Arkhé - Perseguidos escrita por Yendel


Capítulo 27
Capítulo 27


Notas iniciais do capítulo

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Bati na porta, uma, duas, três (Sinceramente? Perdi a conta) vezes até ele abrir a porta.

—Eu não vou fazer mais nada para você. Encontre seu próprio hacker. – Disse Nataniel quando abriu a porta.

—Mas eu já tenho um, é você. – Disse, passando por ele e entrando no quarto.

—Olha, eu ainda estou vendo aqueles milhares outros mini nanobots que vocês me deu, já está bom o suficiente.

—Só quero a sua ajuda só mais uma vez, depois disso eu te deixo em paz.

—O que eu ganho em troca?

—O fato de eu te deixar em paz?

—Levando em conta os últimos dias, isso realmente pode valer algo. Não sei que interesse súbito em mim foi esse. – Resmungou ele, enquanto se sentava na cadeira do computador.

Estendi para ele o comunicador que achei no meio da bagunça da casa de Alex.

—Eu desconectei a comunicação e o localizador, mas suponho que você possa descobrir de onde isso vem mesmo assim não?

Ele pegou o comunicador da minha mão e examinou, colocou-o então em uma plaqueta metálica na mesa e começou a mexer no computador.

—Graças a você, o sensor não recebe sinais, vale constar, que seria bem mais fácil descobrir de onde vêm se recebesse. Mas, ele tem um GPS embutido, posso usar um algoritmo para triangular os locais por onde ele passou e descobrir de onde vem.

—Desculpa, eu falo português.

Nataniel simplesmente me ignorou.

—Ahá! ANKH Tower, é de lá que isto veio. – Disse ele pegando e mostrando o comunicador.

—ANKH Tower? O que é isso?

Eu juro que não sabia o que era.

—Deixe-me ver. – Disse ele teclando no computador novamente. – O prédio todo é de uma companhia de pesquisa científica, são tantas no mundo que chamam simplesmente de Complexo. O que você quer com isso?

Ah. Agora faz mais sentido.

—Anh, eu... É... Eu roubei esse comunicador. Deram bobeira e eu peguei, queria saber se era importante para saber por qual preço que eu vendo e essas coisas...

—Você é uma péssima mentirosa.

—Depende, de vez em quando eu minto espetacularmente bem, mas você me pegou de surpresa.

Ele abaixou a cabeça e balançou como se estivesse negando alguma coisa.

—E você vai contar todas e qualquer mentira possível antes de me dizer a verdade.

—Exatamente.

—O que é que te interessa tanto nessas coisas nesses últimos dias? Você provavelmente veio mais vezes no meu quarto nesse mês do que no ano inteiro. Aparecendo com tecnologias cada vez mais avançadas, e vendo arquivos e comunicadores de empresas de porte mundial... Você vai o quê? Invadir esse lugar?

Tecnicamente, eu já invadi. Mas ele acertou em cheio por que meu próximo passo seria fazer isso de novo.

—Tudo bem, se não vai me contar e não tem mais nada para fazer aqui, sugiro então que você vá estudar para suas provas amanhã.

—As minhas o quê?

—Provas. Você tem química, física e biologia amanhã. Já que não pegou o gabarito, o que, com todo esse problema que está tendo na sua escola, foi um grande deslize, é melhor estudar se quiser passar de ano.

Eu tinha me esquecido completamente das provas finais. Espera. Ele sabe que eu pego o gabarito?!

—Como você...?

—Ah por favor, é a bomba da semana o esquema de corrupção no seu colégio, é só ir no site da escola para ver o calendário de provas, e você me insulta ao achar que consegue me convencer com essas notas que você tira “sozinha”.

Abri a boca para falar, mas ele me interrompeu.

—E aí você vai me perguntar: E como você sabe que eu não roubei o gabarito dessas provas também? Simples irmãzinha, não deram registro. Você pode achar que é uma “ninja” quando rouba esses gabaritos e não deixa nenhum rastro, mas eles percebem e dão falta no sistema interno do colégio, poucas pessoas tem acesso mas é ridiculamente protegido. Hackear o acesso é tão simples quanto decodificar códigos.

O que, para mim, significa nível chefão do Flappy Bird. Mas voltando para a parte onde eu estou ferrada.

Fechei os olhos.

—Para quem você vai contar?

Ele girou a cadeira para olhar para mim.

—Não tem nem graça te ameaçar com isso. Você poderia colocar fogo na casa inteira, que os nossos pais iriam passar reto por você e se duvidar ainda iriam colocar a culpa em mim.

—Você fala como se fosse algo ruim.

—O que? Ser culpado por algo do qual eu não fiz? Olha, eu tenho absoluta certeza de que é algo ruim.

—De ter atenção.

Ele parou e ficou me encarando.

—O que? – Disse ele depois de um tempo.

—Ah por favor, você diz que não é burro para perceber que eu colo nas provas, mas é burro a ponto de notar que nossos pais não se importam comigo?! Aliás, eu deveria dizer seus pais, por que a única relação que eu tenho com eles é ter o mesmo sangue e morar na mesma casa.

—Isso não tem nada a ver. Eu...

—Você... Você o quê? Nat, é você quem eles chamam para jantar, é você com quem eles saem para fazer qualquer coisa, é você com quem eles brigam. Só você é o filho. Eu basicamente não existo. É um milagre eles ainda lembrarem de que tem alguém usando o meu quarto na casa, mas considerando que eles esquecem de que essa mesma pessoa tem uma mensalidade de colégio que tem que ser paga... Devem achar que o meu quarto é um depósito.

—Como assim eles não pagam a sua mensalidade? Você estuda em colégio público. Não tem mensalidade pra pagar.

—Exatamente. Eu me matriculei nele quando cansei de ficar recebendo avisos e advertências de mensalidade atrasada.

—Mas você estuda nesse colégio desde...

—Desde a 5º série.

—Você andou assistindo demais a “Esqueceram de Mim” e agora está paranoica. – Ele se levantou da cadeira e começou a andar de um lado para o outro no quarto.

—Ironicamente, nunca vi essa série. É uma série, não é?

—São filmes. Nina, não tem como eles terem simplesmente esquecido de você, isso é impossível.

—Minha vida é a prova viva.

—Você está encarando as coisas do jeito errado. Você não janta com a gente por que nossos pais desistiram de te chamar para descer. – As pupilas dos olhos dele giravam e corriam pelo quarto, mas sem focar em nada, ele provavelmente estava vasculhando as lembranças, procurando algo a que pudesse se agarrar, e não achando nada.

Bem-vindo ao meu ponto de vista irmãozinho.

—Acho que para desistir de algo, tem que se começar. E eles nunca me chamaram. Bom, não que você vá lembrar.

—Ah então a culpa é minha? Eu nasci, e tcharam! Você foi esquecida?!

—Não. Não estou dizendo isso. Não estou colocando a culpa em você, os culpados são... – Olhei discretamente para a tela do computador principal de Nat, onde estava aberta uma página no google images com fotos da “ANKH Tower”.

—Tá. Então tudo isso é o que? Você tem inveja de mim por que eu recebo atenção?

E o pior é que eu realmente não tinha inveja de Nat (Ei! Eu estou falando a verdade viu? Só para deixar claro.).

—Não. Só... – Minha voz falhou – Só estou dizendo para você apreciar mais o fato de receber atenção, de ser lembrado. Não é assim com todo mundo.

Ele se sentou de volta na cadeira e começou a digitar no computador. Fui saindo do quarto.

—E mesmo que essa sua teoria maluca estivesse certa, - Disse ele subitamente, quando eu estava de frente para a porta. – eu tenho certeza de que eles amam você.

Suspirei. Lembrei do arquivo da minha mãe que roubei do complexo, ela resistiu até onde pode, sofreu para não contar que eu existia (Porque, convenhamos, me matariam.).

—Eu sei disso.

Alcancei a maçaneta e ele continuou.

—Ah, e se você for mesmo maluca de invadir esse lugar, sugiro que você arranje armas. Com todos esses seus contatos para os quais você venderia um comunicador de alta tecnologia roubado, você provavelmente tem como arranjar armas.


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Notas finais do capítulo

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