Era sábado, eu estava desde cedo no jardim, em frente a roseira, cuidando e conversando com ela enquanto eu estava perdida em meus pensamentos, que se localizavam na noite passada… eu não sei o que aconteceu com Castiel, mas eu realmente não esperava por aquilo…

—Flashback on-

—Ailina… você é minha.- Disse, enquanto me encarava profundamente.

—Eh…?- Ela me olhou, nitidamente confusa.

—Por favor, não se esqueça disso.- Ele diz e sai do meu quarto.

—Flashback off-

Seus olhos, naquele momento em que me encarou, me deixaram surpresa… não sei, era diferente de sempre… era… estranho…

—Ailina?- Ouço a voz de Sebastian vinda de trás de mim, eu o olho.

—Ãhn? Ah, oi.- Sorrio.

—Ainda aqui? Não pretende almoçar hoje não?- Ele pergunta.

—Ainda é cedo para almoço.- Comento, quase rindo.

—Não é não, já é hora de almoço, é 12:30.

—Que?- Perguntei, sem muita crença em suas palavras.

—É 12:30 já, você está aqui desde manhã.- Ele diz.

—… Sebastian, olhou seu relógio direito?

—Sim, Ailina.- Ele riu.- Está tudo bem? Parece perdida.

—A-Ah, sim… to bem…- Sorrio levemente.- De todo modo, vou almoçar sim… eu acho.- Digo ainda perdida nas horas.

Sebastian me ergue a mão e me ajuda a levantar, eu agradeço-o. Seguimos para dentro de casa, a mesa estava posta com as coisas do almoço, sra. Valérie e sr. Louis já estavam lá, esperando. Assim como Castiel…

—D-Desculpem a demora.- Comento enquanto apareço lá.

—Sem problemas, querida.- Sra. Valérie sorri.

Vejo que Castiel direciona seu olhar para mim, instantaneamente meu coração pula, lembrando da noite passada.

—Flashback on-

E quando menos espero, ele aproxima seu rosto do meu, cada vez mais, até, finalmente, selar um beijo voraz entre nós.

—Flashback off-

Desvio meu olhar quase que instantaneamente…

—Sente-se, querida.- Sr. Louis diz para mim.

—A-Ah! Claro…- Havia apenas um lugar, ao lado de Castiel.

Fui até o lugar e me sentei ali, relutante.

Começamos a almoçar. Eu não estava prestando atenção na conversa que estava acontecendo à mesa, eu apenas comia em silêncio enquanto pensava e pensava…

—…a… ina… lina… Ailina… Ailina!

—Ãhn? Que?- Olho para sra. Valérie e sr. Louis.- O que houve?

—Pergunto eu.- Sra. Valérie diz.- Tá bem?

—To, to sim.- Rio levemente.

—Você parece… distante.- Sr. Louis diz.

—Hahaha, jura?- Sorrio.- Devo estar cansada, só isso… cansaço…

—Você… se sente bem?

—Ah, sim, claro. Estou bem, obrigada por perguntar.

Olho para o meu prato, eu havia acabado e nem percebi…

—Ah, bem… eu acho que vou subir, tudo bem?- Pergunto, sorrindo.

—Não vai esperar a sobremesa? Tem pudim, sabe?- Sebastian pergunta, eu o olho.

—Não, hoje não, obrigada mesmo assim.

—…- Sebastian me olha surpreso.

—Com licença.- Levanto-me e vou para o meu quarto.

Vou até o banheiro e deixo a banheira enchendo. Volto para o meu quarto e pego meu celular, não haviam notificações. Volto para o banheiro com o celular na mão. Quando vejo que era o suficiente de água, desligo a mesma e fecho a porta do banheiro. Ligo a música no aleatório, caiu “The Weeknd – The Hills”.

Pensando melhor na noite de ontem… ainda me restam dúvidas. Mas a principal que me matava era… se ele não tivesse parado… isso se estenderia até onde…?

Isso me assustava. Eu não sei o porque de ele ter agido daquela maneira, foi inesperada, foi diferente, foi estranha, foi intenso, foi… “feroz”. Porém algo a mais habitava ali…“você é minha”…

Afundo-me na água morna, até minha cabeça ser coberta por água, fico ali uns minutos e depois volto pra superfície, tentando espantar qualquer pensamento na minha cabeça naquele momento.

~Pov's Castiel~

Ailina subiu para seu quarto depois do almoço, deixando-nos lá, sem entender nada. Quer dizer… eu entendi… meus pais e o mordomo não…

—Ela não quis pudim?- O mordomo pergunta, nitidamente confuso e surpreso.- Tá… o que aconteceu?

—Não sei…- Minha mãe disse.- Castiel? O que aconteceu?

—Não sei.- Respondo, apenas.

Eu sabia muito bem o que era. Agh… como sou idiota…

—Preciso ir.- Digo-lhes enquanto levanto da mesa e vou em direção à porta da frente.

—C-Castiel!

—Tchau.- Saio de casa e vou em direção à casa de Lysandre.

Ao chegar lá, toco a campainha e sou atendido por Lysandre…

—Castiel?

—Oi, licença.- Digo enquanto entro na casa de meu amigo.

—O que foi?- Ele pergunta enquanto fecha a porta.

—Eu acho que fiz burrada.

—…- Ele me olha e suspira.- O que fez dessa vez…?

~Fim pov's Castiel~

X-x-x-X

Acabei dormindo depois do banho. O pôr do sol iluminava meu quarto a essa hora. Eu estava em minha cama, deitada por cima das cobertas com o travesseiro em minhas mãos e o celular um pouco ao meu lado. Estico meu braço para pegá-lo, ligo-o e vejo as horas. Eram 17:35. Em meu celular, haviam algumas notificações, entre elas, duas ligações de Kentin e uma mensagem… abro a mensagem.

“Beija-flor, tá me ignorando ou dormindo? Atenda minhas ligações!”

—Dormindo é a opção correta.- Rio sonolenta comigo mesma.

Disco seu número e espero ele atender. No quarto toque, ele atende…

—Ligação on-

—Alô?

—Oi, o que queria…?- Pergunto sonolenta.

—Ainda bem que tava só dormindo…- Ele suspira aliviado, eu rio levemente.- Eu queria saber se queria sair pra tomar um sorvete ou coisa assim. Mas já é fim de tarde.

—Desculpe.

—Sem problemas.- Ele diz.- Não dormiu o suficiente, foi?

—Ah, não. Eu só… - Parei por uns momentos.- Dormi.

—Heh…- Ele faz apenas.- Agora me diga, o que tem de errado?

—Que…?- Eu pergunto.

—Tem algo de errado, o que é?- Ele pergunta. Às vezes me pergunto se ele tem telepatia ou algo do tipo.

—N-Não tem nada de errado.

—Você não dormiria de tarde e nem sequer diria “eu só… dormi”, provavelmente usaria alguma piadinha com a minha pessoa.

—…- Eu ia argumentar, mas nem consegui.

—Quer conversar sobre?

—Sinceramente, não.

—To indo pra aí.- Ele diz.

—H-Hey!

—Sem “hey”, tchau, até daqui a pouco.

—…

—Ligação off-

Coloquei uma sapatilha qualquer e desci para a sala. Sra. Valérie e sr. Louis estavam lá, eles me olharam…

—Ah, acordou, foi?

—Sim.- Sorrio enquanto passo por eles.

—Onde vai?

—Vou dar uma saída, eu já volto, é rápido.- Digo-lhes enquanto refaço meu rabo de cavalo.

—Tudo bem, espero que o rápido seja rápido mesmo.- Sr. Louis brinca, eu sorrio.

—Vou voltar às 00:00.- Brinco de volta.

—Isso que é rapidez, hein?- Eles riem.

Quando eu abro a porta, dou de cara com Kentin, com a mão já erguida para apertar a campainha…

—Isso tudo era vontade de me ver?- Ele pergunta me dando passagem, eu saio.

—Nem um pouco convencido de si.- Reviro os olhos e rio abafado enquanto fecho a porta.

—Onde vamos?

—Sei lá… tem um parque aqui perto, quer ir lá?

—Tá.- Ele dá de ombros.

Seguimos até lá, conversando sobre assuntos banais. Quando chegamos lá, nos sentamos em baixo de uma árvore, eu encosto minha cabeça em seu ombro…

—E então? Vai me dizer o que há de errado contigo hoje?- Ele perguntou.

—Devo mesmo?

—Bem, eu estou preocupado com você. Então, de preferência, deve.

—Obrigada por se preocupar.- Sorrio.- É só que… tem algo errado com Castiel.

—Aquele garoto de ontem?

—Sim…

—O que deu?

—Ele tá estranho desde ontem e… ele fez algo que eu não achei comum dele.

—Como assim?

—Digamos que… - Penso um pouco e me ajeito ao seu lado, desencostando dele.- A-Ah… eu não sei, só… não sei!- Bagunço meus cabelos com as mãos.

—Hey, hey, hey… calma aí, beija-flor.- Ele diz segurando minhas mãos.- Calma… tá?

—… sim…- Faço que sim com a cabeça.

—Vamos por partes… me explica, o que ele é seu.

—Namorado.- Digo de prontidão.

—Certo.- Ele diz.- O que ele te fez?

—B-Bem… eu não acho que eu deva te contar isso…- Meu tom de voz foi diminuindo com o passar da frase.

—Porque?

—P-Porque é íntimo… o-oras…

—Quer dizer que vocês…?- Ele pergunta com uma sobrancelha arqueada, eu coro.

—N-N-Não! S-Só nos beijamos e um pouco mais da parte dele…- Digo, com vergonha.

—O que foi esse “um pouco mais”?- Ele perguntou, com um sorriso de canto.

—P-Pare de querer se meter em minhas particularidades, Kentin!- Dou-lhe um tapa no ombro, ele ri.

—Tá, desculpa!- Ele ri.- Mas e aí? Qual o mal até aí?

—O mal foi o “um pouco mais”… foi diferente dele, não parecia ser ele de sempre…- Suspiro.- Ele parecia diferente… n-não sei… ele só… tinha um sentimento diferente ali, algo a mais.

—Tipo…?

—Ah, sei não… algum sentimento diferente dos de sempre.

—Raiva?

—Não.

—Tristeza?

—Não…

—Cansaço?

—Com certeza não.

—…- Ele pensou um pouco.- Ciúme?

—…- Penso um pouco.- Como é o gosto do ciúme?

—E eu que sei?- Ele pergunta, talvez confuso.

—E do que ele teria ciúme?- Pergunto, ainda pensando no assunto.- Ele não tem motivos pra isso. Não mesmo. Descarte o ciúme.

—Tudo bem.- Kentin dá de ombros.- Saudades?

—De que?

—Não sei, me diga você.

—… não, não era.- Suspiro.- Estou desistindo.

—Vai desistir assim tão fácil?- Ele pergunta.

—Não seeei!- Deito-me no chão, com a cabeça apoiada em seu colo. Estava olhando para o céu azul meio roxo, com algumas estrelas já aparecendo.

—Mas isso te incomoda, de todo modo?

—Sim… eu não… não quero que isso aconteça de novo, não desse jeito.- Ergo minha mão para o céu com a palma bem aberta, fico olhando entre meus dedos separados.

—Quer dizer que você quer, mas não quer.

—Por aí. Tipo… foi bom, mas… foi estranho, foi tudo tão… rápido. Odiei aquele sentimento que ele sentia na hora. Parecia até que… não havia afeto.

—Havia sim. Só… havia algo a mais, e sabemos que não era bom.

—… é…

—Mas sabe o que eu acho?

—O que?

—Que você devia conversar com ele sobre o assunto.

—Acha mesmo?

—Sim… sabe? Se você conversar com ele e dizer o que sentiu, ele vai ser sincero com seus sentimentos também.

—… como pode ter certeza?

—Confia em mim, apenas… tenho certeza disso.- Eu o olho, ele estava sorrindo, o que me fez sorrir.

—É melhor estar certo.

—Estou.- Ele diz quase que por cima de mim. Eu rio abafadamente.

Ficamos num silêncio. Não adiantava ficar pensando nisso, não havia solução. Não havia nada que pudesse ser feito, a certo…

—Acho que… quero sorvete agora.- Comento, olhando-o.

—É, eu também.