Emília

—Lia, não pode ser o que está fazendo aqui?- o silêncio que se segue é tão grande que ela consegue ouvir as batidas descompassadas de seu coração, queria gritar, mas quase lhe falta o ar, mas não quer demonstrar pânico.

— Eu?-  Lia corta o silêncio com aquela voz pavorosa e senta próxima a Emília que ainda esta ajoelhada- Eu vim visitar um velho amigo, esta na UTI, sabe muito doente, acho que não passa dessa noite. - Emília não sabia se era verdade ou se ela falava de seu pai.

— O que você quer Lia?- Emilia esta confusa. - Porque você voltou?

— Eu que te pergunto por que você voltou?

—Voltei para meu marido, minha casa, minha vida.

— Perdeu o medo Emília?

—Nunca fiquei com medo de você- ela diz firme, mas olha para os lados em busca de alguém que possa ajudá-la, mas não há ninguém.

—Ah não, então porque fugiu, foram cinco anos longe, escondida, longe do seu amado.- Lia fala irônica.

—Eu... Eu... - Emília olha para ela sem saber o que dizer quer ganhar tempo.

— Ah vai dizer que não foi embora por medo, me conta outra vai- diz ela debochada, Emilia pensa no quanto ela esta mudada, não fisicamente, mas o seu olhar é mais voraz, sua voz estava mais arrogante, talvez sem a máscara da mentira, de ter que ser falsa, ela esteja se mostrando quem de fato é.

— Me deixa em paz- ela levanta para sair, Lia aproveita e a pega pelo braço.

— Pensa que não sei de Lívia, menina com os olhos do pai, cabelos da mãe, sorriso do irmão- ao ouvir o nome da filha, na boca suja dela , Emília não se controla puxa o braço, e rápido estala um tapa na cara da rival.

— Você esta louca. - Lia esta com a mão no rosto, que arde pela bofetada inesperada.

— Tenta tocar um dedo na minha filha e vai ver o quão louca estou- diz Emília bem perto de Lia.

— Vou matar você- Lia se joga para cima de Emília com tudo que escorrega cai e batendo a cabeça, ficando desacordada.

LIA

Logo após descobrir que Emilia voltou, ela começa a agir, com o dinheiro que tem, pois com os poucos gastos que tem ela, acabou por conseguir juntar uma boa quantia, fica cada vez mais colada a Miguel, tomando cuidado para não ser descoberta, em uma manhã consegue ouvir quando o menino menciona a irmã, para um colega, isso a deixa com mais raiva, em saber que Emilia de fato estava grávida e teve a criança, uma menina de nome Lívia, pelos cálculos deveria estar perto dos cincos anos, isso até poderia vir a calhar, teria que planejar cada passo com cautela, pois sabia que tanto Bernardo quanto Emília vão estar bem atentos.

Mais alguns dias depois ela ouviu o menino contando feliz que ia apresentar a fazenda para a irmã. Ela decidiu que este seria o momento de fazer uma pequena visita a Emília. Conhecia aquela região como ninguém, sabia que tinha que tomar muito cuidado para que as poucas que a conheciam não a reconhecesse, ela fica olhando a certa distância a fazenda, observa toda a movimentação, vê quando eles  chegam, olha a menina correndo com Miguel, a sonsa da Beth, o casal trocando carinhos, nossa ela não sabia se sentia raiva ou nojo, ficou ali por horas, voltou no outro dia cedo bem a tempo de ver um velho moribundo chegar, como não o conhecia, julgou ser o pai dela, e pelo o que pode ver ele estava bem doente, ficou feliz em saber que em pouco tempo Emília iria sofrer ao perder o pai, não viu uma oportunidade de se aproximar de Emília,  sempre acompanhada de alguém, ou nunca longe demais da fazenda, seu momentos de alegria era observar Miguel, ele sempre amou aquele lugar, ela também amava, ele sempre corria solto,nunca parava muito tempo em um lugar, seu menino, ainda o amava, e como amava, mesmo ele não desgrudando daquela menina, ele sempre quis um irmão, ela alimentava o sonho de ser ela a lhe dar esse irmão, mesmo que Bernardo nunca tenha se aproximado dela, isso a frustrava muito, ele nunca nem olhou para ela com outros olhos, ela lembra que os únicos momentos em que o tinha, era algumas vezes que ele ficava muito bêbado, logo após a morte de Marina, ele tinha um sono pesado nessas ocasiões, ela se deitava perto dele, migalhas, sempre migalhas, ao pesar nisso fica com mais ódio.

No terceiro dia estava cansado dessa espera quando viu Emília e o pai no jardim da fazenda, quando o velho começa a passar mal seu coração quase salta pela boca de felicidade, ela vê a movimentação, sabe qual é o hospital mais perto, e vai para lá. Eles chegam primeiro que ela, que  fica bem distante observando os dois, ele o tempo todo segurando ela, a amparando, ela com aquela cara de sofrimento, chorando, se desesperando ao saber que esta perdendo um ente querido, nossa como ela estava gostando disso, ver cada lágrima de Emília tinha válido a pena as horas de espera, consegue  perceber que o pai dela vai ficar na UTI, e vê quando Emília sai de perto de Bernardo, percebe que ela pediu um tempo a ele, e devagar Lia a segue, elas se encaminham para a capela, ao chegar lá Emília se ajoelha e começa a rezar, Lia fica um tempo observando ela, era a primeira vez  que ficava tão perto dela, não pode deixar de notar o quanto ela esta bonita, mesmo neste momento, um pouco pálida, mas ainda assim bonita. Lia caminha em direção a ela fazendo questão de fazer barulho com os pés, ao estar bem perto, ela diz:

—  Olá Emília – ela percebe a outra enrijecer as costas, e se virar, em seus olhos ela pode perceber o espanto, a desconfiança, mas não via medo naquele olhar, isso  a surpreende, esperava vê-la apavorada, uma pena.

É uma conversa tensa, sabe que apesar de Emília não demonstrar medo, ela busca com o olhar ajuda, Lia não espera pela bofetada quando cita Lívia, aquilo a deixou com mais raiva, ela parte com tudo para cima de Emília que ao tentar se afastar dela, escorrega e cai batendo a cabeça e ficando desacordada, Lia vê ali uma boa oportunidade, pensa qual seria a melhor forma de acabar com ela, se abaixa ficando bem próxima a Emília, asfixiá-la, não, queria algo acidental, isso deixaria marcas, pensa em outra coisa, olha para o lado e vê os altar com  as velas, sim fogo acidental demais, vai até lá e  pega uma, volta para Emília e segura a vela próxima a ela, e pensa na cena, “Emília segurando a vela, desmaia, a vela cai em suas roupas e o fogo começa” sorri a esse pensamento ela ficaria irreconhecível, começa a se abaixar sobre ela.