Arkhé - Perseguidos escrita por Yendel


Capítulo 19
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

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O que eu via era uma lista de arquivos de 1KB com nomes estranhos. Só isso. Perdemos todo esse tempo para achar arquivos tão pequenos que nem sequer podiam ser considerados arquivos.

—Não há nada mais que isso?

—Não. Até coloquei alguns programas de códigos, padrões e probabilidades mas não dá em nada. Suponho que seja só isso que o nanobot suporta.

—Nomes de arquivos? Porque é basicamente isso que tem aí. Nenhuma informação ou comando? Qualquer coisa? – Eu estava desesperada.

—Bom, há um comando em código binário, diz... esqueça, é um comando alfanumérico, certamente diz alguma coisa, mas aposto que o padrão usado aqui é único, então não temos saber mais que isso. Mas, por outro lado, você estava certa, realmente há um comando emissor e receptor de ondas.

—Nos resta olhar os arquivos, vai que achamos alguma coisa? – Disse Alex, os olhos vidrados na tela.

—Aliás, o que exatamente vocês estão querendo com esse nanobot? – Nataniel se virou para olhar para mim enquanto Alex passava o mouse pelos vários arquivos.

—Não é da sua conta moleque.

—Considerando que fui eu que decodifiquei e fiz o trabalho todo, acho que é sim.

—De qualquer forma isso não faz parte do acordo, sua tarefa era só descobrir o que tinha dentro nada mais.

—Será que isso não é um registro? Olha Caso Touck, Situação Verlac, parece tipo um índice de arquivos.

—Pode ser. Bom, só se considerar que isso vem de uma empresa, na verdade é bem provável. Com o avanço da tecnologia, qualquer pessoa pode acessar dados na internet, não há nada que seja impossível para os hackers, então eles voltam à moda antiga, passam a guardar os arquivos mais importantes no papel.

—Está me dizendo que esses são os arquivos mais importantes do com..., de uma empresa e nós não podemos acessar? Fala sério. – Perdemos tempo para nada, era só no que eu conseguia pensar.

—A não ser que entrem no lugar onde colocam tudo isso, não você não pode acessar. E é exatamente por isso que é feito assim, não há facilidade, nem comodidade. É basicamente como arrombar um banco dependendo da corporativa. Você por acaso ouviu alguma coisa do que eu disse?

—Interessante – Disse Alex concentrado no computador, mas alguma coisa na voz dele me dizia que ele estava tramando alguma coisa.

—Alex. Volta um pouco. – Falei tensa, ignorando Nataniel.

—O que? – E então subiu alguns arquivos.

—Por que esse tem o nome de Caso Aguiar?

—O que tem isso? – Nataniel perguntou sem entender nada.

—Não é surpresa, já imaginava que isso iria estar aqui, faz um tempo que estou... – olhou para Nat – recusando a oferta, então...

—Que oferta?

—Cala a boca e fica quietinho. – Eu disse. – Deixa eu ver os outros.

—Você acha que com mais tempo, tem como descobrir mais alguma coisa Nataniel? – Disse Alex, levantando da cadeira e deixando eu sentar.

—É bem difícil. A capacidade do nanobot é pequena, não há muitas outras coisas para descobrir que não estejam aí.

—Alex, você já perdeu um relógio, francamente, ainda quer perder mais? Por que você sabe que se pedir para ele fazer qualquer outra coisa a mais esse diabinho vai cobrar. – Disse sem tirar os olhos da tela, não sabia ao certo o que estava procurando, via sobrenomes, siglas, mas o que eu queria não era isso...

—Então acho que não tem nada mais que possamos fazer, pode tirar o nanobot do computador, obrigado pela ajuda Nataniel.

Nat estava indo em direção ao PC desconectar o nanobot, e então eu achei, sabia que não ia adiantar de nada mas tentei abrir o arquivo, deu erro e se fechou, e antes da tela ficar escura a última coisa que eu vi foi o nome do arquivo novamente. Ainda absorvendo as informações, fiquei parada encarando a tela desligada do computador.

—Nina, vamos?

Pisquei os olhos, acordando do torpor. E então me levantei e saí.

Assim que entramos no meu quarto Alex perguntou:

—O que houve?

—Arquivo... Arquivo Castilho. Tinha um arquivo chamado Caso Castilho.

Alex franziu as sobrancelhas

—Mas por que o seu sobrenome estaria lá?

—É isso que quero descobrir.

—Ainda bem que disse isso, estava pensando em como ia te convencer a fazer isso.

—Isso o que?

—Ainda pergunta? Nós vamos invadir o complexo!

—Oi? Você por acaso notou a comparação de que entrar nessa sala é praticamente roubar um banco?

—E?

—É sério? Eu vou ter que explicar? Você ao menos tem ideia de como fazer isso Alex?

—Mas é claro! Você acha que eu nunca invadi o complexo antes?

—Não duvido sinceramente. Mas por acaso você já invadiu a sala de arquivos confidenciais sei lá o que?

—Bom, não. Mas estou disposto a tentar, e sei que você também.

Suspirei. Peguei todos os nanobots na mesa e fui até o quarto de Nataniel. Entreguei a ele e disse para fazer a mesma coisa que tinha feito antes com todos estes outros. Saí do quarto, antes que ele pudesse responder.

—Ok, você estava certo eu realmente quero entrar nessa sala. Mas, o que com certeza vai acontecer, se o seu plano falhar, tenho uma hipótese que Nataniel vai testar.

—Com certeza meu plano vai falhar? Está muito negativa para alguém que vai estar dentro dele.

—Tá, tá, tá. E o que fazemos agora?

—Vamos invadir o complexo, ainda não entendeu?

—Hoje?

—Não estou muito afim de esperar.

—Hoje? E tipo, agora?

—É Nina, isso mesmo. Agora vamos. Temos que roubar alguns arquivos.

*

Saímos de casa e Alex me guiou até um bairro escuro e pouco movimentado. Paramos atrás de um prédio meio velho, com encanamentos salientes e a parede descascando.

—Ok, me explica, que diabos nós estamos fazendo aqui Alex?!

—Pela milésima vez, vamos invadir o complexo.

—Eu também achava isso, até que você foi para o lado completamente contrário.

—O que? Você esperava que a gente fosse simplesmente entrar lá e eles iam nos deixar passar?

—Não, é obvio. Por isso que precisamos planejar.

—Então. Estamos aqui para isso.

—Aqui? O que tem aqui?

—Bem-vinda a minha casa. – Disse ele, então pegou as chaves de bolso e abriu a porta, subimos as escadas até o último andar e ele abriu a única porta que tinha lá.

Entramos, e então ele trancou a porta, com 7 trancas.

—Devo ter perdido alguma coisa. Eu jurava que você morava em uma cobertura do outro lado da cidade.

—Tecnicamente estamos em uma cobertura.

—Mas não do outro lado da cidade, estamos em uma bairro sombrio e estranho.

—Exatamente. Você realmente achou que eu morava em um lugar só?

—Você quer dizer como a maioria das pessoas faz? Ahn, sim?

—Bom, eu não sou a maioria das pessoas. Eu meio que viro um alvo certo para o complexo se eu ficar morando em um lugar só.

—Então você mora aqui e lá?

—Mais aqui na verdade, embora ainda tenha outros lugares de reserva caso aconteça alguma coisa. O prédio que você conheceu era a casa dos meus pais, eu só te levei lá, para... bom, imaginei que você fosse ficar meio em dúvida sobre o tipo de pessoa que eu era se eu te trouxesse aqui.

—Meio em dúvida? Até hoje acho que não te conheço nem um pouco. Sempre aparece com uma surpresa nova sobre a sua vida. Não dá pra acompanhar. – Disse cansada.

 Ele sorriu acanhado.

—Bom, então... Planejar o roubo certo?

Ele foi até uma mesa com uma planta enorme em cima.

—Você tem uma planta do complexo?

Alex deu de ombros.

—Aqui é profissional.

—Claro. Até o momento em que você me diz que não sabe ler toda a planta.

—É incrível como você me subestima. Vejamos, vejamos... Por onde vamos começar?

*

 -Eu não vou fazer isso. Não, não mesmo.

—Vai. Vai sim.

—E você ainda fica com a parte mais fácil! Qual a lógica disso?

—Fácil? Me diga então que você sabe programar e plantar o sensor.

—Programar e plantar não, mas sei o suficiente para saber que não funcionaria de um jeito ou de outro por que esse negócio está quebrado.

—Certo, talvez esteja. Pode consertar?

Ergui a sobrancelha. Ele respirou fundo e então expirou.

—Eu fico te devendo um favor.

—Um grande favor, que fique bem claro.

—Combinado. Mas você ainda vai continuar tendo que fazer a sua parte original do plano.

*

—E agora?

—Agora esperamos.

Pisquei os olhos rapidamente.

—Não era você a pessoa que não queria esperar?

—Sim, quero fazer isso hoje, mas não adianta de nada a gente começar tudo 3 horas antes.

—Pelo menos você não é o tipo de pessoa que fica dizendo aqueles ensinamentos irritantes sobre paciência.

—Esqueci de dizer. Quem espera sempre alcança, pequeno gafanhoto.

—E você acabou de perder a minha empatia por você.

Ele comprimiu um sorriso.

Fui até a varanda e fiquei olhando a rua deserta e as luzes da cidade. Aquilo seria interessante por alguns míseros 5 minutos, até que eu começasse a ficar impaciente. Eu sempre entendi a importância do horário exato, mas sempre fui inquieta, sempre. Ironias da vida.

—Sabe... – Alex chegou ao meu lado e se apoiou na grade de metal da varanda. – Esperar pode ser bom no fim das contas. Nos dá tempo para conversar, nós acabamos não falando sobre o que...

Não. Não. Não. Eu não acredito que ele ia querer falar sobre o beijo. Sério? Por que eu? Discutir relação não é comigo, de jeito nenhum. E nós nem sequer temos uma relação e eu já estou nervosa. Não que eu não goste de compromisso, é só que, bom, toda vez que um cara vem discutir a relação comigo isso nunca é algo bom. Então eu meio que completamente fujo desse assunto.

—Qual é o seu nome completo?

—Anh?

—O seu nome completo. Você iria dizer que a gente não teve tempo de conversar e se conhecer melhor, então estou te fazendo uma pergunta para te conhecer melhor. Você nunca me disse o seu nome completo, só um dos seus sobrenomes, qual é o outro?

Palmas. Sério, eu mereço palmas e aplausos e rosas também. Sou uma ótima trocadora de assuntos. Talvez, todavia, contudo, isso acabe dando em discutir a relação novamente, mas... Não. Sem desculpa pra essa.

—Ah... Okay. – Ele parecia desapontado, mas a expressão logo desapareceu e ele voltou a emanar aquela confiança irritante de sempre. – Alexandre Aguiar Ballandras, achava que você já sabia, não entendi muito bem de onde desenterrou esse assunto.

—Ballandras? Tenho certeza que eu não sabia.

—Minha mãe é francesa. – Disse ele dando de ombros – E o seu? Com o segundo sobrenome?

—Catarina Castilho Corrêa. Agora Ballandras? Quebra toda a sonoridade da coisa, sem falar que não dá pra abreviar, AAB fica feio.

—Ah desculpe CCC, quem puxou esse assunto foi você, por que na verdade o que eu queria dizer era que...

Pânico ON.

—Desculpe senhor Alexandre, O Grande, foi mal. Você é o todo sábio e poderoso detentor do universo, não pode deixar os outros perguntarem nada.

Ele ergueu as sobrancelhas.

—Peço perdão Catarina, a Grande. Não sabia que queria conhecer tanto assim meu outro sobrenome.

—Ei, essa coisa de O grande é meu, isso é plágio. Não vale adaptar.

—Como assim?

—Alexandre, O grande? Rei da Macedônia? Do reino grego? Só existe esse.

—Catarina, a Grande? Rainha da Rússia? Só existe essa.

—Ah calma, existe uma rainha Catarina da Rússia? Tá de brincadeira né? Realmente existe uma Catarina, a Grande?

—Sim? Você por acaso presta atenção nas aulas de história?

—Nem vem. É totalmente plausível eu não saber quem é ela.

—Pelo motivo de que...? – Disse ele chegando mais perto de mim.

—Pelo motivo de que... de que... – Não é o que você está pensando, eu tinha uma resposta na ponta da língua, mas ela meio que escapou, enquanto Alex vinha para mais perto, e mais perto... e também tinha aqueles olhos verdes, e os músculos rijos no peito que eu... NADA. NADA, NADA, NADA.

Pisquei os olhos várias vezes. Despertando do meu ahn... devaneio.

—Já ouviu falar em uma coisa chamada espaço pessoal? Eu sou uma rainha, você me deve respeito.

Ele ergueu as sobrancelhas.

—Ah mas segundo você eu também sou um rei, muito importante por sinal, então tenho certas vantagens...

—Calma, teve que voltar a Grécia antiga para pegar o nome do xará e trouxe machismo também?

Ele reprimiu um sorriso.

—Você é uma pessoa peculiar.

—Peculiar? Sério? Esse foi o melhor adjetivo que você pensou?

Ele deu de ombros.

—Olha, eu...

Eita.

—Que horas são?

—Horas?

—É?

—Acho que umas 20, por aí.

—Então é melhor a gente começar a preparar as coisas certo? Sem falar que vamos ter que andar até o outro lado da cidade ainda, então é melhor a gente se apressar.

Ele estreitou os olhos para mim.

—Peculiar definitivamente deveria ser o seu nome do meio.


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Notas finais do capítulo

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