Ele sempre observa-a de longe, ela sempre anda por aquelas ruas durante a noite.

Ela nunca o vê. Ele nunca correria o risco de perdê-la de vista.

Naquela noite seria diferente.

Ele andaria perto dela. Se aproximaria, colocaria os fones de ouvido nela, e andaria ao seu lado e ela escutaria a música, esta, expressaria seus mais profundos sentimentos. Ela ouviria. O coração pulsaria, os olhos brilhariam, as borboletas no estomago voariam mais agitadas do que nunca.

Ele saberia os segundos exatos da música. Assim que terminasse, ele se aproximaria, e tomaria o que lhe pertence. O beijo com o qual ele tanto sonhava.

&&&

Mais uma noite, e lá estava ela, aquele doce ser, distraídos pelas ruas, indo para casa, sempre olhando o mundo ao seu redor, como se tudo fosse novo e, ao mesmo tempo, familiar. Ele amava isso nela, não apenas isso, ele amava tudo nela. As luzes da noite faziam seu rosto ser algo mais perfeito do que ele jamais imaginou e ele se dava o privilégio de observá-la pela sua sacada toda noite. "Ela sabe da minha existência?" ele se perguntava todas as vezes ao olhar para ela.

Mais uma noite, seguindo seu caminho de sempre, tendo pensamentos novos em lugares familiares, as luzes pareciam tornar o mundo algo diferente, ela ainda não tinha encontrado as palavras certas para descrever o poder das luzes, mas era isso o que ela mais amava nelas, nas luzes da noite, ela amava tudo nas luzes da noite, mas ela amava outra coisa muito mais, ele. "Ele sabe da minha existência?" ela se perguntava todas as vezes em que pensava nele, algo que acontecia com frequência.

Numa noite, ela o viu pela sacada, reconheceu-o no mesmo instante em que o viu com o canto do olho, e, depois desse dia, sempre torcia para ele estar lá, ela começou a ansiar aquela pequena caminhada, como ele sempre ansiava. Ela era tímida, nunca tivera coragem de olhar diretamente para aquela sacada, até a noite de seu aniversário, naquela noite, ela tirou coragem de algum lugar misterioso, e olhou para lá, por apenas alguns segundos. E lá estava ele.

Numa noite, ela se virou e olhou diretamente para ele. Nesse momento, ele viu, ela sabia que ele existia, era tudo o que ele precisava saber. Isso lhe rendeu uma noite em claro, juntando todas as suas composições para ela, tentando dizer tudo em uma música, era isso que ele queria fazer para ela. Ele começou no piano, depois, foi ao violão, violino, violoncelo, e novamente ao piano, ele vivia pela música, mas nunca tivera um desafio tão grande. Compor seus sentimentos para ela.

Ela queria vê-lo novamente, foi uma sensação maravilhosamente boa. Ele sabia de sua existência, ou então, não estaria olhando diretamente para ela. Dessa vez, ela olhou para seu cabelo antes de ir para casa, ela iria olhar para ele novamente, não importava quanta coragem teria de gastar naquele gesto, só queria vê-lo, mas ele não estava mais lá. Ela sentiu uma lágrima se formar no canto de seu olho, tentou afastar o ocorrido de sua cabeça, e voltou a caminhar.

Ele a viu olhar para sua sacada, droga, ele não estava lá, viu uma lágrima se formar no canto de seu olho. Ela voltou a andar, com passos acelerados, exalavam frustração, os braços cruzados e a cabeça curvada, distraída demais com os pensamentos para reparar que alguém a estava perseguindo. Em determinado momento, ele começou a se aproximar cada vez mais, com o tempo, fez-se notar sua presença.

Seu coração começou a bater aceleradamente, mas ela não queria demonstrar isso. Ele estava ao seu lado, ela sentia sua respiração. Ele tocou seu ombro, ela desacelerou, ele encaixou os fones de ouvido nela, colocou o telefone em seu bolso e a deixou caminhar. O som fluiu em seus ouvidos, como a água flui em um rio.

A música foi se extinguindo, ele, se aproximando. A música acabou, ela estava na porta de casa.

Agora, eles estavam mais próximos do que nunca. Ela olhava nos olhos dele, ele olhava nos olhos dela, ele tocou seu rosto, ela encaixou a mão em seu pescoço. Então, finalmente, seus lábios finalmente se tocaram. Como algo que foi feito para aquilo, seu coração foi feito para ser dele, assim como o dele, para ser dela.

—Por que demoramos tanto tempo para chegar aqui? - ela perguntou.

—Por que questionar o amor quando podemos aproveitá-lo? - então, beijou-a novamente.

A partir daquele momento, não havia mais nada no mundo.

Apenas amor.

&&&

Ele sempre observa-a de longe, ela sempre anda por aquelas ruas durante a noite.

Ela nunca o vê. Ele nunca correria o risco de perdê-la de vista.

Naquela noite seria diferente.

Ele andaria perto dela. Se aproximaria, colocaria os fones de ouvido nela, e andaria ao seu lado e ela escutaria a música que dizia tudo sobre o que sentia. Ela ouviria. O coração pulsaria, os olhos brilhariam, as borboletas no estomago voariam mais agitadas do que nunca.

Ele saberia os segundos exatos da música. Assim que terminasse, ele se aproximaria, e tomaria o que lhe pertence. O beijo com o qual ele tanto sonhava.