As estrelas brilhavam acima da cidade de Tókio nessa noite, mais do que de costume, incitando olhos curiosos de seus moradoras a darem uma espiada em suas janelas. Perto do centro, o pequeno Ruki de 6 anos mira o céu com curiosidade tentando contar quantas estrelas ele consegue, perdendo sempre a conta no 15, até que ele observa uma estrela cadente que não vem do céu. A estranha forma de luz pula pela cidade entre os prédios, indo em direção a um beco escuro bem ao lado do prédio do garotinho, que maravilhado acompanha a movimentação acelerada da estrela quando ela entra voando no que parece ser uma nuvem cinzenta dentro do beco. Aquilo estava ali antes? A massa cinzenta ocupa boa parte da passagem mas era difícil perceber a sua existência, ainda mais sendo noite. O que seria aquela coisa?

Um grande estrondo ressoa no beco fazendo a janela dos prédios próximos sentirem o impacto forte juntamente com o barulho de metais se colidindo. Mais um estrondo. Outro. O que está havendo? Um feixe de luz escapa da nuvem escura no beco juntamente com outro barulho, deixando uma fenda na bola cinza. Logo depois, um grito agudo inumano é ouvido dentro do beco, fazendo o pequeno menino da janela pressionar os ouvidos por alguns segundos. O barulho cessa e uma grossa corrente brilhante sai retinindo da estranha nuvem do beco fazendo-a se dissipar na noite e revelando um ser humano com uma elegante roupa de festa composta de um traje com colete cinza-azulado e uma gravata brilhante com listras anil, diferenciando com sua boina prateada. Em suas mãos era possível perceber luvas que reluziam a luz da lua, mas elas não eram de tecido e sim de prata. As duas seriam idênticas se não fosse pelos detalhes em relevo perto do pulso, na esquerda 5 formas redondas e na direita 4 pontas afiadas e, saindo do lugar onde seria a 5ª, uma corrente se espalhava pela beco, a mesma corrente vista a pouco dissipando a névoa negra. Com um fechar da mão, o jovem garoto comanda a corrente para retornar a sua origem, em menos de um segundo voltando a ser uma ponta no pulso de sua manopla.

Um estranho objeto arredondado, tão escuro quanto a massa é colhido do chão pelo menino, que o analisa ajeitando seus óculos redondos em seu rosto e em pouco tempo guarda-lo em um de seus bolsos. Ele se vira e encara Ruki, dando um sorriso e acenado para ele antes de voltar a ser uma estrela cadente pulando pela cidade. A criança da janela fica maravilhada e corre para a cozinha para visar sua mãe de sua descoberta.

—Mamãe, mamãe! Eu vi uma estrela cadente! 

—É mesmo querido? 

—É! Ela tava usando roupa chique e tinha uma corrente!

+ + +

Yuki acabara de terminar os últimos exames do ano sendo o primeiro a sair da sala de aplicação, resolvendo mais de 40 questões em pouco mais de meia hora. Arrancando barulhos de surpresa de seus colegas de sala, ele sai e vai até o primeiro andar do colégio para trocar suas sapatilhas de aula pelos seus tênis brancos. Enquanto amarrava o cadarço ela pensava em como a sua vida havia mudado em pouco menos de 6 meses, chegando até mesmo em duvidar se não estava sonhando. Ele era um menino incrivelmente inteligente e havia entrado para Universidade de Tókio com apenas 15 anos, sendo considerado um gênio pela mídia local e principalmente pela sua pequena família, sua mãe e seu irmão de 10 anos, Koji.

Todo esse sonho foi terrivelmente abalado quando sua mãe foi diagnosticada com um uma doença rara já em estágio avançado, não havendo tratamento possível de salvar a sua vida. Ela morreria deixando os dois garotos órfãos, pois seu pai já havia falecido de um acidente de carro há 8 anos. 

Isso era demais para Yuki.

  Ele não suportaria sofrer de novo essa dor, esse desespero.

Uma noite em seu quarto, uma estranha voz calma e alegre o perguntou se ele queria mudar o destino de sua mãe e salva-la de sua doença. Enxugando o rosto das lágrimas e ajeitando o óculos Yuki vê uma criatura estranha parecida com um gato branco de orelhas grandes e olhos vermelhos. Ela se intitulava Kyubey e oferecia ao garoto realizar um desejo, qualquer desejo que ele quisesse se virasse um Mahou Shounem, meninos que utilizam magia para acabar com pesadelos, formas materializadas do mal no mundo. Mesmo sendo racional, Yuki não pensou duas vezes em formar o contrato com o animal e, em pouco tempo os dois ficaram de frente um para o outro em cima da cama. Kyubey levanta suas grandes orelhas e as leva ao peito de Yuki, fazendo-o ficar tonto e quase desmaiar. Um brilho anormal surgiu entre os dois, se materializando numa joia redonda azul, adornada por um suporte feito de ouro e prata, uma Soul Gem feita de sua própria essência vital, ou seja, sua alma. Assim, noite após noite, ele caçava os pesadelos pela cidade sempre voltando para casa pouco antes do sol nascer. Esse era sua nova rotina, sua nova vida, tudo pela saúde e bem estar de sua mãe.

Chegando em casa, ele abre a porta gentilmente e um forte cheiro de carne ensopada invade seu nariz, deixando sua boca cheia de água.

—Cheguei mãe! - Ele diz deixando sua mochila ao lado da escada e indo vagarosamente para a cozinha.

— Bem-vindo filho! Pode vir comer! - Yuki entra no cômodo e encontra um grande bolo branco com vários morangos em cima com uma grande barra de chocolate em cime escrito "Happy Birthday!" com glacê. Seu irmão estava com uma cornetinha, soprando com força fazendo muito barulho e segurava dois balões azuis atrás da mesa de madeira. - Feliz aniversário amor! 

— Mãe, meu aniversário e só dia 7 esqueceu?

— Agente queria fazer uma surpresa pra você maninho! 

— Querido, eu estou tão orgulhosa de você ter entrado na faculdade tão cedo e adiamos um pouquinho a sua festinha. - Ela vai até o armário e pega uma pequena caixa preta com um laço vermelho, entregando a Yuki com um lindo sorriso no rosto. - Seu presente.

— Obrigado, mãe! - Ele abre a caixinha e dentro há um cordão de couro preto com um medalhão dourado e abrindo a joia, encontra uma pequena foto de sua família toda reunida com seu pai numa cena feliz e divertida, onde todos brincavam juntos com os brinquedos do chão. 

Com lágrimas nos olhos, Yuki abraça sua mãe e seu irmão para logo em seguida colocar o colar e correr para pega um prato de sua comida favorita, Curry, dentro da panela borbulhante em cima do fogão, deixando o bolo para o final juntamente com o "parabéns pra você". Dando boa noite a Koji e dando um beijo em sua mãe, o garoto sobe até o seu quarto levando sua mochila consigo e a deixando sobre a cama. Estava na hora de sair novamente e cumprir sua parte do acordo com Kyubey caçando os pesadelos.

Depois de alguns segundos procurando, ele encontra o que parece ser uma nuvem verde dentro de um parque escuro, a barreira de um dos monstros. Ele cai suavemente na frente da singularidade e se veste para a batalha, ajeitando seus óculos sobre o nariz logo depois.

  "Vamos lá!" 

Dentro da barreira, é possível ouvir risos ao fundo juntamente com barulhos de tiros e explosões, várias TVs antigas flutuam pelo espaço mestrando imagens de soldados, tanques e aviões bombardeiros em preto e branco. Ao longe é possível perceber uma movimentação e aquilo chama a atenção de Yuki, que caminha naquela direção e, quando chaga um pouco mais perto, é possível ver um grande exército de soldadinhos de plástico ao redor de uma mesa de escritório de mais de 50 metros de altura onde la em cima, um capacete de guerra verde musgo com dois braços e dois pés gritava ordens aos lacaios levantando as mãos, tudo isso se passando no que parece ser o escritório de um quartel com uma bomba pendurada na parede como um quadro com a frase "With love for you." escrita com letras brancas em sua lateral.

Yuki levanta o braço direito acima de sua cabeça e uma de suas correntes pontiagudas corre em direção ao exército, levando um grande número de soldados ao chão, todos em pedaços. Um grito de fúria distorcido ecoa pelo ar e o capacete aponta para o garoto ordenado um ataque, vários tiros são feitos, porém nenhum acerta devido a agilidade do Mahou Shounem que pula pelo espaço desviando de todos os projeteis e parando em cima da mesa do capacete. Ele fica irritado e comanda outro ataque na direção de Yuki, mas é frustrado pelo levantar de seu braço esquerdo e por suas 5 correntes com ponta curva que começam a girar rapidamente em volta da mesa, interceptando cada uma das balas. 

—Acabou! - O menino lança sua mão para frente e comanda suas correntes de ataque para cima do capacete, provocando um estrondo alto e levantando muita poeira que encobre sua visão. 

Chegando mais perto, Yuki começa a procurar pela Grief Seed até que algo se enrola em seus braços e pernas, tentáculos negros apertam o garoto e começam a arrasta-lo em direção à nuvem de poeira que começa a ralear, revelando um terrível aspecto do capacete. O monstro havia aberto dois olhos grandes e vermelhos juntamente com uma enorme boca com dentes metálicos afiados. O mostro ergue Yuki acima de sua boca e começa a abri-la e fecha-la fazendo um som horrivelmente alto e medonho. Os tentáculos se afrouxam e o garoto começa a cair em direção a morte. Esse era o fim.

Um lampejo de luz vermelha adentra a barreira e voa em direção a Yuki, agarrando-o e o deixando a uma distancia segura do monstro, contudo seus óculos acabam caindo e sua visão se torna turva e indistinguível. Aquilo que o salvou, agora lutava contra o monstro com uma agilidade incrível, atacando-o com ataques que o atordoavam, até que o estranho pulou para perto de Yuki e elevou seus punhos na direção do pesadelo.

—Big Rocket Punch!!! - O grito retumba pelo espaço e os punhos do estranho crescem, ficando do tamanho de dois carros e voando para cima do monstro, causando uma grande explosão e extinguindo-o juntamente com a sua barreira de desespero, deixando Yuki na grama verde do parque escuro.

Uma mão lhe oferece ajuda para se levantar e lhe entrega seus óculos rachados devido a queda mas que são consertados por um movimento de mãos de Yuki. Já com os óculos, é possível ver seu salvador: outro garoto com o corpo alto e musculoso usando um moletom escuro depois de retirar seu traje.

— Você está bem, cara? - Ele pergunta com a face preocupada.

— Estou, eu só fiquei meio atordoado. Obrigado...

— Pode me chamar de Ichigo. Ichigo Meki, e você é?

— Yuki, Yuki Hatsui. Como eu posso te agradecer por ter salvo a minha vida?

— Que tal uma conversa amanhã? Eu queria muito sabem quem era o outro Mahou Shounem dessa parte da cidade. Aqui, toma. - Ichigo entrega um pequeno papel de uma sorveteria com o endereço de lá e o seu telefone celular escrito com uma caneta azul. - Duas da tarde. Até mais Yuki! - E ele se vai correndo na forma de um rastro de luz vermelha.

— Até, Ichigo. - Yuki olha para o horizonte e vê a linda aurora chegando com um tom rosado e pensa o quão feliz está. Pela primeira vez em sua vida, ele havia visto outro Mahou Shounem, e agora sua tarefa solitária não parecia tão ruim assim.