Bernardo

Ele desce as escadas, sabendo que deveria voltar, mas o orgulho não permite, pega as chaves do carro e sai do apartamento,  aparentemente começa a dirigir sem rumo, com a discussão com Emília a lhe atormentar os pensamentos,  ele queria entender em momento eles chegaram naquela situação, sabe que deveria ter falado que Malu tinha regressado, que não deveria ter dito as coisas que disse a ela, mas ele estava cansado, estava no seu limite, Emília tinha que parar de agir da forma como vinha agindo até então, talvez um tempo afastados seja bom, ele passa a mão pelos cabelos,  sem saber ao certo se deve mesmo continuar na estrada, ou dar meia volta e retornar para a casa, para a sua mulher e tomá-la nos braços e dizer estar tudo bem, há um duelo dentro dele, mas com firmeza em seu propósito ele segue rumo a fazenda, não tem nenhum outro lugar onde ele gostaria de estar, ele pega o telefone mesmo sabendo que Emília não vai atender e deixa um recado para ela dizendo onde está, é um recado seco um simples “oi Emília sou eu, estou indo para a fazenda,  qualquer coisa me liga.”, sem um “até breve”, “um beijo” ou “um eu te amo” , ao chegar a fazenda, os pouco empregados que ali estão estranham a sua chegada, pouco ele fala e vai para seu quarto, logo após o banho ele tenta mais uma vez falar com Emília, que após vários toques atende a ligação.

– O que quer Bernardo -  diz ela com uma voz  fria e impessoal, como se fala-se com um desconhecido, ele também resolve jogar na mesma moeda.

–  Ouviu meu recado?

– Sim ouvi, pra isso existe caixa de mensagem- ela faz uma pausa, ele nada diz- Quer me dizer mais alguma coisa? - ela pergunta,  ele pensa que há tanto o que falar, mas dessa vez não vai ser ele a dar o braço a torcer.

–Não há nada mais,  boa noite- e finaliza a ligação,  e tem vontade de jogar o telefone na parede, mas acaba jogando um vaso que se encontrava por ali, aquele barulho de de vidro sendo quebrado, lhe faz desabar na cama e como a muito não acontecia ele chora, e de novo por Emília, de novo naquele quarto como várias as vezes durante aqueles anos que ela o deixou, ele chora, ate pegar no sono.

Emília

Fica olhando incrédula para o telefone,  ainda sem acreditar que ele desligou na sua cara. Se ela pudesse neste momento ela iria até ele, mas não só não pode como não quer, não iria dar esse gostinho pra ele, não iria mesmo, o melhor que tem a fazer no momento e tomar um banho e tentar dormir, o que duvidava conseguir fazer.

No outro dia pela manhã, depois de uma noite muito mal dormida, ela não sabe o que dirá as crianças quando perguntaram pelo pai, mas não vai mais ficar prisoneira do seu medo, ao se levantar olha para o telefone com um pingo de esperança, ela vê que não há nenhuma mensagem de Bernardo, disca o número dele, mas não completa a ligação, deixa o telefone de lado, não iria ceder e vai tomar banho, desce para o café,  por sorte é fim de semana e as crianças dormem até mais tarde, vai ter uns minutos com Beth, quem sabe como sempre ela possa lhe ajudar, mesmo sabendo que ouvirá coisas que não vá gostar.

– Bom dia Beth.- diz ela sentando

– Bom dia Emília.

– Senta e vamos tomar café juntas.

– Mas Emília, não sei Bernardo. ..

– Você sabe que por ele a muito você já tinha ocupado lugar nesta mesa, mas você não aceita, e tem outra coisa, ele não está  - ela segura a mão de Beth, que com olhar sabe o que ela vai perguntar em seguida- Ele saiu de casa. - e as lágrimas que ela não permitiu cair a noite, teimam em molhar seu rosto, Beth com a mão livre alcança um guardanapo a ela e senta.

– Oh Emília,  nem sei o que dizer - Beth pensa em falar algo mas se cala, esperando Emília se acalmar um pouco, quando a vê melhor pergunta - Mas ele foi embora mesmo?

– Tivemos uma discussão terrível  ontem, ele saiu de casa, tempos depois me ligou dizendo estar na fazenda.

– Mas Emília ele deve ter ido dar um tempo, esfriar a cabeça, amanhã a noite ele deve estar de volta.

– Não sei Beth,  ao falar com ele no telefone ontem, ele estava diferente,  sei que tenho sido chata e neurótica nesses últimos dias. ..

– Bom não queria comentar nada-  interrompe Beth sorrindo para ela.

– E sei que por mais que não acreditem em mim, tenho meus motivos.

– Mas Emília se Lia esta por perto como você diz, porque ela ainda não fez nada.

–Não fez nada que vocês  tenham ppercebido, mas acho que sei o que fazer, e vou precisar de sua ajuda.

– O quê planeja Emília?

– Eu ainda tenho os diários de Lia, e naquela época eu li eles por alto, não me apeguei a detalhes, quem sabe lendo com calma agora, tenha alguma pista de onde ela está,  ou algum conhecido,  amigo, sei lá alguma dica.

–  Pode ser, se ela realmente voltou.

–Também dúvida de mim?

– Não é duvidar, mas porquê ela nada fez? So você a viu? - vendo o ar triste que Emília fica, Beth ememda.- Mas no que quer a minha ajuda?

–   Preciso que leia comigo os diários, será mais rápido,  me ajuda?

– Sim claro.

Elas continuam a conversar, até que Miguel e Lívia descem para o café.

Lia

Ela, Malu e Marcos estão em um restaurante,  em uma área com pouco movimentada, reformulando o plano deles,  Malu ja colocou Lia a par do encontro com Emília na tarde anterior,  e isso fez eles mudarem algumas coisas.