eu juro que tinha entendido que podia escolher entre todos os quartos, e ai quando eu vi aquele corredor todo eu só entrei no primeiro, deitei na cama e apaguei. Sério, eu espero que seu pai não se incomode com isso.

—Não se preocupe com isso. Ele não vai não. – Ele falou amargurado.

—Me desculpa mesmo, só fui ver que tinha entrado em algum quarto errado quando acordei e vi uma foto sua com seu pai. Ainda dei uma olhada na estante e achei um livro estranho e... – Droga, o café me fez falar demais.

Ele trocou o pé de apoio.

—Que livro?

—Ah... Nada. É que eu primeiro pensei que o quarto fosse seu e aí eu olhei e... Esqueça.

—Não vou não. O que tem o livro do meu pai?

Foi o café. Aposto. Tinha alguma coisa nele. Agora eu não tinha opção a não ser mostrar. Enfim, o livro era “dele” de qualquer forma.

Fomos até o quarto, que agora eu sabia que era do pai dele. E então peguei o livro e mostrei a falha. Ele arregalou os olhos e ergueu as sobrancelhas pra mim.

—Tem alguma coisa que eu deveria saber sobre isso?

Alex não me respondeu. Ele pegou um canivete suíço do bolso (Totalmente normal, pessoas andam com canivetes suíços no bolso da bermuda toda hora. Por que não?) e começou a furar o meio da página 340. Quando terminou e tirou a folha que tinha cortado, no buraco do livro, havia um medalhão, tinha o desenho dos quatro elementos, e um brasão da letra A no meio. Ele sorriu.

—Ok, esse sorriso significa uma coisa boa ou ruim? Por que eu realmente não estou entendendo nada.

Ele respirou fundo e ainda olhando para o medalhão falou:

—Meu pai sumiu há três anos atrás. Cheguei em casa um dia e estava tudo revirado, não encontrei ele em lugar nenhum. Meus pais são divorciados, minha mãe vive na Europa, meu pai parou de falar com ela e ela se afastou de mim depois do divórcio. Então eu basicamente passei a viver sozinho desde então. Esse medalhão foi um presente do meu pai para mim, lembro dele me mostrando uma vez quando eu era pequeno e dizendo que seria meu algum dia. Só que ele nunca dava nada de graça, com ele nada era tão fácil assim. Ele disse que faria uma caça ao tesouro, se eu achasse, eu ficava com o presente; na época esse livro estava no meu quarto, mas nunca reparei. A última vez que entrei neste quarto foi para tranca-lo, o que ele estava até ontem e eu não faço ideia de como você conseguiu a chave.

Sorri. Peguei o medalhão, coloquei no pescoço dele e pisquei um olho.

—Eu disse que era boa em consertar coisas. E aparentemente em arrombar portas sem nem saber.

O sorriso que ele deu depois... Sério. Preciso de um médico agora. Já bastam os olhos incrivelmente verdes. Que eu reparei que estava encarando-os há um tempo, assim como ele estava me encarando. Ficamos um tempo assim. Até que eu me libertei do transe: Olhos verdes. Olhos verdes. Olhos verdes. Olhos verdes. Olhos verdes. E me afastei um pouco.

—Foi um prazer te ajudar achar esse medalhão. Você é muito idiota para acha-lo sozinho. – Falei sorrindo e com uma mão no pingente e a outra no peito dele. Percebi que estava dando mole para ele, inconscientemente. Briguei comigo mesma. Ele é um idiota tá lembrada? Olaaa? Alguma lembrança negativa com pessoas de olhos claros? Positivo? Nesse caso, se afasta dele neste exato momento.

—Então? Tem mais café?

Ele balançou a cabeça.

—Não. Você acabou com tudo.

—Que droga.

—Obrigado.

—Pelo que? Quem pediu café fui eu.

Ele riu

—Por isso. – Ele apontou para o medalhão, dava para perceber que ele guardava mágoa do pai por ter sumido, mas parecia feliz com a lembrança de uma época diferente.

—Ahh. Bom, adoro um bom quebra-cabeça.

—Vem vamos comprar mais café.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí gente, o que estão achando da história?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Arkhé - Perseguidos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.